Turismo

Paraty, encanto e paixão

Ano I – Nº 3 – Junho de 2000

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Paraty, encanto e paixão

Afonso José de Oliveira

Nem é um sonho passear pelas matas, pelo tempo, caminhando por alamedas, visitar casario histórico, ilhas da mata atlântica cercadas por águas transparentes, banhar-se em cachoeiras, provar uma gostosa cachaça artesanal. Tudo isto e muito mais está em Paraty.

Localizada a 330 quilômetros da Capital, no extremo sul do litoral do estado do Rio de Janeiro, desde a década de 70, após a inauguração da Rio- Santos passou a trair turistas do Rio e de São Paulo.

Há divergências quanto à data de fundação de Paraty. As diferentes datas apontadas por historiadores cobrem um período de 60 anos, entre 1540 e 1600. O que se sabe, ao certo, é que o Morro da Vila Velha, hoje chamado de Morro do Forte, era habitado pelos índios guaianás quando um grupo de portugueses provenientes de São Vicente chegou ao local para estabelecer um povoado.

Hoje, o Morro é atração turística, pois abriga o Forte do Defensor Perpétuo, que foi construído E em 1703 e era um dos sete que defendiam a baía contra piratas A fortaleza abriga hoje o Museu de Artes e Tradições Populares de Paraty e conta com outras recordações bem-conservadas daqueles tempos pioneiros, como a Casa da Pólvora, celas, alojamentos para soldados e, claro, velhos canhões apontados para o mar.

Protegida pelo forte, a vila se desenvolveu no sopé do morro, junto ao mar. Suas ruas estreitas, com calçamento irregular no estilo pé-de-moleque, e os casarões em estilo colonial foram preservados e são hoje marca registrada de Paraty. O trânsito de caminhões e automóveis é proibido, o que reforça, no turista, a impressão de que voltou no tempo.

Entre os tesouros arquitetônicos, destaca-se a imponente igreja matriz de Nossa Senhora dos Remédios, na praça da Matriz, que tem como anexo a Pinacoteca Antônio Marino de Gouveia, com obras de autores como Anita Malfatti e Nana Viego. Construído entre 1787 e 1873, em estilo neoclássico, o templo era freqüentado pela burguesia local. Boa parte do dinheiro gasto na obra foi doado por dona Geralda Maria da Silva, que, diz uma lenda, herdou uma fortuna pertencente a piratas. Seu pai, quando garoto, teria visto dois corsários enterrando um tesouro e, anos mais tarde, resgatou-o.

Outro cartão-postal da cidade é o Museu de Arte Sacra, localizado em frente ao cais. Funciona deste 1978 onde era a igreja de Santa Rita, possui arquitetura jesuítica, com traços do barroco rococó e foi construída por escravos libertos em 1722. Completando o circuito religioso, a última parada é a igreja de Nossa Senhora dos Rosários e de São Benedito, (Largo do Rosário esquina com a rua do Comércio) construída em 1725 por escravos para ser por eles freqüentada. Chama atenção pelo abacaxi que serve de suporte para o lustre cristal no centro da nave e o altar dourado de São Benedito.

 

A natureza sempre presente

Trilhas, mata atlântica, cachoeiras, piscinas naturais, mirantes… Paraty é um prato cheio para quem gosta de contato com o verde. A cidade é uma das portas de entrada para o Parque Nacional da Serra da Bocaina (Estrada Paraty-Cunha, na altura da Igreja da Penha), um passeio e tanto. De alguns pontos, nos vários caminhos percorridos pelos guias, por exemplo, é possível avistar a bela paisagem do litoral, incluindo as ilhas ao redor de Paraty.

A região hoje ocupada pelo parque, com 110 mil hectares, era habitada no século 17 por índios guianás, tamoios e tupinambás. Com a descoberta do ouro em Minas Gerais, Martim Correia de Sá desbravou a antiga trilha dos nativos, que se tornou passagem obrigatória para alcançar a região das minas, sendo mais tarde chamada de Caminho do Ouro. Por lá transitaram tropeiros levando o rico minério até o porto de Paraty; de onde ele seguia para a Europa. Uma trilha dourada que ainda pode ser percorrida, em alguns trechos, a pé ou a cavalo.

Quer um refresco? No parque, há diversas quedas d’água, mas de difícil acesso. Se você quiser tomar um banho gelado, a melhor opção é procurar a cachoeira do Penha, também conhecida como Tobogã, devido à imensa rocha por onde os banhistas escorregam e caem numa piscina natural. Situada a 9 quilômetros do Centro, na estrada Paraty-Cunha, fica próxima à igreja da Penha.

Um passeio pelo mar

Para mais aventura o turista precisa se aventurar no mar através de um passeio de saveiro. São mais de 65 ilhas e 300 praias espalhadas pela região.

Um passeio muito conhecido é o que incluiu a praia Vermelha com uma paradinha de 50 minutos para um bom mergulho e algumas braçadas nas águas tranquilas do mar de Paraty. Ou, se quiser ficar saboreando porções à base de peixe nos quiosques do lugar.

Na Ilha dos Cocos, o turista ancora e almoça num cenário paradisíaco.

E na praia do Lula, uma caminhada pela areia grossa ou por uma pequena trilha de onde se tem uma vista maravilhosa do mar.

E não podemos esquecer Trindade, pequeno vilarejo que pertence á Paraty!

De volta ao século XVIII

Depois de caminhar e banhar-se, dê uma esticada à Fazenda Murycana, (Estrada Paraty/Cunha, Km 6; tel: 024-371-1153/3930). Localizada no sopé da Serra da Bocaina, conta com um museu, num casarão do século 18, um restaurante de comida tropeira e com um dos cinco engenhos de pinga existentes na região. Os demais são os que produzem as cachaças Vamos Nessa, Coqueiro, Maré Alta e Corisco.

No século 18, Paraty chegou a abrigar mais de 200 engenhos. A produção de aguardente caiu, mas a bebida ainda é um produto típico da cidade, como pode ser conferido no Festival da Pinga, que acontece todos os anos, no terceiro final de semana de agosto. A degustação é gratuita, mas não se esqueça de forrar o estômago antes. Para isso, nada melhor do que saborear um bom prato da fazenda, como um leitão à pururuca ou uma galinha ao molho pardo.

José Afonso de Oliveira é proprietário da Afontur -Turismo

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