Ana Marina Godoy Turismo

Parques temáticos e Meio Ambiente

Foto: Jaqueline Novaes

Parques temáticos e Meio Ambiente
por Ana Marina Godoy

Ano III n.43 março de 2004

www.partes.com.br/ed43/turismo.asp

 

A progressiva degradação, alteração e destruição dos ecossistemas e atrativos culturais de uso turístico é um efeito inegável.

 

Ana Marina Godoy é turismóloga formada pela UFPR, profissional de marketing através de MBA pela Fundação Getúlio Vargas e consultora em ambas as áreas

Um dos grandes desafios do século XXI está sendo a questão da gestão integrada, aquela que supõe a participação das comunidades vizinhas, ou inseridas nas áreas de conservação, na gestão sustentável dos espaços
naturais. Gestão integrada, inclusive, entre os universos masculino e feminino. Sem a hierarquização do que é para ser complementar, e sem perder a originalidade própria da diferenciação: genialidade da natureza!
Os problemas de transformação, deterioração e contaminação do ambiente como efeitos da atividade turística não têm sido confrontados seriamente pelas autoridades encarregadas do setor. A progressiva degradação, alteração e destruição dos ecossistemas e atrativos culturais de uso turístico é um efeito inegável. Do jeito como caminha a humanidade, como trata seu ninho – o planeta Terra -, é interessante assinalar algumas evoluções previsíveis, esperadas no tratamento social dos problemas ambientais:

– uma exigência crescente por parte das associações de consumidores, ecologistas e o conjunto da sociedade a fim de conseguir um meio de qualidade. Como consequência, a legislação deverá ser cada vez mais exigente e tende a regular um maior número de parcelas de envolvidos, os stackeholders;
– um incremento na participação social ante qualquer projeto e obra, que deverá ser fruto da negociação com todos os envolvidos.

Os grandes projetos com transcendência ambiental deverão ser postos em prática apenas após consensos;
– Novas formulações de soluções politicamente viáveis, como a aparição de novas formas de gestão dos espaços naturais e, inclusive, de parques temáticos e turísticos, em geral, devem acontecer;
No início do século XXI se assiste a um processo de um uso um pouco menos agressivo dos recursos naturais, tanto do território – tipos de edificações,
por exemplo -,como das atividades – os safáris têm se convertido em safáris fotográficos, de admiração. Esta mudança de mentalidade, tanto na sociedade
como na administração que dita as leis, se relaciona com o denominado desenvolvimento sustentável e, sem dúvida, abre novas oportunidades de negócio que podem concretizar-se em três aspectos fundamentais:
– uma maior exigência de qualidade ambiental no turismo de massas, que exige uma adequação das instalações, a recuperação de espaços naturais, o tratamento diferenciado dos recursos sólidos – separação dos lixos -, etc.
– a potenciação de um turismo alternativo próximo que pode classificar-se de seguinte modo segundo o produto oferecido: turismo verde vinculado a educação ambiental; turismo nos espaços naturais; agroturismo; turismo de esportes de aventura; turismo de interior; turismo ativo/ de intervenção/ de experiências; atividades complementares nas zonas turísticas tradicionais;
– a aparição de uma nova modalidade de ecoturismo em destinos longínquos, com uma grande diversidade paisagística e riquezas de comunidades naturais.
Por exemplo: fazer dos parques temáticos também parques naturais, e vice-versa.

Nos projetos de planejamento se observa uma visão ainda fragmentária, cartesiana e parcial dos componentes que integram o patrimônio turístico de um parque temático ou outro local turístico qualquer. Ainda não são considerados, na prática, como intimamente inter-relacionados e que uma transformação ou alteração em algum deles se reflita invariavelmente nos demais. As características e o funcionamento do ambiente dependem dos mecanismos concretos de relação entre os três subjconjuntos – ambiente natural, transformado e sociocultural – que compõem o ambiente em sua totalidade. O acelerado crescimento do turismo tem gerado, principalmente pela cobiça e sede de captação de divisas, criação de empregos, maximização das utilidades e contribuição ao desenvolvimento regional, esquecendo ou deixando em um nível secundário as repercussões negativas e custos ambientais que a atividade traz consigo. É evidente que se os processos de degradação e contaminação causados pelo turismo não são percebidos e atendidos em sua real dimensão, um grande número de ecossistemas e atrativos
culturais podem perder suas características e qualidades originais em detrimento, primeiro, de sua sustentabilidade econômica e, segundo, afetando irremediavelmente o perfil ambiental e cultural do globo.

Deve ser clara a percepção de que fazer viver os homens em harmonia com a natureza é obrigação e fundamental para um mundo que adquire uma dimensão cada vez mais universal, bem como os parques temáticos e seus impactos – positivos e negativos. O eco-desenvolvimento poderá afirmar sua originalidade e utilidade baseando sua razão de ser na particularidade dos ecossistemas e na identidade cultural dos povos.
Sol e lua, céu e mar, yin e yang: opostos em harmonia. Assim é regida a vida, com complementares se atraindo e semelhantes se unindo.

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