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Formação de Professores e Construção de Mudanças na Prática Educativa

Formação de Professores e Construção de Mudanças na Prática Educativa
Por Rose Aparecida Colognese Rech
publicado em 10/09/2006 http://www.partes.com.br/educacao/formacaodeprofessores.asp

Rose Aparecida Colognese Rech é formada em Pedagogia pela Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC) – RS e Pós-Graduanda no Curso de Docência do Ensino Superior da Universidade Castelo Branco (UCB) – RJ

Quando falamos em formação profissional docente, logo associamos aos cursos que preparam para o exercício da profissão. Certamente durante esta preparação formal, obtemos conhecimentos básicos e indispensáveis para a atuação, mas é certo também afirmar, que a formação docente não se dá exclusivamente no âmbito acadêmico. Desta forma, discutiremos neste texto, algumas considerações a cerca das trajetórias dos professores e como estes tecem seus conhecimentos.

Inicialmente, trazemos aqui, algumas reflexões sobre um estudo realizado com duas professoras, que percebemos claramente as mudanças acontecidas no decorrer de suas vidas profissionais, em relação à prática educativa. Segundo elas, nos primeiros anos de suas carreiras tinham uma postura bastante “tradicional”. A maneira “tradicional” que elas se referiam, decorria da situação real em que viviam: pouca instrução e bastante insegurança. Isto, levou-as a nortearem suas práticas com o modelo que conheciam, basearam-se na educação que tiveram de seus professores. Por outro lado, ao longo de suas trajetórias, foram percebendo que a escola estava mudando, que os estudantes já não eram os mesmos e que a sociedade que estes estavam inseridos transformava-se, assim, importava reconhecer que era necessário construir práticas pedagógicas condizentes com a nova realidade.

 Adequar a prática à necessidade de ensino que a sociedade atual exige, requer uma mudança de mentalidade e uma percepção que estamos sempre em construção. É a consciência do “inacabamento”, pois nossa própria experiência de vida nos torna “inconclusos”, dispostos à mudança. De certa forma, foi isto que impulsionou estas professoras para a busca, esta foi a mola propulsora que às levou para a universidade. A partir deste momento começaram as tomadas de consciência e as grandes transformações na suas práticas. Para Freire “o sujeito que se abre ao mundo e aos outros inaugura com seu gesto a relação dialógica em que se confirma como inquietação e curiosidade, como inconclusão em permanente movimento na História (1996, p. 154)”.

Esta breve explanação a cerca da trajetória destas professoras, nos remete a questões relevantes sobre a formação do professor. Consideramos que apesar de as mudanças significativas ocorrerem após o ingresso na universidade, o que impulsionou para que elas procurassem esta mudança foi justamente a própria prática. Ou seja, as mudanças vieram se constituindo a partir dos seus desejos de mudarem suas práticas. Desejos que nasceram da interação com seus alunos, seus meios.

Na universidade busca-se conhecimentos científicos específicos sobre a área de atuação e uma sistematização a cerca das reflexões sobre a prática. Amparados nas teorias tem-se condições de justificar e argumentar o trabalho docente, e principalmente possibilitar a coautoria na construção de novas teorias. Isto, de acordo com Marques “significa possibilitar a articulação entre a atuação do professor na sala de aula e o espaço para a reflexão coletiva e o aperfeiçoamento constante das práticas educativas, refundando-as sempre de novo na produção do saber/competências requeridas” (2003, p.207).

Contudo, não se refere que a formação dos professores se dá exclusivamente em cursos profissionais, como esclarece Alves:

                                               Não é possível se aceitar a ideia que a formação docente se dá, exclusivamente, em cursos de formação (ela se dá em múltiplas esferas). Por outro lado, vai se percebendo que ao contrário de serem construídas linear e hierarquizadamente, os conhecimentos teóricos e práticos-políticos, epistemológicos, pedagógicos, curriculares, didáticos e outros – necessários ao exercício docente são tecidos em redes (1998, p. 15).

Assim, os professores se utilizam de vários saberes para a construção de sua prática. Porém, para Tardif (2002), os saberes provindos das experiências, da prática, não são saberes iguais aos outros, mas sim, formados de todos os outros, pois é em prol da própria prática que os demais saberes são articulados.

Concluindo, a mudança no ensino depende de nossa formação e da transformação das nossas práticas em sala de aula. Esta transformação, conforme Nilda Alves, se dá em várias “esferas”: acadêmica, governamental, prática pedagógica e política (1998). Cabe a nós, professores, um trabalho reflexivo e uma reconstrução permanente de nossas identidades pessoais e profissionais. Pessoal, porque só é possível mudar o meio, as nossas práticas, quando aprendemos a mudar nós mesmos, o nosso jeito de olhar e viver as coisas do dia-a-dia. É a mudança pessoal, a mudança de atitude que leva à transformação profissional.

REFERÊNCIAS 

ALVES, Nilda. Trajetórias e Redes na Formação de Professores. Rio de Janeiro: DP&, 1998.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

MARQUES, Mario Osório. A formação do profissional de educação. Ijuí: Unijuí, 2003.

TARDIF, Maurice. Saberes docentes e formação profissional. 4ª ed. Petrópolis: Vozes. 2002.

*Formada em Pedagogia pela Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC) – RS e Pós-Graduanda no Curso de Docência do Ensino Superior da Universidade Castelo Branco (UCB) – RJ.

Publicado originalmente na revista Espaço Acadêmico

 

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