Entrevistas

Alaor Vieira

Alaor Vieira, 52 anos, é engenheiro elétrico, pernambucano.
alaorv@yahoo.com.br

Alaor Vieira
Por Carolina de Aguiar Teixeira Mendes
publicado em 01/12/2006

O pernambucano Alaor Vieira é uma das personalidades mais famosas da noite paulistana desde sua chegada na capital, nos anos 80. Na época, trabalhou no clube Madame Satã e teve a oportunidade de mostrar à cidade sua personalidade marcante e estilo único. Nos anos 2000 revolucionou o clube Sarajevo, na rua Augusta, e agora, aos 52 anos, o engenheiro elétrico e gerente administrativo de casas noturnas que possui a maior parte do corpo tatuado (incluindo cabeça e rosto), provoca o ser humano e suas limitações com mais uma inovação: na busca da superação de limites decidiu retirar as tatuagens da face.

Segundo explica o próprio Alaor, o processo de feitura das tatuagens ocorreu por razões primitivas e não por razões estéticas ou de choques sociais. Seu foco foi espiritual, isto é, um ato de força interior. Alaor explica seus atos como “impulsos primitivos”:

“É a noção da origem primitiva como a verdade sobre os princípios da dor,sua percepção, bem como do despertar e da evolução através desta. A tatuagem veio através da dor e não o oposto. Os grandes guerreiros percebiam a verdade através dela. Isto não tem nada a ver com masoquismo, o qual vem do prazer em sentir a dor, e não da busca da Verdade. A dor deve ser utilizada como mecanismo para o despertar quanto à Verdade.

As substâncias liberadas no processo de tatuagem entorpecem a mente e o ser entra em transe. É este transe que leva o ser à Verdade porque é um estado em que a mente pára. Por isso existe no catolicismo o auto-flagelo, assim como nos mantras, nos sons de new age, trance-goa, etc.” O jornalista Apoenan Rodrigues, em seu livro intitulado “Tatuagem: dor, moda, prazer e muita vaidade”, conta sobre Alaor Vieira:

Há oito anos, nosso personagem – que é campeão pernambucano de xadrez, não bebe, não fuma, nem se droga – não experimenta a sensação da agulha cutucando sua pele. “Eu tive um crescimento artístico. Arte por arte não existe. Com a loucura é a mesma coisa. Ela tem que ser educada, senão vira caos. O caos tem que ser canalizado para virar arte ou algo produtivo. Mas esta foi uma fase e, como somos parte de um todo, não dá para negar. A loucura é inconsciente, a gente não se percebe alterado.” O resultado dessa trip é marcante. Até hoje, ao passarem por ele, algumas senhoras fazem o sinal-da-cruz. Outras pessoas o acham lindo. “É fascinante esse lance de me acharem belo e horripilante ao mesmo tempo. Por outro lado, é um aprendizado difícil.”

Ele sabe o que diz. Quando o Madame Satã fechou suas portas, Alaor teve que de enfrentar a realidade. “Adoro usar terno e gravata. Acho chiquérrimo.” Como de costume, seu currículo era aceito. Contudo, no momento da entrevista, quando olhavam suas tattoos expostas, sempre ouvia uma desculpa delicada, às vezes objetiva de que a vaga não estava mais disponível. Iniciou-se uma fase obscura. Tentou o suicídio pela segunda vez.

A primeira aconteceu quando era adolescente, porque se achava for a dos padrões do jovem dito normal. Tempos mais tarde, coincidentemente, os extremos voltariam a se encontrar num momento em que, outra vez, ele se viu totalmente fora dos padrões, desta vez por causa das tatuagens.

Hoje, mesmo com os caminhos tortuosos por onde passaram alegrias e tristezas, Alaor não se arrepende. “Mas, se pudesse eu tiraria para me adaptar melhor a sociedade. As pessoas ainda não estão preparadas para este tipo de trabalho artístico e, na verdade, nem eu. Quero estar em harmonia com o mundo. Mas o que fazer? Todo escolhido tem uma marca.”

A decisão de Alaor pela remoção das tatuagens foi devida a projetos de orientação espiritual, educacional e psicológico em benefício humano, pois, através de contatos ufológicos, recebeu conhecimentos de que “a dualidade é a linguagem através da qual o mundo conhecerá a Verdade.”

Em suas próprias palavras, exemplifica as influências do Xamanismo, que defende que, através do choque, do impressionismo, do confuso, do bizarro e do belo da alma, do caos e do renascer, da dor e do amor, da compreensão e do chacoalhar do ser, é que é possível introduzir informações para a evolução humana.

Como escreveu Apoenan Rodrigues sobre a dualidade de Alaor: “Seu frenesi foi tão grande que chegou a tatuar o rosto e a cabeça, transformando-se numa figura estranha, comentada, porém querida na cidade. Afinal, muitos achavam exótico o contraste entre as tatuagens e sua personalidade cavalheiresca.”

No MASP, por exemplo, utilizaram sua imagem para provocar e testar a reação das pessoas. Puseram-no sentado de terno e gravata, todo tatuado, lendo jornal e jogando xadrez, em plena Avenida Paulista. De fato algo bastante dual e intrigador, que faz as pessoas pensarem.

Assim, fazendo uso de seus atributos físicos e espirituais, Alaor pretende despertar o ser humano para a Verdade, recorrendo à mídia para a divulgação de sua mensagem.

1 RODRIGUES, Apoenan. TATUAGEM: DOR, PRAZER, MODA E MUITA VAIDADE, Cap. I, p. 9-14, Capítulo 1.

 

Tatuagens, não começaria de novo!
entrevista com Alaor Vieira
Leia abaixo entrevista com Alaor Vieira, engenheiro elétrico e gerente administrativo de casas noturnas (Madame Satã e Saravejo). Aos 52 anos, com o corpo quase todo tatuado, o pernambucano provoca reações ao ser humano.

P@rtes. A pele ou a vida?
Alaor: Os dois. A tatuagem representa a evolução da minha vida.

P@rtes. Qual a primeira e qual a última tatuagem?
Alaor: Tenho dezenas de tatuagens espalhadas pelo corpo. Hoje elas formam uma só. A primeira foi um centauro, símbolo de transcendência; a última foram as engrenagens inacabadas, engrenagens com ossos humanos. A inspiração veio de Giger, que também inspirou Ridley Scott no filme “Alien, O Oitavo Passageiro”.

A vaidade é…
Com certeza não são minhas tatuagens. Tatuagem no Ocidente é ego.
Vaidade é uma deficiência humana no sentido de carência, reconhecimento de personalidade e alimentação de uma deficiência do ego. Se você tem equilíbrio, não encontra necessidade de cuidado excessivo.

Para você o que é estar em harmonia com o mundo?
É estar em estado de constante troca de amor, o que representa compaixão, sinceridade, interatividade, sintonia das sensações mais altruístas do ser humano. A busca dos grandes líderes espirituais é exatamente a harmonia com o mundo, a interatividade das características mais altruístas do ser humano. Os líderes políticos falam disso, mas não fazem, pois falta o estado maior da vontade, que é o amor. Não basta intelectualidade e visão política; é necessário o amor.

Qual o limite da loucura?
Não há limites para a loucura. Loucura é quando se perde todo o senso de realidade social. O indivíduo mantém uma realidade própria dentro de uma fantasia, princípios religiosos, entre outros. Os princípios do louco até podem ser altruístas, mas ele não tem controle social e real de seus atos. Um exemplo foi Adolf Hitler.
Existem vários níveis de consciência, então a loucura não encontra limites.

O que é pior, ganhar e não levar ou ganhar e arrepender-se?
No sentido kármico, ganhamos e levamos; no sentido material humano, não levamos coisa alguma.
O pior é ganhar e se arrepender. Arrependimento é como se todo o processo não tivesse valido a pena. É por isso que devemos ter foco em nossos caminhos e permanecermos neles.
Neste sentido procuro orientar aos jovens que, perdidos, não sabem se têm que ganhar tudo na vida e não levar, ou têm medo de se arrepender depois de ganhar tanto. Antes de atingir a maturidade, o jovem deve ser instruído a fim de que faça a melhor escolha diante das possibilidades. Procuro estimular o discernimento.
Vi a verdade e a verdade dói. Quando o ser humano desperta para a maturidade, tem que ter cuidado para discernir situações. Para alguns, ganhar tudo e não levar é muito mais interessante que ganhar e se arrepender.

A loucura é…
A loucura é um divisor de realidades. O louco não tem consciência deste divisor. Quando passamos por uma porta e não percebemos outros níveis de realidade, perdemos a consciência. A loucura é uma armadilha cósmica.
Um elevado líder espiritual que tem consciência dos diferentes níveis de abertura da mente, isto é, tem maior percepção da realidade, do estado do ser, não pode ser considerado louco.

O que você aconselharia para o pior inimigo?
Amor.

Se investido de poder, o que faria para mudar o mundo?
Reuniria os grandes líderes espirituais (seres de elevado grau de evolução) a fim de que harmonizássemos os seres para o foco da evolução humana. Seriam elaborados projetos de grau maior, buscando a condição humana superior. Os projetos seriam colocados para os grandes líderes políticos de forma inquestionável. Harmonizaríamos o mundo na política social, financeira… O mundo seria então liderado por uma única mente em estado de harmonia, em todos estes aspectos.

O que é o bizarro?
O bizarro é a forma oposta da beleza, dentro do conceito social.

O que você não faria por dinheiro?
Não passaria por cima de meus princípios por dinheiro.

Qual o pior vício?
Os piores são os pecados capitais, que representam todo e qualquer vício.

Começaria tudo outra vez?
Em relação às tatuagens, não começaria de novo. Não me arrependo, mas a verdade é que as pessoas ainda não estão preparadas para este tipo de trabalho.

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