Turismo

Grupos de pesquisa dos mestrados em Turismo e a pesquisa científica no Brasil

Local: Cachoeira em Pirenópolís, Centro-Oeste do Brasil.
foto:Walter Godoy Neto

Grupos de pesquisa dos mestrados em Turismo e a pesquisa científica no Brasil

Introdução


Ana Marina Godoy é mestranda em Turismo da Universidade de Caxias do Sul, MBA em Marketing (FGV/PR) e Graduada em Turismo (UFPR).
turismologia@bol.com.br

O presente trabalho é um esforço inicial que pretende trazer à tona informações a respeito da relação entre grupos de pesquisa e mestrados em Turismo com a produção científica. Trabalhos consecutivos a esse são necessários e servirão para aprofundar a busca por um entendimento mais rigoroso e consistente.

A primeira grande indagação é: os grupos de pesquisa hoje podem ser apontados como indicadores do Estado da Arte em Turismo? Com o presente trabalho, cada um poderá chegar à sua conclusão.

O turismo, como nova área que é na Academia, vem desenvolvendo o seu corpo de pesquisa há pouco tempo se comparado a áreas como o Direito ou a Filosofia.

Ainda não existe uma caracterização própria e delineada da abrangência e da profundidade do turismo, o que impulsiona estudos (como o presente trabalho). Nas palavras de Lucrecia Stringhetta Mello, “nenhuma investigação se faz a partir de um vazio doutrinal ou sem preconcepções sobre a realidade em que trabalha.” Parte-se do princípio que o turismo é “uma área de estudo sério e de interesse de investigadores formados tanto no turismo quanto em outras áreas do conhecimento”. Se o turismo é ou não ciência não nos cabe, aqui, discutir.

A pesquisa científica no Brasil tem sua paternidade nas instituições universitárias e centros de estudos públicos, financiados pelo Estado.

As Universidades públicas foram as principais colaboradoras na construção de programas de pós-graduação do país, através de linhas de financiamento com recursos públicos, destinados à formação de pesquisadores.  Na década de 60 começa um movimento tardio das Universidades privadas, nem por isso sem mérito, de alçar o caminho árduo de formar quadros capazes de produzir pesquisa científica do Brasil.

Mesmo que ainda de forma isolada e pontual, coube a estas instituições a decisão de investir, com recursos próprios, no desenvolvimento de novos ambientes para o fazer científico, através de programas de pós-graduação.

As experiências consolidadas destes programas de mestrado e doutorado nas Universidades particulares provam que elas foram capazes, muitas vezes de maneira audaz e criativa, de inserir políticas de incentivo na formação de doutores em centros do conhecimento nacionais e internacionais, bem como na fixação destes pesquisadores na própria instituição.

Cientes de que o processo do fazer ciência é caracterizado pela presença indispensável de massa crítica, exigindo tempo e espaço para o exercício contínuo, lento, cotidiano e às vezes incerto da pesquisa científica, as instituições não estatais foram capazes de empregar esforços na contratação de pesquisadores seniores, investir na formação de mestres e doutores, através de seus programas de mestrado e doutorado, e ainda estabelecer medidas capazes de permitir aos alunos da graduação a vivência da investigação nas atividades cotidianas de seus cursos, através de práticas investigativas e dos programas de iniciação científica.

Mesmo que ainda de caráter embrionário, a pesquisa científica nas Universidades particulares distingue as instituições de ensino privadas preocupadas em fazer a formação de quadros para o mercado de trabalho e as que ultrapassaram a linha da graduação bem-sucedida e ousaram praticar, na plenitude, o conceito de Universidade.

Sabendo que o CNPq é o principal órgão gestor e de fomento da Pesquisa no país, pergunta-se: Quais são as principais características dos grupos de pesquisa em Turismo registrados no CNPq? Tal indagação tem como objetivo identificar e analisar a formatação dos grupos de pesquisa. A importância disso, exatamente, é contribuir para com a formatação e a consistência do turismo como reconhecida área do saber, não dando margens a questionamentos quanto a sua necessidade como parte da Academia, bem como quanto a seriedade.

Indo de encontro com o exposto e visando colaborar, evitou-se uma pesquisa muito abrangente para não resultar em um trabalho raso e (quase) sem utilidade. Preferiu-se restringir a uma pesquisa exploratória via internet, essencialmente, com os grupos cadastrados no CNPq e com origem nos mestrados brasileiros em Turismo.

 

Caracterização dos Grupos de Pesquisa dos Mestrados em Turismo no Brasil

A base deste trabalho é o site oficial do CNPq (incluindo a plataforma Lattes), órgão público federal de fomento à pesquisa.

Os grupos de pesquisa dos mestrados em Turismo, no entanto, mostram que, hoje, as universidades particulares investem muito mais em produção científica turística.  A partir de tais grupos, a produção aparece evidenciada em revistas próprias.

O que é produzido a partir de tais grupos são conhecimentos aceitos e referendados pela comunidade científica (?). Isso porque a maioria dos pesquisadores vem de outras áreas do saber e a grande interdisciplinaridade dificulta e ainda não criou um corpo científico próprio do Turismo com força suficiente para referendar ou não esta ou aquela pesquisa entre os pares (que, assim, são muitos). Em geral, os estudos ficam com opiniões abertas, desde que apresentando ideias e informações coerentes.

Outra característica encontrada quanto aos grupos de pesquisa em questão é estes terem seus líderes doutores, em sua ampla maioria, com raros mestres na liderança (ou c0-liderança).

De acordo com o site oficial do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, CNPq, um grupo de pesquisa “é definido como um conjunto de indivíduos organizados hierarquicamente em torno de uma ou, eventualmente, duas lideranças”.

Ainda segundo a instituição federal, para existir um grupo de pesquisa é necessário que seus componentes compartilhem, em algum grau, de instalações e equipamentos. O objetivo deve ser desenvolver pesquisas em comum de interesse dos componentes daquele grupo.

Já as “linhas de pesquisa representam temas aglutinadores de estudos científicos que se fundamentam em tradição investigativa, de onde se originam projetos cujos resultados guardam afinidades entre si”. E linhas de pesquisa não são o mesmo que projetos.

De acordo com o CNPq, projeto de pesquisa “é a investigação com início e final definidos, fundamentada em objetivos específicos, visando a obtenção de resultados, de causa e efeito, ou a colocação de fatos novos em evidência”.

O organograma que também os grupos de pesquisa dos mestrados em Turismo têm sua gênese comum nas regras do CNPq e são estruturados com um líder e, abaixo deste, num mesmo patamar, pesquisadores e estudantes e/ou técnicos.

De acordo com o que afirma o CNPq em seu site oficial,

“O CNPq não interfere diretamente nesse nível de definição. Cabe aos líderes de grupo a definição de quais são os pesquisadores, estudantes e técnicos de seus grupos. Por outro lado, cabe aos dirigentes institucionais de pesquisa a definição quanto aos grupos e seus líderes”.

1-     Líder:

“o pesquisador líder do grupo é que detém a liderança acadêmica e intelectual naquele ambiente de pesquisa. Normalmente, tem a responsabilidade de coordenação e planejamento dos trabalhos de pesquisa do grupo. Sua função aglutina os esforços dos demais pesquisadores e aponta horizontes e novas áreas de atuação dos trabalhos”.

“No diretório, é o líder – cadastrado previamente no sistema pelo dirigente de pesquisa de sua instituição de origem – o responsável pelo preenchimento do formulário Web Grupo”.

Para ser líder é necessário que se tenha experiência, destaque e liderança, isso no campo científico ou no tecnológico; além de ser profissional permanentemente envolvido com as atividades de pesquisa, “cujo trabalho se organiza em torno de linhas comuns de pesquisa”.

“A identificação de líderes de grupos é de total responsabilidade da instituição (de origem), através do dirigente institucional de pesquisa”.

2-     Pesquisadores:

“Pesquisador é aquele que busca com investigação, procurando os caminhos que conduzem à evidência da verdade”, segundo Lucrécia Stringhetta Mello, supra citada doutora em Educação.

3-     Estudantes: participam ativos das linhas de pesquisa desenvolvidas pelo grupo como parte de suas atividades discentes, sob a orientação de pesquisadores do grupo. (de acordo com o CNPq)

4-     Técnicos: São profissionais “cuja função é prestar assistência para profissionais de nível superior, incumbindo-se de cálculos, desenhos, especificações, orçamentos, reparação e utilização adequada de equipamentos, instalações e materiais”, de acordo com informações contidas no site do CEFET, Centro Federal de Educação Tecnológica, do Maranhão.

Para que um grupo de pesquisa esteja cadastrado no CNPq (e tenha, portanto, visibilidade, credibilidade e reconhecimento) é necessário que a instituição de origem do grupo esteja participando do DPG: Diretório de Grupos de Pesquisa. Algum componente organizacional – como pró-reitoria de pesquisa, diretoria ou coordenação de pesquisa – da instituição de origem deve estar articulado com o DPG. Tanto universidades públicas como privadas podem ser cadastradas no DPG, bem como “instituições não universitárias de ensino superior que possuam pelo menos um curso de pós-graduação reconhecido pela CAPES, institutos públicos de pesquisa científica e tecnológica, e laboratórios de pesquisa e desenvolvimento de empresas estatais ou ex-estatais”.

A pesquisa científica advinda dos grupos de pesquisa dos mestrados em Turismo brasileiros

 

                                         “Façam ou se recusem a fazer arte, ciência, ofícios. Mas não fiquem apenas nisso, espiões da vida, camuflados em técnicos da vida, espiando a multidão passar. Marchem com as multidões.”

Mário de Andrade, escritor, em 1942.

            A teoria é uma forma de subsídio para leitura do real. É esse entendimento de demanda que a sociedade, em geral, requer das pesquisas. Aplicar e fazer parte da sociedade, não ficando num mundo paralelo ou transformando a Universidade numa redoma de vidro, mas sim servindo ao todo, é o “marchar com as multidões” que sugere o escritor modernista Mário de Andrade nas palavras que abrem este subitem.  A Universidade não pode estar alheia a servir o bem comum.

            Como parte da Academia o crescimento do turismo é evidente. É por isso que as pesquisas já vêm sem amadorismo, ou seja, com formato – e teor – científico, mesmo não havendo conclusão sobre o Turismo ser ou não ciência.

            Os grupos de pesquisa, em geral, nascem em ambiente universitário. Os cursos de pós-graduação strictu sensu exigem (devem exigir, pelo menos) cientificidade em suas pesquisas. Daí a maior probabilidade de existirem pesquisas científicas surgirem e se desenvolverem em mestrados e/ou em doutorados.

      Existem, no Brasil, quatro mestrados em Turismo reconhecidos e mais um em formação:

– Mestrado em Turismo – Universidade de Caxias do Sul, RS;

– Mestrado em Turismo e Hotelaria – Universidade do Vale do Itajaí, SC;

– Mestrado em Hospitalidade – Anhembi-Morumbi, SP;

– Mestrado em Turismo e Meio Ambiente – Centro Universitário UNA, MG;

– Mestrado em Turismo (profissionalizante e o mais novo dos cinco/ está em formação) – UnB, Brasília,DF.

Todos têm conceito três, o mínimo para a CAPES – órgão do CNPq que controla o que tange a pós-graduação no país.

Todos os mestrados acima foram contactados (em dezembro de 2006) por e-mail, mas não ofereceram respostas. Estas poderiam trazer alguma informação a mais além das existentes nos sites oficiais das instituições de ensino.

      Os grupos de pesquisa expostos nos sites oficiais das respectivas instituições de ensino são:

Grupos de pesquisa da UCS:

Grupos de pesquisa da UNIVALI:

  • Grupo I
  • Planejamento e Gestão: Interface Turismo, Espaço e Sociedade
  • Líderes: Profª Drª Yolanda Flores e Silva
  •             Prof. MSc. Marcio Soldateli
  • Grupo II
  • Núcleo de Coordenação de Pesquisas e Projetos em Turismo e Hotelaria
  • Líderes: Profª Drª Doris van de Meene Ruschmann
  •             Prof. Dr. Francisco Antonio dos Anjos
  • Grupo III
  • Grupo de Estudos de Organizações em Turismo e Hotelaria- GEOTH
  • Líderes: Profª Drª Maria José Barbosa de Souza
  •             Profª Doris van de Meene Ruschmann
  • Gr: Planejamento, Marketing e Comercialização de Produtos em Destinações Turísticas – UNIVALI Li: Silvia Regina CabralAP: Turismo

Grupo de pesquisa da UnB:

  • Turismo e Cultura
  • Líder: Ellen Fensterseifer Woortmann

Grupos de pesquisa da Anhembi-Morumbi:

  • Indicadores de Sustentabilidade Ambiental para Turismo e Hospitalidadade Líder: Davis Gruber Sansolo
  • Inovação no ensino e pesquisa em Hospitalidade e Turismo
  • Líder: Ada de Freitas Maneti Dencker

Grupos de pesquisa da UNA:

Logística e Métodos Quantitativos Aplicados ao Turismo e Meio Ambiente – UNA Líder: Mauri Fortes Meio Ambiente, Educação e Turismo. – UNA Líder: José Euclides Alhadas Cavalcanti Planejamento e Gestão em Turismo – UNA Líder: Nelson Antonio Quadros Vieira Filho

            Os grupos de pesquisa de tais mestrados podem ser divididos em três principais categorias relativas aos seus temas:

– Gestão = 7 grupos;

– Educação = 4 grupos;

– Cultura = 2 grupos.

            De um total de 13 grupos, a maioria esmagadora, mais de 50%, é voltada para a gestão. Várias conjecturas podem ser feitas a partir desse dado, entre elas a aplicabilidade direta mais fácil que em relação a outros temas. Isso, em geral, facilita o angariar de verbas, inclusive por parte da iniciativa privada, que pode lucrar com as pesquisas nas quais investir. Mas é apenas uma hipótese não confirmada neste trabalho. Para tanto, toma-se como base o cenário macroeconômico brasileiro dos últimos anos e para quais áreas as verbas para pesquisas, em geral, vão em maior número: para as de aplicabilidade quase imediata. Outras hipóteses a respeito podem e devem ser levantadas. Bem como estudos que confirmem ou não. O pensar na questão é importante.

            As produções científicas mais consistentes (de acordo com critérios apontados pela autora dessa pesquisa para considerar consistentes: servir como subsídio de pesquisa; funcionar como “vitrines” para destacar pesquisadores e anunciar novos; contribuir como modo de a comunidade interessada saber quais pesquisas estão sendo feitas na área) são as revistas dos mestrados da UNIVALI, Revista Turismo – Visão e Ação, e a revista da Universidade Anhembi-Morumbi: Revista Hospitalidade.

            Tomando por base a UCS e a UNIVALI somadas, nota-se que os grupos de pesquisa em Turismo tiveram formação a partir da segunda metade da década de 1990, mas o interesse aumentou em 50% a partir do ano 2000. Antes de 2000 existiam dois grupos, após 2000 surgiram outros quatro:

  • Cultus – Turismo, Cultura e Sociedade = ano de 1999

  • Gestão Ambiental no Turismo – ano de 2001

  • Informação, aprendizagem e educação em Turismo – ano de 2004

  • Planejamento e Gestão: Interface Turismo, Espaço e Sociedade –ano de 2002

  • PLAGET – Planejamento e Gestão do Espaço Turístico – ano de 1997

  • Grupo de Estudos de Organizações em Turismo e Hotelaria – GEOTH – ano de 2000

Considerações Finais

Os grupos de pesquisa de mestrados em Turismo estão colaborando para o progresso da pesquisa turística, conforme as informações apresentadas. No entanto, publicações, centros de documentação (incluindo a história do turismo na mídia, contendo jornais, folhetos, cartazes, inclusive) e bibliotecas (incluindo as virtuais), por exemplo, ainda são poucos. Isso porque muito têm ainda tais grupos que trabalhar para ganharem estrutura e se firmar como referenciais. Grupos de áreas como a Educação e a Medicina já se sustentam como pilares importantes em termos acadêmicos e sociais.

Os grupos têm servido como suporte para a busca de maturidade nas pesquisas turísticas. Para conseguirem êxito, organizar eventos que propiciem as trocas de ideias e informações, alimentando a comunicação direcionada, é fundamental. Outras áreas do saber assim procederam para alcançar firmeza e serem reconhecidas na Academia.

Neste sentido, buscar fomentos duradouros para manter também a periodicidade das publicações, é essencial. Também o fomento poderá sedimentar os grupos existentes e abrir caminho para novos grupos.

A partir deste trabalho que sejam feitos diversos outros. Só então serão possíveis revisões e pesquisas integrativas. Estas, sim, poderão contribuir substancialmente para o Turismo.

Referências Bibliográficas:

  • FAZENDA, Ivani C.A. (org). Dicionário em Construção: interdisciplinaridade. São Paulo: editora Cortez, 2001.

Sites:

Acessos em 8 de dezembro de 2006

http://www.lincult.ufpr.br/  (Página em construção)

Acesso e 3 de janeiro de 2007.

http://www1.folha.uol.com.br/folha/ciencia/ult306u14866.shtml

acesso em 8 de janeiro de 2007.

http://www.abeq.org.br/view.php?id=2

acesso em 9 de janeiro de 2007.

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