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Planejamento: estratégia de luta e emancipação política dos educadores

Planejamento: estratégia de luta e emancipação política dos educadores
Por Joristela de Souza Queiroz
publicado em 05/08/2007

Joristela de Souza Queiroz é pedagoga, especialista em Metodologia do Ensino Superior e aluna do Curso de Espec. de Gestão Escolar .Presidente do Conselho de Alimentação escolar
Manacapuru –Am | Email: joris.com.br@bol.com.br

Os inúmeros problemas educacionais e o verdadeiro papel da educação formal são motivos de ampla discussão na sociedade moderna. Isto pressupõe, portanto, empreender um esforço coletivo para vencer os diferentes obstáculos e entraves que inviabilizam a construção de uma escola pública que eduque de fato para o exercício pleno da cidadania

Valores como: inovação, parceria e transparência devem nortear o caminhar da escola pública, em que se pese os objetivos estratégicos concernentes com a efetividade do processo ensino-aprendizagem, a gestão participativa de processos e a sua missão de ter orgulho do trabalho que desempenha e cujo objetivo principal seja o de oferecer um ensino de qualidade para que o aluno participe ativamente do processo de construção em sociedade.

Além disso, deve buscar em suas ações fundamentalmente o desenvolvimento do indivíduo no seu mais amplo sentido para que ele possa transformar seu espaço social e, para que nesse espaço ele aprenda a aprender, a conviver e a ser com e para os outros, contrapondo-se ao atual modelo gerador de desigualdades e exclusão social que impera nas políticas educacionais de inspiração neoliberal.

Na dimensão pedagógica reside a possibilidade da efetivação da intencionalidade da escola, que é a formação do cidadão participativo, responsável, compromissado, crítico e criativo pautado em valores morais e éticos. Esta intenção é de quem acredita que é possível fazer uma escola diferente, onde o aluno verdadeiramente queira estar e sinta prazer na sua missão de estudante.

O planejamento é um excelente caminho para a melhoria da qualidade de ensino, pode ser uma estratégia política de lutas, de emancipação do professor “Nosso desejo é que a escola cumpra um papel social de humanização e emancipação, onde o aluno possa desabrochar, crescer como pessoa e como cidadão, e onde o professor tenha um trabalho menos alienado e alienante, que possa repensar sua prática […] resignificá-la e buscar novas alternativas […]”(VASCONCELOS,1995, p.14),

Atualmente, há grandes discussões em torno da adequação dos procedimentos à realidade do aluno, entretanto, não é o que se vê em algumas salas de aula, pois os métodos estão aquém das necessidades e anseios dos alunos, não levam em conta suas características, sua faixa etária, o grau de interesse, suas expectativas de aprendizagem, enfim, talvez por falta de comprometimento do professor com o processo de ensino ou por deficiência na sua formação.

A elaboração e implementação do Projeto Político Pedagógico da Escola precisa ser construída em bases sólidas, ou seja, com estudos feitos não só pelo corpo docente e funcionários da escola, mas também pelos pais e comunitários, é preciso porém, ficar claro que, em muitas comunidades os pais não têm conhecimento sobre o assunto e, portanto para que possam participar na tomada de decisões precisam ser conhecedores da importância de sua implantação na escola.

Entende-se que este projeto deve ser o fruto da interação entre os objetivos e prioridades estabelecidas por ações coletivas. Através da reflexão, deve-se buscar a construção de uma nova realidade. É, antes de tudo, um trabalho que exige comprometimento de todos os envolvidos no processo educativo. Segundo Romão (1992, p.56) “Planejar a educação é tema de extrema relevância para contribuir na direção da melhor organização do trabalho na escola, para que esta atinja os fins que justificam sua existência […]”

As pessoas que compõem o espaço escolar precisam sentir-se responsáveis pelo que fazem e pelo projeto que elas próprias ajudarão a construir, essa é a diferença na qualidade “Ninguém pode sentir-se coautor pelo que não ajudou a construir”. É preciso ter consciência de que se a sua missão não for cumprida, comprometerá os objetivos de todos e, portanto, os da instituição como um todo.

Almeja-se uma gestão democrática (pelo menos é o que impera nos discursos de educadores, teóricos e especialistas) e, com base neste parâmetro, é inconcebível pensar em uma escola onde as normas são ditadas de cima para baixo. Autonomia se constrói a cada dia, a habilidade do gestor está em dinamizar as ações para que a equipe escolar tenha compromisso com o seu fazer pedagógico e, cada um é especial na sua missão de educador.

Com base no conhecimento da realidade, adquirido através de diagnóstico socioeconômico, quadro de rendimentos, questionário aplicado aos alunos, pais e membros da comunidade escolar, encontros pedagógicos e administrativos é possível compreender a existência de alguns problemas e, em ação coletiva propor alternativas para melhorias nos resultados da organização do trabalho escolar.

Um dos maiores desafios está na necessidade de analisar de forma comparativa os resultados das avaliações nacionais, estaduais e municipais, no intuito de identificar necessidades e propor alternativas de solução mais eficazes.

É relevante destacar a concepção de que não basta esperar por soluções que venham verticalmente dos sistemas educacionais. Urge criar propostas que resultem de fato na construção de uma escola democrática e com qualidade social, fazendo com que os órgãos dirigentes do sistema educacional, possam reconhecê-la como prioritária e criem dispositivos legais que sejam coerentes e justos, disponibilizando os recursos necessários à realização dos projetos na escola.

Nossa preocupação não corresponde só aos aspectos quantitativos, mas fundamentalmente com a qualidade do ensino que se oferece e se constrói junto com os alunos. Pretende-se acima de tudo prepará-los para a vida em sociedade, em igualdades de direitos, justiça, respeito e atuação coletiva em busca de melhorias.

Destacam-se alguns aspectos que contribuem para que a escola apresente um bom desempenho em suas funções:

· A união do grupo na realização das diferentes atividades da escola como eventos, troca de experiências no planejamento participativo, estudos, auto-avaliação constante, entre outras;

  • · Equipe de profissionais bem preparados para o exercício de sua função onde os mesmos participam com frequência de cursos de educação continuada;
  • · Parceria entre a escola e a comunidade local para troca de saberes propiciando a construção de uma comunidade da aprendizagem e mobilização social;
  • · Análise e monitoramento constante da aprendizagem através de fichas de acompanhamento e diagnóstico sócio-econômico dos alunos;
  • · Merenda escolar com cardápio regionalizado e de boa qualidade vistoriado e aprovado pelos alunos e pela nutricionista do CAE – Conselho da Merenda Escolar;
  • · Instalações adequadas, confortáveis, higiênicas e salubres que transmitam segurança e facilitem para que a aprendizagem se efetive;
  • · Envolvimento de vários segmentos da escola e parceiros da educação: APMC / Coordenação do PDE – Plano de desenvolvimento da Escola / Representantes dos líderes de turmas (alunos) / Coordenação de Ensino/ Secretarias de Saúde/ Cultura e Educação do município, além dos diferentes membros dos Conselhos municipais.
  • · Implementação de processo eletivo de líderes, com base em ações colegiadas exprimindo a vontade de participação de pais, alunos, funcionários, professores e comunitários, entre outras…

Entendemos que a história particular do aluno deve ser considerada no seu processo de aprendizagem para que ele possa também fazer uma inter-relação com os seus conhecimentos anteriores à escola, essa articulação de saberes poderá trazer significados para sua vida. Isto significa “aprender a aprender”. A partir daí, o planejamento de estratégias de intervenção pedagógica para superar os problemas identificados é uma necessidade porque pode assegurar o sucesso de cada aluno, onde se pode definir:

· Momentos para aula de reforço para alunos com baixo rendimento nas disciplinas críticas;

· Estudos de recuperação, trabalhos de grupo e realização de tarefas específicas para casa. Discussão de novas formas de avaliação e novo cronograma de trabalho;

· Avaliação institucional para identificar as dificuldades e avanços na gestão, no trabalho dos professores, funcionários e alunos;

· Reuniões periódicas por sala, com pais e alunos para socializar o trabalho desenvolvido.

· Implantação de diferentes projetos em parceria com alguns membros da comunidade escolar, entidades e amigos da escola para dinamizar e motivar os alunos, além de muitas outras.

Diante do que foi exposto, ressalta-se que para que a escola seja realmente um espaço democrático e não se limite a reproduzir a realidade socioeconômica vigente: de exploração e desigualdades sociais, é preciso, que ela crie momentos para a participação e reflexão coletiva sobre o seu papel junto à comunidade, onde se planeje de fato, com responsabilidade, a organização do espaço escolar em busca da tão sonhada autonomia que nos liberta dos mecanismos de controle social.

Referências Bibliográficas

ROMÃO, José Eustáquio. Poder local e educação. São Paulo: Cortez, 1992.

VASCONCELOS, Celso dos S. Planejamento: plano de ensino-aprendizagem e projeto educativo – elementos metodológicos para elaboração e realização. São Paulo: Libertad, 1995.

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