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Os ratos de escritório e a ociosidade

Os ratos de escritório e a ociosidade

Johnny L. Notariano

publicado em 20/04/2008

 

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Johnny Leonardelli Notariano – notarian@usp.br

Depois de muito tempo de serviço público, eu procurei entender o que seria um funcionário ativo, mas ocioso como se comentava. No início de minha carreira relacionei-me com muitos funcionários de várias áreas de atuação, inclusive docentes. Esses funcionários eram extremamente capacitados e competentes, todos com nível superior, na época além de muito difícil essa formação, proporcionava \status\.

         Educados e gentis muitos desses funcionários estavam em disponibilidade, ociosos.  Na minha ingenuidade, em início de carreira, queria entender a semântica do termo \disponibilidade\. Quanto mais eu os conhecia, menos entendia o porquê da disponibilidade. Eu questionava, se todos têm curso superior, alguns são Advogados; Contadores; Nutricionista; Administradores; Engenheiro Eletricista; educados, inteligentes e, a Autarquia precisava dos serviços desses profissionais, então por que estavam disponíveis e outros afastados da função, isto é, proibidos de exercer a própria função. Humilhação!? Se não existia culpa fundada ou fundamentada em nenhum deles, se eles tinham todos os predicados de um bom trabalhador e formação acadêmica na área, competentes e capacitados, por que a administração colocava-os nessa condição? Havia equívocos ou existiam motivos para desabono do trabalhador ou funcionário, por que não utilizavam o instrumento legal, processo administrativo para se apurar culpas e punir os culpados? Eu ouvia pelas \rádio pião\, aquelas instaladas nos corredores, que esses funcionários eram protegidos pela estabilidade. P’ra mim é tudo conversa \fiada\, a estabilidade não protege ninguém pelo mau comportamento dentro da função. Protege sim, contra os ratos de escritório perseguidores e que vivem dos restos da inveja, frustração, mentira e medo dos melhores funcionários atormentando-os na tentativa de prejudicá-los. Quando o funcionário não se comporta adequadamente, não importa o regime de trabalho, Autárquico; Estatutário; Lei 500; Lei 540; CLT ou qualquer Lei que rege as relações de trabalho dentro de uma instituição; existe motivo? Apura-se a responsabilidade e o contrato ou a carreira se encerra. O instituto da disponibilidade é diferente daquilo que é apresentado, descaracterizaram o termo e desvirtuaram a intenção.

         Dos funcionários que conheci nessa situação, nenhum era incompetente; incapacitado; responsáveis levavam a rotina com muita seriedade, conheciam a fundo o que faziam além de promover gentilezas e boas maneiras no ambiente de trabalho. Lembro-me de um docente meu amigo, aposentou-se antes do tempo por não tolerar mais aborrecimentos. Esse professor Doutor, Chefe de departamento; durante a correção de um livro que eu estava me dedicando percebi o tipo de aborrecimento que o deixava insatisfeito. Tinha muitas obras didáticas com as grandes editoras. Em sua sala uma tarde eu notei as lâmpadas apagadas; algumas mesas vazias e perguntei-lhe:- \como conseguia trabalhar sem iluminação suficiente\. Respondeu-me que o diretor da unidade ou departamento havia solicitado medidas de contenção de despesas, mas só no seu departamento. Foi além e me disse também que não tinha nenhum aluno monitor para auxiliá-lo, não havia verba suficiente para os monitores. Era chefe dele mesmo. Outro docente, em uma festa em seu sítio, falou-me da satisfação em estar vivendo no \mato\, junto à natureza. Deixou a cátedra por não tolerar também desaforos. Foi nesse momento que entendi o significado de ocioso e disponível ao substituir o termo por HUMILHAÇÃO.

         Naquele tempo não se falava em ASSÉDIO MORAL e hoje tentam banalizar o tema através da saturação. Quanto mais se fala, há menos interesse. Claro que os aproveitadores tentam promover a trivialidade e vulgarização, mas os julgadores sabem analisar, discernir e julgar. O tema está cada dia mais em evidência.

         O problema do Assédio Moral não está só no desempenho da função e sim no desempenho da amizade. O bom relacionamento é tudo na vida de qualquer funcionário ou trabalhador. O lamentável, é o preconceito e discriminação que existe em algumas importantes funções e a considerar os bons funcionários, muitos são prejudicados pela vaidade dos \assediadores\; ganância; egoísmo; excesso de informações das vítimas além de descartar a qualificação, colocam a administração e os bons propósitos da instituição em situação preocupante. É o cuidado que se deve tomar com a ignorância e os \Puxa-Saco\. Eu trabalhei com assistentes e superiores em posição privilegiada que me confessavam não conhecer nada daquilo que administrativamente estavam exercendo e inúmeras vezes eu os auxiliei.

         O Assédio Moral é como uma bomba nuclear capaz de destruir uma família inteira em poucos minutos. A arma mais poderosa desses canalhas é o CINISMO. Esses \picaretas\ são inteligentes, mas só para prejudicar alguém. Se usassem um pouco da capacidade para melhoria dos serviços, o relacionamento seria diferente, eles, a instituição e o público alvo, assimilariam sempre resultados positivos. Esses ratos de escritório parecem coisas satânicas, fazem de tudo para as pessoas acreditarem que eles não existem.

         Quando fui convidado para chefiar uma equipe financeira e orçamentária em uma unidade universitária, logo no primeiro relacionamento, alguns funcionários me intimidaram categoricamente: – \Aqui quem não reza nossa cartilha, acaba desabando\. E eu desabei em menos de dois anos.

         Também no começo de minha carreira, um chefe de pessoal, meu amigo, imagine se não fosse me encarou no corredor da instituição e se expressou com muita autoridade e em tons de ameaça: \Aqui não é setor privado, vá mais devagar, do contrário você não vai acabar bem\.

         As intimidações são rotinas por parte dos covardes, verdadeiros ratos criados. Percebam, esses algozes, responsáveis por essa crueldade administrativa, não se manifestam, nunca aparecem, são extremamente educados durante o processo de assédio, como aqueles caçadores de mosca que jogam açúcar depois detonam o inseto. É um trabalho longo por parte deles, contam com o esgotamento das forças da vítima, mina de todas as maneiras a autoestima até aparecer os sintomas de doenças. Geralmente é tarde demais e, resta apenas a briga pelos danos morais, pois a família inteira padece.  Um menino de quinze anos de idade, por não ter a atenção do pai, funcionário de uma grande instituição governamental, vítima de humilhações e agressão moral, conheceu as drogas e se tornou um dependente. A mãe, docente aposentada, foi atingida, adoeceu, sofreu internações e intervenção de risco, não é mais a mesma. A família vive um verdadeiro transtorno, não há mais alegrias. É só isso que esses malditos algozes do assédio moral sabem fazer.

         Processo disciplinar administrativo? Por parte dos algozes? Nem pensar, não querem, não existe motivo, não existe culpa fundada como já citado.  São espertos demais para se arriscar em um desses processos. Para eles todos os funcionários são ótimos. Imaginem a loucura? Jamais se envolveriam em um processo desse tipo. Não acusam ninguém diretamente, além de acrescentar boas referências, \caras de pau\, mas pelas costas, a vítima tem que usar um crucifixo como proteção.  Qualquer advogado sabe, quando uma só parte é ouvida, não existe julgamento e é exatamente essa a opção deles. É mais fácil rotular a vítima para depois trucidar, passar informações distorcidas, jogar com a autoestima e ir \cozinhando\ como se diz na gíria, até o golpe fatal. Como o rato doméstico, espera com paciência o silêncio da noite para roubar alimento.

         Então depois de entender os ratos, entendi os canalhas e descobri o que era a ociosidade e disponibilidade. Não respeitam nada, ninguém, idosos; crianças e mulheres; insensíveis; repugnantes e desclassificados vivem só pela maldade.

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