assédio moral

O chefe carapuça

O CHEFE CARAPUÇA

Johnny L.Notariano

notarian@usp.br

  

publicado em 01/05/2008 como<www.partes.com.br/assediomoral/ochefecarapuca.asp>

 

 

 

Johnny Leonardelli Notariano – notarian@usp.br

Galgar até chegar a uma chefia é muito difícil. Faz parte da árdua carreira de todo trabalhador seja no setor privado ou público. Exige dedicação, capacidade e competência \legal\. A batalha inclui competição acirrada com outros colegas que lutam para isso e merecem também esse reconhecimento. Todos competem em nível de igualdade e sem interferências escolhem o melhor chefe.

 

 

Será que é mesmo assim a realidade? Se responderam não, resposta correta! Em alguns setores o caminho para a chefia é como a um espetáculo de \Gladiadores Romanos\ cujo final é triste, alguém é \sacrificado\. Certamente já ouviram falar em cartas marcadas no jogo de baralho. Não há diferença. É um mundo de injustiça. Nunca me esqueço de enfatizar, que toda regra tem exceções e assim sendo me orgulho de empresas e instituições que proporcionam um jogo honesto com seus funcionários ou trabalhadores.

 

 

Dentro da minha vivência profissional eu deixei de participar de seleções para cargos maiores por vários motivos. Primeiro por não me adequar ao perfil exigido e depois por saber do \selecionador\, que se tratava de alocar alguém com \QI\ já pré-selecionado, escolhido mesmo. Vi também funcionários receberem salários de chefes sem nunca ter sido chefe. Outros funcionários sem a competência legal, exercer e receber como líderes acima de chefias. É ou não é um universo de injustiças?

 

 

Pobres administradores de Recursos Humanos, eles levam toda a culpa. Os maiores fardos são para eles que trabalham diretamente a seleção do pessoal. Se soubessem os funcionários, trabalhadores, que os profissionais de RH são os melhores para se relacionar, não haveria tantos conflitos interpessoais. São os mais educados e mais gentis dentro da organização e isso eu endosso. Não os culpem, são vítimas também. Fico indignado ao saber, que após o advento dos Departamentos de Recursos Humanos, pelos idos da década de 1960, profissionais com muito conhecimento, foram imbuídos para um melhor aproveitamento da mão de obra qualificada para liderança. O que aconteceu, tiveram as mãos atadas sem poder realizar nada além de preencher relatórios e estudar em vão organogramas setoriais. Não são fantoches e não têm culpa, são inteligentes, jamais remam contra a corrente.

 

 

O chefe \CARAPUÇA\ é aquele que quando anda pelas ruas, acha que todos estão olhando para ele. Irrita-se por qualquer coisa, crêem que sempre estão falando deles. Coitados dos subordinados desse tipo de liderança. Donos da verdade, nunca admitem o próprio erro, sempre se justificam e jogam a culpa no mais fraco. Acreditam que os funcionários são inferiores, querem ser alvo das atenções e se colocam ridiculamente no centro de um picadeiro, crentes que fazem sucesso. Como palhaços.

 

 

É muito simples, quanto mais culto e bem educado for o líder, menos atritos, então por que não trabalhar esse lado do perfil dos chefes e deixar os lixos para a lixeira? Afinal está na hora de uma tomada de consciência e entender, que um chefe, um líder, não é nada disso que se vê hoje. Colocar na cabeça deles que são funcionários como os demais, que estão também na condição de subalternos e suscetíveis a punições.

 

 

Eu tive a satisfação de conhecer um professor convidado na Universidade de São Paulo, que foi um dos maiores exemplos de liderança já visto. Proprietário de uma empresa de Assessoria, muito bem posicionado financeiramente, não se preocupava com dinheiro. Colocou um de seus filhos na empresa, estudante universitário, como faxineiro para conhecer o negócio e valorizar a carreira de um trabalhador. Foi criticado por todos e toda a família, mas manteve assim a função do filho. Tinha mais de cem funcionários, sabia o nome e os problemas de todos. Mantinha reuniões de corredor com eles. Tudo começou quando percebeu problemas financeiros entre os funcionários. Questionava-se, se todos ganham relativamente bem, então por que problemas com bancos ou cartões? Um dia reuniu-se com eles, pediu os cartões de crédito de todos, inclusive o talão de cheque especial.  Tirou todos os funcionários com problemas financeiro do \vermelho\, mas destruiu todos os cartões de crédito. Proibiu o uso de cartões e cheque especial na empresa, sob condição de dispensar quem não aceitasse. Dedicou-se a educar e a disciplinar o funcionário a usar essas facilidades até o momento de se sentirem\prontos\ e aptos para voltar a usá-los. Conclusão, ele se tornou um líder carismático adorado por todos na empresa. Obteve mais sucesso, os funcionários sem problemas financeiros, satisfeitos, agradeceram em nome da família aquela atitude. O filho provavelmente agradecido também, terminou a faculdade e tornou-se presidente do negócio do pai.

 

 

Incrível, punição por insubordinação é só para subordinados? Não admitem questionamentos de funcionários; não querem que os funcionários respondam ou discutam, no bom sentido, alguma ação que vá de encontro à vaidade deles. Autoafirmação de liderança em cima de funcionário é normal hoje, calam a boca do subordinado com intimidações, humilhações e ameaças. Conheço chefes que determinam o que se deve falar e conversar, como se deve falar, com quem se relacionar e até proíbem o uso de algum termo entre os comandados. Alguns não permitem sorrisos e eu já presenciei em reuniões e conversas informais, funcionários serem humilhados perante todos por estar feliz ou simplesmente sorrir. Sorrir e estar feliz em momentos errados? Não, chefe errado em momento certo. Preocupam-se com os \falatórios\ de corredor, sala e até mesmo com os momentos de laser do trabalhador porque sabem que a verdade não ofende, mas dói.

 

 

A Instituição perde; os funcionários perdem e quem mais perde é a chefia ao se dar conta que o respeito tão cobiçado, por parte da equipe, não existe mais. Esses pseudos-chefes, pensam que enganam os funcionários, só encontram amizade no rol dos \Puxa-Saco\, outra corja de infelizes que complementa a ignorância das lideranças e atrapalha a vida dos colegas. Já são velhas conhecidas, as panelas, existem em todas as instituições. Reparem como é triste essa verdade, sempre os mesmos tipos, as mesmas pessoas, os mesmos bajuladores e os mesmos tons ao conversar. Eles não conversam, sussurram! Tem medo de serem ouvidos. Até as vantagens salariais são sempre para os mesmos!

 

 

Certa vez observei um grupo de funcionários felizes em uma sala de trabalho e fiquei sabendo o porquê.  Nunca mais me esqueci da expressão que usaram ao me falar o motivo. \O chefe levou uma chupada da diretoria\. É por aí, um dia \a casa cai\ acabam pagando muito caro. Em outra ocasião, ouvi barulho de rojões e até balões no ar. Nenhuma comemoração que se justificasse, nenhum jogo de futebol, nenhum evento. Fui procurar saber e disseram-me: – \O chefe caiu fora\. A maior festa. É esse o respeito que algumas lideranças conseguem angariar.

 

 

Tudo é uma questão de vocação, dons e tendências. Ser líder também. O que se exige do funcionário é aquilo que o chefe deve fazer melhor. Foram escolhidos para isso. Os exemplos vêm todos da chefia para que possa cobrar do funcionário sem medo de errar. Um exemplo muito simples, mas que se denunciado publicamente os líderes imediatos terão sérios problemas. Chamam a atenção do funcionário por entradas atrasadas, até descontam \merrecas no salário\ ao mesmo tempo esses chefes chegam todos os dias com atrasos significativos e não acontece nada com eles. Sem considerar as ausências no expediente desmotivadas e sem perdas salariais. Será que o registro de frequência é só para os subordinados?

 

 

Aqui vai uma dica para funcionários prejudicados por causa dessa picuinha dos atrasos. Providenciem uma folha de papel e anotem os horários de entrada; almoço e saída desses líderes e de outros que não assinam o conhecido livro de pontos. Anotem também as ausências. Se for empresa privada, leve ao presidente; se for setor público leve antes a autoridade maior, se não der certo, contate um Deputado de oposição e vá com ele até o Tribunal de Contas. Essa experiência já teve resultados \maravilhosos\. O funcionário tem que aprender a denunciar no momento certo.

 

 

Indiscutível, ser chefe é a escolha do melhor em todos os sentidos, o contrário é uma farsa, uma grande mentira que motiva insatisfações e degenera toda a estrutura da instituição.

 

 

Agora para você se for um \Chefe Carapuça\, malicioso, picareta, Fiodor Dostoievski já observava o riso das pessoas, quando sem maldade, as julgava excelente.

 

 

Se para você o fardo está muito pesado, peça ajuda ao subordinado para carregar juntos, não tente carregar sozinho, você não terá capacidade para tanto.

 

 

Até a Bíblia nos orienta quando prega: – \Muito será cobrado a quem muito é dado\. Se não consegue pagar, passe a dívida para algum subordinado.

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