Crônicas

Homem “feio”

Camila Menezes

publicado em 19/06/2008

Nunca gostei de homem burro,
daqueles que incorporam tribos indígenas inteiras e cospem:
“pra mim comer”, “pra mim beber”, “pra mim fazer” etc.
Muito menos dos que discutem sobre o Capitalismo em oposição ao Socialismo no cenário mercadológico das grandes potências mundiais.
Embora um oceano de bibliografia separe os dois moços,
ambos sofrem de uma completa falta de noção, seguida por uma disritmia descontrolada por não saber o momento certo de calar a boca.
Apesar das diferenças gritantes, os dois são igualmente burros.
E esse, pra mim, é o maior defeito que um homem pode ter.
Barriga se perde fazendo uma menor ingestão de chope.
Mau hálito com visitas ao dentista.
Pelos com tesoura.
Galhadas com uma boa surra de toalha molhada, mas, burrice, só nascendo de novo.
Adquirir cultura até da para conseguir na mesma encarnação, mas de nada adianta saber sobre as obras de Michelangelo ou Duchamp se não consegue perceber que boteco com os amigos não é ambiente, nem hora, de exibir tais conhecimentos artísticos.
Assim como não tem lógica ir ao boteco e só saber falar de problemas da empresa, ou do desempenho do time x no campeonato y.
O que defendo é o seguinte: inteligência vai muito além de enfileirar conhecimentos. Um homem inteligente é aquele que saber ser engraçado ao contar uma piada, mas sabe o momento exato de virar um gentleman e usar, sem exibicionismo, a sua cultura.
Inteligência, nesse sentido, é um TESÃO!
É uma delícia ser surpreendida por comentários sarcásticos, trejeitos irônicos, respostas inusitadas. Não saber de cor e salteado o discurso do outro, suas reações, pra mim, é uma dádiva! Aliás, não existe nada mais agradável num homem do que a sua capacidade de fazer a sua companhia ser surpreendente mesmo depois de muito tempo.
Um homem inteligente discorda sem brigar, e, se for preciso, briga, mas sem transformar a noite numa longa disputa pela razão.
Tórax torneado, barriga tanque e coxas são muito atrativos.
Mas eu troco fácil um bíceps bem definido por uma conversa inteligente regada a boas risadas e muitas doses de álcool.
Troco aquele espetáculo da academia, que não tem o menor senso de humor, por aquele gordinho cheio de trocadilhos inteligentes.
Troco ainda aquele homem saído das páginas da Vogue, mas que não sabe pronunciar corretamente o verbo VIR, pelo “desajeitado fashion” que tem o poder de transformar aquele filme cabeça numa hilária comédia romântica.
Porque, no final, o que realmente me excita não é aquilo que está escondido nas calças, mas bem no meio daquele discurso.

 

Camila Menezes é de Niterói.

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