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Natural e habitual

Maria Aparecida Francisquini

publicado em 05/04/2009 como www.partes.com.br/reflexao/mafrancisquini/natural.asp.

Estamos descobrindo que muitas das verdades que considerávamos incontestáveis, são mentiras, e que valores básicos de ética que assimilamos ao longo da vida, estão ultrapassados ou extintos.

É cada vez mais predominante o desleixo por valores éticos, que fica parecendo que se busca justamente a extinção desses conceitos como balizadores do comportamento humano.

Agir de maneira egoísta, mal educada, com total grosseria nos nossos atos e nas nossas falas está se tornando tão habitual, que quase nos convence que tudo isto é natural, que estas são as maneiras certas de agir.

Fica parecendo que o errado passou a ser certo, que conceitos básicos de cidadania, de respeito pelo outro, de boa convivência social, são antinaturais.

Que é natural ser desonesto, agir com total falta de respeito por quem quer que seja, sair gritando e esbravejando por qualquer coisa, ou começar uma briga pelos mais insignificantes motivos. E isto tantas vezes nos deixa com uma desagradável sensação de que estamos ultrapassados, que os valores que norteiam a nossa vida são obsoletos.

Ser mal educado, maltratar o outro, enganar, ser ‘esperto’ é mais importante.

Levar vantagem sempre, em qualquer circunstância (mesmo quando sabemos que estamos errados!), não aceitar levar ‘desaforo’, cultivar o egoísmo, ser arrogante, ostentar uma falsa aparência!

Não ser sincero, e se aproveitar de todas as maneiras possíveis de quem se atrever a ser correto.

Nunca ser gentil e muito menos educado, para não fazer papel de bobo, para não ser passado para trás.

Ter ambição, não a saudável que nos impulsiona e nos faz ultrapassar os obstáculos que surgem, mediante o nosso esforço e mérito, mas a ambição doentia, que nos faz procurar sempre o caminho mais fácil, mesmo que seja um atalho ilegal e desonesto.

Cada vez mais se cultiva a cultura de que para crescer na vida é preciso pisar nos outros, usar as pessoas do nosso convívio como degraus para a nossa subida.

Pessoas com este perfil se apegam a uma velha, mas sempre presente frase absurda que diz que ‘os fins justificam os meios’.

São tantos atos insistentemente repetidos, todos os dias, por um número assustadoramente crescente de pessoas, que apesar de assustarem, de causarem tanta indignação e mal estar, são tão bem assimilados e rapidamente espalhados na convivência social atual.

É tão comum pessoas demonstrarem tanto espanto com alguns (muitos) acontecimentos que tomam conhecimento, expressam imensa indignação diante de certas atitudes que presenciam, mas ao mesmo tempo, não fazem nada para mudá-los, muito menos para impedir muitos deles.

O que se vê inúmeras vezes é a facilidade com que protagonizam estas mesmas situações que criticaram, assimilam e incorporam na própria vida, comportamentos que tantas vezes até mesmo condenam no outro.

Como fica mais cômodo e conveniente, passam inclusive a fazer de conta que é natural agir assim! E se empenham em convencer um número cada vez maior de pessoas a agirem da mesma forma, se deixando levar pela insensata maneira de viver e conviver que tanto mal acarreta, nos deixando com uma desconfortável sensação de medo, de indignação e de preocupação, no que diz respeito aos caminhos que têm tomado o nosso mundo.

Qual destino chegaremos, se insistirmos em ignorar valores éticos básicos e imprescindíveis para a boa convivência humana?

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