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Por uma Educação Sistêmica

POR UMA EDUCAÇÃO SISTÊMICA

 Publicado originalmente em  em 07/07/2009 como www.partes.com.br/educacao/educacaosistemica.asp

*Edvânia Ferreira dos Santos

 

Edvânia Ferreira dos Santos Coordenadora da Educação Sesc, Instrutora/Consultora SEBRAE, Psicopedagoga Institucional/Clínica e Psicanalista

Resumo: O presente artigo pretende descrever e identificar nas obras de Paulo Freire – Pedagogia da Autonomia e Moacir Gadotti – Pedagogia da Terra itens que norteiam a educação como um sistema de ações que se entrelaçam e formam um todo no ato de aprender, compreender e conceber o mundo. Este formar um todo a partir do aprender e compreender a leitura de mundo é o mote da nossa discussão que podemos denominar de transdisciplinaridade que deve contemplar a ideia de (re)ligação com o mundo e com aqueles que nos cercam.

Palavras chave: educação, ecopedagogia, sustentabilidade, cidadania planetária.

Compreendendo o processo de formação do sistema

A sociedade atual passa por o que Moacir Gadotti preferiu chamar de processo de autodestruição, esse processo acontece não porque aumentaram-se a estrutura de arsenal bélico dos países ou porque se tem mais violência e conflitos no mundo. A autodestruição é um processo que acontece pela velocidade imposta pela globalização no tocante a informação, a necessidade abstrata de consumo e pela inquietação dos grupos em estarem fazendo parte destas aldeias globais.

Diante das condições impostas pela globalização, a educação do futuro precisa analisar os conteúdos e expressões das diversas culturas, o nível de informação, trabalhar a diversidade sem exclusão e garantir que meios de comunicação serão espaços de atualização e continuidade da educação ao invés de serem seus substitutos. Para contemplar todas essas nuances Gadotti sugere a transdisciplinaridade, mas essa só encontra sentido quando uma única ideia que seja esteja interligada ao sistema, a exemplo da ciência quando trata da ecologia – que convida outros conhecimentos para serem parceiros de uma relação maior, esclarecendo com a ajuda da botânica da zoologia o que antes ficaria limitados a descoberta com explicação fragmentadas.

O que a transdisciplinaridade propõe na educação do futuro é desfragmentar, desorganizar e encontrar como resultado da complexidade várias respostas e destas respostas a compreensão que cada processo oferece em si, gerando sempre novos desafios e pela compreensão destes a continuidade do ciclo de perguntas e respostas alimentando o sistema.

Esse quadro nos remete a condição de que o aluno chega à escola cheia de informações que superam por vezes aquelas orientadas apenas no seio familiar. A televisão, a internet e todo processo midiático, mostra que a pedagogia tornou-se  a ciência mais importante porque promove a aprendizagem, fato que mostra a amplitude de atuação por não estar a pedagogia  centrada, apenas, na questão didática, em como ensinar e na ética, na filosofia que questiona como devemos ser para aprender.

A sociedade sustentável – uma concepção ampliada de educação

O alerta para uma aprendizagem do ser é urgente e necessita de apreciação e ação mais contundentes. As constantes notícias de derretimentos das geleiras, a extinção dos animais, o desaparecimento veloz das espécies vegetais são um grito de socorro a espécie que consegue causar mais impacto ao seu habitat, a humanidade. Por isso, a ecopedagogia junta os conceitos de promoção da aprendizagem para vivência cotidiana consciente e a manutenção dos recursos necessários para o desenvolvimento do processo, trabalhando a cidadania ambiental e a cidadania planetária.

O grande impasse na realização do trabalho respaldando a sociedade sustentável é que por origem as questões ambientais são tratadas em separado das questões sociais. Isso porque, o que se entende por desenvolvimento sustentável situa-se na condição de que as necessidades do presente serão satisfeitas sem colocar em risco as gerações futuras – pois assim como o sistema, ela sugere a solidariedade sincrônica e diacrônica entre as pessoas e a sociedade.

É na diretividade da educação, esta evocação que ela tem como ação especificamente humana, de “endereçar-se até sonhos, ideais, utopias e objetivos, que se acha o que venho chamando politicidade da educação. A qualidade de ser política, inerente à sua natureza. É impossível, na verdade, a neutralidade da educação. E é impossível, não porque professoras e professores “baderneiros” e “subversivos” o determinam. (FREIRE, 2004: 110).

Mas, o que parece claro na relação sustentabilidade e capitalismo é uma incompatibilidade de princípios. Como pode haver sustentabilidade numa economia regida apenas pelo lucro, pela acumulação e exploração de mão-de-obra? Ampliando a discussão a questão sustentável coloca em pauta não apenas o crescimento acelerado mas também a forma de produção capitalista. Estas questões só passam a fazer sentido a partir da economia solidária. Gadotti afirma que, a utopia do desenvolvimento sustentável é certamente contraditória e parece não servir para grandes coisas, mas ela nos prestará um bom serviço, desde já, se nos guiar para uma sociedade do futuro na construção da solidariedade. Lembrando que, o Tratado de educação ambiental para as sociedades sustentáveis e responsabilidade global, descreve:

  • A educação ambiental deve ter como base o pensamento crítico e inovador, em qualquer tempo ou lugar, em seu modo formal, não formal e informal, promovendo a transformação e a construção da sociedade;
  • A educação ambiental é individual e coletiva. Tem o propósito de formar cidadãos com consciência local e planetária, que respeitem a autodeterminação dos povos e a soberania das nações;
  • A educação ambiental deve desenvolver uma perspectiva holística;
  • A educação ambiental deve estimular a solidariedade, a igualdade, valendo-se de estratégias democráticas e interação entre as culturas.

As críticas constantes ao conceito de desenvolvimento sustentável, ajudaram a elaborar um outro conceito chamado de ecodesenvolvimento que parte dos princípios de: satisfação das necessidades básicas da população; da solidariedade com as gerações futuras; a participação da população envolvida; a preservação dos recursos naturais e do meio ambiente em geral; a elaboração de um sistema social que garanta emprego, segurança social e respeito a outras culturas e programas de educação.

Todos os itens aqui descritos remetem que a educação para a cidadania não é apenas um movimento que trás anexos as várias ideologias. A elaboração de políticas de humanização perpassa pela preocupação dos governantes em torná-la realidade, nunca será possível falar do social sem estarem presentes os referenciais que o norteiam – a educação e vice-versa.

Os referenciais para a ecopedagogia

O que se possui hoje em termos de meios para a propagação da educação nos moldes sociais, está se esgotando. Isso porque, existe a velocidade de informação, a inovação inquietante dos meios e uma propagação global de todos os acontecimentos, mas, a educação não fluiu a esse ponto, existe a crise das potencialidades. Podemos então, questionar: Quais as fontes, referenciais que nortearão a ecopedagogia? O que sabemos é que as referencias dessa pedagogia são imprecisas e vai buscar suas bases em diversas fontes, que tem como um de seus influenciadores Paulo Freire.

Na pedagogia clássica o entendimento era antropocêntrico, na ecopedagogia há um direcionamento para a consciência planetária – do homem para o planeta, acima dos gêneros. Não se pode dizer ainda, que a ecopedagogia representa uma tendência concreta e notável na prática da educação brasileira, porque não possui suas categorias definidas e elaboradas e também este trabalho deve surgir de uma discussão com representação de todas as classes, não só dos especialistas. Assim, o discurso pedagógico deve nascer de uma prática concreta, testada e comprovada. O que devemos fazer é procurar pistas, experiências realizadas ou em andamento, que indicam as prováveis direções.

Finalmente, a ecopedagogia tem por finalidade reeducar o olhar das pessoas, isto é, desenvolver a atitude de observar e evitar a presença de agressões ao meio ambiente e aos viventes e o desperdício, a poluição sonora, visual, a poluição da água e do ar, para intervir no mundo no sentindo de reeducar o habitante do planeta e reverter a cultura do descartável.

REFERÊNCIAS

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa – São Paulo: Paz e Terra, 2004.

GADOTTI, Moacir. Pedagogia da Terra – São Paulo: Peirópolis, 2000.

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

BRASIL. Secretaria da educação. Diretrizes nacionais para a organização curricular do ensino médio. Brasília: MEC/SEF, 1998.

MORIN, Edgar. Ciência com consciência. 3. ed. Tradução por Maria D. Alexandre e Maria Alice Sampaio Dória. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1999.

____________. Os Sete Saberes Necessários à Educação do Futuro. 8ª ed. São Paulo: Editora Cortez; Brasília: Unesco, 2003.

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* Coordenadora da Educação Sesc, Instrutora/Consultora SEBRAE, Psicopedagoga Institucional/Clínica e Psicanalista.

Como citar este artigo:

SANTOS, Edvânia Ferreira dos. Por uma educação sistêmica. P@rtes (São Paulo). V.00 p.eletrônica. Julho de 2009. Disponível em <>. Acesso em _/_/_.

 

 

 

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