Cultura

O exercício da literatura em Santana do Ipanema-AL

Maria do Socorro Ricardo

publicado em 09/09/2009

www.partes.com.br/cultura/literaturaemsantana.asp

Maria do Socorro Ricardo.Foi aluna de Literatura, na UDESC, do professor Pires Laranjeira, da Universidade de Coimbra, Portugal. Autora dos livros “José Ricardo Sobrinho: um mágico da música”, Blumenau, 1997; “Diálogos com Santana iconográfica: de Zabé Brincão aos nossos dias”, Florianópolis, 2009, Literatura em Santa Catarina. Filha do maestro Zé Ricardo e da enfermeira Lu Farias Ricardo, filha de Misael Alves Farias que foi o segundo a assumir a cadeira no Poder Executivo em Santana do Ipanema, AL, sendo o primeiro o prefeito Joel Marques. Ambos, na primeira metade do século XX. À época, Misael Alves Farias, era o chefe dos fiscais da Prefeitura. Joel Marques (pai de Adeildo Nepomuceno) e Misael Alves Farias trabalhavam juntos na Prefeitura de Santana na condição de fiscais que viajavam em lombo de burro por todos os rincões do município sertanejo. Com o passar do tempo, Joel Marques assumiu a Prefeitura. Quando Getúlio Vargas, no Estado Novo, caçou mandatos, Joel Marques deixou a documentação da administração pública municipal às mãos de Misael Alves Farias, que assumiu a Prefeitura, e passaria a administração do município a quem fosse indicado por Vargas.

Hoje acordei com “O Sonho de Alice”, da escritora Lúcia Nobre, de quem já havia lido “Cotidiano: entre palmas e arvoredos”. Então acompanhei, passo a passo, esta personagem, desde o Batatal, aquela terra vermelha no interior do município alagoano de Santana do Ipanema. Visitei a casa de Alice e vi Dona Júlia costurar roupas em sua máquina manual. Descobri Alice lavadeira e me surpreendi com o peso das roupas que Alice lavava e, após o jantar de Alice, o ferro de passar sendo alimentado por brasas vivas transferidas do fogão à lenha. Escutei a história de trancoso ao reunir-se à noite a família sertaneja, e depois me diverti com os divertimentos de Alice. Esta saga de Alice escrita por Lúcia Nobre é de fato uma canção. Lúcia Nobre é uma escritora experiente e com publicações que vão de “Sebastião e Helena: crônica e pensamentos”, seguida por “Do Índio a Collor: principais acontecimentos políticos, econômicos e sociais do Brasil”, e também “Centelhas de amor: pensamentos”, aí, em 1998, veio o romance “O sonho de Alice”, além de outros títulos.

No livro “À sombra do juazeiro: casos e loas”, do Portal Maltanet, Lúcia Nobre é uma das autoras desta antologia de escritores santanenses que assinam o “Mural de Recados” neste provedor cuja edição do trabalho deve ir às escolas e bibliotecas. Em “Cotidiano: entre palmas e arvoredos”, Lúcia Nobre nesta antologia (para citar esta palavra certamente usada por Meléagro, aquele poeta da antiga Grécia, no sentido de usar em um mesmo livro várias peças literárias) que assina só; cito um texto “Convivendo com fantasmas”, que está na p81, da edição de 2008, enquanto a protagonista preparava o almoço em seu apartamento na praia de Pajuçara, em Maceió, dividia a solidão com um fantasma. Esta peça está pronta para ser levada aos palcos ou algum trabalho audiovisual.


Está esclarecido no patrimônio histórico de Santana do Ipanema-AL, patrimônio histórico em minha memória de escritora e pesquisadora santanense, que os meios de comunicações sertanejos contribuíram para o surgimento dos talentos literários. Há uma criatividade latente no cotidiano e na cultura urbana de vários municípios alagoanos. Santana do Ipanema pode-se sentir feliz por ter sido o berço do autor de “João Urso e outros contos”, pode-se sentir feliz por ter sido um dos maiores escritores da língua portuguesa, Graciliano Ramos (e, aqui, parênteses: a esposa de GR, Dona Lola, tendo se encontrado com Marcello Ricardo Almeida, durante um festival de teatro em Arapiraca, aprovou a sua criação do método Teatro-Feijão-Com-Arroz) quem construiu a estrada de Palmeira-Santana que antes era um caminho do empreendedor Delmiro Gouveia, Graciliano Ramos cita em seu romance “Angústia” o rio e a cidade Santana do Ipanema, pode se sentir feliz por ter sido palco de muitos e importantes escritores, tendo sido um deles José Lins do Rego Cavalcanti, autor que era amigo de Santana do Ipanema, autor prestigiadíssimo de obras como “Menino de Engenho”, 1932, “Riacho Doce”, 1939, e Agnaldo Silva, em 1990, a minissérie Riacho Doce para a TV Globo, da obra de José Lins.


Não vou culpar a facilidade midiática, Era do Blog, onde a democratização da escrita oferece, sob todos os aspectos imaginados e inimagináveis, aquele que se alfabetiza em optar se escreve suas impressões “literárias” em um diário, agenda, caderno, pedaço de papel ou cria seu próprio blog e possibilita ao mundo, em tempo real, conhecer as imagens e/ou os textos do aspirante a escritor ou escritor ou ainda do escritor profissional. Estas três categorias aos que se dedicam ao ato de escrever, desde que seja escrever de maneira artística. Não é porque alguém recebeu a sua CNH que será transformado em um piloto de Fórmula Um; quem se alfabetiza não será, por isto, transformado em escritor, pois escritor não é jornalista ou qualquer outro que lida com a palavra escrita, mas quem escreve como quem reinventa outra maneira de se expressar.

Continuo afirmando que Santana do Ipanema é Terra de Escritores. Esta placa deve ostentar as entradas da cidade: “Bem-vindo a Santana do Ipanema: Terra de Escritores” como expressão verdadeira e de autoestima aos amigos de Santana do Ipanema – com a palavra o poder público e os clubes de serviço, o comércio e a indústria. Não apenas de escritores dos tempos de Oscar Silva, Tadeu Rocha, Marcello Ricardo Almeida, Brenno Accioly, Agnaldo Nepomuceno Marques, José Marques de Melo, Fernando Nepomuceno Filho, Clerisvaldo B. Chagas, Morche Ricardo Almeida, Djalma de Melo Carvalho, Lúcia Nobre, José Pereira Monteiro, José Peixoto Noya, José Geraldo Nepomuceno Marques, os irmãos Sérgio, Fábio, Fernando Soares Campos, João Neto Félix Mendes, Cláudio Campos, José Albérico Alécio, Manoel Constantino Filho, Remi Bastos, Maria do Socorro Ricardo, José Antonio Soares Campos, João Francisco das Chagas Neto, Luiz Antonio de Farias, Roberval Noia, José Avelar Alécio, Antonio Alves Sobrinho, Maria Goretti Brandão, José de Melo Carvalho, Valter Alves de Oliveira Filho, Mozart Brandão Barros, José Cândido, Sebastião Florestino Malta, José Malta Fontes Neto, Mário Pacífico, Maria Aparecida Silva dos Santos, Francisco Roberval Ribeiro, Lúcia Azevedo, Pedro Pacífico Filho, Plácido Nunes, José Ormindo, Maria Aparecida Silva dos Santos, Ellen Karla, Robério Magalhães, Pe. José Neto de França, Jorge Vieira, José de França Filho, Maria Cilene, Maria de Lourdes Nascimento, Manuel Augusto, Sibele Arroxellas, Rogivaldo Chagas, Luciene Amaral da Silva, Carlindo de Lira, Maria Cícera Gomes, Eduardo Bonfin, Roberto Gonçalves, Fernando Valões, Suzy Maurício, os irmãos Floro e Darci Araújo de Melo, Sílvio Nascimento Melo, Ivone Bulhões, Luis Vilar. Esta lista é ainda maior, pois se avoluma a cada ano. “Santana do Ipanema-AL: Sertão de Escritores” assinalei em minha obra “Diálogos com Santana iconográfica: de Zabé Brincão aos nossos dias”, 2009, Florianópolis, Literatura em SC. “Santana do Ipanema: Terra de Escritores” não é um fenômeno deste princípio de século XXI, porque tínhamos no início do século XX – portanto, há um século antes deste momento – o Pe. Francisco Correia e outras celebridades santanenses escritores. Acuso a liberdade de pensamento sertaneja e a livre expressão dos poetas populares de minha terra maternal, estes passaram todo o século XX compondo os seus poemas de cordéis dos mais variados estilos. Nas quartas-feiras e sábados, os poetas santanenses estendiam os seus poemas sob toldas, cantava-os ao som de viola, esta poesia popular de origem oral e antiga, anterior aos folhetos rústicos impressos em gráficas de fundo de quintal, com ilustrações de belíssimas xilogravuras. Esta arte poética no Brasil do século XVIII, de origem trovadoresca portuguesa.

O Portal Maltanet oportuniza o surgimento de novos talentos literários. Além deste provedor há também Santanaoxente e Sertao24horas que oportunizam o surgimento de novas promessas literárias. Alguns (e só o tempo dirá) se firmarão nesta maneira artística de se expressar, outros serão nuvens passageiras (ao que desejo que sejam poucos os que irão desistir em continuar neste exercício artístico de escrever). Há quem se arrisque ainda na fase de alfabetização a querer ser poeta metrificando sem saber metrificar e com rimas pobres, poemas pés-quebrados, ingênuos, piegas, quando ainda não se descobrira. Talvez um dia se acorde para dizer “Eu queria mudar o mundo, mas foi o mundo quem me mudou o meu DNA, o meu DNE, o meu DNI, o meu DNO, o meu DNU” (Diálogos com Santana… /2009/Florianópolis). Quando li o livro “À Sombra do Juazeiro”, 2008, SP, e antes “À Sombra do Umbuzeiro”, 2006, edições do Portal Maltanet e conheci as “histórias engraçadas”, as “marcas do passado”, os “contos”, as “crônicas” e os “poemas”, então disse a mim mesma: estou convencida de que alguns destes autores sexagenários anteriormente citados aos poucos apresentam as suas qualidades literárias provando a minha tese de que Santana do Ipanema é verdadeiramente Terra de Escritores. Este é o exercício da literatura em Santana do Ipanema.

Escritora e pesquisadora Maria do Socorro Ricardo.

Autora de “Diálogos com Santana iconográfica: de Zabé Brincão aos nossos dias”

Leia: http://www.capitalismoemsantanadoipanema.blogspot.com

Deixe um comentário