Cultura

Norminha e a Mulher de Trinta Anos

(Dira Paes) foi Norminha em Caminho das Índias (2009).

Larissa Daiane Pujol Corsino dos Santos1

publicado em 27/09/2009

www.partes.com.br/cultura/norminha.asp

 

Larissa Daiane Pujol Corsino dos Santos é Professora, poeta, crítica literária

Ao tocar a vinheta “você não vale nada, mas eu gosto de você“, anunciando os passos da personagem Norminha, da telenovela Caminho das Índias, observo Balzac entrando em cena. Com olhares amendoados e um caminhar bem desenhado – quase gráfico – Norminha faz da sua maturidade um recurso de acúmulo de sensualidade. Toda a experiência obtida ao longo de sua vida serviu-lhe para armazenar as técnicas mais audaciosas de sedução, vistas nas suas vestes, e nas suas franjas “pega rapaz” que a tornam uma “caricatura” sedutora, até então. Norminha trata de aproveitar seus hormônios ao máximo, dentro e fora de casa, manipulando o marido, Abel, ao mesmo tempo em que fisga olhares de outros partidos. Logo, Honoré de Balzac, em A Mulher de Trinta Anos, também faz um panorama da mulher que está nesse decênio, através de um folhetim desvairado no século XVIII. O autor questiona as mazelas do matrimônio, as quais definem a mulher como “rainha do lar e escrava”. Com isso, a leviandade feminina aflora nesse poder patriarcal de proibição e dominação, cujo conservadorismo não é mais que um instrumento de erotismo.

É o que se observa em Norminha, casada, mas insaciada, e com uma subversão extrema aos preceitos sociais. Julie, torna por obrigatório, o desejo pessoal antes de tudo – mesmo casada e vista como um objeto pelo seu esposo. Como afirma Philippe Berthier (2000)*, “ideologicamente, sabemos que Balzac respaldava o casamento, e esta obra tinha a função de um libelo contra a ‘leviandade da mulher’, dando origem a uma Julie remoída por abissais sentimentos de desejo e culpa, mas o próprio texto e os personagens se encarregam de traí-lo e fica-nos uma forte impressão de que Balzac o denuncia nas entrelinhas em suas estruturas mais fundamentais”.

O casamento é visto, na obra de Balzac, como uma instituição desleal, na qual a mulher perde para uma a sociedade que é indulgente com o homem. No entanto, embora o casamento arranjado faça parte da cultura hindu apresentada na telenovela, Norminha é a “mulher de 30 anos”, do século XXI, pois sua ampla racionalidade permite que ela tenha um senso, quiçá, vingativo. Claro que, não somente pela parte de Norminha, mas de todo um gênero subjugado ao longo dos tempos.


* BALZAC, Honoré. A Mulher de Trinta Anos. Nota de Philippe Berthier. São Paulo: Estação Liberdade, 2000.

Como citar este artigo:

SANTOS, Larissa Daiane Pujol C. dos. Norminha e a Mulher de Trinta Anos. P@rtes (São Paulo). V.00 p.eletrônica. Setembro de 2009. Disponível em <..>. Acesso em _/_/_.

1 Professora, poeta e crítica literária. Pós-Graduada em Literatura Brasileira PPGL/UFRGS. Mais informações: http://lattes.cnpq.br/2860001847642918

E-mail: pujol.larissa@gmail.com Site pessoal: http://www.larissapujol.blogspot.com

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