Crônicas

Pela janela

Pela janela

Revista Partes – Ano V – 06/09/2012 20:14:15 como www.partes.com.br/cronicas/pelajanela.asp
Por
Vandré Abreu

Pela janela passava quase todas as coisas do mundo. Passava todas as estrelas, não as constelações. A lua passava inteira e parava bem em frente, como se fosse a hora da meditação. Passavam rapidamente as pessoas atuais, com pouco tempo para contar das suas vidas, ou para conversar. O tempo passado também trazia pessoas antigas, essas ficavam bem mais, mas só com as lembranças.

Ficava muito tempo olhando as pessoas passadas. Sentia faltava de algumas e muita, mas muita falta mesmo, de poucas. Essas ele ficava olhando por muito tempo, esperando que elas dissessem o que fazem da vida, mas elas só apareciam na lembrança. Nas janelas delas ele não passava, nem em lembrança. Depois de um tempo ele não saiu mais de frente da janela.

Pela janela ia passando o mundo, a vida, o tempo… Só a solidão é que ficava. A Alegria já tinha ido embora, as flores, a chuva, o sol, a lua, o vento e todas as palavras bonitas que ele tinha guardado pra usar um dia. A solidão aponderou-se, ali ao lado, se escondia atrás da porta quando as pessoas atuais passavam rapidamente, mas logo voltava.

Todos os sonhos se escondiam atrás da porta, e só saiam de lá para fugir da solidão. Aí sentava ali do lado, com as pessoas atuais, mas logo voltava para os seus lugares. Era bem mais fácil guardar os sonhos em alguma gaveta e trancá-los, para não perdê-los. Não queria. Talvez quisesse que eles passassem pro outro lado da janela e passassem juntamente com os sonhos mais antigos, que vinham juntamente com as pessoas antigas.

Pela janela os carros corriam ainda mais rápidos, os casos, os atos e os ateus sumiam logo que a janela se abria. Ficou sozinho na janela, encarando Deus e a filosofia. Tomava cuidado com a inocência. Não sabia de seus inimigos, mas tinha certeza que eles também passavam pela janela, de braços dados com os amigos mais antigos e até com os mais novos, que vão ficando mais antigos e nas lembranças cada dia mais.

Ficava observando o mundo passar o dia todo. Parado. Tomava conta do poeta também, embora visse todas as poesias passando, rapidamente, sem que ninguém as percebesse. Via cartas, e-mail´s, textos, bilhetes e todas as suas declarações correndo, sem destino. As pessoas novas e antigas haviam deixado escapar. Ele já não queria aquilo, era do tempo.

Pela janela via as pedras do caminho, ás vezes, alguma o acertava. Ele não se dava o trabalho de abaixar. A solidão nunca era atingida. Ele queria ser como ela. Ser todas as horas sozinho, pensando ser uma ilha perdida entre janelas. Pela janela perdia seus planos e seus sonhos, um de cada vez, também fugia pela janela. Alguns ele tentou segurar, em vão.

Olhava as noites e os dias. Já não se desesperava, se ajeitava e se conformava ao pensar que a vida era só aquilo. Quando as pessoas voltavam nada mais encontravam. Ele e a solidão já eram a mesma coisa.

 

Vandré Abreu Batista de Oliveira, 21 anos, poeta, contista, cronista e romancista, Goiânia/GO

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