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O verdadeiro amor nunca acaba

O VERDADEIRO AMOR NÃO ACABA NUNCA…
O QUARTO VERDE
(La chambre verte – França, 1976)
Direção: François Truffaut
Roteiro: François Truffaut
nair lúcia de britto
Nair Lucia de Britto

Julien Davenne (François Truffaut) trabalha como jornalista na redação de um jornal, numa cidadezinha francesa. Colegas e amigos o consideram uma pessoa muito estranha, diferente, arredia. Alguns julgam até que ele ficou meio doido, depois que sua esposa, a quem ele muito amava, morreu. Apesar de já ter completado dez anos da triste passagem, sua conduta sombria era a mesma.

Para homenagear a esposa que partira tão jovem e bonita, Julien reserva um quarto em sua casa para guardar todos os pertences dela. Pinta as paredes do quarto de verde e ali guarda todos os objetos que eram dela. Costuma visitar o quarto verde com frequência e, ali, se entrega às maravilhosas lembranças de um belo amor vivido que lhe trouxera os momentos mais felizes da sua vida.
Entretanto um incêndio destrói o quarto verde, mas Julien não se dá por vencido.
Ao ver uma Igreja corroída pelo tempo tem a ideia de reconstruí-la para construir o seu memorial. Com muito custo convence o padre, responsável pela construção em decadência, para que a vendesse.
Depois de cuidadosamente reconstruído, Julien transporta os pertences da esposa para o novo memorial. Não era, porém, somente saudades da esposa que ele sentia; mas também de muitos amigos que haviam morrido jovens, durante a primeira guerra mundial; e de outras personalidades mais idosas, habitantes daquela cidade, que haviam deixado um belo exemplo de vida.
Daí porque resolve também homenageá-las colocando seus retratos expostos numa parede, com o respectivo nome e o benefício que cada uma delas fizera durante suas vidas. E assim ele divide seu tempo entre o memorial, a redação do jornal e a casa onde mora com uma governanta e um menino deficiente, de quem ele cuida.
Foi num leilão que ele vem a conhecer Cecília Mandel (Nathalie Baye), uma bela jovem que se encanta com a personalidade singular de Julian e se identifica com ele porque também sofria muito com a perda do pai a quem tanto amava e que também não conseguia esquecer. Unidos na dor ambos tornam-se grandes amigos; amizade que Julian preza muito porque Cecília era a única pessoa que conseguia entendê-lo. Mas a amizade se dissolve quando Julian descobre que Cecília tinha sido amante de Massigny, um homem sem princípios morais, e uma das pessoas cuja decepção o fizera perder a confiança nos vivos.
Cecília não suporta aquela separação repentina com Julian, a quem aprendera a amar e admirar muitíssimo. Desesperada vai procurar por ele para lhe pedir perdão e revelar seu grande amor e lhe propor casamento.
Comovido com suas palavras sinceras, Julien a perdoa, mas revela não poder, de forma alguma, se casar com ela porque ele jamais deixaria de amar sua esposa a quem seria eternamente fiel. Por isso lhe pede, pelo amor que a moça lhe dedica, que Cecília acendesse por vela por ele, naquele memorial sagrado, junto à vela que ele mantinha acesa por sua esposa.
Truffaut produziu em filme, inspirado no livro The Altar of the Dead, escrito em 1895, por Henry James, um escritor norte-americano, muito inteligente e bastante criativo, que era conhecido pelos temas excêntricos, que abordava nas suas obras literárias.
Apesar de seu grande sucesso como cineasta, este filme de Truffaut foi um grande fracasso de bilheteria, devido a impressão equivocada do público em relação à temática a qual se atribuiu até um certa tetricidade.
No entanto esse filme, além da originalidade, mostra a grande força de um amor verdadeiro e que a vida preciosa de pessoas que foram tão especiais em sua existência não podem terminar simplesmente de forma tão banal. Antevê a imortalidade do ser humano que, pelo seu merecimento, terá um lugar especial para recebê-lo, n’outro plano.
Talvez, na época, Henry James não soubesse; mas o que imaginou ao escrever esta obra é absolutamente verdade.

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