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A “possibilidade” de uma transformação a partir da apropriação das tecnologias da “informação”: refletindo as recentes manifestações que ocorreram no Brasil

A “POSSIBILIDADE” DE UMA TRANSFORMAÇÃO A PARTIR DA APROPRIAÇÃO DAS TECNOLOGIAS DA “INFORMAÇÃO”: REFLETINDO AS RECENTES MANIFESTAÇÕES QUE OCORRERAM NO BRASIL

Zaqueu Luiz Bobato[1]

Zaqueu Luiz Bobato é professor do Departamento de Geografia da Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro) campus de Irati-Pr. Doutorando em Geografia pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Mestre em Geografia Gestão do Território pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Licenciado em Geografia pela Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro). E-mail: zaqueudegeo@gmail.com

Os escritos que seguem nesta revista resultam de reflexões realizadas na madrugada de 21 de junho de 2013 uma sexta-feira. Confesso que foi para mim uma madrugada de preocupação, pois acompanhando pelos meios de comunicação (TV e internet) os “rumos” que as manifestações tomaram nos diversos territórios do Brasil, comecei a relembrar e a repensar minhas concepções acerca de meu engajamento enquanto um ser social, um fomentador de ideias e atitudes nesta complexa sociedade brasileira.

O repensar me fez trazer para estes escritos a concepção do autor brasileiro “Milton Santos” presente no livro “Por uma outra globalização: do pensamento único a consciência universal” (o autor possuía formação na área do Direito e na Geografia). Acredito que isto veio em mente pelo fato de há vários anos eu procurar entender a obra do Milton, bem como sua crença de em “algum momento” concretizar-se uma “transformação” a partir de um movimento liderado pelos injustiçados, os desprovidos da lógica capitalista no território brasileiro. Mas como falam algumas pessoas por aí: chega um momento que “a casa cai”, no meu caso em meio aos acontecimentos das manifestações percebi que a “casa caiu”, e mais, no meu pensar também a “crença caiu”, portanto, vou explicar!

O enfoque de minha reflexão em torno da proposta do Milton a partir do material “Por uma outra globalização” leva em consideração a abordagem que ele faz sobre o “avanço” do meio técnico, meio este que resultou na produção de equipamentos geradores de “informação”, assim como, de “desinformação” como o próprio Milton destacou em vida. Portanto, o meu repensar se dá a partir desta questão: “a possibilidade” de uma transformação a partir da apropriação das tecnologias da “informação” disponíveis na vivência cotidiana dos cidadãos, sejam eles “ricos” ou “pobres”.

Pois bem, o Milton acreditou que as tecnologias da comunicação e da informação poderiam servir para transformações sociais significativas se as pessoas conscientemente delas se apropriassem. Nas palavras do Milton Santos (2001, p. 20-21):

Considerando o que atualmente se verifica no plano empírico, podemos, em primeiro lugar, reconhecer um certo número de fatos novos indicativos da emergência de uma nova história. O primeiro desses fenômenos é a enorme mistura de povos, raças, culturas, gostos, em todos os continentes. A isso se acrescente, graças aos progressos da informação, a “mistura” de filosofias, em detrimento do racionalismo europeu. Um outro dado de nossa era, indicativo da possibilidade de mudanças, é a produção de uma população aglomerada em áreas cada vez menores, o que permite ainda maior dinamismo àquela mistura entre pessoas e filosofias. As massas de que falava Ortega y Gasset na primeira metade do século (La rebelión de las masas, 1937), ganham uma nova qualidade em virtude da sua aglomeração exponencial e de sua diversificação. Trata-se da existência de uma verdadeira sociodiversidade, historicamente muito mais significativa que a própria biodiversidade. Junte-se a esses fatos a emergência de uma cultura popular que se serve dos meios técnicos antes exclusivos da cultura de massas, permitindo-lhe exercer sobre esta última uma verdadeira revanche ou vingança. É sobre tais alicerces que se edifica o discurso da escassez, afinal descoberta pelas massas. A população aglomerada em poucos pontos da superfície da Terra constitui uma das bases de reconstrução e de sobrevivência das relações locais, abrindo a possibilidade de utilização, ao serviço dos homens, do sistema técnico atual.

 

 Os escritos destacados que foram elaborados pelo Milton, em diversos momentos de minha vida fizeram eu pensar e idealizar uma transformação virtuosa no território brasileiro. Seria perfeito ver a massa se apropriar dos meios técnicos informacionais disponíveis e produzir uma “outra realidade portadora de desenvolvimento com equidade social” no país que tanto amo. Ainda há alguns meses atrás estive pensando em tudo isto a partir de uma análise sobre a “popularização” da internet, o número de usuários aumentando, a juventude interagindo nas redes sociais, o facebook “bombando” como dizem muitos adolescentes. Pois é, “ricos” e “pobres” interagindo em meio aos processos produzidos pela “globalização”!

Confesso que quando estava pensando essa interação há alguns meses atrás, o pensamento do “apropriar-se” tão enfatizado pelo Milton, ressoou no meu pensar. O ressoar me encheu de “expectativa” e de certa forma “esperança”, pois pensei “um dia tal fato se concretizará”. Isso é verdade, eu pensei mesmo, e vou continuar pensando, pois eu não estou dizendo que Milton Santos (autor que respeito e admiro), acreditou em algo impossível de acontecer, não, o que quero dizer é que ele idealizou um processo que para ser de fato efetivado, o mesmo necessitaria e no caso do Brasil “necessita” de forte “educação reflexiva”.

Bom, é hora de iniciar o desfecho deste texto! Pois bem, o Brasil ao vivenciar recentemente as diversas manifestações nas ruas, apesar de elas não conseguirem concretizar o que o Milton teorizou, analiso que tais acontecimentos se caracterizaram sendo um rico “treinamento” para que possamos pensar uma “transformação” de fato para este país. Repito, foi um treinamento e particularmente achei muito positivo, contudo, nele constatei alguns “desajustes”, portanto, tais desajustes necessitam ser pensados “conscientemente”, isto para que de fato possamos produzir uma transformação nos moldes do pensamento Miltoniano posteriormente.

A partir de meu posicionamento você poderá se perguntar e tem todo o direito, por que posteriormente e não agora? Respondo conscientemente: nossa maturidade reflexiva não está devidamente fortalecida (ainda). Infelizmente, nos deixamos levar sendo influenciados pela mídia por grupos específicos que disseminam interesses particulares em detrimento do coletivo, logo, bem rapidinho passamos da condição de “manifestantes” para “massa de manobra” e isto acaba com a transformação que se projeta num primeiro momento.  Bom, tudo isso de certa forma é reflexo do modelo de educação que temos. Interessante, pois o Milton não teoriza a produção de um outra globalização levando em consideração a estrutura educacional de um país.

Talvez aí é que se encontre o problema da lentidão do processo de transformação ocorrer de fato, ou seja, a transformação é dependente da educação que por sinal se liga a capacidade de reflexão de tomada de consciência de um indivíduo. Muito bem, é isso então! Precisamos fortalecer a educação institucionalizada, em outras palavras, a educação gerada a partir das escolas das universidades, isto para que de fato possamos produzir uma transformação no país. Em síntese destaco que isso me faz acreditar que precisamos nos mobilizar na verdade é “Por uma outra educação: que forme um cidadão com consciência crítica e racional”, caso contrário, corremos o risco de ser facilmente enganados, servindo assim de massa de manobra para “alguns”.

 

Referência do livro discutido

SANTOS, Milton. Por Uma Outra Globalização: do pensamento único à consciência universal. Rio de Janeiro. Record, 2001.

 

[1]  Professor do Departamento de Geografia da Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro) campus de Irati-Pr. Doutorando em Geografia pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Mestre em Geografia pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Graduado em Geografia pela Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro) campus de Irati-Pr. E-mail: zaqueudegeo@gmail.com

 

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