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“Enigmas da modernidade-mundo” de Octávio Ianni

Cassiano Telles[i]

Cícera Andréia de Souza[ii]

Cícera Andréia de Souza é Especialista em Educação Física Escolar/UFSM, Mestrando em Educação Física/UFSM, cissadesouza@yahoo.com.br

Resumo: Octavio Ianni nasceu em São Paulo em 1926, faleceu em 2004. É considerado, assim como Florestan Fernandes e Fernando Henrique Cardoso, um dos principais sociólogos do Brasil. Ianni foi um dos primeiros a lançar mão do método dialético para desvendar enigmas da formação histórica do Brasil e as contradições econômicas, sociais e políticas no início da modernidade capitalista no país. Esta obra é uma tentativa de Ianni a percorrer os processos que constituíram a sociedade contemporânea, utilizando-se dos recursos teóricos provindos de vários vieses do pensamento social.

Palavras-Chave: Modernidade, Sociedade, Política.

Introduzindo a Obra

No livro Enigmas da modernidade – mundo, Ianni percorre pelos processos que constituíram a sociedade contemporânea trazendo uma série de dilemas e de impasses da modernidade. No capitulo VI, o autor destaca duas importantes figuras para o pensamento político moderno: Nicolau Maquiavel (através de O Príncipe escrito em 1513) e Antônio Gramsci que criou uma teoria para um moderno príncipe. Segundo o autor (p.143) “Tudo no que se refere a O Príncipe, de Maquiavel, como a O moderno príncipe, de Gramsci, estão em causa figuras e figurações fundamentais da política” e complementa afirmando que nesse sentido as duas obras referem-se a tipos ideais de construção de hegemonias.

O que o autor questiona é se os arquétipos destacados por Maquiavel e por Gramsci continuam convincentes em obras de outros autores já no final do século XX,

Cassiano Telles – Pós-Graduando em Educação Física Escolar do Centro de Educação Física e Desportos da Universidade Federal de Santa Maria-RS CEFD/UFSM, membro do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Física do PPGE/UFSM. telleshz@yahoo.com.br

já que os desafios histórico-sociais são outros. Ele destaca (p.143): “cabe perguntar se hegemonia e soberania compreendendo líderes e seguidores, dirigentes e subalternos, aliados e adversários, ou virtú e fortuna, ainda tem algo, muito ou nada a ver com um, outro ou ambos os príncipes”. O autor indica que os príncipes da atualidade precisaram se configurar ao novo contexto promovido pela globalização e logo pelas tecnologias de comunicação, exigindo um príncipe eletrônico. As esferas teóricas e práticas da política precisam se modificar em função desse novo tempo.

O príncipe eletrônico que Ianni enfatiza (p.148) “é uma entidade nebulosa e ativa, presente e invisível, predominante e ubíqua permeado continuamente todos os níveis da sociedade (…)”.  A partir daí o autor desenvolve uma série de argumentos que mostram como a mídia influência na sociedade, e inclusive na própria postura do atual “príncipe”. O bom príncipe da atualidade deverá saber utilizar a mídia a seu favor.

Contextualizando a Obra

O que resulta em tal utilização é os dilemas encontrados dentro desta modernidade, que foge das previsões dos pós-modernos. Octávio Ianni com esta obra conserva sua posição crítica e contestadora do que já existe, posição que ilumina sua vida e fecunda sua obra.

Como elabora neste Ianni (p.142) “O príncipe de Maquiavel, com o qual se inaugura o século dezesseis o pensamento político moderno, é a sua expressão mais conhecida, notável, influente e controvertida.” Os pensadores que dialogam com esta lógica são muitos, por isso de muitos textos da época ter este como base, ou melhor, muitos governantes ainda tem Maquiavel como uma leitura frequente.

Buscam com isto desenvolver formas para entender como ocorrem as políticas econômicas e sociais, recorrendo a jogos políticos e forças sociais para constituírem fortuna. Em todos os casos estes são tiranos, ou melhor, príncipes, reis, presidentes, governantes, coronéis, patriarcas que se mostram preparados para pensar e dirigir seu povo, administrando a fortuna por eles construída.

Segundo Ianni (p. 150) “no século vinte, Gramsci formula a teoria do Moderno Príncipe, isto é, do partido político como interprete e condutor de indivíduos e coletividades, grupos e classes sociais”.  Assim este príncipe se revela capaz de administrar o estado/nação, desenvolvendo um projeto ou melhor, transformando a sociedade.

Assim sendo este torna-se fundamental para a política do país, sendo que tem o poder de hegemoniza-la, organizando e consolidando a soberania. Para Ianni (p.154) “Nessa época, as tecnologias eletrônicas, informáticas e cibernéticas impregnam crescente e generalizadamente todas as esferas da sociedade nacional e mundial; e de modo particularmente acentuando as estruturas de poder”, resumindo hoje são muitas as maneiras de se impor e sobre por, sendo utilizadas várias tecnologias para esta nova era de globalização.

Trata-se de um desenvolvimento novo, alterou-se as formas de sociabilidade e os jogos das forças sociais, em uma forma muito mais ampla e complexa, que vem contradizer a sociedade civil.  O Príncipe de Maquiavel trabalhava com simples categorias de hegemonia e soberania, já o príncipe eletrônico é uma entidade nebulosa e ativa, presente e invisível, predominante e ubíqua, permeando continuamente todos os níveis da sociedade, em âmbito local, regional e mundial. Ele é intelectual é presente, está em todas as partes tem acesso a todas as pessoas, esta atuante em escala municipal, regional, estadual e mundial, sempre dentro do contexto socioculturais e político econômicos desenhados pelo novo mapa capitalista.

A dispor destas tecnologias os líderes perpassam além de partidos políticos mas viram gerentes de organizações e empresas, agências governamentais ou não.  Tornam estas instituições cada dia mais marginalizadas e mutiladas por suas influencias, estas que as colocam na mídia, dinamizando a organização e forma de vida que devemos levar.

Este mundo pós-moderno está voltado a moldes sistêmicos, em toda esta vasta rede sistêmica de comunicação onde se articulam mercados e mercadorias, capitais e tecnologias. O príncipe eletrônico esta em tudo, nas mais notáveis mídias, sendo forte na indústria cultural, propagando esta visão de consumo e poder político a população.

Considerações Finais

As últimas manifestações ocorridas em nosso país deixaram ainda mais claro o poder dos meios de comunicação amplamente evidenciado na obra de Ianni. Dessa vez as mídias, principalmente através das redes sociais, favoreceram o diálogo do povo que por sua vez conseguiu se reunir em busca de seus direitos. De várias maneiras aqueles que dominam o “quarto poder” tentaram abafar as mobilizações, escondendo inicialmente o que vinha ocorrendo e posteriormente mascarando muitos acontecimentos. Mas o fato é que assim como os meios de comunicação podem servir aos supostos príncipes pode também servir ao povo, a partir do momento em que esse for educado para conseguir usufruir de maneira produtiva esses meios.

IANNIOctavioEnigmas da modernidademundo. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2003.


[i] É Especialista em Educação Física Escolar/UFSM, Mestrando em Educação Física/UFSM, Membro do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Física/GEPEF/UFSM, telleshz@yahoo.com.br

[ii] É Especialista em Educação Física Escolar/UFSM, Mestrando em Educação Física/UFSM, cissadesouza@yahoo.com.br

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