Educação Educação

Stephane Janaina de Moura Escobar Graduada em Nutrição pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Especialista em Formação Pedagógica do Professor Universitário pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Mestranda em Ciências-Bioquímica pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Tem experiência na área de Bioquímica, com ênfase em Nutrição, atuando principalmente nos seguintes temas: flavonóides, mitocôndrias e células tumorais

Paradigmas Conservadores e Inovadores na Prática Pedagógica do Professor Universitário

Stephane Janaina de Moura Escobar*

Resumo

Os paradigmas educacionais influenciam a prática pedagógica e a formação dos professores, pontos fundamentais no aprendizado estudantil, o que torna relevante o estudo a esse respeito. O objetivo deste artigo é relatar as características dos paradigmas conservadores e inovadores, exaltando as influências que cada um teve para as práticas atuais de ensino.

Palavras-chave: Educação, Paradigmas Educacionais, Prática Pedagógica, Aprendizagem.

Abstract

The educational paradigms influence teaching practice and teacher training, key points in student learning, which makes the study relevant in this regard. The purpose of this article is to describe the characteristics of conservative and innovative paradigms, extolling the influences that each one had to current practices of teaching.

Keywords: Education, Educational Paradigms, Pedagogical Practice, Learning.

 

Introdução

              A prática pedagógica foi baseada durante muitos anos nos Paradigmas Conservadores, que segundo FREITAS (2009, p. 5865), estavam “enraizados no pensamento newtoniano-cartesiano, que se fundamenta numa visão fragmentada, reducionista e mecanicista da realidade”. No entanto, há necessidade de se ter uma prática pedagógica que instigue os alunos a serem transformadores do conhecimento, como nas abordagens dos Paradigmas da Complexidade.

           O mundo está em transformação e o modo como a sociedade e a educação são vistas também estão mudando, e em conjunto também mudam as metodologias de ensino, o perfil do professor e do aluno e o modo de se realizar avaliação. Para tais mudanças, são necessárias novas abordagens, como a proposta por BEHRENS (In: FREITAS, 2009, p.5865) na qual deve haver uma aliança entre a abordagem progressista, da abordagem holística e do ensino com pesquisa, para ser composto o Paradigma de Complexidade.

           É fundamental lembrar que os paradigmas influenciam as práticas educacionais, então, torna-se necessário entender quais são essas influências e o que pode mudar nessa prática a partir do Paradigma da Complexidade.

Evolução dos Paradigmas na Ciência e Conceito de Paradigma

 

              Os Paradigmas Conservadores foram criados em uma época em que o mundo era autoritário, onde crianças e mulheres deveriam ser submissas, então, como colocar um aluno na mesma posição de um professor? Mas a atual realidade é diferente, necessita que novos paradigmas sejam desenvolvidos e aplicados.

           Para podermos compreender a proposta de mudança de paradigma, torna-se necessário conhecermos os conceitos propostos a esse termo. KUHN (In: BEHRENS, 2011, p.25) entende que “paradigma significa a constelação de crenças, valores e técnicas partilhadas pelos membros de uma comunidade científica”.

           MORIN (1996, p.287) propõe que “um paradigma é um tipo de relação muito forte, que pode ser de conjunção ou disjunção, que possui uma natureza lógica entre um conjunto de conceitos-mestres”.

           De acordo com CARDOSO (In: BEHRENS, 2011, p.26) “o conceito de paradigma é entendido como um modelo de pensar e ser capaz de engendrar determinadas teorias e linhas de pensamento dando certa homogeneidade e um modo de o homem ser no mundo, nos diversos momentos históricos”. Conhecendo o significado de paradigma, concluímos que ele pode determinar comportamentos nas diversas linhas de conhecimento, tornando assim, o seu estudo importante.

 

Paradigmas Conservadores (Newtoniano-Cartesiano)

 

              Os Paradigmas Conservadores foram fortemente difundidos no século XX e XIX e fundamentados principalmente nas ideias de Galileu Galilei. Segundo BEHRENS (In: FLACH, 2008, p.10121) o pensamento newtoniano-cartesiano consistia na separação da mente e matéria e fragmentação do conhecimento em diversas partes para buscar maior eficácia. Tal pensamento levou o homem a dividir o conhecimento em quantas partes conseguisse e foi adquirindo desta forma uma visão fragmentada da realidade que o cercava.

           A figura do aluno nos paradigmas conservadores, de forma geral, é identificada como um ser que recebe conhecimento e não contribui para o seu aprendizado. Um exemplo é a Escola Tradicional, na qual o aluno é visto como um ser receptivo e passivo, sem senso crítico e que obedece sem questionar. É apenas um absorvedor de conhecimento.

           Já na Escolanova o aluno torna-se figura central do processo-aprendizagem, no qual é sujeito ativo e tem iniciativa própria, participando efetivamente no processo da sua formação.      Mas na Escola Tecnicista o aluno perde esse inicio de autonomia e volta a não participar da sua formação. Ele se torna espectador frente à realidade objetiva, aprende através do estímulo e reforço e deve obter respostas prontas. É um ser condicionado, responsivo e acrítico.

           Neste paradigma o professor ensina o conteúdo de forma fragmentada, não estimulando a interpretação de interconexões que os alunos possam obter. Além disso, tem o papel de transmitir o conhecimento, e não, de produzi-lo junto aos alunos. Essa afirmação pode ser observada na Abordagem Tradicional, escola que coloca o professor como único detentor do conhecimento, distante dos alunos e com perfil autoritário e rígido.

           A Escolanova tem uma visão diferenciada a respeito desse personagem. Ele é visto como um facilitador da aprendizagem, tem papel de aconselhar e orientar os alunos e lhe é dada mais autonomia. Já na escola Tecnicista ele tem papel de transmitir e reproduzir o conhecimento e busca condicionar o aluno através de técnicas arbitrárias.

           Um dos pontos marcantes dos Paradigmas Conservadores é a metodologia do: Escute, Leia, Decore, Repita. Essa prática desestimula a criticidade, a criatividade, a autonomia e a participação do aluno na formação do conhecimento.

           A Escola Tradicional utiliza esse tipo de metodologia, sendo fundamentada na ordem e na repetição e apresentando os conteúdos através de aulas expositivas. Já na Escolanova a metodologia é baseada na busca de aprendizagem através de experiências e valoriza o trabalho em grupo. A Escola Tecnicista enfatiza a repetição através de um treinamento intensivo, que torne o aluno capaz de responder corretamente e de forma mecânica, apenas reproduzindo o conhecimento.

           A avaliação dentro dos Paradigmas Conservadores segue os mesmos padrões anteriores, o aluno é avaliado pela reprodução do conhecimento. Na Escola Tradicional espera-se que o aluno transcreva respostas prontas. A avaliação é única e bimestral e valoriza a memorização, a repetição e a exatidão.

           A Escolanova, como nas outras categorias, tem uma visão diferente. O aluno realiza uma autoavaliação, busca metas pessoais e possui responsabilidades na sua aprendizagem. A Escola Tecnicista enfatiza o produto final e busca alcançar os seus objetivos. O conhecimento do aluno é testado antes e depois do processo de ensino.

Transição Paradigmática

              A transição paradigmática vem ocorrendo há alguns anos, buscando a produção de novos paradigmas para acompanhar as mudanças da sociedade, que exige mais dinamismo, criatividade, criticidade, autonomia, além de exigir a inter-relação entre as pessoas. A educação tem papel fundamental nessa mudança, e deve tentar se tornar mais compatível com as novas exigências do mundo.

           Os Paradigmas Conservadores levaram a uma prática pedagógica que buscava apenas reproduzir os conhecimento e mostrar uma visão fragmentada dele. Levou os alunos a perderem o instinto de serem questionadores, ou seja, perderem a sua criticidade. Segundo BEHRENS (2011, p. 29) “a ruptura do novo paradigma decorre da existência de um conjunto de problemas, para os quais os pressupostos vigentes na ciência não conseguem soluções”.

           Na nova realidade o ensino deve formar pessoas questionadoras, com livre acesso e contato ao ensino, diferente do que propõem os Paradigmas Conservadores. De acordo com DEMO (1997, p. 7) “o contato pedagógico escolar somente acontece, quando mediado pelo questionamento reconstrutivo. Caso contrário, não se distingue de qualquer outro tipo de contato”, sendo pelo autor definido questionamento reconstrutivo como “critério diferencial da pesquisa” (p. 2).

           Segundo: FLACH (2008, p.10124):

No final do século XX, a ciência e a Educação passam por mudanças, que aos poucos rompem o passado, vão delineando uma nova sociedade, com novos caminhos, num período caracterizado pela busca do conhecimento, pela auto realização, num mundo concebido em termos de conexão, inter-relações, teias, movimentos… em constante processo de mudança e de transformação.

 

Paradigmas Inovadores

              BEHRENS (2011, p. 57) propõe que os Paradigmas Inovadores, também conhecidos como – Emergente ou da Complexidade -, sejam “uma aliança entre os pressupostos da visão sistêmica, da abordagem progressista e do ensino com pesquisa, instrumentalizados pela tecnologia inovadora”.

           Segundo FREITAS (2009, p.5871) nesse novo paradigma:

[…] a educação precisa ser observada sob uma perspectiva de teia, rede, de interconexão, de inter-relacionamento, que propõe que o homem seja visualizado como um ser indiviso, numa perspectiva de aliança e encontro, buscando uma ação pedagógica que leve a produção do conhecimento e busque formar um indivíduo sujeito de sua própria história.

           Nesse sentido, a implementação de práticas pedagógicas que incentivem as proposições dos paradigmas inovadores trarão as Escolas e Universidades um papel mais acolhedor e transformador para a sociedade.

           Na visão sistêmica o aluno é visto como um ser complexo, que vive coletivamente, mas que necessita ser visto como um ser único, competente e valioso. Necessita ter os dois lados do cérebro estimulados para poder desenvolver suas inteligências múltiplas e deve ter autonomia para produzir o seu conhecimento.

           A abordagem progressista entende que o aluno deve participar ativamente da ação educativa, estando em permanente busca pela produção do conhecimento. Passa a ser um sujeito sério, ativo, criativo e crítico.

           A abordagem de ensino com pesquisa complementa que o aluno deve ser questionador, investigador, participativo e autônomo. Necessita ter raciocínio lógico, criatividade, capacidade produtiva e ser ético. Deve saber argumentar, problematizar e buscar consenso nas discussões.

           O professor na visão sistêmica necessita superar o paradigma da fragmentação. Deve buscar a produção do conhecimento, e não, apenas a sua reprodução. Cabe também ao professor estimular as inteligências múltiplas dos alunos para que sejam desenvolvidas as partes física, espiritual, emocional e intelectual.

           A abordagem progressista entende que o professor de propiciar aos alunos uma relação horizontal, em que o dialogo é essencial na produção do conhecimento. Ele é visto como um mediador entre o texto, o conhecimento e o seu produto. É um líder ético, democrático, autêntico e preocupado com a consciência crítica e as mudanças sociais.

           Na abordagem de ensino com pesquisa o professor também é visto como um mediador, mas deve ser articulador, critico e criativo. Atua como orientador e parceiro na formação do educando e na produção do conhecimento, instigando o aluno a “aprender a aprender”. É um ser vanguardista que contribui para a produção da ciência e da tecnologia com criatividade e espírito transformador.

           A visão sistêmica a metodologia é baseada em um sistema crítico, produtivo, reflexivo e transformador, buscando a autonomia e a qualidade do processo. Deve promover o encontro entre a teoria e a prática, propondo projetos criativos e transformadores, deve levar em consideração a visão da totalidade, promovendo trabalhos coletivos que possibilitem as relações interpessoais.

           A metodologia na abordagem progressista alicerça-se nas diferentes formas de diálogo e contempla uma abordagem dialética de ação/reflexão/ação. E tem por objetivo a produção do conhecimento e provoca a reflexão crítica na e para a ação.

           Na abordagem de estudo com pesquisa a metodologia busca a produção do conhecimento pelos alunos e pelos professores com autonomia, com criticidade e com criatividade. Deve provocar a capacidade de problematizar, investigar, estudar, refletir e sistematizar o conhecimento. Além de reduzir espaços de aula expositiva para aumentar o tempo para pesquisas.

           Na visão sistêmica a avaliação visa ao processo, ao crescimento gradativo e respeita o aluno como pessoa em suas inteligências múltiplas. Propõe que os alunos sejam avaliados durante o processo de aprendizagem, pois está a serviço da construção do conhecimento, e não, apenas da sua reprodução.

           A abordagem progressista coloca a avaliação como sendo contínua, processual e transformadora, contemplando momentos de autoavaliação e de avaliação grupal. A avaliação é provisória e o aluno entende que o importante é o seu conhecimento e a sua transformação.

           A avaliação na abordagem de ensino com pesquisa também deve ser continua e processual, além de ser participativa. Ela deve avaliar o envolvimento, a participação, a produção do conhecimento e o progresso do aluno. Ele deve ser avaliado pelo desempenho geral e globalizado, acompanhando todo dia seu ritmo participativo e produtivo.

Considerações

              Na atual conjuntura da sociedade, um desafio é a utilização dos Paradigmas da Complexidade. A escolha do professor pela utilização desses paradigmas, em que segundo FREITAS (2009, p.5871) “o homem seja visualizado como um ser indiviso, numa perspectiva de aliança e encontro, buscando uma ação pedagógica que leve a produção do conhecimento e busque formar um indivíduo sujeito de sua própria história” torna-se um ponto essencial para que comecem a ocorrer mudanças no ensino.

           Apesar dessa necessidade de mudanças de paradigmas, não é possível colocar o paradigma newtoniano-cartesiano como um erro. Segundo FLACH (2008, p.10124):

[…] foi importante para constituir uma trajetória para a evolução do pensamento humano. Este paradigma focalizou a especialização, e propôs uma visão que separou mente, corpo e espírito para examiná-los especificadamente. Mas tal forma de ver o conhecimento apresentou-se limitada diante da sociedade atual que teve um progresso científico-tecnológico grande, ou seja, o paradigma vigente não consegue mais contemplar tal realidade.

           Segundo BETTIOL (2011) “o que realmente muda é a postura do educador frente ao planejamento. Este tem um significado de mudança e parte da realidade do educando, superando a dicotomia entre teoria e prática”. Um dos grandes personagens desse novo paradigma é Paulo Freire, que reflete a respeito dos motivos de se mudar esses paradigmas:

      Por que não discutir com os alunos a realidade concreta a que se deva associar a disciplina cujo conteúdo se ensina (…) Por que não estabelecer uma necessária “intimidade” entre os saberes curriculares fundamentais aos alunos e a experiência social que eles têm como indivíduos? (FREIRE, 1996, p.33).

           O papel do educador é o de buscar caminhos alternativos para que a educação, segundo FREITAS (2009, p.5873), “supere a fragmentação, a linearidade e o mecanicismo e construa referenciais que justifiquem uma mudança paradigmática”, que permita a formação de seres humanos críticos, produtores do conhecimento e portadores de valores éticos, inseridos na “complexidade”.

 

Referências

BEHRENS, Marilda Aparecida. O paradigma emergente e a prática pedagógica. 4 ed. Petrópolis: Vozes, 2011.

BETTIOL, Célia Aparecida. LANZA , Fabio. COSTA, José Mir Justino da. PARO, Júlio César. SCARPA, Maria Laura. Mudança dos Paradigmas Educacionais e Extensão Universitária. Disponível em: <http://www.ficms.com.br >. Acesso em 17 de setembro de 2013.

DEMO, Pedro. Educar pela pesquisa. 2 ed. Campinas, SP: Autores Associados,1997.

FLACH, Carla Regina de Camargo. BEHRENS, Marilda Aparecida. Paradigmas educacionais e sua influência na prática Pedagógica. VIII Congresso Nacional de Educação – EDUCERE, 2008. Disponível em: < http://www.pucpr.br/eventos/educere/educere2008/anais/pdf/541_365.pdf>. Acesso em 16 de setembro de 2013.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

FREITAS, Aldrey Denise de. JUNGES, Kelen dos Santos. MACHADO, Mércia Freire Rocha Cordeiro. Os Paradigmas Educacionais na Organização do Processo Educativo. IX Congresso Nacional de Educação – EDUCERE, 2009. Disponível em: < http://www.pucpr.br/eventos/educere/educere2009/anais/pdf/3456_1843.pdf>. Acesso em 16 de setembro de 2013.

MORIN, Edgar. O problema epistemológico da complexidade. Publicações Europa-América, 1996.

 

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