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No caminho da teoria marxista da educação através da leitura de Suchodolski: primeiros ensaios

No caminho da teoria marxista da educação através da leitura de Suchodolski: primeiros ensaios¹

Jéssica da Silva[*]

Tatiana Afonso Oliveira**

Avelino da Rosa Oliveira***

 

Resumo

Neste trabalho abordamos as preocupações humanistas da filosofia social marxiana e as relações com a atividade educativa, expresso na obra . Neste, encontramos que a tarefa da educação está ligada à transformação das relações de classe social, visto que o modelo no qual a sociedade se encontra é insustentável do ponto de vista da formação humana.

Palavras – chave: educação, Karl Marx, humanismo, Bogdan Suchodolski.

Abstract

In this work, we broach Marxian humanistic worries in Marx’s social philosophy and its relationship with pedagogic activities, which are expressed in Marxist Educational Theory I, Bogdan Suchodolski’s book. In this book, we find that education task is linked to modifications in relations of social class, in as much as the pattern in which the society is situated is unsustainable taking formation point of view.

Keywords: education, Karl Marx, humanism, Bogdan Suchodolski.

 

Introdução

Jéssica da Silva

Na tentativa de construir uma teoria marxista da educação que siga os preceitos da filosofia social marxiana, estudamos diferentes pensadores marxistas. Entre eles, destaca-se a teoria pedagógica de Bogdan Suchodolski, por dizer aquilo que não foi dito pelos marxistas ortodoxos. Dessa forma, este trabalho aborda o humanismo de Karl Marx, expresso na obra Teoria Marxista da Educação I (SUCHODOLSKI,1976).

No que consiste essa teoria marxista da educação? Dentro da filosofia social de Marx, há preocupações muito pontuais com a educação, porém este não se deteve no que consistia tal teoria.  Suchodolski, ao retomar essa filosofia, escreve uma obra dividida em três partes sobre a teoria marxista da educação. Em seu primeiro volume, logo ao início, expõe que o trabalho educativo, na visão de Marx, é uma atividade social e política. Concebe-se como uma educação que leva a “algo”, em contraposição a uma educação retrospectiva, onde o homem educa-se pela tradição, e não por participação. E também, como não poderia ser diferente, a educação se dá historicamente.

Suchodolski defende que a preocupação com o homem manifesta-se na produção do jovem Marx, mas não se perde em sua maturidade. O período de sua juventude não se caracteriza pelo encerramento de uma questão; “constitui o momento da gênese criadora do pensamento materialista” (SUCHODOLSKI, 1976, p.24). A questão da libertação do homem segue o principal problema: em sua fase madura, ele somente passa a caracterizar melhor a origem da exploração do homem e quais os métodos para romper com essas cadeias.

Tatiana Afonso Oliveira

Para isso, apresenta-se neste texto Suchodolski e o seu tempo e modo como leu Marx, para construir uma teoria educacional marxista. Em meio disso, expressam-se as preocupações com a humanidade dentro do sistema capitalista que Marx, segundo Suchodolski (1976), apontava como essenciais na atividade educativa. Também se destaca o complemento dos problemas pedagógicos na relação entre Marx e Engels e como esses problemas advêm da sociedade classista. Por fim, sintetizam-se os elementos para a construção de uma teoria marxista da educação.

Suchodolski

         Irena Wojnar foi aluna e colaboradora do professor Suchodolski. Na coleção Educadores, uma obra é dedicada ao polonês, e nessa, Wojnar (2010) fala sobre o homem que ele foi e o seu tempo. Nascido em 1903 em Sosnowiec, sul da Polônia,

Sua geração, portanto, havia nascido e tinha sido educada, ainda, em uma Polônia que teve a chance de usufruir de uma liberdade recuperada em 1918, depois de ter passado mais de cem anos sob dominação; além disso, havia participado da construção, entre as duas guerras, da segunda República, tendo lutado contra a ocupação de Hitler; e, com o fim da guerra, havia começado a obra de reconstrução, inspirada em novos valores (Ibid., p.12).

Avelino da Rosa Oliveira

         Ainda segundo Wojnar (Ibid.), seus estudos em outros países confirmam sua curiosidade e sensibilidade pela cultura. De volta à Polônia, passa a ensinar nos liceus em Varsóvia e, posteriormente, na universidade. Quando professor universitário, suas pesquisas incidiram sobre a cultura como fator de desenvolvimento da personalidade – do indivíduo e também da nação – e também sobre a contribuição dessa cultura para a vida social e para a educação. A cultura é percebida por Suchodolski tanto pelos valores criados quanto pelas atividades criadoras dos homens.

         Hermann Röhrs (1993) complementa que as preocupações principais de Suchodolski são a justificação filosófica e a representação educacional do socialismo; a interpretação das relações entre o homem e a cultura e o lugar da educação como um meio entre eles; e a história da humanidade, dando papel significativo para a educação, para a filosofia e a antropologia.

No período de maior repressão na Polônia, Suchodolski não deixa de lecionar. Ministra aulas em universidades clandestinas para jovens engajados na luta e ensina questões filosóficas sobre as dimensões humanistas do futuro. No pós-guerra, assume como professor em Varsóvia sob condições precárias nas quais se encontrava a cidade. Wojnar (2010) destaca que no stalinismo as liberdades políticas eram limitadas. E, Suchodolski por defender os valores humanistas, foi até mesmo acusado de erudito burguês.

         Nessas circunstâncias, para defender os valores humanistas, toma duas decisões importantes. Estuda a obra completa de Marx, e desta leitura surge um volume da Teoria Marxista da Educação, que não foi bem aceito pelos marxistas ortodoxos, por defender as ideias humanistas do jovem Marx. A outra decisão é a de construir uma nova corrente de estudos para a História das Ciências na Polônia (WOJNAR, 2010).

         Ao fim dos anos 1960, vários intelectuais foram expulsos de seu país, inclusive Suchodolski, sob a acusação de liberal burguês. A essa altura, já possuía prestígio internacional, e seguiu realizando suas pesquisas e publicando seus livros. Na década de 1980, de regresso, ele é convidado a integrar o Ministério da Cultura e, após, torna-se deputado. No cargo, suas atividades tomaram a cultura como dimensão autêntica do homem, como a produção material e imaterial do ser. Seus trabalhos eram direcionados, principalmente, ao interior do país, onde ele conferia à cultura seu sentido humanista e sua devida riqueza (WOJNAR, 2010).

Morre em 1992, deixando o entendimento de que o homem é um ser criador e que o mundo é construído através do sucesso de nossas atividades criadoras. A nossa formação, que é vital para a educação, dá-se no enriquecimento de nossos próprios potenciais concretizados.

A pedagogia dentro da evolução dos problemas humanísticos de Marx e Engels

Como expresso anteriormente, Suchodolski (1976) compreende que a preocupação com o homem não desaparece ao longo da obra de Marx, ela só toma aparência diferente. Se na fase de sua juventude, ela se expressa através da luta contra a opressão ao proletariado; em sua fase madura, Marx expressa suas preocupações com o homem através das problemáticas da economia política, explicitando no que consiste o sistema que impossibilita a autorrealização do homem.

No proletariado, é onde se concentram todas as forças para a libertação humana, visto que é onde todas as injustiças e explorações tomam forma. A união entre filosofia e proletariado constrói a consciência de classe e atua na libertação dos homens da sociedade classista. Portanto, esta união promove, através da teoria e prática, uma nova ordem social. Neste processo, a educação marxiana está indissoluvelmente ligada à transformação social sob direção do proletariado. A educação conduz ao progresso social e ao humanismo socialista.

         O papel da filosofia está intimamente ligado à transformação material nas condições de vida da população. Essa ideia é que faz Karl Marx se distanciar da concepção de alienação de Hegel. Em amplo estudo realizado sobre a filosofia do direito de Hegel e também nos Manuscritos Econômico-Filosóficos, Marx supera a concepção de alienação afirmando que suas raízes devem ser encontradas nas relações materiais que o homem cria, apesar da pouca consciência sobre elas, devido à propriedade privada que expropria o homem de sua humanidade (SUCHODOLSKI, 1976, p.28).

Segundo Suchodolski (Ibid.), o caráter do trabalho, específico do gênero humano, destrói-se por completo na economia capitalista, pois o homem aliena-se cada vez mais em suas condições. Na construção do significado materialista para a alienação humana através do trabalho, Marx encontra quatro características. Essas são assim apresentadas: primeiro, o homem produz, através de seu trabalho, objetos que já não lhe pertencem, nem no sentido humano, nem no sentido econômico. Os objetos não são feitos para o operário e esse não tem a possibilidade de formar-se durante o processo de sua produção.

 A segunda característica é o trabalho como exterior ao homem, pois ele já não assegura as necessidades humanas e se configura só como meio de existência. O homem não se desenvolve através de sua atividade humana, pelo contrário, nega-se ao produzir um trabalho que lhe é necessário somente por salário. Em terceiro, o trabalho alienado destrói o que é comum ao humano, a sua capacidade de trabalho sobre a natureza para a satisfação de suas necessidades materiais e para a formação humana. A natureza passa a ser utilizada como aprovisionamento imediato através do salário que o operário recebe ao transformá-la e que só garante a sua existência física.

 Por quarto, a alienação destrói a relação entre os homens, visto que a comunidade humana só pode ser constituída em sua essência através do trabalho produtivo, consciente e livre. Assim, a propriedade privada está dialeticamente vinculada à alienação, ela a produz e é produzida por ela. O operário produz a alienação daquele que o governa, porque este obtém objetos que não são frutos de seu trabalho. O operário, por sua vez, aliena-se ao produzir objetos e já não ter consciência da produção deles.

A posição de Marx é de luta histórica e material contra a alienação do homem, que produz o mundo e não se reconhece nele. Na sociedade capitalista, o homem segue o ritmo da máquina² e como produto de seu trabalho não vê o que fez, mas sim o dinheiro de seu salário. Neste processo, o homem aliena-se e por mais que a associação entre trabalho produtivo e ensino seja desejável para Marx, na sociedade burguesa a educação para o trabalho se torna uma relação abominável (SUCHODOLSKI, 1976, p.105). Essa relação mantém e reproduz a sociedade desumana capitalista, enquanto que a educação marxiana está engajada na luta pela libertação do homem e pela extinção do sistema que o oprime.

Assim, a oposição materialista de alienação de Marx à idealista de Hegel é importante para se pensar uma teoria marxista da educação. Nesse processo de alienação, material fruto do trabalho produtivo do homem, a educação está estreitamente vinculada ao processo histórico da atividade social e à sua produção. A educação marxiana vai contra a natureza humana configurada pela burguesia, onde as necessidades humanas são destruídas pelas necessidades falsas de acumulação de capital, que é o fundamento do trabalho educativo na sociedade de classes.

Para isso, Marx afasta-se de uma educação metafísica, onde o educar é encontrar-se a si mesmo e emancipar-se do meio social. Ora, o homem encontra-se a si mesmo na emancipação consequente da transformação social e, portanto, a educação deve estar ligada à atuação material na transformação da sociedade de classes.

         Percebe-se que a preocupação com o homem proletário e sua opressão na sociedade de classes, não se esgota na critica marxiana do sistema de produção capitalista. A incapacidade do homem de expressão e formação através do trabalho, característica própria do ser humano, expropria a humanidade das diferentes classes. A diferença é que a burguesia assume essa realidade em seu benefício, e o proletariado, para aqueles que não tentaram entrar na corrida de grande acumulação de capital, luta por um sistema de produção livre e consciente.

Na visão de Suchodolski (Ibid.), a trajetória de Engels também é importante para pensarmos o humanismo de Marx e uma teoria marxista da educação. Primeiro, pela identificação dos fundamentos nas problemáticas apresentadas por Marx e Engels e, consequentemente, no complemento de problemas pedagógicos, mas também pela dedicação nas obras de Engels à educação e cultura, pontos importantes para Suchodolski.  Enquanto Marx se interessou pelos problemas filosóficos do homem e da sociedade, Engels seguiu por questões empíricas que estavam em seu caminho. Em meio disso, deparou-se com o caráter classista da escola.

Para Engels, a escola servia como pano de fundo para as relações sociais. A ideologia da sociedade burguesa era o que definia a organização, o programa e os métodos utilizados na educação. A burguesia valoriza a educação ideológica e desvaloriza o patrimônio da educação: não respeita nem a ciência, nem a arte por temer que destruam seu império.

A ideologia, na concepção de Marx, é a oposição de sistemas filosóficos e políticos aos fatos históricos, ou seja, como disse o próprio, o quadro invertido da realidade. Suchodolski diz que, através de análises, Marx descobriu que as premissas das ideologias são todas materiais, e que toda ideologia é fruto das relações concretas de produção. Portanto, independentes, não têm história nem desenvolvimento, elas são produzidas de acordo com a organização dos homens em seu sistema de produção e na história da sociedade (1976, p.48/9).

A educação como reprodução da ideologia burguesa nega a ciência da história, que demonstra a forma de desenvolvimento capitalista como expropriador das humanidades. Essa educação constrói um ideal de humano burguês, que preocupado com a acumulação e a propriedade privada, desconhece a sua característica de ser humano. E, analisando pelas bases materiais, a ideologia que Engels identificou na educação, que tem sua origem nas relações sociais, só poderá ser destruída com o nascimento de novas relações.

“A queda do feudalismo – disse Engels – não trouxe nenhuma liberdade aos homens, mas antes uma maior escravidão” (SUCHODOLSKI, 1976, p.38). Enquanto o feudalismo era marcado pela dominação de homens sobre homens, a servidão moderna consiste na dominação das coisas sobre os homens, e isso em consequência da propriedade privada. Oposta a tudo o que é humano, ela expropria o homem de sua própria produção.

Assim, os pensamentos de Engels evoluem um pouco diferente dos de Marx, porém, levam a posições idênticas: ao comunismo revolucionário, à superação do idealismo, e à criação de bases de um materialismo histórico e dialético (Ibid.p, 40). Esse materialismo que nasce, está preocupado com a emancipação e com a alienação do homem. Visto que o mundo social, produção própria do trabalho social do homem, está desumanizado pela propriedade privada dos meios de produção; e que o homem se educa na dialética com o ambiente que vive, é necessária, para o completo desenvolvimento humano, uma mudança nesse ambiente. Isso se daria na socialização dos meios de produção.

O conhecimento do indivíduo, para isso, deveria se dar pelas tarefas históricas de classe. Dessa forma, a educação verdadeira ocorreria através da participação no movimento histórico, já que é a participação que fortalece os homens, enquanto a crítica – aqui representa o afastamento de posições idealistas – anula a personalidade. A educação é a atividade social de classe dentro do pensamento materialista e diante do programa comunista elaborado por Engels e Marx. A educação como instrumento de propagação da ideologia burguesa só mantém e reforça as relações existentes.

O pensamento pedagógico elaborado pelos dois, no entanto não cria outra ideologia, e sim armas intelectuais para ação do proletariado. Numa sociedade de classes, não existe possibilidade de desenvolvimento do homem e de suas capacidades. A sua formação nesse sistema é unilateral. Já o comunismo, horizonte da filosofia social marxiana e da educação defendida por ele, estabeleceria um tipo de produção que satisfaz todas as necessidades dos homens.

Em uma nova sociedade, onde se estabelece um novo nível técnico, as aptidões dos homens também mudam. Engels, segundo Suchodolski (1976), define que a formação do homem no comunismo deve ser polifacetada – homens completos que sejam capazes que compreender todo o sistema de produção.

A educação – escreve Engels – permitirá aos jovens participar rapidamente em todo o sistema de produção, colocará as premissas necessárias para que possam transferir-se de um ramo industrial para outro, cada um segundo as necessidades da sociedade ou segundo as suas próprias aptidões (Ibid., p.78/9).

         Essa educação, que Engels chama de educação industrial, colabora com a supressão de classes e a oposição entre campo e cidade. Suchodolski (Ibid.) chama o ensino defendido por eles de “conhecimentos politécnicos” e apresenta, segundo O Capital e instruções dadas por Marx no Congresso de Genebra, que o perigoso não é crianças trabalhando e sim as condições de trabalho delas (Ibid.p.105). A participação dos estudantes no trabalho produtivo e no ensino politécnico ligado a ele contribui com a ação revolucionária de destruição da ordem capitalista e a superação da divisão do trabalho concretizada por tal ordem.

         A importância pedagógica desse ensino politécnico se expressa em três características, para Suchodolski. As tarefas educativas das reivindicações revolucionárias correspondem tanto ao trabalho físico como ao intelectual. A educação dialética relaciona ensino e trabalho, teoria e prática e o ensino com a produção. O ensino politécnico acaba com a oposição entre ensino geral e ensino profissional, possibilitando a todos uma formação onde o desenvolvimento humano se dá em todos os seus aspectos.

         Percebe-se pelo exposto que as preocupações de Marx, mesmo durante suas críticas ao sistema, são em relação ao homem que vive em um mundo desumanizado. Pois “do ponto de vista humanista e moral, é evidente que o balanço da economia capitalista é negativo” (Ibid. p.87). Aliada a isso está a tarefa educativa. A filosofia social marxiana dedica-se a expressar a educação do ponto de vista materialista e dialético, no horizonte da mudança social para o comunismo. E esse horizonte também é expresso por Engels, importante teórico ressaltado por Suchodolski para pensarmos uma teoria marxista da educação.

Considerações finais

         Suchodolski (1976), no caminho da construção de uma teoria marxista da educação, encontra importantes pontos na filosofia social marxiana e nos escritos de Engels para pensar o homem e sua formação. Visto isso, uma educação marxista só pode ela mesma retomar os preceitos educacionais expressos por Marx. Nesses, a tarefa da educação está ligada à transformação das relações de classe social. O modelo no qual a sociedade se encontra é insustentável do ponto de vista da formação humana.

         Não se quer, no entanto, ausentar Suchodolski da eleição dos pontos importantes dentro da filosofia de Marx e cristalizar que esse é o caminho correto para a educação marxista. Tanto é que a importância dada a Engels por Suchodolski para a construção da teoria marxista da educação está ela mesma também ligada à aproximação do último com o primeiro pelas investigações em cultura de Engels quando jovem. Porém, as eleições de Suchodolski conferem com as análises de base material e dialética que Marx realizou durante seu longo trabalho crítico e atuante.

         A associação entre Marx e Engels, feita por Suchodolski (Ibid.) e apresentada neste trabalho, se revela o ponto principal para a consciência do sistema desumanizado do capital, que se mantém. Da divisão social do trabalho, como algo advindo das necessidades fisiológicas, para a divisão do trabalho imposto pelo desenvolvimento industrial capitalista, houve uma precarização do trabalhador. O trabalho alienado destrói a característica do ser humano e esse é resultado de uma sociedade de classes mantida pela propriedade privada. Portanto, é por isso que Marx se afasta da concepção idealista de alienação, pois essa não altera a sociedade que ignora o que é próprio do homem.

         Nesse sentido, a educação marxiana está ligada à tarefa histórica e de classe de alteração da sociedade desumanizada. A educação tem como horizonte a socialização dos meios de produção e uma formação que possibilite ao homem, através do desenvolvimento de seus potenciais, conhecer todo o trabalho produtivo da sociedade. Essa é uma preocupação nítida para Suchodolski, que vê no ensino burguês a destruição da cultura humana, que relega o conhecimento das ciências e ignora o potencial artístico do homem.

         Fica claro, então, que o caminho para uma teoria marxista da educação deve ser pautado pelo rompimento com a formação unilateral do sistema capitalista; no conhecimento de diferentes técnicas contra a divisão do trabalho; pela tentativa – na tensão com o próprio sistema – de formar os estudantes na superação de oposições tais como teoria e prática, formação e produção.  E o caminho para essa teoria também deve permitir o conhecimento das diversas ciências e associá-las ao trabalho produtivo, enquanto característica do homem de alterar a natureza.

Isso remete a uma preocupação com a própria conservação da natureza, pois o trabalho enquanto potencial humano só pode existir enquanto livre e consciente, mas também enquanto houver natureza viva, pois essa já foi até mesmo mercantilizada pelo capital. Revela-se com isso como o pensamento de Marx foi grandioso, preocupado principalmente com o homem e sua humanidade sem deixar, porém, de pensar no todo complexo social. Segue-se em busca, como Suchodolski, da teoria marxista da educação.

Referências

SUCHODOLSKI, Bogdan. Teoria Marxista da Educação. Vol. I. Estampa: Lisboa, 1976.

RÖHRS, Hermann. Obituary for an educational humanist: Bogdan Suchodolski, 1903-1992. In.: International Review of Education, n. 39, vol. 4, 1993, p. 333-336.

WOJNAR, Irena. Bogdan Suchodolski (1903-1992).In.: Wojnar, Irena; Mafra, Jason Ferreira (org.). Bogdan Suchodolski. Coleção Educadores MEC. Massangana: Recife, 2010, p.11-31.

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¹ Resumo apresentado ao XXII Congresso de Iniciação Científica/2013 da Universidade Federal de Pelotas.

² Na contemporaneidade, podemos pensar na máquina não apenas como instrumento fabril, mas também nas multi relações complexas impostas pelo capital que impõem sempre maior produção do que quer que seja. A máquina pode ser metáfora das operações alheias à produção humana, ainda que fruto delas.

[*] Graduanda em Ciências Sociais Bacharelado na Universidade Federal de Pelotas. Membro do grupo FEPráxis – Filosofia, Educação e Práxis Social. Bolsista PIBIC/CNPq.

[*][*] Graduanda em Direito na Universidade Federal de Pelotas. Membro do grupo FEPráxis.

*** Professor Doutor da Faculdade de Educação na Universidade Federal de Pelotas. Membro do grupo FEPráxis.

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