Crônicas Mara Rovida

Um tributo à frustração

Um tributo à frustração

Mara Rovida*

 

Mara Rovida é jornalista, doutoranda no PPGCOM da ECA-USP e membro do Grupo de Pesquisa do CNPQ Comunicação e Sociedade do Espetáculo. Esteve presente ao Seminário Internacional sobre Violência contra Jornalistas promovido pelo Instituto Vladimir Herzog, Prêmio de Anistia e Direitos Humanos, em parceria com o Itaú Cultural. O evento foi realizado em 21 de outubro de 2013, em São Paulo.

Dia desses, alguém me perguntou o que o fracasso representava para mim?

[Pelo jeitão da pergunta, dá para imaginar que foi um discípulo de Freud ou Jung quem a formulou. Não é mera coincidência. Todo psicólogo(a) tem aquele olhar continente e a mesma maneira de, balançando a cabeça levemente, questionar “o que isso ou aquilo representa para você”.]

O fato é que fracasso pode ser traduzido por objetivo, meta, sonho, propósito ou o que valha frustrados. Talvez, a palavra de ordem seja essa mesmo, frustração. E todo mundo tem medo de se frustrar, de dar com “os burros n’água”, como diria o caipira. Mas, é impossível evitar um tropeço aqui ou acolá que fazem a tal da moça chata aparecer toda sorridente com a desgraça alheia.

Esse ano foi mesmo 13 e cheio de frustrações. Por ai, há quem jure ter sido o pior ano da vida. Já ouvi dizer que a Terra – isso mesmo, o Planeta onde você mora – sofreu uma chuva cósmica ao longo do ano, o que justificaria tantas ocorrências estranhas, diferentes, tristes, enfim.

Não sei se o cosmos pode interferir em coisas tão pequenas, mas na coleção de frustrações tem lugar para tudo:

Congestionamento para o apressado;

Pão vencido e embolorado no saquinho para a fome noturna;

Planeta muito grande para um abraço;

Amor vencido pelo orgulho;

Chuva de verão no meio da manhã de outono;

A que vence a vida;

Dor nas costas para quem precisa estudar;

Nota vermelha no último bimestre;

Professor que ‘pega’ plágio;

Querer dizer sim e acabar falando não;

Dizer “desgosto”, gostando;

Na presença, sentir ausência;

No fim, querer o começo;

Querer se frustrar e acabar não conseguindo. Afinal, vai que dá?

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Com o sem chuva cósmica, todo ano tem frustração, mas tem também:

Sonhos renovados;

Novas paixões em velhos amores;

Músicas antigas em novas gravações;

Frustrações frustradas pelo êxito sempre possível.

* Mara Rovida é jornalista, doutoranda no PPGCOM da ECA-USP e membro do Grupo de Pesquisa do CNPQ Comunicação e Sociedade do Espetáculo.

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