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As pesquisas acadêmicas em Educação Ambiental no Amazonas

Marcelo Santana/Instituto Mamirauá

AS PESQUISAS ACADÊMICAS EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO AMAZONAS

Kelly Cristina Pereira de Souza[i]*[1]

Resumo: o presente artigo retratou as pesquisas em educação ambiental no estado do amazonas. A metodologia adotada nesta pesquisa consistiu no levantamento bibliográfico no site da Capes, com base nos resumos das dissertações publicados no referido site.

Introdução

A região norte apresenta uma rica diversidade de biológica e cultural devido à majestosa floresta Amazônia. As inúmeras formas de vegetação, rios, igarapés, pássaros, primatas e outras espécies faunísticas endêmicas deste bioma abrangem os estados do Amazonas, Pará, Acre, Amapá, Rondônia, Roraima e Tocantins, parte dos estados de Mato Grosso e Maranhão (Noronha, 2003). Nesta floresta encontramos homens e mulheres, que vivem e sobrevivem na região. As suas relações estão associadas à arte e a cultura transmitida de geração por meio das lendas, ritos e lendas amazônicas.

Essa biodiversidade, a cultura, os povos indígenas e as populações tradicionais tornaram-se objetos de pesquisas em todo Brasil. Mas, quais pesquisas em educação ambiental têm sido desenvolvidas na região norte, em particular no estado do Amazonas? Segundo Lorenzetti (2008), Avanzi (et al, 2009), Pato (et al 2009), Rink e Neto (2009) retratam a necessidade de realizarmos pesquisas em educação ambiental locais sobre a produção acadêmica. Os autores retrataram os aspectos teóricos, metodológicos e a áreas de conhecimentos das produções acadêmicas. Assim como, a pouca produção de dissertações, teses e artigos na região norte. Por isso, o objetivo deste artigo será conhecer as pesquisas em educação ambiental no estado do Amazonas.

Entretanto, a nossa concepção de sujeito está baseado no conceito de Hall (2006), pois, admitimos que o sujeito não esteja individualizado e nem separado da sua realidade e identidade. O autor retrata o processo de constituição do sujeito, que outrora era definido a partir suas características biológicas. Na área das ciências humanas, esse sujeito está interligado com outros sujeitos.

1-   Metodologia

Desta maneira, o caminho metodológico neste artigo foi construído a partir da pesquisa qualitativa (Demo, 1985), cujo método adotado fora a pesquisa bibliográfica (Paduá, 2004). Delimitamos como fonte os resumos das produções acadêmicas em educação ambiental disponíveis no Banco de Dissertações e Teses da Capes das universidades na região norte. Estivemos investigando por instituição e utilizando como palavra chave, educação ambiental.

Conforme Gil (2002, p.44) “a pesquisa bibliográfica é desenvolvida com base em material elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos”. No caso dessa pesquisa investigamos os resumos das dissertações e teses contidas no Banco de Teses da Capes.

De acordo com CARVALHO (1994, p. 100) “a pesquisa bibliográfica é uma atividade de localização e consulta de fontes diversas de informação escrita, para coletar dados gerais ou específicos a respeito de um determinado tema”. Foi adotada como “fonte” a produção acadêmica do Banco de Teses da Capes: os resumos e dissertações e teses. Nesse processo foram identificados os objetos de pesquisa como: a produção acadêmica e científica, em específico as dissertações, teses e artigos e os pesquisadores/pesquisadoras.

A partir dos pressupostos de Gil (1991) e Paduá (2004, p. 56) estivemos identificando e localizando as produções acadêmicas a partir da consulta aos catálogos das bibliotecas. Inicialmente, foi realizada a pesquisa por assunto, pesquisa em educação ambiental, e leitura dos resumos, identificando o nome do autor, o título, a instituição, orientador e o programa de pós-graduação. Em seguida, estivemos identificando os sujeitos/objetos de pesquisas adotados nas dissertações.

3 – Resultados e discussão

Na região norte os sujeitos e os objetos de pesquisas mostram realidades singulares e cada vez mais se torna necessário compreender sobre qual educação ambiental está sendo construída na região.

Na área da educação, no âmbito dos programas de pós-graduação da UNIR, UEA e UEPA, no período de 2001 a 2011 envolvem as temáticas como: uso dos recursos naturais, medicina natural, desenvolvimento sustentável, transdisciplinaridade e transdisciplinaridade. Cujos sujeitos e objetos de pesquisas foram os: povos indígenas Rituais indígenas da etnia Tuti Krã e Hõprykrã; escolas do ensino médio, escolas agrotécnicas; cursos de graduação de pedagogia, biologia e geografia; políticas públicas de educação ambiental; escolas ao entorno do Parque Nacional do Jaú; e comunidades rurais ao entorno da cidade de Manaus. Entretanto, no estado do Amazonas no período de 2001 a 2012 foram defendidas 73 dissertações e teses no âmbito dos programas de pós-graduação da UFAM, UEA e o INPA.

A UFAM apresentou 56 dissertações e teses desenvolvidas pelos seguintes programas de pós-graduação: Educação, Geografia, Desenvolvimento e Meio Ambiente, Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia, Sociedade e Cultura na Amazônia, Engenharia de Produção, Ciências Florestais e Ambientais e Desenvolvimento Regional.

A UEA por meio dos Programas de Pós-graduação em Direito Ambiental e de Educação em Ciências na Amazônia apresentou 14 dissertações. E o INPA por meio do Programa de Biologia de Água Doce e Pesca Interior; Genética, conservação e biologia evolutiva e Gestão de Áreas Protegidas totalizaram 06 dissertações e teses.

Baseado neste breve panorama as pesquisas em educação ambiental estão concentradas na área da educação em ciências e educação. As respectivas, UEA e UFAM desenvolveram as pesquisas em educação ambiental em espaços escolarizados e associando os conteúdos previstos nos Parâmetros Curriculares.  Entretanto, foram desenvolvidas pesquisas em educação ambiental em escolas nas áreas de parques. A transversalidade foi citada nas pesquisas em educação ambiental, na área da educação produzida pelos programas de pós-graduação, em Educação da UFAM e em Educação e Ensino de Ciências da UEA.

Com isso, adotamos como recorte as pesquisas em educação ambiental, produzidas no âmbito dos programas de pós-graduação em educação, ensino de ciências e ciências ambientais, das universidades federal e estadual no estado do Amazonas.

Essas pesquisas em educação ambiental acontecem entre os espaços escolarizados e os espaços não escolarizados. Algumas experiências da educação que acontecem em outros espaços tem como principio da educação popular descrita por Brandão (2007).

As comunidades possuem a sua maneira de ensinar a respeito da sua cultura. As famílias caboclas e ribeirinhas por meio de sua cultura repassam a sua história e seus costumes. As mulheres aprendem com as mais jovens a cuidar da casa, da roça e o tempo da pesca. Os homens ingressam na escola de seus pais para tornarem-se extrativistas, pescadores e agricultores. Essa educação entre as comunidades, os grupos e as formas de organização é conhecida como Educação Popular (Brandão, 2009).

As pesquisas em educação ambiental que transcenderam os espaços escolares valorizam os saberes construídos entre as comunidades. Revelam a preocupação de tornar as suas pesquisas em uma reflexão das questões da política ambiental. A UFAM tem desenvolvido por meio do programa de pós-graduação em educação as dissertações no campo da educação ambiental escolarizada, ou seja, no âmbito formal.

Essas pesquisas adotaram como base o desejo em descobrir e criar um processo de formação, dos educandos referente às questões políticas, ambientais, culturais e sociais de forma emancipatória. Houveram pesquisas por exemplo, no contexto das unidades de conservação como Parque Nacional do Jaú. Onde os educandos e educadores interagem em diferentes espaços na escola, nas comunidades e centros sociais, (re)descobrem o valor e o significado das palavras, pois cada homem e mulher possuem a sua maneira de ler o mundo (Freire 1996)

Segundo Brandão (2006), os escravos, servos, homens e mulheres aprendiam uns com outros a cuidar da terra. Aprendiam nos ritos, aqueles que os sacerdotes ou pajés os convocavam, os mitos explicavam, por exemplo, sua própria origem. Por isso, o saber popular existe primeiro que o saber científico, tecnológico, artístico e religioso.

Passos (2007) retrata que a educação nos leva para diferentes direções, nos impulsiona também para a educação ambiental. Grün (1996) descreve a educação ambiental, como que prepara as pessoas para intervir no seu mundo de maneira mais justa.

Neste contexto a pesquisa em educação ambiental, Sato (2005) rasga o véu dos desafios e das dificuldades vivenciadas por educadores e educadoras, pesquisadoras e pesquisadores em educação ambiental.

Assim, precisamos ser humildes que uma pesquisa em educação ambiental jamais resolverá os problemas, sejam em espaços formais e não formais. Segundo Senra e Sato (2009), a educação ambiental escolarizada acontece nos espaços escolares e a não escolarizada tem como sujeitos grupos populares, as comunidades quilombolas, tradicionais e povos indígenas.

Estes resumos retratam uma educação ambiental cujos objetos e sujeitos de pesquisas interagem com as suas realidades locais transcendendo os muros da escola, ou seja, “aliando educação escolarizada com a educação popular” (Sato e Sarturi, 2007, p. 126).

Assumindo na educação ambiental a educação popular que acontece em diferentes espaços. Seja a sede comunitária como um lugar de encontro entre homens e mulheres que ensinam e repassam o seu conhecimento a partir da sua história, cultura e arte as demais gerações (Brandão, 2009). Nossos ancestrais não tinham uma sala de aula para contar suas histórias. Eram contadas por nossos pais, tios e tias, as lendas todos reunidos, sentados ao redor da lamparina. Estes mitos e as lendas fazem parte da cultura amazonense a partir deles, conseguimos entender alguns costumes que nos foram ensinados (Oliveira e Lima, 2006).

Observamos que as pesquisas em educação ambiental no estado do Amazonas estão concentradas no campo da educação ambiental escolarizada. Voltada para a formação dos educadores da rede publica de ensino. Aos poucos precisamos transcender os muros das escolas, e entender que os sujeitos das pesquisas em educação ambiental estão interagindo diretamente com os problemas ambientais, sociais e econômicos presentes ao seu redor.

Referências bibliográficas

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* Mestranda do Programa de Pós-graduação em Educação da UFMT, email lynacris@hotmail.com

[i] Kelly Cristina Pereira de Souza, amazonense, bióloga pelo Centro Universitário Nilton Lins, UNINILTONLINS, Amazonas, e mestranda em educação, pelo Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Federal de Mato Grosso, e chefe de Educação Ambiental da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Sustentabilidade.

SOUZA, C. P. K Como publicar na Revista Virtual P@artes

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