Educação Em questão

Elefante na Sala: educar para uma nova realidade socioeconômica

Por Marcos Semola

Marcos Semola – Divulgação

Os tempos já são outros. Percebe-se nas relações humanas, comerciais, e no coração dos núcleos familiares. O diálogo já não flui como antigamente. Os pais já não têm o tempo livre de que dispunham para o convívio em família, além de terem de disputar a atenção com múltiplos dispositivos eletrônicos e veículos multimídia de interação e comunicação.

Reflexo similar dessa invasão tecnológica já é sentido duramente pelas empresas e seus líderes. Os homens de mente jovem com ideias tidas impossíveis e que sempre lhes pareceram inofensivos, estão fazendo a mágica da inovação acontecer e ameaçando, quando não iniciando o processo destrutivo, de grandes impérios econômicos ancorados em modelos negócio tidos como impenetráveis e eternos.

As manchetes de veículos de comunicação respeitados não deixam dúvidas de que o perigo está mesmo ao lado. Vê-se praticamente um Golias se curvar diante de um Davi mensalmente. As apurações feitas pela Forbes sobre as seis mais valiosas empresas do mundo indicam que em apenas uma década aquelas fundamentadas na tecnologia tomaram o lugar das que seguiam modelos de negócio tradicionais.

A sala ficou mais apertada e os elefantes que colocaram no meio dela são ainda maiores e  pintados de rosa.

As regras do jogo mudaram. Tamanho não é documento. Antiguidade não é posto. Legado é peso. E tudo isso vem transformando a realidade socioeconômica e as relações comerciais e humanas. A experiência vivida através das revoluções industriais por gerações mais antigas, ainda ativas, não foram suficientes para nos preparar para este momento disruptivo.

Os grandes espaços outrora existentes e que toleravam baixa produtividade, burocracia e morosidade, processos de gestão não integrados, grandes margens de lucro e grandes falhas estratégicas, já não existem.

Discutir o presente nunca foi tão vital para garantir a sobrevivência no futuro. E não me refiro apenas às empresas e seus gestores, mas também aos indivíduos que precisam rapidamente compreender o que está acontecendo e iniciar a “trocar da turbina em pleno voo” para não ser pego de surpresa quando um dia acordar, olhar ao redor, e perceber que as coisas não mais como eram antigamente.

E não é motivo para culpar uma ou outra tecnologia. Elas sempre estiveram por perto, décadas a fio, em diferentes sabores e formatos, mas nunca em tamanho volume e chegando com tamanha velocidade. De fato, o que estamos vendo acontecer é fruto de uma combinação de fatores. Resistir é ignorância. Compreender o momento e se preparar para extrair o melhor dele é inteligência.

Discutir o presente nunca foi tão vital para garantir a sobrevivência no futuro.

A sociedade não é mais linear, mas exponencial. Se observarmos o momento de introdução de uma nova inovação plotada na linha do tempo, e analisarmos o tempo que aquela inovação levou para infiltrar e influenciar o comportamento socioeconômico, veremos essa janela de tempo reduzindo de inovação a inovação, de revolução industrial a revolução industrial, enquanto vemos o poder computacional dobrar em espaços de tempo cada vez menores. Estudos indicam em até 2045, o poder computacional disponível será equivalente ao poder cerebral de toda a humanidade. O potencial de transformação desse único fator é perturbador!

Uma vez que mentes brilhantes saiam da inércia, desafiem o status quo,  se apropriem de métodos ágeis e vetores digitais inovadores, e ainda, removam as barreiras, muros e caixas que outrora limitavam suas visões e seus pensamentos, como já vêm fazendo, não veremos mais limites para inovar.

A evolução da sociedade virá em ondas cada vez mais velozes e uma só geração poderá presenciar e viver experiências muito diferentes em um único ciclo de vida. O contexto socioeconômico será muito mais dinâmico, praticamente descartável, como já acontece com os bens de consumo disponíveis na atualidade.

Para as empresas, repensar seus modelos de negócio e se reinventarem através da criatividade e da inovação, será intrínseco de sua condição de sobrevivência. Um processo vivo, cíclico e contínuo. Muitas nascerão com esse propósito no DNA enquanto outras já o farão sabendo de seu curto tempo de vida, pois não serão capazes de acompanhar a velocidade da mudança de contexto e de realidade.

Quase como o que acontece com grande parte das casas noturnas atualmente, que já nascem sabendo de sua volátil vocação para se manter atraente e altamente frequentada por muito tempo e que, por isso, tem sua estratégia pensada desde o seu nascedouro para ser eficiente e lucrativa em um curtíssimo espaço de tempo.

Estamos caminhando para a sociedade descartável que promove a rápida obsolescência de empresas e pessoas que não forem capazes de acompanhar o ritmo da transformação provocada pela criatividade e a inovação.

Só a educação salva!

Empresas e profissionais precisam reciclar seus modelos mentais. Precisam abandonar as referências do passado e forjar novas competências que lhes confiram velocidade de resposta e adaptabilidade para funcionar em um cenário muito mais dinâmico. Têm que desenvolver habilidades estruturais, como o senso crítico analítico, a inteligência emocional, a cultura colaborativa, a capacidade de negociação, e especialmente, a criatividade. Terão de estar preparados para resolver problemas novos combinando ferramentas polivalentes.

É inteligente pensar em acelerar o processo de adaptabilidade e reciclagem, seja profissional ou mesmo empresarial, bebendo justamente na fonte dos precursores da transformação digital e das rupturas socioeconômicas da atualidade. As startups e o modelo mental dos empreendedores que as cercam têm muito a ensinar. São desbravadores por natureza, buscam o aprendizado através da experimentação. Orientam-se pelo bom entendimento do problema e desenham possíveis soluções sem se prenderem a velhas premissas. São exímios membros de equipe e conectores, ligam os pontos, trocam informações e constroem conhecimento coletivamente para o bem do próprio propósito de inovar e evoluir. São o início, o fim e o meio.

Marcos Semola é Executivo de Tecnologia da Informação, Especialista em Segurança: Governança, Risco e Conformidade, Professor da IBE-FGV, escritor, palestrante, VP Membro do Conselho de Administração da ISACA, Vice-Presidente de CyberSecurity do Instituto SmartCity Business, Diretor do Founder Institute Rio, mentor de startups e investidor anjo.

 

 

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