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Os espaços laborais

Os espaços laborais
Por Michelle Santos Jeffman

 

Os espaços se fazem onipotentes, restritos a quem ocupa o outro lado da mesa. Nos espaços transitam feições marcadas e adereços majestosos, circulam auras enegrecidas de pessoas sem vida que cumprem sua jornada de terno e gravata.

Quem domina o espaço cobre-se de joias, grifes e perfumes, alastrando discursos hipócritas por um hálito que cheira a erva-doce.

O Dono do espaço sorri até a metade e, quando lhe convém, utiliza-se do fio que une os repartimentos, este cuja fibra perpassa o chão subterrâneo. A voz chega por ele, mas não o olhar presencial Daquele que comanda o espaço.

Na outra extremidade do fio, alguém ouve, murcha e, após o abaixar do gancho, sua parcela de mundo impregna-se de medo. Tem vontade de sumir dali ou de ir girando a cadeira em torno de si mesmo até evaporar da posição ocupada.

Na labuta diária, acorre uma experiência de laboratório social. Há uma luta contumaz pela sobrevivência emocional nos ambientes. Neles, ora a criatura se redime ora se afirma, oscilando no trajeto de busca pela marca identitária e deslocando-se na itinerância dos espaços a serem conquistados ou servirem de estagnação.

O Senhor do espaço é estranho a todos. Instala-se no outro lado da parede divisória, na mesa bem ao fundo da repartição, em território demarcado. E é protegido pelo subalterno depositário dos discursos via fio subterrâneo. Para se aproximar Dele é preciso romper divisas espaciais, mas elas estão trancafiadas por chaves pressentidas.

Mesmo quando ausente, o Sr. se faz presente no rosto, no olhar e na aura dos engravatados. E enquanto Ele se enclausura no compartimento, alguém trabalha na retaguarda, iludindo-se ao pensar que possui ou ocupa um espaço próprio.

Michelle Santos Jeffman

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