Turismo

A relação da paisagem com o turismo: uma reflexão teórica

A RELAÇÃO DA PAISAGEM COM O TURISMO: uma reflexão teórica

 

Melânia Zampronho Ferronato[1]

 

Resumo

O presente trabalho tem por objetivo trazer pressupostos teóricos para compreender a relação da paisagem com o turismo, a partir de estudos desenvolvidos pela ciência geográfica, bem como nas teorias do turismo. Deste modo, serão utilizados autores da Geografia e do Turismo que escrevem sobre espaço geográfico, espaço turístico e paisagem.

Palavras-chave: espaço geográfico, espaço turístico, paisagem e turismo.

Abstract

The present work aims to bring theoretical background for understanding the relationship of landscape to tourism, from studies conducted by geographical science and theories of tourism. Thus, authors will be used in Geography and Tourism who write about geographic space, space tourism and landscape.

Keywords: geographical space, tourism space landscape and tourism

INTRODUÇÃO

 A organização deste trabalho vem para sintetizar interpretações teóricas acerca do termo paisagem, com uma aproximação com o turismo, esclarecendo e focando para pesquisas futuras no campo da pós– graduação. Embora, seja um estudo preliminar, o objetivo é compreender a relação da paisagem com o turismo, a partir de estudos desenvolvidos pela ciência geográfica, bem como nas teorias do turismo.  A exposição dos conceitos e das características de espaço geográfico e de espaço turístico tem como intuito entender suas diferenças, a fim de mostrar as relações com a paisagem.  Consequentemente a estas peculiaridades sobre os espaços, abordam-se fundamentos teóricos quanto à paisagem e, também, a dita paisagem turística.

Justifica-se este estudo teórico, pois quando se pratica a atividade turística, as pessoas, que neste caso são turistas, constantemente se relaciona com outras culturas (relações sociais), bem como se interagem com os elementos do ambiente (relação homem x meio). Todas essas relações são originadas em um determinado espaço turístico, que estão inseridos no espaço geográfico. Acerca disso, Cruz (2002, p. 109) diz que “o turismo é a única prática social que consome, fundamentalmente, o espaço […]”. A partir disso, a atividade turística acarreta mudanças e transformações em determinados elementos inseridos no espaço, principalmente nas paisagens. Fomentam ainda que “a paisagem, indisvinculável da ideia de espaço, é constantemente refeita de acordo com os padrões locais de produção, da sociedade, cultura, fatores geográficos e tem importante papel no direcionamento turístico” (YÁZIGI 2003, p. 92).

Assim, surgem discussões latentes quanto o uso da paisagem pela atividade turística, pois embora algumas teorias do turismo mostrem a preocupação de se preservar as paisagens, nota-se que isso não acontece na prática. Portanto, o presente trabalho procura relacionar os pressupostos da Geografia, com as teorias geradas pelo Turismo.

1 ESPAÇO GEOGRÁFICO E ESPAÇO TURÍSTICO        

São diversas as concepções sobre a definição de espaço geográfico, contudo ainda há certa dificuldade para definir este termo, o que pode ser observado no título do trabalho “O espaço geográfico: um esforço de definição” (BRAGA 2007, p. 65). A mesma autora justifica isso de modo que a definição de espaço é muito semelhante entre os pesquisadores desta área (Geografia) e seus conceitos aproximam-se das afirmações do legado da geografia alemã e geografia francesa, bem como a proximidade de outras ciências como a sociologia e a história. Argumenta, ainda, que esta dificuldade também condiz no sentido que não se pode separar a geografia física da geografia humana, pois o homem está inserido na sociedade e o mesmo não age sozinho (BRAGA, 2007).

Dentro das relações que a sociedade possui com o meio, existem várias implicações, sejam elas positivas ou negativas. Sob uma ótica capitalista os espaços turísticos podem trazer um desenvolvimento socioeconômico para uma determinada localidade, região ou país, porém há necessidade de perceber que com a utilização da atividade turística nestes ambientes, podem ocorrer consequências maléficas para o meio ambiente.

A relação entre homem e natureza é um processo que vem ocorrendo através da história, e as transformações ocorridas no espaço são ações efetuadas pelos seres humanos.

Embora esta complexidade conceitual, o autor considera que

o espaço turístico é conseqüência da presença e distribuição territorial dos atrativos turísticos que, não devemos esquecer, são a matéria-prima do turismo. Este elemento do patrimônio turístico, mais o empreendimento e a infra-estrutura turísticas, são suficientes para definir o espaço turístico de qualquer país (BOULLÓN, 2002, p. 79).

Em conformidade, com os conceitos aludidos por Milton Santos, nota-se que a definição pode ser considerada superficial, ou então, incompleta, pois Boullón somente considera as estruturas inseridas no espaço e não cita as relações sociais ocorridas nele. Outra análise que pode ser realizada perante a definição, é que o espaço turístico por ser consequente de uma distribuição territorial de atrativos torna-se um receptáculo dentro do espaço geográfico.

2 RELAÇÃO ENTRE PAISAGEM E TURISMO    

Então, para entender o conceito de paisagem, numa primeira explanação comenta-se que “[…] a paisagem é uma maneira de ver o mundo e só se vê o que se têm na cabeça.” (PIVETEAU, 1989 apud SALGUEIRO, 2001, p. 38). Portanto, com as pinturas das paisagens, pode caracterizar parâmetros de como viam o mundo, e através destas imagens podiam analisar as paisagens de maneira diferente.

A afirmação dita pela autora correlaciona-se com as palavras de Yázigi (2002, p. 13) que menciona que “paisagem significa mais um modo de ver do que de agir. […] Às vezes, a paisagem faz parte do futuro do homem: moramos em cidades ou campos, mas habitamos também paisagens que podem despertar-nos para dimensões superiores às reais.”

As paisagens são parte integrante da atividade turística, sendo que elas podem influenciar em um deslocamento turístico, independentemente da motivação de viagem. Direta ou indiretamente as pessoas percebem ou sentem as paisagens, podendo ser através de uma fotografia, ou então, somente por meio de uma observação. Gomes (2001) comenta que a representação da paisagem deriva de um olhar atento de uma pessoa, que condiciona por filtros fisiológicos, psicológicos, socioculturais e econômicos, bem como da esfera de rememoração e da lembrança recorrente.

Em outra linha de pensamento, Dollfus (1991) particulariza três classes de paisagem: naturais, modificadas e organizadas. As paisagens naturais não possuem vestígios recentes da ação do homem, as paisagens modificadas possuem traços de modificações ou transformações do homem em algum momento como, por exemplo, as queimadas e as práticas pastoris e as paisagens organizadas procedem de ações planejadas do ser humano sobre o meio natural.

Castro (2002) ressalta que por uma paisagem selecionar um conteúdo simbólico, ela é utilizada pelo turismo como um recurso. E este recurso turístico é utilizado por diversos países como uma mercadoria (MENESES, 2002). Certamente empreendedores turísticos sejam eles de agências de viagem, redes hoteleiras ou até mesmo de grandes restaurantes, bem como gestores municipais procuram “vender” sua localidade por meio dos recursos visuais da paisagem, e em muitos casos como salienta Cruz (2001), este marketing fomentado para as paisagens gera problemas sociais, pois um lugar se privilegia diante outro.

Num sentido similar nota-se que

As paisagens artificiais criadas pelo turismo destoam seu entornos, tanto no que se refere às características naturais e construídas desses entornos. A natureza e cultura recriadas são frutos de intervenções planejadas […] não são produtos da história natural e social, são produtos do turismo (CRUZ, 2001, p. 112)

Nota-se, claramente, que na visão dos autores há dificuldade na preservação de uma paisagem, pois como diz Cruz essas intervenções planejadas têm por finalidade a acumulação de capital através da atividade turística. Entende-se numa percepção mais teórica (e como estudado nas academias) que há necessidade de preservação de paisagens que possuem valor histórico-cultural, bem como paisagens naturais, buscando controlar o chamado turismo de massa. Porém, esta tarefa não é nem um pouco fácil e necessita de um planejamento adequado, além de percepção das consequências que certas paisagens desfocadas podem acarretar para uma sociedade.

CONCLUSÃO

Os fundamentos apresentados neste referencial tiveram por objetivo delinear e explicar a importância da paisagem para a atividade turística. Portanto, esta lacuna é apenas um recorte teórico de alguns termos inerentes sobre espaço e paisagem. A perspectiva futura é adentrar-se mais ao tema de estudo, procurando relacionar as discussões teóricas sobre paisagem com resultados coletados em uma pesquisa.

Pois, o que se pretende mostrar também que é possível uma contribuição da atividade turística para a preservação paisagística de um município, e isto ocorrendo pensa-se que é de extrema relevância, pois muitas paisagens possuem valores simbólicos sobre a história, a cultura e o modo de vida de um povo.

Portanto, procurou trazer algumas noções teóricas sobre a relação entre espaço e paisagem e como que estes termos estão interligados com a atividade turística. Ressalta-se que não tem como finalidade esgotar estudos teóricos sobre o tema, mas abrir portas para novas discussões sobre o uso da paisagem pelo turismo, bem como reflexões acerca dos benefícios e malefícios causados pelo turismo, perante as paisagens.

 

REFERÊNCIAS

BOULLÓN, R. C. Planejamento do espaço turístico. Bauru: Edusc, 2002.

BRAGA, D. C. Planejamento turístico: teoria e prática. Rio de Janeiro: Elsiveier, 2007.

CRUZ, R. C. A. As paisagens artificiais criadas pelo turismo. In: YÁZIGI, E. A. (org.). Turismo e paisagem. São Paulo: Contexto, 2002.

DOLLFUS, O. O espaço geográfico. 5. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1991.

GOMES, E. Paisagem, imaginário e espaço. Rio de Janeiro: EDUERJ, 2001

MENESES, U. T. B. A paisagem como fato cultural. In: YÁZIGI, E. A. Turismo e paisagem. São Paulo: Contexto, 2002.

SALGUEIRO, T. B. Paisagem e Geografia. Revista Finisterra, Vol. XXXVI, n. 72, 2001, pp. 37-53. Disponível em: <http://www.ceg.ul.pt/finisterra/> Acesso em: 28/06/2010.

YÁZIGI, E. A. (org.) A importância da paisagem. In: YÁZIGI, E. A. Turismo e paisagem. São Paulo: Contexto, 2002.

___________. Turismo: uma esperança condicional. 3ª ed. São Paulo: Global, 2003.

[1] Melânia Zampronho Ferronato, Bacharel em Turismo pela Unicentro, Irati-PR, Mestranda em “Gestão do Território” pela UEPG

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