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Analisando a Obra “Pensar não Dói e é Grátis: Vivendo Filosoficamente”

Analisando a Obra “Pensar não Dói e é Grátis: Vivendo Filosoficamente”

 

Cassiano Telles *

Hugo Norberto Krug **

 

Publicadas originalmente em  26/10/2011  como www.partes.com.br/educacao/resenhas/pensarnaodoi.asp

 

Cassiano Telles – Pós-Graduando em Educação Física Escolar do Centro de Educação Física e Desportos da Universidade Federal de Santa Maria-RS CEFD/UFSM, membro do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Física do PPGE/UFSM. telleshz@yahoo.com.br

Resumo: Esta análise é uma educação para o pensar, uma aventura do pensamento humano. Mostra-nos que o pensar humano não é algo banal, mas que carece de nossos cuidados, sendo que não nascemos com a capacidade do pensar correto, quando erramos ao fazer quer dizer que muito antes erramos ao pensar. Pois pensar requer métodos e construções, todos adquiridos com o estudo dos acontecimentos que nos norteiam, para que este se forme devemos entender o velho pensamento que está em nossa mente, quebrando conceitos como o que pensar dói. Pensar não dói e é grátis, vamos fazer bom uso desta capacidade.

Palavras-Chave: Educação. Pensar. Criticidade. Comportamento Humano.

Summary: This analysis is an education for thought, an adventure of human thought. Shows us that human thinking is not trivial, but it lacks our care, and are not born with the capacity of right thinking, when we fail to do that is to say that long before we err in thinking. Because it requires thinking and construction methods, all acquired with the study of events that guide us so that we understand this form isthe old thinking that is in our minds, breaking concepts as it hurts to think. Thinkingdoes not hurt and it’s free, we make good use of this capacity.

Keywords: Education, Think. Criticality, Human Behavior.

A obra “Pensar não dói é grátis: Vivendo Filosoficamente”, de Eugênio C. Ribeiro[1], é um livro que nos mostra a necessidade de reconhecermos que precisamos pensar, como diz o autor: é um livro de educação para o pensar, um livro sobre a aventura do pensamento humano. (2005, p.11)

Nos dias autuais, é tão difícil refletirmos sobre os acontecimentos que nos rodeiam, devido muitas vezes pela escassez de tempo que temos para realizarmos várias tarefas.

Também relata que pensar é algo banal e corriqueiro e que nascemos com tal capacidade e sendo esta, a correta. Porém, o tipo de pensamento que realizamos é o de cumprir o que nos fora solicitado no trabalho, um pensamento mecanizado, de prestação de serviços.

Se utilizássemos o pensamento, em todos os momentos dos quais estamos acordados, certamente iríamos refletir e não praticar grande parte de nossos atos, principalmente o de consumismo, visto que consumimos por não haver reflexão.

Diz o autor de que quando estamos diante de uma situação da qual possuímos uma estrutura de pensamento apropriada, agimos tranquilamente. Isto, pois estamos agindo com pura sabedoria, sabendo o que estamos fazendo, ainda complemento fazendo com propriedade. Possuímos o que chamam de “manha”, então por sabermos todos os processos do fato, sabemos como resolver cada reação desencadeada pelo mesmo.

Ao apreciar o conteúdo deste livro, estamos formando um novo padrão de pensamento, que se manifeste inconscientemente. Este dizer é afirmado pelo autor, “É o que pretendo com este livro. Formar em você um padrão de pensamento tal, que natural e de forma inconsciente ele funcione nas diversas situações de sua vida.” (2005, p.13)

Embora também explicite a importância de conhecer o velho padrão do qual estamos incutidos: “primeiro temos que entender o velho padrão que está arraigado em nossa mente, para então refletirmos e nos apropriarmos do novo pensamento por nós elaborado.” (2005, p.13)

E por que já não o fizemos anteriormente? Por tentarmos nos apropriar dos pensamentos dos outros. Motivo este é confirmado: “A preguiça e a covardia são as causas pelas quais uma tão grande parte dos homens permanece menor durante toda a vida, esperando que tutores tomem conta” (2005, p.13), resultando na estagnação e autodestruição do ser.uto destruiç estagnaçmens permanece menor durante toda a vida, esperando que tutores tomem conta.

Um exemplo clássico deste aprisionamento das pessoas desse inicio de século XX: idealizados pelo consumismo, o poder material dita à regra, que dita quem “tem” sem muitas vezes ter, e quem “não tem”, fora da sociedade, isolado do grupo materialista.

Os que “tem”, compram carros do ano, compram casas enormes.

Na sociedade, é normal encontrar pessoas que parecem ser milionários, vê o visinho comprar um carro novo e por uma estupidez tremenda sem mesmo ter condições compram um melhor ou igual para não ficar para traz. Como se isso o fizesse ser menos que o outro, passam meses comendo pão e água para pagar suas dividas não podendo agradar seus familiares porque esta endividado mas a pose de quem “tem” ou acha que tem não cai.

Como nos desvencilhar de tais atos? Responde o autor que “Cada um pode mudar sua vida a qualquer momento se assim o desejar. Basta coragem, pensamento correto e um pouco daquilo que os iluminados chamam de fé, sem fé nada de bom é feito nesta terra.” (2005, p.14)

Ao analisar o ideal, observa-se que estas pessoas o possuem, embora de maneira errônea por estarem presos a esta idéia de certo. Contudo, este ideal de afirmação é uma crença herdada dos outros. Veja o que o autor relata no capítulo I Saindo da Matrix – Poder das Crenças “Você algum dia já parou pra pensar que a sua vida, desde o seu nascimento até hoje, é toda fundamentada em crenças? E que estas crenças, em sua grande maioria, foram herdadas dos outros, sofrendo quase nada de influência sua?” (2005, p.17)

A partir do momento que o ser passa da fase de criança à jovem, as carências afloram, as amizades são conquistadas através da superficialidade do consumismo. O ser é um estranho no ninho, um invasor, que para frequentar o grupo, deverá adequar-se ao habitat do mesmo. É exatamente aqui onde sua autenticidade é deixada de lado e é seguida a do grupo. O meio agindo no ser.

Isto se torna dispendioso. É o que diz o autor “Quando as atitudes mentais se enraízam assemelham-se a muros invisíveis que nos aprisionam no reino dos preconceitos.” (2005, p.17)

O preconceito citado é o da não aceitação do ser no grupo, se este não se enquadrar às regras que o consumismo exige. Não sendo avaliado o caráter do mesmo.

Aliás, quem nesses grupos preza o caráter?

Mas por que o jovem procura identificação em grupos? Para ter amigos, ser admirado no grupo, por influencia dos pais que se encaixam neste grupo.

O autor revela que: “a estrutura do pensamento humano parece ser determinada, da infância à juventude, por idéias e sentimentos que tivemos durante o processo de formação, principalmente pela influência de personalidades fortes que nos rodeiam. É possível que estejamos fazendo muito mal a nossos filhos na intenção de lhes fazer o bem.” (2005, p.18)

Com base neste aprisionamento, pensando mais amplamente, pode-se chegar à questão de que não devem deixar levar-se pelos costumes atuais, pelo fato que devemos ser e ter o reconhecimento por sermo-nos próprios, mas se não o fizermos em qualquer instância, qual o sentido de nossa existência? Será que nossa presença neste mundo é real?

É o que explica o autor no capítulo “A Matrix”, “No final do século XX um filme roubou o cenário do cinema mundial. […] Neo, o personagem principal, sai da matrix e é considerado o Escolhido que vai libertar os homens de uma tirania virtual. Buscaram em Platão, nos gnósticos antigos, na sabedoria do budismo e na filosofia de Descartes a idéia de que o que chamamos de mundo real pode não passar de uma mera ilusão, criada por alguém a fim de nos enganar.” (2005, p.19)

Este filme é o “Matrix”.

Também podemos comparar esta situação de dois mundos com o computador. Você faz tudo sem sair de casa, tem a informação que quiser em alguns segundos. Tudo isso através da internet que faz com que o ser humano se comunique com qualquer pessoa em segundos.

Então há como sair desta matrix? Sim, existe uma possibilidade, mas o homem como habituado a esta tecnologia não adaptaria se mais a um mundo sem internet é preciso então ter um único meio muito valioso: a consciência. “… é preciso ter consciência de que se está nela. É preciso pelo menos desconfiar de que existe outra realidade…” (2005, p.21), diz o autor.

O autor faz uma crítica às entidades de ensino brasileiras, por não trabalharem o bom pensar dizendo: “Para aqueles que estudam, as instituições de ensino deveriam ser aqueles luminares que mostrariam quão espessas são as trevas da ignorância do homem comum.” (2005, p.21)

Porque no Brasil ainda não se descobriu a real importância de uma educação para o bom pensar. Incitando o causador de tal disfunção, o militarismo, e que para a maioria das pessoas, pensar parece doer.

Para o governo é melhor não investir em educação, pois fazer as pessoas pensarem traria questionamentos sobre as condutas e investimentos fazendo que os mesmos mudassem sua forma de administrar o país, sendo que para isso acontecer teria que mudar a forma de pesar desde o nascimento até a fase adulta do cidadão.

Contudo, o que vemos é um acadêmico que reproduz o conhecimento adquirido nos ensinos fundamental e médio, repassado por educadores formados com a repressão militar.

Poderiam eles, só não o fazem devido às questões de preguiça (que já fora citada anteriormente), influências das leis de mercado, da política de rápidos resultados para obterem o máximo de conhecimento técnico profissional, objetivando o diploma.

Entretanto, o mercado está cada vez mais competitivo. As empresas, visando liderança no mercado, buscam profissionais com um diferencial que lhes faça conquistar prêmios. Um capitalismo desenfreado, com os dois lados da moeda: busca de novas tecnologias ao bem estar e evolução social, e superávit comercial, ambicionando o poder.

Se o indivíduo souber filtrar este mercantilismo, apostando desenvolver em seu conhecimento o diferencial visado, destacar-se-á, saindo da mediocridade, e, por conseguinte, das trevas da ignorância.

A filosofia tem o papel de desenvolver o pensamento liberto e autônomo. Deve ser estudada em todas as épocas da vida, pois o jovem a utiliza para envelhecer, e os velhos, para sentirem-se rejuvenescidos. Tão mais fácil é quando se conhece e domina o manual do aparelho eletrônico que você adquiriu. Qualquer falha que apresentar, será sanada pelas informações retidas no seu pensamento.

No capítulo 5, o autor relata quais são as perguntas mais necessárias nos dias de hoje, sendo elas: – Quem somos nós, o que devemos fazer, o que é bom e o que é mal? Confirmando que há dificuldade em formular perguntas e uma maior ao respondê-las. Pergunta-se: por que estou na faculdade, qual minha perspectiva de futuro, será que este empenho todo vai me trazer um bom lucro, mas não será isso uma fuga de suas carências? A psicologia explica que toda a extremidade é transparência de uma situação mal resolvida.

O avanço da tecnologia é um sério agravante de tais condições, desagregando valores que os seres possuíam, servindo de apoio, suprimento às suas necessidades, gerando hábitos e aniquilando o que a humanidade tem de melhor: a comunicação ao vivo. É aqui que o homem adquire uma posição relativista enquanto às vivências: cada ser pensa de uma maneira e, por existir o respeito para com o próximo, devemos aceitar suas colocações, pois todas são válidas, não há verdade absoluta.

Muitas vezes paramos para pensar e acabamos desistindo de fazer algo que poderia nos trazer benefícios, como pensar na graduação que esta fazendo, saber que vai ter um salário que demorará anos para pagar o que gastou com a mesma, isso depende do meio cultural que vive do profissional que vai ser, da situação que vai usar. “Ética é o estudo do uso que o homem deve fazer de sua liberdade para alcançar seu fim último, por meio da ação” (2005, p.118), descreve o autor.

Mas de onde nascem as teorias éticas? Nascem e se desenvolvem em épocas diferentes a fim de suprir as necessidades do momento, se ocupando na pesquisa e no estudo dos valores morais.

Os valores, as ações e as regras se relacionam entre si, pois possuímos valores e os praticamos diariamente.

No capítulo que trata sobre os Animais Políticos, o autor nos esclarece que a partir do momento em que vivemos em sociedade e ajudamos as pessoas, estamos praticando uma política, desmistificando seu significado de partidarismo.

Mas sempre deixando claro que eles somente tornam se políticos através do aval dos cidadões que nele acreditam e que tem o poder de colocá-los e tira-los na hora que quiserem. “O poder corrompe. O poder absoluto corrompe absolutamente.” (2005, p.147)

Por isso na hora de falar mal ou não questionar os políticos que todos votamos e, na hora da mudança pensamos que nada vai mudar e acabamos votando no mesmo devemos pensar que estamos dando poder absoluto a eles.

No capítulo referente à Modernidade Racional, observamos o movimento cultural iniciado por Descartes e Bacon juntamente com o iluminismo francês.

O ideal de Bacon é que a diferença entre os civilizados e os selvagens era como a dos homens e a dos deuses. Que a sociedade deveria ser organizada de acordo com os parâmetros racionais, pois para ele o conhecimento era o poder.

O ideal de Weber é um ponto de vista progressivo, uma forma racional de ver explicar o mundo.

Por fim analisar esta obra requer um pensamento crítico e filosófico sobre o tema Educação, sendo que trata-se de obra de cuidadoso rigor metodológico, que explora e conclui sobre os problemas que se propõe a estudar, sem desvios ou distorções. Utiliza várias técnicas de coleta de dados, obtendo assim maior riqueza de informações.

É uma obra original e valiosa porque aborda um dos tabus da sociedade brasileira: o pensamento massificado. Coletou, o autor, diversos referenciais metodológicos, obtendo a riqueza de informações direcionadas ao leitor.

Possui vocabulário culto, conteúdo realista, exigindo – do leitor, o prévio conhecimento do vocabulário utilizado.

Esta serviu-me para o esclarecimento, retificação e aprimoramento de meus conhecimentos, por ser completa e de linguagem acessível. Cada vez que lia seu conteúdo, algo diferente acontecia no meu pensamento, bem como a mudança no meu comportamento. Sinto-me mais crítico e com outra visão sobre a humanidade.

A obra é de grande importância a todos que buscam aprimorar seus conhecimentos filosóficos – educacionais, todavia que o autor é profundo e minucioso em suas descrições.

Resenha da Obra: RIBEIRO, EUGÊNIO C. Pensar não dói e é grátis. Blumenau: NOVA LETRA, 2005. 192 p.

 

* Pós-Graduando em Educação Física Escolar do Centro de Educação Física e Desportos da Universidade Federal de Santa Maria-RS CEFD/UFSM, membro do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Física do PPGE/UFSM. telleshz@yahoo.com.br

** Doutor em Educação e Ciência do Movimento Humano pela Universidade Federal de Santa Maria – UFSM, Orientador. Professor do Departamento de Metodologia de Ensino e Pós-Graduação em Educação – PPGE/UFSM, Líder do Grupo de Estudos e Pesquisa em Educação Física – GEPEF/UFSM. hnkrug@bol.com.br.

[1] Eugênio C. Ribeiro. Graduou-se em Filosofia. Obteve o grau de Mestre e especializou-se em Epistemologia e Filosofia da Ciência, tendo escrito uma crítica à teoria do Mundo Três de Karl Pooper.

 

TELLES, C. ; KRUG, H. N. . Analisando a Obra ?Pensar não Dói e é Grátis: Vivendo Filosoficamente?. P@rtes (São Paulo) , v. Out, p. 1-7, 2011.

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