Crônicas Margarete Hülsendeger

Elas descobrem antes

ELAS DESCOBREM ANTES

Margarete Hülsendeger

 

Só quem se interessa realmente vê, e, em geral o interesse dos homens, mesmo apaixonados, é mais limitado em extensão e profundidade do que o das mulheres.

Alexandra Lucas Coelho

 

Margarete Hülsendeger é Física e Mestre em Educação em Ciências e Matemática/PUCRS. É mestra e doutoranda em Teoria Literária na PUC-RS. margacenteno@gmail.com

Não se trata de uma pesquisa oficial, é mais um levantamento de informações pensando, quem sabe, na captação de novos “clientes”. Digo isso, pois não é aconselhável levar os dados que aqui vou divulgar ao pé da letra, ou seja, em uma linguagem científica, pode-se dizer que existem mais, muitas mais, variáveis a serem consideradas. No entanto, como curiosidade vale a pena conhecer, comentar e no final cada um tirar suas próprias conclusões.

O site de relacionamentos “ParPerfeito” depois de entrevistar cinco mil homens e mulheres chegou aos seguintes dados: 72% das mulheres afirmaram saber que já foram traídas, enquanto 40% dos homens dizem não ter conhecimento. Além disso, conforme esse mesmo levantamento, 39% dos homens considera o sexo “fundamental”, enquanto 37% das mulheres o considera “apenas importante”. A opção “fundamental” aparece, no caso das mulheres, em terceiro lugar e somente 26% delas escolheram essa alternativa.

Como já alertei, essas informações devem ser analisadas com o devido cuidado, não podendo ser vistas como verdades absolutas. Aliás, na minha opinião, nenhuma pesquisa que envolva comportamento humano pode ser considerada 100% segura. Contudo, nada nos impede de fazer comentários sobre elas. É interessante lembrar, por exemplo, que as mulheres costumam ser mais perspicazes e atentas que os homens. Dizem que se trata de um comportamento adquirido, ainda na pré-história, quando as mulheres permaneciam nas aldeias cuidando da prole, enquanto os homens iam casar. Sendo fisicamente mais frágeis precisavam estar mais atentas a aproximação de possíveis predadores, cuidando para que nada acontecesse as crianças. Assim, a visão periférica da mulher teria se desenvolvido mais, do mesmo modo que a atenção para com os detalhes. Nos tempos modernos (e dentro do contexto desta crônica), essa visão detalhista permite que a mulher detecte com rapidez surpreendente manchas de batom, perfumes desconhecidos e contas que não estão previstas no orçamento.

No caso dos homens, os resultados podem ter relação com a simples vergonha de se saberem traídos. Descobrir a infidelidade da companheira desencadeia uma reação que coloca em dúvida a sua masculinidade e, portanto, a capacidade de satisfazer uma mulher (na cama e fora dela). A humilhação, aparentemente, seria demais para eles, daí não prestarem atenção aos sinais reveladores de uma possível traição. Desse modo, para não ter de passar por constrangimentos eles preferem ignorar a ter de encarar a dura verdade.

É claro que, a título de justificativa, pode-se também levar em conta o aspecto “evolutivo” do macho humano. Enquanto as “fêmeas da espécie”, por questões de segurança, precisavam ficar alertas aos mínimos detalhes do seu entorno, os homens tinham como obrigação correr mais rápido, ver mais longe e serem mais fortes. A eles cabia sustentar e proteger as famílias. Eram, na sua maioria, caçadores, não observadores preocupados com minúcias. Sua visão, ao longo do tempo, acabou tornando-se limitada (chamada visão de túnel), enquanto as mulheres desenvolveram um olhar mais abrangente e minucioso. O que nos leva, novamente, a questão levantada pela pesquisa, ou seja, quem sabe por conta dos diferentes papéis assumidos por homens e mulheres ao longo de séculos de evolução resida a dificuldade de os primeiros descobrirem depois que estão sendo traídos

Quanto ao outro dado informado pelo site – “fundamental” versus “apenas importante” – precisa-se ter um pouco mais de cuidado com conclusões precipitadas. A sexualidade sempre foi um tema polêmico, principalmente, porque se avalia de forma diferente o comportamento de homens e mulheres. Assim, é muito provável que as respostas obtidas pelo site estejam “contaminadas” por preconceitos sociais que, ao longo de tempo, valorizaram a sexualidade masculina enquanto reprimiram a feminina. Talvez, os homens, devido às pressões de uma sociedade, na maioria das vezes, patriarcal vejam-se no compromisso de exaltarem o sexo como “fundamental”, mesmo que para muitos seja “apenas importante”. Do mesmo modo, as mulheres. Séculos de restrições e de tabus, levaram-nas a procurar em suas relações amorosas outros atributos que não sejam apenas aqueles relacionados ao sexo. Esse comportamento, incentivado pela mesma sociedade patriarcal, talvez não represente o que as mulheres realmente pensam sobre o sexo. Para elas, quem sabe, o sexo também seja “fundamental”, mesmo que digam que é “apenas importante”.

Todas as questões levantadas por essa “pesquisa” são interessantes e apenas confirmam – sem nenhum tipo de sexismo – que homens e mulheres comportam-se e veem as relações de forma diferente. Isso não desmerece nenhum dos dois lados, nem os torna piores ou melhores. Assim, mais do que se preocupar em descobrir quem trai mais rápido é preciso esforçar-se em construir um relacionamento saudável que permita a um casal criar laços de afeto que, na ausência do sexo (por questões de saúde ou do próprio momento), darão o suporte necessário para superar as dificuldades do dia-a-dia. Se os casais se dedicarem a essa tarefa (que não é pequena!) talvez, “pesquisas” desse tipo não sejam mais necessárias. Sei que é difícil, mas, como sou uma romântica incurável, acredito que vale a pena tentar.

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