Educação educação ambiental Terceira Idade Terceira Idade Terceira Idade Terceira Idade Terceiro Setor

Educação Ambiental e Terceira Idade: uma mudança de paradigmas através das vivências

Miriam de Oliveira Maciel[i]

José Euclides Rodrigues Beltran**

Resumo

O artigo aborda a relevância das vivências da Terceira Idade para a mudança de paradigmas frente à Educação Ambiental. Nesta perspectiva, desenvolvemos uma oficina de artesanato, com utilização de cascas de banana, para o Grupo de Terceira Idade da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). O objetivo desta oficina foi estimular o referido Grupo à reflexão de suas práticas e à mudança de paradigmas quanto às questões ambientais; bem como, induzir a criatividade através da confecção artesanal, promovendo a auto-estima dos mesmos.

Palavras-Chave: Terceira Idade, Educação Ambiental, Mudança de Paradigmas.

Resumen

El artículo se acerca a la importancia de las experiencias de la tercera edad para el cambio de paradigmas afronta a la educación ambiente. En esta perspectiva, desarrollamos un taller del artesanato, con el uso de las cortezas del plátano, para el grupo de tercera edad de la universidad federal de Santa María (UFSM). El objetivo de este taller era estimular al grupo práctico citado a la reflexión del su y cambio de paradigmas cuánto a las preguntas ambiente; así como, inducir la creatividad a través de los dulces del artesano, promoviendo auto-estiman los mismos.

 Palabra-Llave: Tercera edad, educación ambiente, cambio de paradigmas.

Considerando que a Educação Ambiental fundamenta-se na mudança de percepção que o indivíduo tem do ambiente em que está inserido, percebemos a importância de se trabalhar a Educação Ambiental para a Terceira Idade. Por serem mais velhos, os idosos são mais inflexíveis e de difícil tratamento no que se refere à mudança de paradigmas. Neste sentido, buscamos através de oficinas de artesanato, reutilizar resíduos sólidos vegetais, em especial a casca de banana com a finalidade de introduzir, através das vivências obtidas na oficina, um novo olhar quanto às questões ambientais aos participantes.

Os principais objetivos desta oficina estão embasados em estimular o Grupo da Terceira Idade da UFSM à reflexão de suas práticas e à mudança de paradigmas quanto às questões ambientais; bem como, induzir os participantes à criatividade através da utilização de matéria-prima biodegradável para confecção artesanal, além de promover a auto-estima do Grupo. Nesta perspectiva, oportunizar aos idosos a experiência de desempenhar um trabalho de Educação Ambiental do qual terão que se utilizar da criatividade, estimula a auto-estima e, consequentemente, a mudança de paradigmas. Visto que, para que estes sujeitos compreendam a relevância da Educação Ambiental e para que sua percepção de Meio Ambiente seja modificada, necessário se faz que estes sujeitos tenham vivências nas quais eles serão os próprios agentes modificadores dos paradigmas errôneos que possuem quanto às questões ambientais.

Neste sentido, oportunizar ao Grupo de idosos da UFSM a vivência de uma prática ambiental, através de um produto biodegradável com matéria prima desenvolvida a partir de resíduos de cascas de banana, é oportunizar vivências educativas. Através deste produto (artesanato) os participantes tiveram um respaldo, ou seja, um material concreto do que aprenderam sobre as questões ambientais. Com esta ação, os idosos participantes da oficina tiveram a possibilidade de transmitir aos netos, amigos e demais familiares as noções básicas de reutilização de resíduos sólidos vegetais, o que é, de certa forma, um início de mudança de comportamento frente ao Meio Ambiente.

Mauro Guimarães (2005) afirma que o problema ambiental surge do atual modelo de sociedade que é fragmentária, reducionista, individualista, consumista, concentradora de riqueza e exploratória, voltando-se assim para a degradação. Para este autor, o Meio Ambiente e suas problemáticas são conteúdos básicos da Educação Ambiental, sendo que é necessária uma interdisciplinaridade para um dos tratamentos adequados ao seu processo pedagógico.

Na vivência de um processo interdisciplinar em sua integralidade, em que novos conhecimentos vão sendo construídos e que novos valores e atitudes podem ser gerados, resultando em práticas sociais diferenciadas, essas possibilidades de transformação são propícias ao processo educativo que objetiva a formação da cidadania, mas uma cidadania em que seu exercício seja resultado de práticas críticas e criativas de sujeitos aptos a atuarem nesta sociedade mundializada. O atual cidadão necessita dessa compreensão de totalidade para se situar e ser eminentemente um agente social nesse mundo globalizado e complexificado (GUIMARÃES, 2000 B. apud CUNHA & GUERRA, 2005).

Neste sentido, considerando os idosos como cidadãos que são, não podemos esquecer que estas pessoas também fazem parte da sociedade e que também devem exercer ações de preservação ambiental, sendo que podem iniciar sua transformação de paradigmas através de vivências diárias, tais como a reutilização de resíduos. Ao definir a Educação Ambiental entendemos que esta abrange todos os setores da sociedade, bem como todas as idades. Neste sentido, Noguera (2009), define Educação Ambiental como:

                                    Um processo contínuo e permanente que busca a transformação de valores e atitudes e posicionamentos pelos quais, a comunidade por intermédio do indivíduo esclarece conceitos voltados para a conservação do ambiente.

Conservar o ambiente é um processo contínuo que deve ser efetuado pela comunidade, e os idosos, mesmo sendo muitas vezes esquecidos pelos demais membros da sociedade, também podem e devem desempenhar um trabalho de Educação Ambiental. Ao trabalhar com a Terceira Idade, devemos pensar em valorizar seus conhecimentos e vivências, valorizar suas idéias e não forçar um ideal sem considerar o ambiente no qual o idoso está inserido. Neste sentido, Ana Maria Araújo Freire (2003), com base em Paulo Freire afirma:

                                As práticas libertadoras, pelas quais devemos lutar, necessitam da comunicação que, para Paulo é a antítese da extensão. Comunicação exige diálogo e não comunicados, ordens ou prescrições. Práticas que demandam colaboração, participação e objetivos delineados nas táticas da luta por esse mundo melhor. […] Prática libertadora implica troca. Em horizontalidade. É negação da verticalidade e do autoritarismo (FREIRE, A. M. A. 2003, p. 18).

Desta forma, entendemos que as práticas de Educação Ambiental com Grupos de Terceira Idade devem ser embasadas na valorização da história do indivíduo, no reconhecimento de suas vivências e no respeito ao ser humano, indispensável em toda e qualquer prática, seja ela com idosos ou não. Neste contexto, a autora reafirma a valorização do outro nas práticas de Educação Ambiental:

[…]. Para isso se faz necessário sobretudo o respeito e a valorização do outro(a). E este modo de estar no mundo implica a aceitação da diferença. É o princípio fundante do diálogo entre sujeitos e entre esses e o objeto passível e almejado pelos sujeitos de ser conhecido. É o princípio gerador do elogio da diferença (FREIRE, A. M. A. 2003, p. 18).

Ainda, a mudança de paradigmas nos grupos de Terceira Idade, como em qualquer grupo e/ou sujeito, não se dá de forma impositiva, mas de forma lenta e pacífica. Para que os idosos mudem a percepção de Meio Ambiente e tornem-se disseminadores das questões ambientais e da Educação Ambiental, necessário se faz que, através das práticas e do exercício conjunto de transformação de resíduos sólidos em artesanato, compreendam a importância da preservação ambiental. Segundo Boff (1996),

                                    Hoje estamos encontrando um novo paradigma. Quer dizer, está emergindo uma nova forma de dialogação com a totalidade dos seres e de suas relações. Evidentemente continua o paradigma clássico das ciências com seus famosos dualismos como a divisão do mundo entre material e espiritual, a separação entre a natureza e a cultura, entre ser humano e mundo, razão e emoção, feminino e masculino, Deus e mundo e a atomização dos saberes científicos (BOFF, 1996. p. 29). 

Nesta perspectiva, entendemos que o novo paradigma ao qual o autor se refere vêm de encontro com as concepções equivocadas que a maior parte da sociedade possui quanto às questões ambientais. Desta forma, trabalhar para que haja uma mudança de paradigmas na Terceira Idade é algo lento e contínuo, visto que essa transformação ainda encontra-se em processo nos demais grupos, de diferentes idades, existentes na sociedade atual.

A metodologia utilizada nesta oficina visou reconhecer que o Grupo da Terceira Idade da UFSM pode desenvolver produtos artesanais utilizando-se de matéria prima biodegradável, desenvolvida a partir de resíduos sólidos vegetais como a casca de banana. A finalidade desta iniciativa foi a de propiciar a estes sujeitos um conhecimento inicial das questões ambientais. Com isso, propomos uma mudança lenta e contínua das concepções equivocadas a respeito do Meio Ambiente em que a Terceira Idade está inserida.

Com estas práticas, a Educação Ambiental não foi imposta ao Grupo da Terceira Idade, mas foi absorvida pelos participantes naturalmente, por meio de pensamento reflexivo, de raciocínio quanto às questões ambientais e com base na história de vida dos participantes. Portanto, ao pensarmos em mudanças de paradigmas, em Educação Ambiental e em Terceira Idade, devemos nos remeter à valorização das vivências dos idosos, bem como compreender que esta mudança acontece de forma lenta e gradativa.

Referências

BOFF, Leonardo. Ecologia – Grito da Terra, Grito dos Pobres. 2ª edição. São Paulo: Editora Ática, 1996.

CUNHA, Sandra Baptista da; GUERRA, Antonio José Teixeira. Org(s). A Questão Ambiental: diferentes abordagens. 2ª edição. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2005.

FREIRE, Ana Maria Araújo. O Legado de Paulo Freie à Educação Ambiental. Artigo publicado no livro: NOAL, Fernando Oliveira; BARCELOS, Valdo de Lima.Org(s).Educação Ambiental e cidadania: cenários brasileiros. Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 2003.

NOGUERA,  Jorge O. Cuéllar. Definição de Educação Ambiental. Educação Ambiental: Pós-Graduação. Disponível em: http://www.ufsm.br/educacaoambiental/ . Acesso em: 28/12/2009.

 Como citar este artigo:

MACIEL, Miriam de Oliveira;BELTRAN, José Euclides Rodrigues. Terceira Idade e Educação Ambiental: a mudança de paradigmas através das vivências. Revista P@rtes (São Paulo). V 00. P.eletrônica. Janeiro de 2009. ISSN 1678-8419 Disponível em:<www.partes.com.br/educacao/educacao_ambiental_e_terceira_idade>. Acesso em _/_/_.


[i] Graduada em Educação Especial – Licenciatura Plena pela UFSM – Universidade Federal de Santa Maria – Especializanda em Educação Ambiental pela UFSM. Mestranda em Educação pela UFSM. e-mail: miriam_maciel.ufsm@yahoo.com.br

** Graduado em Medicina Veterinária pela PUCRS – Campus Uruguaiana. Especializando em Educação Ambiental pela UFSM. e-mail: joeurobe@yahoo.com.br

Deixe um comentário