Crônicas Margarete Hülsendeger

Relacionamentos

Cena do filme Enough Said (À Procura do Amor)

RELACIONAMENTOS

Margarete Hülsendeger

Publicado originalmente em publicado em 31/03/2010 como <www.partes.com.br/cronicas/mhulsendeger/relacionamentos.asp>

 

Seja qual for o relacionamento que você atraiu para dentro de sua vida, numa determinada época, ele foi aquilo de que você precisava naquele momento.

Deepak Chopra

 

Margarete Hülsendeger é Física e Mestre em Educação em Ciências e Matemática/PUCRS. É mestra e doutoranda em Teoria Literária na PUC-RS

Escrever sobre o tema “relacionamentos” não é nada original. As livrarias estão abarrotadas de livros tratando desse assunto. Neles encontraremos receitas de todos os tipos e para todos os gostos, que vão desde como realizar novas conquistas até como abolir quaisquer dificuldades que possam aparecer no caminho.

O estranho é que, apesar de toda essa ajuda – ou seria melhor dizer assessoria? –, as pessoas continuam tendo problemas para estabelecer relações gratificantes e qualificadas. Por que será?

Como dizia Mário Quintana: “A arte de viver é simplesmente a arte de conviver… simplesmente, disse eu? Mas como é difícil”. Portanto, não é de se estranhar que o assunto relacionamento continue sendo motivo de preocupação para tanta gente. Afinal, trata-se de um tema delicado, e como disse Mário Quintana, de difícil solução.

Vamos a alguns exemplos.

Um relacionamento considerado pela maioria das pessoas como fundamental é aquele que se estabelece entre pais e filhos. Enquanto as crianças são pequenas e aceitam com passividade as orientações de seus pais, a relação costuma ser harmoniosa e praticamente isenta de qualquer conflito mais sério. Contudo, basta os filhos crescerem para que toda essa harmonia desapareça e as disputas por espaços nunca antes questionados acabem se tornando inevitáveis.

Do mesmo modo, outro relacionamento tido como igualmente essencial é aquele que se forma entre um homem e uma mulher. Como no exemplo anterior, no início a harmonia é quase absoluta. Nem ele e nem ela conseguem perceber defeitos no outro. O amor os torna cegos. No entanto, conforme a intimidade cresce, a dinâmica dessa relação também se modifica. Defeitos nunca antes percebidos afloram de forma avassaladora. Concessões, que antes eram feitas com um sorriso nos lábios, passam a ser um sacrifício difícil de aceitar. Tudo parece assumir tons de cinza quando antes o mundo era visto através de uma lente cor de rosa.

E assim poderia continuar listando exemplos de relações onde a harmonia e o amor foram gradativamente sendo substituídos pela discórdia e, não raro, pelo ódio irracional. Estudiosos do comportamento humano poderiam, inclusive, listar diferentes razões para essas rupturas: medo, insegurança, egoísmo, traumas diversos. Contudo, particularmente, tenho minha própria teoria.

Para mim existe um sentimento que permeia todo e qualquer tipo de relação. Ele está tão presente em nossas vidas que, muitas vezes, nem percebemos o quanto ele nos controla. Estou me referindo a um dos maiores inimigos do ser humano: o desejo de poder.

Desejo, muitas vezes incontrolável, de dominar o outro. De querer impor suas próprias regras e leis em detrimento do que o outro pense ou deseje. Poder para transformar os que se encontram a sua volta à sua imagem e semelhança.

É o que ocorre quando um pai (ou mãe) nega-se a ouvir o que o filho tem a dizer, usando como desculpa a sua pouca idade. Ou quando um filho agride, por atos ou palavras, seus pais por acreditar que a experiência de vida nada significa. Ou ainda, quando entre um casal instala-se o silêncio da mágoa porque nenhum dos dois quer abrir mão de suas ideias e preconceitos.

De qualquer maneira, não há como evitar, as pessoas continuarão a ler e escrever sobre o assunto relacionamento tendo sempre em vista o mesmo objetivo: encontrar a receita para uma relação ideal. Entretanto, como todos nós sabemos, essa é uma busca ilusória. Não existe a relação ideal. Em todos os relacionamentos encontraremos dificuldades a serem superadas. Todavia, se conseguirmos vencer aquele que, para mim, é o inimigo número um dos relacionamentos – esse desejo, muitas vezes insano, de poder –, talvez pudéssemos romper com esse ciclo vicioso de amor e ódio que permeia a maioria das relações. Portanto, se são garantias que você está querendo, o melhor é procurar outro tipo de leitura, pois quando o tema é relacionamento torna-se impossível garantir um sucesso absoluto. Você, com certeza, terá de se arriscar.

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