Em questão

Saramago fará falta para o universo do livro

Rosely Boschini*

publicado em 18/06/2010

 

Rosely Boschini, empresária do setor editorial, é a presidente da Câmara Brasileira do Livro (CBL)

A morte de José Saramago representa muito mais do que a partida de um dos maiores escritores de nosso tempo. Trata-se da interrupção brusca de um dos grandes impulsionadores da Língua Portuguesa pelo mundo. E nós sentiremos falta disso.

Toda vez que José Saramago pisava em solo brasileiro, além de trazer todo o seu lastro de conhecimento e de pensador das inquietações de nosso tempo, desembarcava também um símbolo da existência da Língua Portuguesa pelo mundo. Não à toa, foi o único da chamada “língua de Camões” a ganhar um Prêmio Nobel de Literatura.

Isso representava muito para nós, que no dia a dia lidamos com o português por meio de livros. Saramago era o mais autêntico representante do uso correto e ao mesmo tempo sublime do conjunto de palavras e expressões que compõe o vasto universo falado e escrito da Língua Portuguesa.

Esse digno escritor, quando por aqui percorria participando de palestras, conferências, lançamentos de livros, eventos literários e entrevistas, deixava um rastro de respeito à Língua Portuguesa por intermédio de sua obra. Não havia quem não enxergasse dali a importância de Saramago, além de sua prazerosa escrita.

Existia nesse português de nascimento uma imensa capacidade de transferir o papel da Língua Portuguesa aos seres comuns, na vida das pessoas. Com ele, via-se com mais clareza o poder das palavras, da linguagem, da capacidade infindável que a literatura portuguesa é capaz de produzir.

Saramago fez isso não só no Brasil, mas em todos os países de Língua Portuguesa espalhados pelos quatro cantos do mundo, além de difundir o idioma por outras inúmeras nações, que o recebiam como um dos mais expoentes pensadores da língua falada em Portugal e em nosso país.

O seu legado é incorrigível. Deverá deixar por décadas leitores de seus livros boquiabertos pelo mundo afora, tamanha habilidade de se expressar, capacidade de organizar ideias, ser objetivo, ter clareza, tudo isso acompanhado de um estilo fino e extremamente envolvente de escrever.

Essa maestria ao lidar com as palavras o fez também um dos maiores oradores da Língua Portuguesa. Com posições bastante lúcidas sobre política e religião, aglutinava grande número de admiradores.

José Saramago foi fundamental para difusão da Língua Portuguesa e para quem se dedica a produzir e difundir o livro e a literatura deste idioma. Trata-se de uma das perdas irreparáveis na história da quinta língua mais falada no mundo. Uma única palavra tão singular de nosso idioma pode traduzir um pouco daquilo que Saramago deixa conosco: saudade!

 

*Rosely Boschini, empresária do setor editorial, é a presidente da Câmara Brasileira do Livro (CBL).

Deixe um comentário