Educação Educação Educação Inclusiva

A inclusão na perspectiva educacional

Cláudia Maria Soares Rossi *

Resumo

         Este trabalho trata da educação inclusiva como ferramenta na construção de uma sociedade mais igualitária. Traz uma reflexão sobre as diferentes formas de se entender o trabalho de inserção da pessoa com deficiência no âmbito escolar. Por fim, aponta alguns desafios que a escola que se pretende inclusiva precisa enfrentar.

Palavras-chave: Inclusão. Integração. Escola.

Abstract

         This work deals with inclusive education as a tool in the construction of a more egalitarian society. It brings a reflection on the different ways to understand the work of insertion of the person with disability in the school environment. Finally, it points out some challenges that the school that is intended to be inclusive must face.

Keywords: Inclusion. Integration. School.

Introdução

            A escola não é mais a mesma de anos atrás, assim como a sociedade também não é. Cada vez mais se torna desvelada a diversidade humana por meio das manifestações que evidenciam as diferenças culturais, sociais, étnicas, religiosas, de gênero, imprescindíveis à compreensão sobre como aprendemos, como compreendemos o mundo e a nós mesmos (MANTOAN, 2003).

         Diante desse cenário de revelação a escola não pode continuar tentando anular e marginalizar as diferenças, valorizando apenas o conhecimento científico, considerando os demais saberes como vulgares.

         A inclusão só se consolida em uma educação que seja voltada para a cidadania global, plena, livre de preconceitos e que reconhece e valoriza as diferenças. Isso implica em mudanças no paradigma de educação, mudanças essas que resultam na ruptura de toda uma estrutura organizacional que tem sido “determinista, mecanicista, formalista, reducionista, própria do pensamento científico moderno, que ignora o subjetivo, o afetivo e o criador”. (MANTOAN, 2003).

* Pedagoga, Mestra em Educação.  E-mail: claudiamariasoares@hotmail.com

         A exclusão, como antônimo da inclusão, atinge a todos que não se enquadram nos padrões de cientificidade do saber escolar. Mas também se expressa na falta de oportunidades de acesso de muitas crianças na escola, principalmente das regiões mais pobres e no alto índice de evasão e repetência.

Desenvolvimento

         O conceito de Educação Inclusiva está fundamentado nas práticas escolares que garantem a qualidade de ensino educacional a todos os alunos, independente de suas condições, tendo em vista o atendimento às potencialidades e necessidades de cada aluno, respeitando as diversidades e subjetividades.

         A meta deve ser o ensino “significativo” para cada aluno a fim de garantir o acesso dele ao conjunto sistematizado de conhecimentos. Algumas categorias como iguais e diferentes, normais e deficientes, inteligentes e com dificuldades devem ser extintas na proposta de inclusão.

         Existe uma distorção do conceito de inclusão voltada para o uso do vocábulo “integração”. Essa integração tem o sentido de inserir os alunos com deficiências nas escolas regulares, mas sem uma proposta pedagógica e estrutural diferenciada. E é justamente essa indiferenciação entre o processo de integração e de inclusão escolar que, muitas vezes, reforça atitudes baseadas no paradigma tradicional no interior da escola.

         O termo inclusão na escola parece novidade, mas não é. Na verdade a discussão em torno da integração e inclusão tem gerado muitas discussões e polêmicas há um bom tempo no campo educacional.

         Integração e inclusão se diferenciam por expressar situações de inserção diferentes e se fundamentarem em posicionamentos teóricos-metodológicos divergentes. (MANTOAN, 2003).

         Observando o caminhar histórico-cronológico, percebe-se que a integração sempre precedeu à educação inclusiva no que diz respeito às políticas e às práticas.

         O termo integração diz respeito ao processo de inserção de alunos com deficiência nas escolas comuns. Porém, nem todos os alunos com deficiência cabem nas turmas de ensino regular, pois, há uma seleção prévia dos que estão aptos à inserção (MANTOAN, 2003). Na integração, a movimentação é feita pelo aluno que vai se inserindo no espaço, ele se adapta ao meio. A integração acontece porque está no meio do grupo, porém, o processo de ensino e de aprendizagem é fragmentado.

         A integração se baseia na busca pela “normalização”, tendo como referência padrões, requisitos, condições, deixando em segundo plano a questão da diferença.

         O processo de integração ocorre dentro de uma estrutura organizacional na qual o aluno tem a oportunidade de transitar no sistema escolar, podendo escolher entre o ensino regular ou especial, porém essa inserção acaba sendo parcial porque o sistema prevê serviços educacionais segregados.

         O processo de inclusão se contrapõe ao da integração, pois, prevê a inserção escolar de forma radical, completa e sistemática, sempre questionando as políticas e a organização da educação especial e regular.

         A inclusão implica uma mudança de perspectiva educacional, pois, não atinge apenas alunos com deficiência, mas também aqueles que ficam à margem do sistema, com o objetivo de favorecer a todos no sucesso da vida escolar.(SILVA, 2009)

         Para que aconteça a verdadeira inclusão é necessário que a escola se submeta à provocação de melhorar a qualidade do ensino de forma a atingir todos os alunos que fracassam em suas salas de aula (MANTOAN, 2003).

         De acordo com a resolução CNE/CEB nº 2, de 11 de setembro de 2001, o que norteia as Diretrizes Nacionais da Educação Especial para Educação Básica é o princípio da Inclusão. Esse princípio fala da importância do entendimento das diferenças individuais e que a escola deve se adaptar aos alunos com deficiência – e não o contrário.

         A real inclusão implica num esforço de reestruturação das condições atuais das escolas brasileiras. Para que as condições excludentes nas escolas sejam eliminadas, é preciso enfrentar muitos desafios, dentre eles:

         – a recriação do modelo educativo escolar, tendo como meta real o ensino para todos, o reconhecimento e a valorização das diferenças;

         – a reorganização das escolas em seus aspectos pedagógicos e administrativos. Essa reorganização exige a clara definição de ações no Projeto Político Pedagógico da escola. Mudanças nos currículos, na formação de turma, nas práticas de ensino e nas formas de avaliação fazem parte dessa reorganização;

         – a recriação dos espaços educativos de trabalho escolar tendo como foco as experiências de trabalho coletivo, em grupos pequenos e diversificados que possibilitem que os alunos se apoiem mutuamente nas atividades de sala de aula;

         – a modificação nas formas de condução da gestão escolar, de forma que diretores, coordenadores, supervisores e funcionários se incumbam também da tarefa de educar e participar ativamente e diretamente do que acontece nas salas de aula;

         – a formação da consciência de que os alunos sempre sabem alguma coisa, de que todo educando pode aprender, mas no tempo e do jeito que lhe é próprio;

         – a eliminação do caráter classificatório de notas e de provas, substituindo pela visão da avaliação como diagnóstico e instrumento de formação, aperfeiçoamento e de depuração do ensino;

         – a inserção responsável do professor de apoio nas escolas que tenha competência para implementar e definir respostas educativas às necessidades educativas especiais e que possa realmente apoiar o professor comum em todos os sentidos;

         – a formação de professores que tenha como foco o desenvolvimento da competência para resolver problemas pedagógicos, para saber reconhecer e valorizar as diferenças como elemento enriquecedor do ensino-aprendizagem, para valorizar o processo sobre o produto da aprendizagem de cada alunos e para buscar enfoques curriculares, metodológicos e estratégias pedagógicas que possibilitem a construção coletiva do conhecimento (OLIVEIRA, 2010).

Considerações finais

            A relevância dada ao real conceito de inclusão advém da discussão: se a mesma é necessária, é porque já houve muito tempo para a exclusão sempre permeada pela desigualdade. Justamente pelo fato da escola ainda não atender a todos é que surgem as diferentes denominações, escola comum, escola especial, escolar regular, escola inclusiva e, na verdade, a escola que cumpre seu papel não precisa dessas “classificações”, tudo que envolve educação deveria ser simplesmente escola.

         Na busca da construção de práticas institucionais e pedagógicas que garantam qualidade de ensino a todos os alunos, independente de sua condição, a elaboração do Projeto Político Pedagógico de forma coletiva e participativa é essencial, tendo como meta a definição de qual é a missão da escola e a quem ela deve servir.

         É nesse importante documento, tendo como base a legislação vigente, que a escola deve prever quais as adaptações físicas no prédio escolar e nas áreas livres, qual organização das salas de aula e nos mobiliários, quais adequações curriculares e recursos pedagógicos são necessárias para permitir a qualquer aluno desenvolver seu processo de aprendizagem e acompanhar o currículo de forma satisfatória.

Referèncias Bibliográficas

MANTOAN, Maria Tereza Egler. Inclusão Escolar: O que? Por quê? Como fazer? São Paulo: Moderna, 2003.

OLIVEIRA, L. de F. M. de. Formação Docente na Escola Inclusiva. Porto Alegre: Mediação, 2009.

SILVA, Maria Odete Emygdio. Da exclusão à inclusão: concepções e práticas. Revista Lusófona de Educação. v. 13 n. 13. 2009. Pags.34-43

 

 

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