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Somos as crianças do nosso futuro? Algumas reflexões sobre a alfabetização

Somos as crianças do nosso futuro? Algumas reflexões sobre a alfabetização

Thais Rodrigues Teixeira[*]

Resumo: Diante das angústias e incertezas vividas pelos profissionais da educação nos tempos de isolamento social, propor reflexões sobre a Educação se torna um ato de coragem e carinho ao próximo. Pensar sobre como a alfabetização é importante não apenas nos anos iniciais do Ensino Fundamental, mas durante toda a vida e considerar os impactos que essa acarreta na formação de cada um.

Palavras chaves: Educação; Alfabetização; Docência; Futuro.

Abstract: In the face of anguish and uncertanty lived by the education professionals in these times of social distancing, to propose reflections about Education turns to be an act of courage and care for the others. It’s not only important to think about the literacy process during the early years of Elementary School, but also during the rest of our lives, considering how much it impacts each of our formations.

Keywords: Education; Literacy; Literacy Process; Future.

 

Assistindo a uma live sobre alfabetização e o debate sobre o futuro das nossas crianças deparei me pensando que um dia já fui criança e que esse mesmo discurso um dia foi dito sobre mim, sobre meus pais, sobre os meus avós e assim por diante. Pois como educadora almejo o desenvolvimento pleno dos meus alunos e penso que os professores de meus pais e avós esperavam algo deles, imaginava como eles seriam quando adultos, que tipo de escolhas eles fariam. Estamos sempre a imaginar como será o futuro. Mas me atinei com o questionamento eu sou “aquela” criança desse futuro? Será que somos capazes de melhorar este? Ou melhor, estamos sendo capazes de melhorar o presente agora?

Como professora sempre me cativou o processo de alfabetizar uma criança, como tal atividade acontece, os pequenos sucessos, a evolução das crianças, as suas descobertas. Porém o processo de alfabetizar não é apenas decodificar, não é só dar sons a símbolos, precisamos ensinar os nossos estudantes a compreender o mundo, refletir, questionar, ler entre (todas) as linhas. E penso se um dia minhas professoras esperavam que eu fosse alfabetizada de qual maneira, uma decodificadora ou uma desbravadora?

Contudo, o futuro dito tempos atrás chegou e com ele uma situação totalmente diferente do que imaginávamos antes. Estamos em pleno isolamento social tendo que nos redescobrir, inventar soluções para o nosso dia a dia, estamos aprendendo a olhar o outro com mais carinho, compaixão, respeito, empatia… Mas será que todas aquelas crianças que hoje são estes adultos tem tomado essas mesmas resoluções? Reflito que tipos de alfabetização aquelas crianças tiveram e quais elas propõem para as crianças de hoje?

Estes adultos hoje são políticos, funcionários públicos, médicos, enfermeiros, professores, jornalistas e tantas outras profissões que colocam o país para andar e buscar aqueles objetivos de um futuro melhor. Mas em tempos de isolamento social percebemos que nem todos tiveram uma alfabetização letrada, uma que fosse proporcionada as crianças não apenas a decodificar os símbolos apresentados, um mero reprodutor de um sistema, mas um ser humano capaz de analisar diferentes conteúdos e se posicionar criticamente frente a um tema, capaz de ler entre linhas e compreender as diversas opiniões e argumentar de forma sólida o seu posicionamento, contudo saber lidar com as divergências de pensamentos que possam surgir. Apesar de a alfabetização ser um processo complexo, ela é um dos grandes instrumentos de humanização dos sujeitos. Para Freire (2013, p. 83)

Ler a palavra e aprender como escrever a palavra, de modo que alguém possa lê-la depois, são precedidos do aprender “como escrever” o mundo, isto é, ter a experiência de mudar o mundo e de estar em constante com o mundo.

Nesse momento de inseguranças e preocupações em que as pessoas responsáveis por nortear o país para fora do olho do furacão, parece nos levar para dentro dele. Podemos supor que nem todos tiveram o afeto que tanto fala Wallon, isto é, são as sensibilidades que o ser humano desenvolve em relação a si e ao outro. É a capacidade de algo externo agir sobre o indivíduo, proporcionando que este seja afetado positivo ou negativo, “a teoria walloniana resgata o orgânico na formação da pessoa, ao mesmo tempo em que indica que o meio social vai gradativamente transformando esta afetividade orgânica, moldando-a e tornando suas manifestações cada vez mais sociais (FERREIRA e ACIOOLY-RÉGNIER, 2010, p. 26)”.

Devemos sempre aprender com a História para não repetirmos erros do passado, mas aparentemente estamos a ignorar esta e fadados a ir atrás dos mesmos erros. Quem é capaz de dizer e outros tantos de concordar com as falácias como “histeria… gripezinha… está indo embora… não sou coveiro… e dai?” tiveram uma alfabetização que as professoras imaginavam? Será que somos o futuro desejado? Ou dizer para Darwin, manda voltar porque está dando tudo errado?

Como professora acredito que devemos propor para os nossos estudantes uma alfabetização que seja capaz de propiciar um desenvolvimento pleno, de todas as partes que constitui um ser humano. Do que adianta desenvolver os seus saberes sobre matemática se não falamos sobre filosofia? Ensinarmos a gramática normativa do português, mas não damos bom dia ao colega? Explicarmos sobre geografia, mas apoiamos as queimadas e não nos importamos com os índios? Falarmos sobre globalização, a importância de estarmos conectados, mas não discutimos sobre sociologia? A alfabetização deve então ser concebida de acordo com um movimento dialógico, pois “o diálogo é o encontro amoroso dos homens que, mediatizados pelo mundo […] o transformam e, transformando-o, o humanizam para a humanização de todos” (FREIRE, 1982, p.46).

Alfabetizar não acontece apenas nos anos iniciais do Ensino Fundamental, ela deve estar alinhada para toda uma vida, pois devemos ser desbravadores, procurar novos saberes, exercitar o cérebro e consequentemente estamos influenciando os pequenos. Eles refletem as nossas ações e não as nossas falas. Não nos encontramos no país dos espelhos em que tudo é ao contrário, o que fazemos agora tem impactos significativos em um futuro muito próximo.

Assim para não cometermos esses mesmos erros que tipo de alfabetização devemos oferecer as nossas crianças de hoje para que o futuro delas possam ser diferentes? O que os professores podem fazer para que discursos distorcidos, sem considerações com o outro, sem o mínimo de respeito não se consolidem mais?

Referências

FERREIRA, Aurino Lima; ACIOLY-RÉGNIER, Nadja Maria. Contribuições de Henry Wallon à relação cognição e afetividade na educação. Rev. Educar, nº 36. Curitiba: Editora UFPR, p. 21-38, 2010.  Disponível em: <https://www.scielo.br/pdf/er/n36/a03n36.pdf>.

FREIRE, Paulo. Extensão ou comunicação? 6º ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra. 1982.

FREIRE, Paulo. Alfabetização: leitura do mundo, leitura da palavra. Rio de Janeiro: Paz e Terra. 2013.

[*] Professora de Língua Portuguesa e estudante de Pedagogia pela Universidade Federal de Uberlândia – UFU. Educadora na Educação Infantil no Município de Uberlândia. E-mail: teixeira17t@gmail.com

TEIXEIRA, T. Como publicar na Revista Virtual P@rtes. xxxxx

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