Educação Educação Educação Inclusiva

A FORMAÇÃO DOCENTE E USO DAS TECNOLOGIAS ASSISTIVAS: DIFICULDADES PARA DESENVOLVER AS COMPETÊNCIAS PARA A EFETIVAÇÃO DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA

A FORMAÇÃO DOCENTE E USO DAS TECNOLOGIAS ASSISTIVAS: DIFICULDADES PARA DESENVOLVER AS COMPETÊNCIAS PARA A EFETIVAÇÃO DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA

Monique de Cássia da Silva
Francijane Mendonça Pereira Ferreira
Cleria Lourdes Moreira Pereira

RESUMO

A formação universitária deixa a desejar em termos de atuação profissional dos futuros docentes especialmente com relação ao uso de tecnologias assistivas. É necessária a inclusão de disciplinas voltadas para o atendimento dos alunos com deficiência nos currículos dos cursos de licenciatura. O presente trabalho tem como objetivo evidenciar a formação de professores e o seu impacto para a prática de uma educação inclusiva identificando as principais dificuldades enfrentadas pelos mesmos para a implementação de uma educação de qualidade. A metodologia baseou-se em uma pesquisa qualitativa de revisão bibliográfica. Nos resultados constatou-se que os descompromissos dos pais, a não aceitação da criança com deficiência e a cobrança excessiva da escola são fatores que dificultam a inclusão. Considera-se que docentes abertos a mudanças e inovações nas práticas pedagógicas são fatores indispensáveis para melhorias educacionais.

PALAVRAS-CHAVE: Alunos com deficiência, Educação inclusiva, Formação de professores.

Introdução

Esse artigo discorre sobre a formação docente e o uso das tecnologias assistivas, bem como menciona as dificuldades enfrentadas pelos professores para desenvolver as competências precisas, necessárias e desejáveis para o bom desempenho e efetivação da educação inclusiva.
Em meados do século XX, com a intensificação dos movimentos sociais de luta contra todas as formas de discriminação que impediam o exercício da cidadania das pessoas com deficiência, emerge em nível mundial, a defesa de uma sociedade inclusiva. No decorrer desse período histórico, fortalecem-se a crítica às práticas de categorização e segregação de alunos encaminhados para ambientes educacionais especiais, que conduzem também, ao questionamento dos métodos homogeneizadores voltados para a prática de ensino e de aprendizagem geradores de exclusão nos espaços escolares (BRASIL, 2008).
Dessa forma pode-se entender a transformação do Sistema Educacional Brasileiro em relação a inclusão, como uma forma de garantir o direito de todos de maneira que exista uma política de apoio que possa realmente proporcionar as condições adequadas aos alunos com deficiência e que estes possam ter o direito a aprendizagem.
É nesse cenário, que nos últimos anos, as políticas voltadas para o processo inclusivo tem ganhado espaço. Assim, o sistema educacional brasileiro, nos seus três níveis: federal, estadual e municipal, vem sofrendo várias reformas para poder assegurar o ingresso e a permanência de todos na escola. Muito se fala na educação inclusiva, nos projetos de leis, decretos e conferências, porém muito ainda falta para que essa inclusão ocorra de fato.
Diante disso, Galvão Filho e Miranda (2011, p.1) destacam a importância da tecnologia assistiva, pois “No mundo atual a Tecnologia Assistiva é uma área do conhecimento e de pesquisa que tem se mostrado como um horizonte de novas possibilidades para a autonomia e para a inclusão social dos alunos com deficiência”.
Pode-se dizer que cabe às universidades a função de formar profissionais para atender a diversidade da vida em sociedade. Incumbência essa, que nem sempre é atendida de maneira adequada e com 100% de eficiência, tendo em vista que são inúmeros os desafios a serem enfrentados pelo profissional da área de licenciatura no mundo afora, dentre os quais os entraves para adequar o uso das tecnologias assistivas como uma possibilidade de avanço; pois dependendo da formação e do conhecimento do licenciado elas podem se tornar barreiras no desenvolvimento do trabalho docente quando este não sabe como utilizá-las.
Essas competências e habilidades na formação docente são importantes, uma vez que o “[…] professor deve ser visto como mediador e estimulador, tornando a sala de aula um ambiente onde seus limites sejam estimuladores de sua autonomia (ARRUDA & SILVA, 2014, p.5)”. Além de uma sólida formação pedagógica, faz-se necessária acima de tudo a dedicação à profissão e a vontade de permanecer nesta.
Outro fator preocupante com relação a muitos educadores é o fato de que as dificuldades e os desafios enfrentados não se referem apenas ao aspecto da formação teórica advinda da universidade, mas muitos aspectos estão relacionados especialmente à questão do preparo emocional desse profissional, uma vez que este se torna o principal responsável pela aprendizagem da criança ou do adolescente.
Esses fatores fazem com que toda responsabilidade pela efetivação da inclusão escolar recaia única e exclusivamente sobre o professor, sobrecarregando, assim, esse profissional; fazendo-o sentir-se muitas vezes apático, despreparado e inapetente diante dos desafios laborais. Figueiredo (2014, p. 23) chama atenção para esse contexto, segundo ele “Observa-se que no cotidiano da escola regular está cada vez mais presente a necessidade de preparação dos professores para receber e lidar pedagogicamente com os alunos portadores de alguma deficiência”.
Stainback e Stainback (1999) destacam os três componentes básicos que necessitam estar interligados no processo inclusivo. O primeiro é o componente relacionado a organização, incluindo direção, coordenação, supervisão, orientação e toda rede de apoio; o segundo é o trabalho em equipe, no qual docentes e técnicos trabalham juntos no planejamento e na implementação de programas visando à integração de todos os alunos e o terceiro, que está relacionado ao ambiente da sala de aula, que deve ser acolhedor e facilitador do processo educacional e de aprendizagem, possibilitando a todos os alunos a aquisição de habilidades indispensáveis pertinentes àquele contexto social.
Diante disso, pode-se afirmar que a responsabilidade para que ocorra um processo de inclusão efetivo, não é responsabilidade apenas do educador, visto que o funcionamento de uma escola inclusiva envolve a monitoração constante e intermitente do projeto pedagógico, requerendo o suporte técnico de todos os participantes: família, alunos e professores, bem como toda a comunidade escolar.
Uma escola com uma equipe bem organizada e estruturada proporcionará ao educador um suporte necessário para que este venha a desenvolver um trabalho mais eficiente, porém vale mencionar que o fato do aluno ter alguma deficiência, não significa que o mesmo tenha uma capacidade de aprendizagem limitada, é importante instigar o conhecimento dos mesmos, através de grupos de estudos, dinâmicas, tudo isso dentro de um ambiente educacional que seja acolhedor e flexível.
Ainda, tendo em vista os processos inclusivos, devem ser identificadas as necessidades individuais dos seus alunos, tendo uma nítida compreensão sobre as formas e os ritmos de aprendizagem dos seus educandos; sendo que o conhecimento deve ser partilhado e integrado de modo a promover o desenvolvimento cognitivo e a integração mútua entre os integrantes da sala de aula.
Diante dessas dificuldades e da necessidade de se retratar as dificuldades enfrentadas pelos professores advindas de sua formação pedagógica pouco consistente, bem como fazer uma associação do preparo profissional do professor somado ao seu emocional, procurando compreender a realidade desse profissional e listar as principais dificuldades enfrentadas é que nos propomos a compreender um pouco mais sobre o tema e justificamos o esforço desta investigação.
Temos como objetivo principal evidenciar a formação de professores e o seu impacto para a prática de uma educação inclusiva identificando as principais dificuldades enfrentadas pelos mesmos para implementação de uma educação de qualidade. Como objetivos específicos têm-se os de destacar as principais dificuldades enfrentadas pelos professores e que interferem na qualidade de uma educação eficiente e inclusiva, além de discorrer sobre o preparo do professor para trabalhar com a educação inclusiva e os conhecimentos e habilidades do mesmo com as tecnologias assistivas.
A trajetória metodológica deste trabalho teve como linha de pesquisa a formação de professores para o uso das TICs, sendo baseada em pesquisa bibliográfica através da utilização de livros, monografias, dissertações, teses e artigos, tendo como ferramenta de pesquisa o Scielo e o Google Acadêmico. Entre os autores que deram um embasamento maior para o trabalho destacam-se Capellini & Rodrigues (2009), Tavares (2016) e Figueredo (2014). Porém, vale ressaltar que outras referências foram utilizadas. O método utilizado na elaboração desse artigo foi o hipotético-dedutivo, no qual fez-se uma pesquisa descritiva e explicativa através de análise documental.

A formação docente na perspectiva da educação inclusiva

A questão que envolve a formação do professor é algo preocupante e inquietante quando se fala não só em Educação Especial e Inclusiva, mas quando se fala na educação como um todo.

Ele é de fato um agente central no atendimento ao aluno especial, assim como dos demais alunos. Sem negar o mérito de esforços individuais e propostas localizadas, o fato é que o professor não tem tido experiências formativas suficientes ou suporte humano e material necessário para lidar com as novas demandas do trabalho pedagógico (GÓES, 2004, p.77).

A formação universitária nos dias de hoje deixa a desejar em termos de atuação profissional dos futuros docentes, visto que o que há na maioria dos cursos de formação de professores são currículos extensos focados no conteudismo, tornando assim a sua formação fragilizada, visto que precisam ser incluídas no currículo destes cursos, disciplinas voltadas para a educação especial, o que é importante para que estes possam se sentir mais preparados para desenvolver um trabalho eficiente com os alunos.

É Importante destacar a necessidade dos professores valorizarem os fatores responsáveis e as características das deficiências, bem como as metodologias específicas para os deficientes e as barreiras vencidas pelo respeito, acolhimento e apoio às famílias dos educandos com necessidades especiais. (ZOLIN, 2012, p.9).

No entanto, a formação dos licenciados no que tange a perspectiva da educação inclusiva deixa muito a desejar, pois são inúmeras as lacunas encontradas nesse processo, tendo em vista que para que ocorra de fato uma educação inclusiva, inúmeros são os fatores que devem ser considerados e várias são as questões que precisam ser trabalhadas e melhoradas. Mas, não podemos deixar de considerar os esforços e ações de implementação de disciplinas relacionadas à educação inclusiva nos cursos de formação docente possibilitarão aos futuros profissionais do magistério a oportunidade de atender melhor as diversidades em sala de aula.
Prieto (2003), afirma que é preciso definir qual o teor dessas disciplinas, seus objetivos, ementas e conteúdos, caso contrário não há como garantir seu desenvolvimento em sala de aula. Outro fator a ser levado em consideração, são as experiências dos próprios professores da educação inclusiva, uma vez que a formação aliada à prática é importante no desenvolvimento profissional.
É inegável que profissionais que já tenham tido alguma experiência com um aluno com deficiência tenham uma habilidade maior para lidar com o ensino e promover a aprendizagem dessas crianças. Essa experiência prévia contribui de maneira significativa para que ocorra um discernimento entre o ensinar e o aprender, na medida em que convivendo com os alunos com deficiência e observando as particularidades e avanços de cada um, o docente poderá desenvolver metodologias adequadas para aprimorar suas práticas de ensino e efetivar a inclusão desse discente no âmbito educacional.
Pode-se notar que a diferença não será feita apenas pela a existência de um currículo acadêmico voltado para a temática, visto que transformações significativas acontecerão de acordo com a viabilidade e função prática do que estiver presente na grade curricular.

Principais dificuldades enfrentadas pelos professores na educação inclusiva com uso das TICs

A educação para a inclusão exige uma nova escola e uma nova sociedade, em que possam existir atitudes sem rótulos, discriminações e segregações, mas que haja respeito à individualidade. Porém, quando se fala em educação inclusiva, inúmeras são as dificuldades a serem superadas e maiores ainda são os desafios a serem enfrentados.
Os docentes se deparam constantemente com esses desafios e dificuldades, visto que estes estão em contato direto com os educandos na tentativa de conduzi-los a uma aprendizagem significativa. Figueiredo (2014, p. 24) chama atenção para a importância da escola nesse processo, uma vez que

A escola mesmo tendo em seu referencial espaço para todos, ela não foi instituída para trabalhar com as diferenças, a estrutura pedagógica e a divisão de séries. A fim de atender as semelhanças, assim compreende-se como é difícil para ela adequar-se a condição de inclusão (FIGUEREDO, 2014, p.24).

Aqui pode-se notar que os desafios relacionados à educação inclusiva precisam levar em consideração a escola, pois analisar as dificuldades enfrentadas pelos docentes não é uma situação simples e nem igualitária, visto que a maneira como cada profissional lida com essas dificuldades é relativo variando muito de instituição para instituição e dependendo muito da visão de cada uma.
Para Oliveira (2002), muitos professores isentam-se de qualquer responsabilidade, culpando o meio socioeconômico e cultural do aluno, afirmando que a incapacidade está no mesmo ou, ainda, que o aluno não é dedicado ou não se esforça para aprender o que lhe é ensinado.
Assim, vale a pena chamar a atenção para um aspecto importante: o despreparo de muitos docentes e a falta de estratégias metodológicas para lidarem com os alunos que apresentam algum tipo de limitação, sendo que estes fatores acabam por ser uma das maiores barreiras quando se fala em inclusão. Visto que, alguns professores não reconhecem o seu despreparo para trabalharem com essa clientela e acabam por culpabilizar os aprendizes vendo-os como limitados, ou incapazes de acompanhar os conteúdos ministrados, pelo simples fato de terem uma maneira própria de aprender.

Para atender a diferença na sala de aula devemos flexibilizar as práticas pedagógicas. Os objetivos e estratégias de metodologias não são inócuos: todos se baseiam em concepções e modelos de aprendizagem. Assim, se não propormos abordagens diferentes ao processo de aprendizagem acabaremos criando desigualdades para muitos alunos. (RODRIGUES, 2006, p.305-306)

Dessa maneira, uma das barreiras a serem superadas seria a de que uma criança com algum tipo de deficiência deveria, obrigatoriamente, estar inserida em ambientes em que hajam crianças com deficiências iguais ou semelhantes, pois assim o atendimento seria mais igualitário e os discentes aprenderão no mesmo ritmo, visto que apresentam “limitações” semelhantes. Esse tipo de pensamento faz o pensamento errôneo de incapacidade para trabalhar com esses alunos, ou que os docentes que são habilitados para isso são apenas os de Atendimento Educacional Especializado.
Quando fala-se de uma sociedade inclusiva, pensa-se naquela que valoriza a diversidade humana e fortalece a aceitação das diferenças individuais. Facion (2009, p. 203) destaca que “Incluir não é simplesmente levar uma criança com deficiência a frequentar o ensino regular. A inclusão é uma conquista diária para a escola, para a criança e para seus pais. Todo dia é um dia novo na inclusão”.
É imprescindível compreender que é vivendo nos mais variados contextos sociais (e aqui, insere-se a escola e sua dinâmica) que se aprende a conviver, contribuir e construir juntos um mundo de oportunidades reais e que ninguém precisa ser igual ao outro, pois é através das diferenças que ocorrem as trocas de conhecimentos e informações relevantes.

A formação de professores e o uso de tecnologias assistivas na educação inclusiva.

As pessoas com deficiência ao utilizarem da tecnologia assistiva, especialmente no ambiente escolar, tornam-se indivíduos mais autônomos demonstrando assim independência e iniciativa para realização de várias atividades, as quais podem ser executadas tanto no âmbito escolar como em ouros locais. Porém, para que isso ocorra, é necessário o acompanhamento do aprendiz, assim o docente poderá ajudá-lo no manuseio e na utilização dos recursos tecnológicos; bem como nas adaptações destes.
Entretanto, o questionamento que surge é: os professores estão realmente preparados para a utilização das tecnologias assistivas de maneira que possam proporcionar uma educação inclusiva? Antes de mais nada é preciso compreender que a

Tecnologia Assistiva é uma área do conhecimento, de característica interdisciplinar, que engloba produtos, recursos, metodologias, estratégias, práticas e serviços que objetivam promover a funcionalidade, relacionada à atividade e participação, de pessoas com deficiência, incapacidades ou mobilidade reduzida, visando sua autonomia, independência, qualidade de vida e inclusão social (BRASIL, 2020).

Neste sentido, é importante e indispensável que hajam profissionais do magistério especializados e capacitados que possam entender as especificidades dos alunos e ajudar na adaptação dos mesmos, na rede regular de ensino. Para isso, é de extrema relevância que a escola se adapte as necessidades discentes realizando o seu acompanhamento em tempo integral. Ou seja, ao buscar incluir tecnologia na escola faz-se necessário o treinamento e apoio da equipe que irá conduzir o uso da tecnologia assistiva, para que dessa forma a mesma possa ser utilizada de maneira correta trazendo assim benefícios para os educandos.
Galvão Filho (2009, p.6) afirma que “[…] num mundo em profundas e aceleradas transformações, a tecnologia assistiva […] tem se revelado como um importante horizonte de novas possibilidades para a autonomia e inclusão social dos alunos com deficiência”.
Nessa perspectiva, pode-se afirmar que investir em tecnologia assistiva em colaboração com a educação especial, na intenção de ampliar a visão sobre a acessibilidade a inclusão, bem como trazer inovações e melhorias nas metodologias de ensino para trabalhar com discentes deficientes é um caminho mais do que importante para promover a inclusão, a aprendizagem e até mesmo a profissionalização destes alunos. Segundo Caldas (2015) a Tecnologia Assistiva tem se mostrado um conhecimento relevante nas escolas regulares.
Vale mencionar que os recursos de tecnologia assistiva auxiliam os estudantes no aspecto cognitivo, sendo que determinados softwares podem auxiliar e aprimorar a aprendizagem, principalmente no caso de alunos com deficiência visual; da mesma maneira outros aplicativos podem ajudar alunos com os mais diversos tipos de limitações e são inúmeros os aparatos de tecnológicos que podem favorecer o processo de inclusão.
Contudo, nem todas elas são acessíveis às pessoas com deficiência, além disso, as tecnologias assistivas por si só não vão promover transformações significativas na vida do aluno, visto que elas necessitam sobretudo da mediação docente. Faz-se necessário que o professor conheça e saiba como utilizá-las e inová-las, com vistas a aprimorar sua prática pedagógica.
Dificuldades relacionadas ao uso das tecnologias assistivas

Inúmeras são as dificuldades relatadas por docentes com relação à educação inclusiva. Capellini e Rodrigues (2009), em pesquisa realizada com 423 professores de municípios da região de Bauru, envolvendo escolas públicas e particulares, observaram que muitos docentes veem a formação continuada como deficitária e sem direcionamento à inclusão.
Outros aspectos citados também pelos docentes foram as práticas pedagógicas inadequadas para lidar com as diferenças; formação inicial precária, que deixa muito a desejar; além das crenças sobre deficiência pautadas mais na limitação e no descrédito, associada quase sempre aos rótulos. As respostas dos profissionais do magistério também colocam o descompromisso dos pais, a não aceitação dos mesmos à condição da criança e a cobrança excessiva da escola como fatores que dificultam o processo de inclusão.
Capellini e Rodrigues (2009) destacam, ainda, a relação das dificuldades envolvendo a família dos alunos; o preconceito; a falta de políticas públicas eficientes e problemas estruturais e de organização escolar, tais como: número excessivo de alunos por classe, a ausência de suporte de uma equipe técnica e a falta de materiais adequados.
Figueiredo (2014) discorre sobre a experiência de professores em duas escolas da rede pública e duas escolas da rede privada, que trabalhavam com a inclusão de alunos com deficiência matriculados numa sala de aula regular de turmas de 2º ano das séries iniciais do ensino fundamental em Campina Grande/PB. A autora afirma que existe uma muralha no que se refere à aplicabilidade das leis voltadas para a efetivação da educação inclusiva, podendo-se considerar quase que inexistente nas salas de aulas brasileiras.
A mesma evidencia que essas discussões confirmam a preocupação de muitos profissionais da educação gerando questionamentos: como age em sala de aula o educador que atua nesse novo modelo de educação inclusiva? Esse educador possui formação adequada para atuar de maneira verdadeiramente inclusa? A escola oferece condições de estudo e vivência adequada a formação do educador nessa modalidade de educação escolar?
De acordo com Silveira et al (2012) “Os professores afirmaram que a política inclusiva não tem sido colocada em prática, com ênfase dada à recepção e integração de alunos”. Essa ausência constitui um desafio para que ocorra a inclusão, uma vez que os alunos com certos tipos de deficiência tendem passar a maior parte do tempo sozinhos, tendo, assim, dificuldades para iniciarem contatos sociais.
Apesar das dificuldades de inserção e socialização dos alunos é inegável que brincadeiras e atividades que promovem a integração podem facilitar a interação e o processo de desenvolvimento dos educandos, visto que proporcionam a exteriorização das emoções, as quais são mediadas pela linguagens corporal ou verbal.
Silveira et al (2012) destacam, ainda, que alguns trabalhos mencionam a noção de deficiência massivamente vinculadas ao indivíduo, sendo pouco considerados os aspectos sociais e culturais relacionados à produção do alto ou baixo desempenho; o que representa outro entrave para que ocorra a inclusão.
Os mesmos autores chamam a atenção para o fato de que ao ter essa postura, o próprio docente estará criando um estereótipo, na medida em que esse comportamento caracteriza uma visão limitante e “preconceituosa” com relação ao educando, pois a importância dos conhecimentos prévios, que geralmente são trazidos pelos alunos, acabam ficando para um segundo plano, principalmente se esse aprendiz tiver uma deficiência intelectual por exemplo.

Dificuldades com relação ao uso das tecnologias assistivas

Segundo Manzini (2012) alguns recursos e equipamentos requerem um saber e uma formação específica para serem bem utilizados com os alunos. Em contrapartida não podemos esquecer que os recursos e equipamentos de tecnologia assistiva podem ser confeccionados artesanalmente.
Diante disso, o que traz certa preocupação seria o fato de que será que esses recursos e equipamentos de tecnologias assistivas existem mesmo em todas as escolas? Será que os mesmos estão de fato chegando às salas de aula? Mas, apenas o fato desses recursos existirem na escola e chegarem às salas de aula não seria o suficiente, pois será que todos os docentes conhecem e sabem manusear tais recursos? Será que os professores sabem confeccionar esses recursos com a utilização de materiais alternativos com vistas a promover uma aprendizagem significativa dos alunos com deficiência?
Preti et al (2014) indica que muitos de professores afirmam conhecer a tecnologia assistiva, apesar de não utilizá-la; ficando seu uso a cargo dos professores que trabalham nas salas de recursos, confirmando a ideia que muitos têm acerca da atribuição da educação especial, segundo a qual a responsabilidade da inclusão é apenas e tão somente dos professores da sala de recursos. Mantoan argumenta que:

É absolutamente necessário que o professor especializado se atenha à sua função complementar, oferecendo ao aluno com deficiência instrumentos que lhe deem condições de ultrapassar as barreiras que sua deficiência pode impor à construção de conhecimentos curriculares nas turmas regulares. Por outro lado, o professor do ensino comum tem de assumir a tarefa de ensinar a turma toda, inclusive o aluno com deficiência. Na sala de aula comum ele é um aluno como os demais, com direito a aprender, segundo sua capacidade, interesses, curiosidade, desejos. (MANTOAN, 2006, p. 100).

Não podemos negar que a tarefa de lecionar é algo desafiador e que as habilidades e competências do professor são muito exigidas; porém, talvez o maior desafio relacionado à atuação docente seja o de não saber como lidar com os diferentes níveis de aprendizagem e como adequar as diversas metodologias à sua realidade. Nesse contexto de incertezas, a inserção do uso das tecnologias assistivas possibilitam que as práticas pedagógicas sejam mais produtivas e promissoras.
Entretanto, convém ressaltar que usar a tecnologia assistiva na educação não corresponde apenas a simples utilização do recurso. Emer (2011, p.11) menciona que:

Para responder a essas necessidades, o professor necessita de uma formação fundamentada na concepção dialógica reflexiva do conhecimento. Em que se utilizam as tecnologias digitais como mais uma ferramenta pedagógica a serviço da construção e apropriação do saber, contribuindo para a formação de sujeitos críticos, autocríticos, criativos e autônomos para a transformação social, para diminuir os índices de analfabetos funcionais e digitais do país. Faz parte dessa mediação pedagógica, levar os alunos a encontrarem novos horizontes, novas perspectivas de futuro pessoal e profissional fundamentado no conhecimento, oportunizando uma aprendizagem significativa, emergindo para uma autonomia crescente, respeitando a ética e promovendo a solidariedade, mais que a competitividade.

Percebe-se, assim, o quão é importante a formação docente em prol do uso das tecnologias assistivas, para que ocorra a aprendizagem dos educandos como um todo. Porém, há ainda um entrave, vale ressaltar que nem todas as tecnologias estão disponíveis para todos os sujeitos com deficiência, além disso, pode-se afirmar que nem todos os professores tem o domínio das ferramentas digitais.
Emer (2010, p. 130) deixa isso claro ao afirmar que “A falta de conhecimento referente a tecnologia assistiva está gerando em muitos professores […] uma angústia por não saber o que fazer ou como utilizar os recursos enviados pelo MEC”.
Daí percebe-se que são muitos os desafios quando se fala no uso de tecnologias assistivas em prol de melhorias para uma educação inclusiva de qualidade. Visto que na maioria das vezes os discentes já nasceram incluídos no mundo digital, porém muitos docentes não dominam tais ferramentas.

Considerações finais

Com relação à educação especial e inclusiva, na maioria dos trabalhos analisados pode-se dizer que a grande barreira a ser superada pelas universidades é a de formar educadores preparados para elaborar estratégias de ensino e adaptar atividades e conteúdos não só para os alunos com deficiência, mas para toda classe.
É importante mencionar, que se reconhece a importância das tecnologias assistivas para o aprimoramento das práticas de ensino aprendizagem em prol de uma educação inclusiva de qualidade, porém dependendo do tipo, as mesmas ainda são pouco utilizadas; além disso, nem todos os docentes as dominam, outros acham que o uso delas deve ser uma tarefa exclusiva do professor que trabalha diretamente na sala de recursos, eximindo os docentes das salas regulares de tal responsabilidade. Visão esta que deve ser mudada, pois o trabalho articulado entre esses dois profissionais é indispensável.
Ressalta-se ainda, o fato de muitos educadores considerarem as tecnologias assistivas como sendo apenas recursos tecnológicos e sofisticados, pensamento equivocado, pois tais recursos podem ser confeccionados com materiais de baixo custo e de fácil acesso. Todavia, apenas isso não é o suficiente, pois é necessário que tais profissionais saibam mediar de maneira adequada essa ligação entre o aprendiz e as tecnologias assistivas, para que as mesmas possam ser de fato proveitosas para o crescimento emocional, cognitivo e sócio- afetivo do estudante, visto que mal utilizadas ao invés de ajudar elas podem prejudicar o estudante.
Dentre as dificuldades encontradas, geralmente, estão associadas ao ambiente de origem dos alunos; as características particulares e individuais de cada um levando em conta cada deficiência, as quais não ofereciam possibilidade de desenvolvimento de habilidades pré-acadêmicas valorizadas pela escola. Fatores como o número excessivo de alunos por sala; a falta de apoio técnico e as formações iniciais e/ou continuadas que deixam a desejar também representam enfrentados para que ocorra a efetivação de uma educação inclusiva de qualidade.
Diante disso, para que a inclusão seja de fato efetivada é necessário que todos os envolvidos no processo, especialmente os docentes estejam abertos a mudanças e a inovações, estando sempre dispostos a aprender e a rever suas práticas pedagógicas, sendo que a visão otimista de que é possível ampliar as ações pretendidas buscando a cada dia melhorias é indispensável. Quando isso se concretizar, finalmente a educação inclusiva deixará de ser algo plausível apenas nos “papéis”, documentos educacionais e documentos legais, passando assim a ser uma realidade nas escolas e na sociedade.

REFERÊNCIAS

ARRUDA, A. L. M. M.; SILVA, A. P. M da S. O Papel do professor diante da inclusão escolar. Revista Eletrônica Saberes da Educação. v. 5, n. 1, p1-29, 2014.

BRASIL. Política nacional de educação especial na perspectiva da educação inclusiva. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=16690-politica-nacional-de-educacao-especial-na-perspectiva-da-educacao-inclusiva-05122014&Itemid=30192. Acesso em: 29 de ago. de 2020.

. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva. Brasília: MEC/SEESP, 2008.

CALDAS, W. K. Tecnologia assistiva e computacional: contribuições para o atendimento educacional especializado e desafios na formação de professores. Tese (Doutorado em Educação)- Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, 2015.

CAPELLINI, V. L. M; RODRIGUES, O. M. P. R. Concepção dos professores acerca dos fatores que dificultam o processo da educação inclusiva. Educação, Porto Alegre, v. 32, n. 3, p. 355-364, set./dez., 2009.

EMER, S. de. O. Inclusão Escolar: Formação docente para o uso das TICs aplicada como Tecnologia Assistiva na sala de recurso multifuncional e sala de aula. Dissertação. (Mestrado em Educação). Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre/RS, 2011.

FACION, J. R. Inclusão escolar e suas implicações. 2. ed. Curitiba: IBPEX, 2009.

FIGUEREDO, J. K. de S. Formação do professor em educação inclusiva: desafios e anseios da ação docente na escola regular. Campina Grande (PB). Monografia. (Curso de Licenciatura em Pedagogia). Universidade Estadual da Paraíba. Campina Grande/PB: 2014.

GALVÃO FILHO, T.; MIRANDA, T. G. Tecnologia Assistiva e paradigmas educacionais: percepção e prática dos professores. Anais da 34ª Reunião Anual da ANPEd – Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação. Natal: ANPEd, 2011.

GALVÃO FILHO, T. A. Tecnologia assistiva para uma escola inclusiva: apropriação, demandas e perspectivas. 2009. 334 f. Tese (Doutorado em Educação) – Universidade Federal da Bahia, Faculdade de Educação, Salvador, 2009.

GÓES, M. C. R. Desafios da inclusão de alunos especiais: a escolarização do aprendiz e a sua constituição como pessoa. In: GÓES, M. C. R.; LAPLANE, A. L. F. (Org.). Políticas e práticas de Educação inclusiva. Campinas: Autores Associados, 2004. p 69-91.

MANTOAN, M.T.E. Entre pontos e contrapontos. In: ARANTES, V. A. (Org.). Inclusão escolar: pontos e contrapontos. São Paulo: Summus, 2006. p. 93-103.

MANZINI, E. J. Formação do professor para trabalhar com recursos de tecnologia assistiva: um estudo de caso em Mato Grosso. Educação e Fronteiras On-Line, Dourados/MS, v.2, n.5, p.98-113, maio/ago. 2012.

OLIVEIRA, G. C. Psicomotricidade: educação e reeducação num enfoque psicopedagógico. Petrópolis, RJ: Vozes, 2002.

PRETI, F. R.; GITAHY, R. R. C.; DIAS, C. L.; RIBEIRO, S. F. R. Desafios na formação dos professores para o uso das tecnologias assistivas com a deficiência visual. Revista Teias, v. 15. n. 39 . 174-186. 2014.

PRIETO, R. G. Formação de professores para o atendimento de alunos com necessidades educacionais especiais: diretrizes nacionais para a educação básica e a educação especial. In: Silva, S.; Vizim, M. (Org). Políticas públicas: educação, tecnologias e pessoas com deficiências. Campinas: Mercado das Letras, 2003.

RODRIGUES, D. Dez idéias (mal) feitas sobre a educação inclusiva. In: RODRIGUES, D (org.). Inclusão e educação: Doze olhares sobre a educação inclusiva. São Paulo: Summus, 2006. p. 299-318.

SILVEIRA, A. K; ENUMO, S. R. F; ROSA. E. M. Concepções dos professores sobre inclusão escolar e interações em ambiente inclusivo: uma revisão da literatura. Rev. Bras. Ed. Esp., Marília, v. 18, n. 4, p. 695-708, Out.-Dez., 2012.

STAINBACK, S.; STAINBACK, W. Um guia para educadores. Trad. Magda França Lopes. Porto Alegre: Artes Médicas Sul. 1999.

TAVARES, L. M. F. L.; SANTOS, L. M. M.; FREITAS, M. N. C. Educação inclusiva: um estudo sobre a formação docente. Rev. Bras. Ed. Esp., Marília, v. 22, n. 4, p. 527-542, Out.- Dez., 2016.

ZOLIN, A. de C. R. A educação inclusiva no ensino regular. Especialização (Pós Graduação em Educação: Técnicas de Ensino, Modalidade de Ensino a Distância)- Universidade Tecnológica Federal do Paraná, UTFPR. Medianeira/PR: 2012.

 

 

[1] Especialista em Educação Especial e Inclusiva pela Universidade Estadual do Maranhão – UEMA. E-mai

l: moniquesilva.silva5@gmail.com

[1] Especialista em Orientação educacional, Supervisão e Gestão Escolar pela Faculdade Santa Fé. E-mail: francijany@yahoo.com.br

[1] Especialista em Língua Portuguesa e Literatura Brasileira pelo Instituto de Ensino Superior Franciscano – IESF. E-mail: clermoreira@yahoo.com.br

Deixe um comentário