Adilson Luiz Gonçalves Colunistas

FAZ PARTE…

Venho travando uma luta contra o câncer desde 2017.

Eu já vinha apresentando sintomas, mas demorei para enfrentar o problema.

Uma cirurgia retirou parte de meu intestino, e precisei usar bolsa de colostomia.

O tratamento também incluiu várias sessões de radioterapia e algumas de quimioterapia. Ao final, cheguei a ser considerado curado, passando a fazer o acompanhamento padrão.

Em 2020, durante a pandemia, por conta dos riscos envolvidos, foi recomendado que eu aguardasse um pouco antes de fazer novos exames de controle. Foi quando tive o choque de ver minha irmã, oito anos mais jovem, ser acometida do mesmo tipo de câncer.

Por conta disso, resolvi fazer os exames de rotina, que indicaram metástase no fígado. Dois baques simultâneos, mas o pior foi ver minha irmã definhar, pois seu caso foi inoperável. Ela faleceu poucos meses depois. Tristeza imensa!

Meu caso era complexo, pela posição de um dos tumores.

Fui submetido a uma quimioterapia altamente agressiva, cujo objetivo era de tentar viabilizar a cirurgia. Tive todos os efeitos colaterais possíveis: queda de cabelo, erupções cutâneas generalizadas, ulcerações na boca, dedos das mãos e pés repletos de feridas. Fiquei parecendo um ogro, tinha dificuldade para comer, constantemente cansado.

Como era tempo de pandemia, contornei a questão profissional trabalhando e lecionando em “home office”. Isso não prejudicou meus alunos, pois, tanto na primeira vez como nesta, as cirurgias e recuperações sempre ocorreram em período de férias.

A cirurgia foi viabilizada e bem sucedida e, novamente, passei a fazer o acompanhamento padrão, ciente de que meu fígado já estava bastante maltratado.

A partir daí, a maior preocupação passou a ser com os rins (eu era uma “pedreira”) e com a glicemia. Parei de ingerir bebidas alcoólicas, passei a usar adoçantes menos agressivos, suprimi ou reduzi substancialmente o consumo de certos alimentos (saudades de uma boa pimentinha, comida japonesa, bacon, salames e calabresa acebolada). Sempre disse que a gente sabe que está envelhecendo quando passa a saber a localização dos órgãos; come com culpa, em vez de prazer; e olha para uma massa e um bife e enxerga carboidratos, proteínas…

Meu Oncologista tem sido claro comigo. Quando ocorreu a metástase alertou que eu agora estava no Estágio 4, ou seja, atenção constante, pois o problema deixara de ser localizado, para ser sistêmico.

Sempre brinquei com meus alunos, dizendo que minhas avaliações eram como notícia de doença ruim: 15 minutos de pânico, 15 de conformismo e, só depois, vamos fazer o que for possível, mas nunca desistir!

Bem, isso serviu para mim, conferindo certa resiliência.

Aí, este ano, um marcador tumoral extrapolou: nova metástase, novamente no fígado.

Mais uma vez, a cirurgia é complicada, pela localização do tumor, e nova quimioterapia foi iniciada, com praticamente os mesmos efeitos colaterais.

Tenho ampla confiança em meus médicos e equipe de enfermagem, com os quais sempre tenho conversas francas e esclarecedoras, e pelos quais sou tratado com extremas competência, empatia e carinho. Também mantenho minha fé em Deus, pois o espírito precisa ser forte, quando o corpo fraqueja.

Manter a cabeça ocupada com atividades profissionais, filmes, livros e pesquisas também tem sido fundamental. Afinal, o pior num processo como esse e viver em função da doença, excluindo-se do mundo.

Mas o amor de minha mulher, filho e irmãos; o carinho e apoio de colegas e amigos; e as preces de pessoas de todas as religiões e crenças, que nada exigem em troca, têm sido imprescindíveis.

Como diz um amigo, temos menos tempo pela frente do que o já vivido. Assim, a vida deve ser vivida de forma ainda mais intensa, apaixonada e proveitosa, com projetos e sonhos que motivem, sem nunca abandonar a luta.

Faz parte…

Mas é imprescindível prevenir, para evitar ter que passar por tudo isso!

Atualmente, exames de rotina permitem identificar problemas em sua fase inicial, aumentando sobremaneira as chances de cura!

Fazer esses exames preventivos, também tem que fazer parte!

Adilson Luiz Gonçalves é engenheiro e professor universitário.Santos – SP algbr@ig.com.br

Adilson Luiz Gonçalves

Escritor, Engenheiro, Pesquisador Universitário e membro da Academia Santista de Letras

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