Comunicação Cultura

A Fotografia como memória do passado

Renato de Carvalho i

publicado em 24/08/2009

www.partes.com.br/cultura/fotografiacomomemoria.asp

 

Renato de Carvalho é Graduando em História pela Faculdade Estadual de Educação, Ciências e Letras de Paranavaí – FAFIPA. E-mail: karvalhorenatto@gmail.com

Resumo: O presente trabalho visa demonstrar a grande capacidade que a fotografia tem diante da história, principalmente para os indivíduos no que se refere às lembranças. Ademais, a fotografia deve ser entendida simultaneamente como imagem documento e imagem monumento. No primeiro, ela informa aspectos da vida material. Como monumento a fotografia é memória, legado do passado ao presente, e aquilo que foi escolhido pela sociedade, ou o individuo, para ser registrado e deixado para a posteridade.

Palavras-chave: fotografia, memória, história, tempo.

Abstract: This paper aims to demonstrate the great capacity of the photography is front on history, especially for individuals with regard to memories. Moreover, the picture must be understood both as document and image monument image. In the first case reveals aspects of material life. As a monument is the picture memory, legacy of the past to the present, and what was chosen by the Society or the individual to be registered and left for posterity.

Keywords: photography, memory, history, time.

A fotografia são fontes não-verbais (não constituídas pela palavra escrita ou falada). Apesar de aparentemente mudas, as fotografias comunicam, expressam e significam. Ela constitui-se como uma grande força para a memória dos indivíduos sociais. Esta força vem, sobretudo, por ela ter traços de um referente que remete a uma realidade que já foi transcorrida no tempo e espaço, da qual este referente não existe mais. A fotografia representa algo, (sociedade, pessoas, objetos ect.) que não existe mais, ou seja, ela representa a ausência. Ademais, a imagem fotografia nós proporcionam o desencadeamento de lembranças de acontecimentos já transcorridos, de modo que ao olharmos a imagem, ela ativa nossas lembranças fazendo retrocedemos mentalmente aquele instante presenficado na fotografia.

As pessoas utilizam a fotografia como forma de registrar momentos da vida para posterior recordação. O indivíduo com sua maquina fotográfica, através do “clic”, capta aquilo que em sua visão e importante, o que dever ser registrado e guardado. É nesse sentido que a imagem torna-se duradoura, pois suplanta seu produtor, os personagens e os motivos registrados. Neste sentido, Boris Kossoy demonstra que:

Os homens colecionam esses inúmeros pedaços congelados do passado em forma de imagens para que possam recordar, a qualquer momento, trechos de suas trajetórias ao longo da vida. Apreciando essas imagens, ‘descongelam’ momentaneamente seus conteúdos e contam a si mesmos e aos mais próximos suas histórias de vida. Acrescentando, omitindo ou alterando fatos e circunstâncias que advêm de cada foto, o retratado ou o retratista têm sempre, na imagem única ou no conjunto das imagens colecionadas, o start da lembrança, da recordação, ponto de partida, enfim, da narrativa dos fatos e emoções. (KOSSOY, 1999, p. 138)

Fotografamos os momentos de nossa existência, as pessoas, objetos. Através dela buscamos congelar um determinado tempo, com as fotografias podemos voltar no tempo, e preservar a lembrança de nossa trajetória familiar (aniversario dos pais, irmãos), os amigos da faculdade (a formatura) ect.

A essência de fotografarmos significa que pretendemos congelar no tempo a nossa memória, guardar as nossas diversas vivencias. Assim, a fotografia e por excelência nos seres humanos o vestígio da memória, e parar no tempo – espaço, alguma coisa que, para nós, tenha sido prazeroso, que posteriormente queremos ver estas situações vivenciadas.

Se recordar e viver plenamente, a fotografia cumpri grandiosamente essa função. Por meio dela, pode-se criar um arquivo de vida, registrando todos os momentos que o indivíduo acha primordial. Ela registra – congela o tempo retratado, para depois reaver ao indivíduo, que possibilita situar-se uma conexão entre um tempo já transcorrido e vivido por ele. Permitindo assim, ver como ele se vestia que estilo de cabelo usava seu porte físico etc. Neste ponto, na grande maioria das vezes acorre que o individuo vê aquele passado registrado na foto com uma visão do presente, que na verdade deveria compreender o passado pelo passado registrado pela imagem fotográfica. Quem já não ouviu por ai frases desse teor: “Nossa! Que corte de cabelo mais esquisito você usava, que roupas mais bregas você vestia”. Ocorre aqui que, quando os indivíduos olham a fotografia, ele se encontra num tempo e espaço completamente diferente daquele que a imagem capturou.

Sobre o álbum de família BOURDIEU, nós remete importantes informações:

A Galeria de Retratos democratizou-se e cada família tem, na pessoa do seu chefe, o seu retratista. Fotografar as suas crianças é fazer-se historiógrafo da sua infância e preparar-lhes, como um legado, a imagem do que foram… O álbum de família exprime a verdade da recordação social. Nada se parece menos com a busca artística do tempo perdido que estas apresentações comentadas das fotografias de família, ritos de integração a que a família sujeita os seus novos membros. As imagens do passado dispostas em ordem cronológica, “ordem das estações” da memória social, evocam e transmitem a recordação dos acontecimentos que merecem ser conservados porque o grupo vê um fator de unificação nos monumentos da sua unidade passada ou, o que é equivalente, porque retém do seu passado as confirmações da sua unidade presente. É por isso que não há nada que seja mais decente, que estabeleça mais a confiança e seja mais edificante que um álbum de família: todas as aventuras singulares que a recordação individual encerra na particularidade de um segredo são banidas e o passado comum ou, se quiser, o menor denominador comum do passado, de nitidez quase coquetista de um monumento funerário frequentado assiduamente”. (LE GOFF Apud BOURDIEU. 1990, p. 466.).

Quando nossos olhos visualizam uma imagem, assim podemos dizer que, simultaneamente nosso laptop biológico busca em seus “arquivos” algo que nós faça dialogar com aquele referido momento.

A respeito disso, algo fascinante da imagem fotográfica é, que ela tem o grande poder de trazer o acontecido para a posterioridade, para que não viu-viveu, possa velo e quem estava lá possa vê-lo de novo, para recordar. Grande exemplo disso são os álbuns de família. Os pais mostram as fotos para os filhos de sua vivencia no passado, que estes não presenciaram. Ao mesmo tempo em que trazem esses momentos aos filhos, permitem a si próprios ver situações suas e recordá-las, quando narram a eles os aspectos presentes da imagem.

Ao olhar para a fotografia resgatamos o passado no presente. Ela permite que um passado “morto” possa ser representado. Ou mesmo, a imagem fotográfica satisfaz as pessoas, quando alguém não pode estar “perto uma do outroii”. E comum que indivíduos levam consigo fotografias de familiares, amigos, namoradas nas carteiras, agenda, bolsas ou as colocam na escrivaninha, paredes ect ou mesmo nos respectivos lugares de trabalho que atuam. Mas, também cabe frisar que, geralmente os indivíduos devolvem ou em outros casos rasgam as fotografias, quando ocorre uma ruptura nos relacionamentos. Através desse ato, pretende esquecer a memória que a imagem fotográfica proporciona.

A fotografia segundo o historiador francês Jacques Le Goff (1990, p. 535) deve ser entendida como imagem – documento e imagem – monumento. Nesta relação intrínseca, história e memória, a fotografia como documento revela uma representação dos aspectos da vida material bastante minuciosa. Como monumento, a imagem fotográfica é uma memória, um legado do passado ao presente, e aquilo que foi escolhido pela sociedade, ou o indivíduo, para ser registrado e deixado para a posteridade.

A esse respeito CARDOSO E MAUAD, traz alguns apontamentos a respeito da fotografia como imagem documento:

(…) revela aspectos da vida material de um determinado tempo do passado de que a mais detalhada descrição verbal não daria conta. Neste sentido, a imagem fotográfica seria tomada como índice de uma época, revelando, com riqueza de detalhes, aspectos da arquitetura, indumentária, formas de trabalho, locais de produção, elementos de infra-estrutura urbana tais como tipo de iluminação, fornecimento de água, obras públicas, redes viárias etc.; ou ainda, se a imagem for rural, tipo de mão-de-obra, meios de produção, instalações diversas… (CARDOSO, MAUAD. 1997, p. 405).

Neste aspecto, os autores nós remete como é grande capacidade que a fotografia tem a revelar as representações de uma dada sociedade que, no entanto, um documento verbal não conseguiria fornecer alguns detalhes que a imagem fotográfica nós fornece.

Tomando a fotografia como imagem – monumento:

Concebida como monumento, a fotografia impõe ao historiador uma avaliação que ultrapasse o âmbito descritivo. Neste caso, ela é agente do processo de criação de uma memória que deve promover tanto a legitimação de uma determinada escolha quanto, por outro lado, o esquecimento de todas as outras. (CARDOSO, MAUAD. 1997, p. 406).

Em linhas gerais, a fotografia, o ato de fotografarmos implica em registrarmos determinados fatos em detrimento de outros. Implica recordarmos X e não Y é, dito em outros modos, e criarmos uma determinada memória de alguns fatos, e ao mesmo tempo em que relegamos outras tantas. Constituem “uma seleção que implica necessariamente exclusão”.

Portanto, o entendimento da fotografia como memória, e necessário termos em mente que elas dependem das escolhas feitas no momento em que foram produzidas, carregando, as marcas de seu tempo e espaço.

Referências Bibliográficas

CARDOSO, Ciro Flamarion; MAUAD, Ana Maria. História e Imagem: os exemplos da Fotografia e do Cinema. In: CARDOSO, C. F.; VAINFAS, R. (orgs.). Domínios da história – Ensaios de teoria e metodologia. Rio de Janeiro: Campus, 1997.

KOSSOY, Boris. Realidades e ficções na trama fotográfica. São Paulo: Ateliê Editorial, 1999.

LE GOFF, Jacques. História e memória. Tradução Bernardo Leitão. Campinas, SP: Editora da UNICAMP, 1990.

i Graduando em História pela Faculdade Estadual de Educação, Ciências e Letras de Paranavaí – FAFIPA. E-mail: karvalhorenatto@gmail.com.

ii Aqui neste ponto, a fotografia funciona como um conforto. Ela, de certa forma presenfica a pessoa, ou em outros termos, “cria uma imensa sensação física da pessoa retratada na imagem”.

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