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A galinha do ano novo

Aparecida Luzia de Mello*

publicado em 03/09/2010 como www.partes.com.br/terceiraidade/galinha.asp

 

Aparecida Luzia de Mello É Advogada, Mestre em Políticas Sociais, Pós-Graduada em Gestão e Organização do 3º Setor, Psicogerontologia e Memórias.

O passagem do ano novo seria comemorado na casa dos avós. O imóvel dispunha de um belo salão de festas e excelente varanda para se apreciar a queima de fogos. Logo cedo o casal de idosos foi buscar a netinha de dois aninhos para que ela desfrutasse dos preparativos.

Enquanto preparavam a ceia, ela ia brincando com uma pequena porção de massa dos bolinhos que seriam assados, algumas uvinhas que seriam mergulhadas no chocolate e flores que enfeitariam a mesa do jantar..

A garotinha almoçou. Dormiu. A tarde assistiu mais uma vez o DVD dos saltimbancos, peça que já havia visto no teatro e continuou a brincar.

A noitinha tomou banho e a vovó começou a vesti-la. Disse-lhe que todos estariam de branco, inclusive elas naquela noite. Ela quis saber por quê? A vovó então lhe contou que o branco representava a paz, o amor, sucesso e saúde para todos.

Os convidados começaram a chegar, era sempre uma troca de abraços, beijos e pratos variados que chegavam para rechear a mesa.

Logicamente a netinha era a sensação maior da festa. Menina meiga, gentil, sorridente e como falava sem parar a todos conquistava.

Só faltavam os pais dela chegarem para que começassem a servir o jantar.

Por volta de 22 horas o carro encostou. Ela distraída não percebeu e continuou a brincar.

A mãe havia comprado um vestido caríssimo numa loja de marca. O preço foi pago, certamente, pela etiqueta renomada e não pelo próprio vestido, mas ela sentiu-se maravilhosa dentro da roupa. Qualquer outro vestido não teria lhe dado o prazer de vestir-se para festa como aquele pedaço de pano caríssimo.

O modelito era branco, tipo balonê curto, lembrava um abajur, estreito em cima e largo e armado em baixo. Tinha alguns detalhes na parte de baixo que lembrava pequenas plumas.

Quando o casal entrou na sala, a garotinha ergueu a cabeça e ao ver a mãe correu para abraçá-la e gritou na frente de todos:

-: mamãe você agora é a galinha dos saltimbancos!?!

A cena lembrou a história do garotinho que gritou que o rei estava nu. Foi uma gargalhada geral. A mãe constrangida abraçou a garotinha e não falou nada.

Dias depois o vestido caríssimo foi parar num bazar beneficente por menos de um décimo de seu valor real. Porém, ninguém sabe até hoje se alguém teve coragem de comprar a fantasia da galinha!

* Advogada, Mestre em Políticas Sociais, Pós-Graduada em Gestão e Organização do 3º Setor, Psicogerontologia e Memórias. Palestrante, professora, dirige o PEEM Ponto de Encontro e Estudo da Maturidade, voluntária da 3ª Idade e Recanto do Idoso Nosso Lar.

Email: cidamell@uol.com.br 

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