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Homossexualidade e sociedade

Nair Lúcia de Britto

publicado em 05/08/2011

Foto: Rosali Martins
Nair Lúcia de Britto nasceu em Joanópolis (SP). Passou toda minha infância em Santos(SP), o que talvez explique minha paixão pelo mar…
Formada em Jornalismo na Faculdade Cásper Líbero, em 1977, em São Paulo (SP.) Seu primeiro emprego foi na revisão da Folha de São Paulo. Posteriormente Editora Nova Cultural, preparando textos de livros e revistas.
Escreveu vários textos infantis, publicados na Folhinha de S. Paulo; comentários de livros e filmes para a revista “Contigo”; e crônicas, publicadas na Folha da Tarde (SP) na coluna do jornalista Mário de Morais.
Em São Vicente (SP) foi repórter e cronista do jornal “Primeira Cidade”. Além de prosas, escreve também comentários de filmes de arte; publicados, atualmente, na revista virtual Partes.

Nestor Eduardo Teson, professor da Universidade Estadual de Londrina, é autor do livro Fenomenologia da Homossexualidade Masculina (Edicon, 1989 – Psicologia); e as informações constantes num texto da sua obra são bastante oportunas para a sociedade.

Diz o autor que o termo homossexualidade foi usado pela primeira vez em 1869, num panfleto alemão de autoria desconhecida, para rebater uma lei prussiana que condenava essa prática. Termo esse utilizado, nesse mesmo ano, por um médico húngaro que defendia sua legalização, tendo em vista apenas o caráter científico. Definiu-se também, nessa ocasião, o termo heterossexualidade.
A princípio a homossexualidade foi definida como preferência sexual, contrariando a psiquiatria tradicional que a considerava como uma perversão ou desvio. Mas sob a alegação de uma causa genética, sem chance de preferência, o termo mudou para orientação sexual (fins do século XIX).
Atualmente, orientação sexual diz respeito aos três sexos do ser humano: todos eles saudáveis, normais, naturais e imutáveis:
*heterossexual: pessoas que se sentem atraídas pelo sexo oposto;
*homossexual: pessoas que se sentem atraídas pelo mesmo sexo;
*bissexual: pessoas que se sentem atraídas por ambos os sexos (masculino e feminino), com graus variáveis de intensidade de atração por um ou outro sexo.
O termo Preferência Sexual não se justifica mais, porque através de estudos realizados pela área médica reconheceu-se que a sexualidade não é uma escolha e sim uma característica definida na infância ou até mesmo dentro do útero materno.
Como os heterossexuais abrangem um número maior da população e geralmente são eles que elaboram as leis de comportamento, a tendência é esquecer as duas outras orientações. Acontece que, mesmo em menor número, essas pessoas são cidadãos que têm deveres iguais aos outros a cumprir. E que, portanto, devem ter também os mesmos direitos.
A sexualidade humana é muito complexa e é muito variável de pessoa para pessoa. Não há como definir a orientação sexual de um bebê, ao nascer. Só o tempo vai mostrar qual será sua orientação sexual. Seja qual for a orientação sexual que o futuro lhe reserva, uma criança precisa ser educada num ambiente saudável e ser cercada de amor.
Fato é que todos precisam sentir-se confortáveis dentro de uma sociedade, sem serem rotulados, descriminados ou julgados. O ideal seria que cada um cumprisse bem seu papel social, policiando o próprio comportamento, em vez de se preocupar com a orientação sexual dos outros.
Querer mudar a orientação sexual de uma pessoa é o mesmo que querer mudar também seus sentimentos e sua real natureza. Impingir-lhe uma culpa que ela não tem é causar-lhe graves danos psicológicos que podem comprometer seriamente sua qualidade de vida.
O que eu acho que deve ficar bem claro é que a perversão é passível às três orientações sexuais existentes. Qualquer pessoa sem educação, sem princípios, que não saiba respeitar o próximo ou a si mesmo, para lidar com a própria sexualidade, pode ser um pervertido. Como é o caso dos estupros e abusos sexuais contra mulheres e crianças.
Quando nascemos não nos cabe escolher escolher a cor dos nossos olhos, a cor da nossa pele, se teremos cabelos lisos ou crespos; ser bonito ou feio; nem tampouco ser homem ou mulher ou hétero ou homossexual. Sejam quais forem as nossas características naturais temos de aceitá-las e respeitá-las e, da mesma forma, em relação às características alheias.
A História conta que na década de 30/40 um ditador alemão resolveu exterminar os judeus por preconceito de raça. Nos filmes e documentários podemos avaliar os horrores daquela época. Infelizmente o passado não pode ser mudado, mas podemos mudar o futuro. Sendo assim, não tem cabimento que, sete décadas passadas, a Paulista, uma das mais belas avenidas da cidade de São Paulo, seja um palco para agressões nascidas do ódio gratuito e do preconceito. A TV Record documentou recentemente um ataque a moradores de rua pelo simples fato da sua condição de pobreza e da cor de sua pele. A intenção era matar da forma mais cruel possível, a julgar pelo armamento pesado que os agressores estavam usando. Felizmente a Polícia interveio e impediu o massacre.
Cada vez mais cultua-se a violência nos filmes (e até novelas) que mostram todo tipo de crueldades possíveis. A Psiquiatria já alertou várias vezes sobre o perigo social e à própria saúde mental decorrentes desse tipo de “cultura”, mas muitos continuam prestigiando-a e, como se vê nos noticiários, e até imitando. Como o poder público poderá restabelecer a paz se a população não colaborar?
O pecado não está nas características físicas ou biológicas de uma pessoa; e, sim, no prejuízo que alguém pode causar ao seu próximo ou à sociedade. Prejuízo que, implacavelmente, está assumindo proporções enormes diante da apologia à violência; do preconceito, do descaso à ética, à educação e à verdadeira moral (não da falsa); e da ausência de uma legislação tanto política como religiosa que acompanhe o progresso científico e cultural.
                                     Nair Lúcia de Britto

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