Crônicas Gilda E. Kluppel Gilda E. Kluppel

Limpando o guarda-roupa

Limpando o guarda-roupa

Gilda E. Kluppel

 

Gilda E. Kluppel é professora de Matemática do ensino médio em Curitiba/PR, Mestre em Educação pela Universidade Federal do Paraná.

Chegamos a mais um Ano Novo. É comum, nesta época, fazer uma retrospectiva das nossas ações, retirando da experiência adquirida, a inspiração para nos conduzir no decorrer do novo ano. Poderia ocorrer em qualquer dia, mas já que esta data é tão divulgada como a ideal para realizar estas reflexões, então por que não aproveitá-la?

Estão falando até que o mundo acaba em 2012. E se fosse mesmo o último ano de nossas vidas? Talvez não depositaríamos tanta importância para o que realmente não tem valor, ao treinar o desapego das coisas. Embelezaríamos o nosso jardim, cultivaríamos mais os nobres sentimentos, além de guardar uma dose maior de paciência para os equívocos dos outros e também com os nossos erros e culpas.

Seguindo a receita de Ano Novo de Carlos Drummond de Andrade: “É dentro de você que o Ano Novo cochila e espera desde sempre.” Neste dentro, realizando aquela famosa e oportuna limpeza das fuligens que machucaram a alma. Desocupando as prateleiras, empilhadas de mágoas; limpando as gavetas dos ressentimentos; desencardindo a sensibilidade, ferida pela rudeza do cotidiano; tirando a poeira do coração, em algumas ocasiões, abarrotado de desesperança.

Tentando se desfazer dos embaraços que nos prenderam, às vezes em coisas tão pequenas, mas capazes de desperdiçar um precioso tempo; ainda nos concedido pela oportunidade de mais um ano. Abrindo espaço em nossos corações ao desocupar daquelas, agora velhas, melancolias ou dores que pertenceram ao ano que acabou. Guardamos objetos e emoções em excesso ao carregar fardos pesados e desnecessários.

Numa fogueira vamos atirar os mal-entendidos, as pequenas rusgas, estas coisinhas miúdas que queimam e desaparecem com uma labareda. Ocupando este novo guarda-roupa, cheirando a madeira nova e talhado de esperança, para acomodar delicadamente os antigos e novos sonhos; sem esquecer de se prevenir com um antimofo. Aproveitando esta limpeza para retirar aquelas pessoas que agem como ácaros, embolorando a nossa confiança e os nossos sonhos ao trazer o desânimo e a discórdia.

Sobretudo, garantindo um lugar especial na prateleira espelhada, aos amigos e familiares, estes que diante das nossas falhas e fraquezas fornecem a delicadeza, reforçando a nossa autoestima.

Neste momento em que 2011 parte e o alvorecer de 2012 se apresenta, mais uma faxina é permitida, propiciando o despejo dos entulhos, tanto de fora, mas principalmente de dentro. Para tentar novamente, livre das sobrecargas, realizar velhos e novos desejos neste ano que se inicia.

 

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