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A ORIENTAÇÃO DE TRABALHOS NA PÓS GRADUAÇÃO EM GESTÃO EDUCACIONAL: NOTAS PARA ALGUMAS REFLEXÕES

A ORIENTAÇÃO DE TRABALHOS NA PÓS GRADUAÇÃO EM GESTÃO EDUCACIONAL: NOTAS PARA ALGUMAS REFLEXÕES

 

Fernanda Gabriela Soares dos Santos[1]

 

Se o mundo inteiro me pudesse ouvir

Tenho muito pra contar:

Dizer que aprendi.” Tim Maia

 

 

Fernanda Gabriela Soares dos Santos Mestre em Educação pelo PPGE/UFSM, professora da FISMA( Faculdade Integrada de Santa Maria). fernandagssantos@yahoo.com.br

RESUMO:O trabalho a seguir versa sobre meu período de orientação de monografias de Especialização na pós em Gestão Educacional, a qual trabalho desde o ano de 2008, em instituições públicas e privadas de ensino, tanto na modalidade presencial, quanto na modalidade a distância. É realizado um breve apanhado sobre os trabalhos orientados e a experiência empírica de orientá-los. Como referencial, utilizei Libâneo (2001), Lück (2006) e  Rodrigues (20060, os quais ajudaram-me não apenas nas questões do ponto de vista mais histórico, como também a refletir com os alunos as questões de cunho político e social. Como conclusão posso citar não apenas grandes avanços políticos como ainda a valorização crescente de uma escola democrática e aberta a todos.

Palavras-chave: Gestão Educacional. Orientação. Democracia

 

No ano de 2012 orientei quatro trabalhos na área de Gestão Educacional, bem como participei de muitas bancas. Os temas foram os mais variados, desde a educação especial até os recentes conselhos escolares, todos da mais profunda riqueza e comprometimento dos autores, alunos da instituição na qual atuo.

As pesquisas foram ricas por um motivo muito peculiar: sua autoria se devia a professores que estavam atuando nas gestões municipais da rede pública de ensino de Santa Maria/RS, profissionais que, portanto, estavam cientes de seu papel profissional e pessoal.

Durante alguns anos venho me perguntando se existe de fato, alguma diferença entre aquele professor que teoriza sobre a educação, mas nunca esteve trabalhando como professor em escolas e o professor que, antes de se tornar professor ou formador de outros professores passou pela experiência de ser educador na rede básica de ensino.

Vivi, no ano que passou, a experiência de orientar  ambas e posso afirmar, com a mais profunda sinceridade que, aqueles professores que estiveram atuando em escolas percebem a realidade de outro modo, propõem intervenções passíveis de serem realizadas e, sobretudo a teoria estudada modifica seu trabalho enquanto docentes/gestores. Não apenas atravessam seus trabalhos como também são atravessados por eles, desenvolvendo, portanto, uma relação de implicação/comprometimento/ação.

 

DESENVOLVIMENTO

“Voar junto com os alunos.”Rubem Alves

A gestão educacional não é tarefa simples de ser executada, uma vez que, em muitos lugares não se sabe ao certo o que é a gestão. Há alguns anos atrás, perguntei a algumas pedagogas o que era a gestão e me deparei com o indício que não há consenso no que seja, de fato, a gestão dentro de uma escola.

Caso a pergunta seja feita para membros de uma empresa, todos de fato o sabem responder afinal o que é a gestão, como funciona, etc. talvez, porque também devemos lembrar que esse, como outros termos que costumamos utilizar na área de educação, tenham sido herdados de outros lugares que não a escola propriamente dita.

Os modelos usados como “inspiração” para a escola, não provinham necessariamente de ambientes educacionais e dessa forma, várias palavras foram incorporadas ao seu contexto que não lhes são familiares.

Dentro dessa perspectiva, Libâneo (2001, p.96) afirma: “[…]três concepções de organização e gestão escolar que tiveram destaque na educação brasileira são: a técnico-científica, a autogestionária e a democrático-participativa.”

É possível pensarmos, através da expressão de Libâneo que, com tais linhas podemos perceber um outro tipo de concepção de gestão: se penso em autogestionária ou participativa, significa que já acredito em uma espécie de revolução, de ruptura, pois há décadas atrás, quando tínhamos uma forte presença fordista e taylorista tais visões eram impensáveis.

A partir da abertura política em meados dos anos 1980 podemos observar a abertura de alguns caminhos na área educacional. Ainda que lentos e graduais, tal como foi a mencionada abertura política, já é um marco trazermos a participação à discussão. Ou seja, já não funciona apenas como uma hierarquia em que uma pessoa apenas governa e comanda as outras de forma autoritária. Há participação e se ela existe, há também algum tipo de inovação.

Nas quatro orientações que tive o privilégio de trabalhar, pude perceber em meus orientandos a possibilidade em compartilhar com seus colegas e até mesmo superiores, as propostas de inovação. As marcas não ficaram individualmente para esse ou aquele professor, elas se concretizaram em planejamentos, atividades, ações, diálogos com os alunos, que trouxeram uma contribuição não só para esse momento, mas para a própria concepção do que se faz e de como é feita uma escola.

Segundo Lück (2006, p.42): “Somente através de uma gestão educacional é que se permite superar a limitação da fragmentação e da descontextualização e construir, pela óptica abrangente e interativa, a visão e orientação de conjunto […]”.

É necessário portanto que o processo seja participativo para que não se corra o risco de ocorrer fragmentações pelo caminho. Há anos atrás era comum vermos cada membro de uma escola fechado dentro de seu gabinete e trabalhando sozinho, como se fossem apenas acessórios dentro do complexo ambiente escolar.

Hoje, por mais que difícil que continue sendo o trabalho dentro de uma escola, com poucos incentivos governamentais, estruturas antigas e poucos materiais de apoio pedagógico, há uma cobrança de participação e envolvimento de todos os lados. Os próprios pais de alunos já não se contentam, como era comum antigamente, de simplesmente levarem os seus filhos a escola. Participam das festas, dos conselhos, das solicitações. São aliados da escola quando essa precisa pedir auxílio ao poder púbico, pois já entendem que melhorias nas escolas garantem melhores condições aos seus filhos. Todos, em alguma medida, são contemplados.

O próprio trabalho em sala de aula hoje conta com a participação dos pais, que se interessam pelos métodos e caminhos utilizados pelos professores. Não basta simplesmente depositar os filhos na escola, os pais dessa geração querem participar da escola que ajudam a construir no devaneio do cotidiano, participam e interagem com a gestão. Isso é um marco histórico.

Devemos essas mudança sobretudo o momento histórico vivido. Pais que nasceram e cresceram em um ambiente democrático estão muito mais familiarizados com a participação nos diferentes âmbitos do que aqueles pais de antigamente que viam no professor o ideal de autoridade para os seus filhos. Esse professor já não existe: o educador contemporâneo vive uma relação de horizontalidade com seus alunos. Ensina e aprende com eles e já não se acredita como o detentor de saber: é aquele que no ato de ensinar também aprende com os seus educandos.

Para Rodrigues (2006, p. 299): “Sem uma escola pública que ofereça formas de organização, de oportunidades de aprendizagem, de diversificação de currículo de apoio à aprendizagem do aluno, etc, será muito difícil contextualizar a educação […]”

A escola pública já nos mostrou que está mudando, pois seus professores, sobretudo essa nova geração já vem com esse novo olhar. O ensino mudou com a sociedade e possivelmente as novas gerações terão uma formação completamente distinta das anteriores, pois crescerão não apenas estudando, como também vivenciando o processo democrático nos pequenos meandros de suas vidas.

 

 

 

 

 

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

“E o que foi prometido, ninguém prometeu

Nem foi tempo perdido.”

Legião Urbana

 

Quando iniciei minha jornada de professora universitária colocávamos em pauta questões que nos pareciam longínquas: participação, gestão democrática, etc. Hoje, o sonho de outrora tornou-se realidade. Muito mais que isso: fomos além.

As lutas por democratização e ampliação de espaços públicos mostraram-se eficazes. Nossas greves e paradas, operações tartarugas, etc, não foram em vão, surtiram um efeito muito mais que desejado.

Fomos aqueles que, um dia, abriram espaços para lutas, oriento hoje alunos que não sentem o diretor como chefe pelo simples motivo que ele está lá porque a comunidade escolar o elegeu: não foi indicação de um governo autoritário.

A luta de ontem é o fato de hoje e que sirva de lição a todos aqueles que não acreditam em seus próprios sonhos: valeu a pena, como vale a pena ver assembleias escolares repletas de pais  e estudantes, opinando, sugerindo , questionando, dividindo e multiplicando.

Todos construindo um espaço que nos pertence por direito. A democracia é isso: luta coletiva e participação de fato. A luta é de todos, garantiu-nos voz e vez. Saliento outra vez: valeu a pena.

 

 

 

 

 

 

ABSTRACT: The following work is about my orientation period of monographs in post Specialization in Educational Management, which work since the year 2008, in public and private schools, both in the classroom, and in the distance mode. It held a brief overview on the work oriented and empirical experience to guide them. As a reference, I used Libâneo (2001), Lück (2006) and Rodrigues (2006), which helped me not only in matters of more historical perspective, but also to reflect with students issues of a political and social. How conclusion can quote not only major political progress but also the rising of a democratic school and open to all.
Keywords: Educational Management. Guidance. democracy

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

REFERÊNCIAS

 

LIBÂNEO, J. C. Organização e gestão escolar: teoria e prática. 4. ed. Goiânia: Editora alternativa, 2001.

LÜCK,H. A dimensão participativa da gestão escolar. Petrópolis: Vozes, 2006.

RODRIGUES, D. Doze olhares sobre a educação inclusiva. São Paulo: Summus,2006.

[1] Mestre em Educação pelo PPGE/UFSM, professora da FISMA( Faculdade Integrada de Santa Maria). fernandagssantos@yahoo.com.br

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