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Investigação do conhecimento docente acerca de LIBRAS: Perspectivas da inclusão na Baixada Santista

Investigação do conhecimento docente acerca de LIBRAS: Perspectivas da inclusão na Baixada Santista

Drª Marcia Regina Silva do Vale[1]; Raphaela dos Santos Gonçalves[2]

RESUMO

O presente trabalho buscou trazer um panorama acerca do domínio de Língua Brasileira de Sinais apresentado por docentes que atuam na educação básica na Região Metropolitana da Baixada Santista, na rede pública e privada, bem como incentivar uma reflexão crítica sobre a realidade da inclusão de indivíduos surdos em ambientes educacionais.

Palavras-chave: Libras; Surdos; Inclusão; Linguagem.

Investigation of the teacher knowledge about Brazilian Sign Language: Perspectives of inclusion in the Baixada Santista

ABSTRACT

This paper aimed to present a view about the Brazilian Sign Language domain presented by teachers who work in basic education in the Metropolitan Region of Baixada Santista, on public and private schools, as well as to encourage a critical reflection about the reality of the inclusion of deaf people in educational environments.

Keywords: Sign Language; Deaf people; Inclusion; Language.

INTRODUÇÃO

Em 24 de abril de 2002 foi sancionada a Lei Nº 10.436 reconhecendo a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) como meio legal de comunicação e expressão, assim como outros aspectos gestuais relacionados a ela. Nesta fica registrada a obrigatoriedade da inclusão de pessoas surdas através da presença de um intérprete em instituições públicas e privadas em todo Brasil. O Artigo 4º desta lei explicita que os sistemas educacionais que formem profissionais de nível médio e superior devem incluir o ensino de Libras como parte dos Parâmetros Curriculares Nacionais – PCNs.

O Decreto Nº 5.626 de 22 de dezembro de 2005 novamente reforça a inclusão da Libras como disciplina curricular obrigatória nos cursos de formação de professores para o exercício do magistério e nos cursos de Fonoaudiologia, de instituições públicas e privadas, assim como nos cursos de licenciatura em diferentes áreas do conhecimento. Também dispõe do oferecimento de Libras como disciplina optativa nos demais cursos de educação superior e profissional a partir de 22 de dezembro de 2006.

A Língua Brasileira de Sinais ou Língua de Sinais Brasileira é utilizada exclusivamente para a comunicação de surdos em território brasileiro. Esta se difere das línguas orais-auditivas por se expressar em uma modalidade espaço-visual, utilizando expressões faciais e movimentos gestuais perceptíveis a visão. Ela não é uma língua universal. Assim como ouvintes de diferentes países se comunicam em diferentes idiomas, os gestos que compõem a Libras diferem de país para país e até mesmo regionalmente dentro de um mesmo território nacional (IDALGO[3], 2008, p.1).

A Libras surgiu através do Instituto dos Surdos-Mudos, fundado em 1857, sendo a primeira escola para surdos no Brasil. Foi inspirada na Língua de Sinais Francesa e em sinais utilizados por surdos em várias regiões do Brasil (SANTOS[4] e MENEZES[5], 2001, p.1).

Embora obrigatória desde 2002, a disciplina de Libras no ensino superior se mostra insuficiente para a formação de profissionais capazes de se comunicar através dela. É necessário um olhar direcionado sobre o conhecimento de Libras por professores dentro das instituições de ensino fundamental da Baixada Santista a fim de quantificar e qualificar os aspectos inclusivos da região.

 

OBJETIVOS

 O presente estudo objetivou levantar dados para apurar o grau de conhecimento dos docentes da educação básica na Baixada Santista acerca da Libras.

METODOLOGIA

A presente pesquisa é de caráter quali-quantitativo e realizada nas escolas de Educação Básica da Baixada Santista. A coleta de dados está sendo feita através de questionário estruturado, seguindo Gil (2010).

Foram aplicados questionários estruturados no sistema online Google Formulários com perguntas acerca do conhecimento individual de Libras dos professores entrevistados, assim como sua opinião pessoal acerca de alguns itens. Participaram deste estudo, até o momento, 32 professores da rede pública e particular de escolas das cidades de Mongaguá, Praia Grande, São Vicente, Santos e Guarujá.

 

DESENVOLVIMENTO

A carga horária mais comum nas instituições de ensino superior brasileiras na disciplina de Libras é de apenas um semestre, dividindo suas atividades em 50% teóricas e 50% práticas. Esta configuração se vê insuficiente para o aprendizado, ao menos intermediário, deste idioma. A formação de educadores e profissionais bilíngues carece de articulações e propostas específicas e duradouras para que estes possam lidar com surdos em suas profissões (MARTINS[6] e NASCIMENTO[7], 2015, p.22).

Martins e Nascimento (2015, p.25) sugerem que a carga horária atual da disciplina de Libras é sim suficiente para a quebra de alguns paradigmas e mitos acerca da surdez, possibilitando um novo olhar a estes indivíduos. Contudo, não consegue com o curto tempo desenvolver sujeitos aptos a se comunicarem, reforçando a necessidade de um intérprete de língua de sinais educacional como protagonista no ensino de surdos.

Dessa forma, o sujeito surdo enfrenta dificuldades de alfabetização desde a Educação Básica, o que dificilmente os leva a continuarem os estudos em instituições de Ensino Superior. Em 2005 apenas 2.428 mil surdos estavam matriculados universidades no Brasil, sendo a maioria provenientes de escolas bilíngues, especializadas em alunos de inclusão, acentuando a disparidade entre escolas públicas e privadas neste aspecto (BISOL et al., 2010, p.48).

Diversos eventos e palestras acerca da comunidade surda e a disciplina de Libras estão pontuando estes problemas, assim como produzindo significados sobre surdos, seu idioma e processo educacional (SANTOS[8] e KLEIN[9], 2014, p.14).

 

RESULTADOS

Todos os entrevistados concordaram em ceder suas respostas, de forma anônima, para esta pesquisa através do termo de conhecimento livre e esclarecido.

A composição dos entrevistados foi de 81,3% do gênero feminino, 15,6% masculino e 3,1% de outros gêneros.

Mais de 50% dos entrevistados lecionava em ensino fundamental II e ensino médio e 20% atuava na educação infantil.

59,4% declarou que a disciplina de libras em suas respectivas graduações era optativa, 37,5% obrigatória e 3,1% não a tinham presente. Entre os que afirmaram ser optativa, apenas 25% decidiu cursá-la.

Alguns professores declararam ter tido contato com Libras fora da licenciatura, em capacitações oferecidas pela prefeitura de seus municípios, cursos no trabalho, pós-graduação e em cursos particulares procurados pelos mesmos.

84,4% considera a carga horária atual de Libras insuficiente para formar indivíduos capazes de se comunicar no idioma.

87,5% julga seu próprio conhecimento nulo ou baixo, contra apenas 6,3% de profissionais fluentes.

43,8% dos entrevistados já havia lecionado para alunos surdos, mas somente a metade contou com o auxílio de um intérprete.

 

CONCLUSÃO

É possível concluir que grande parte dos professores que hoje atuam na educação básica não possuem ao menos o conhecimento básico em Libras, refletindo a defasagem da inclusão nos ambientes escolares.

A falta de conhecimento acerca, não só da Libras, mas também da cultura surda, acaba também afetando o diagnóstico da surdez em crianças.

Vê-se necessária uma conscientização de profissionais, não só da educação, mas também de todas as áreas profissionais que lidam com pessoas, para incentivá-los a aprender cada vez mais deste idioma tão importante para milhares de pessoas no país, a fim de compreendê-las e permitir o convívio e inclusão destes cidadãos na sociedade.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BISOL, C. et al. ESTUDANTES SURDOS NO ENSINO SUPERIOR: REFLEXÕES SOBRE A INCLUSÃO. Cadernos de Pesquisa, v. 40, n. 139, p.147-172, jan./abr. 2010. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/cp/v40n139/v40n139a08.pdf>. Acesso em 29 de abril de 2017.

BRASIL. Decreto nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005.Regulamenta a Lei no 10.436, de 24 de abril de 2002, que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais – Libras, e o art. 18 da Lei no 10.098, de 19 de dezembro de 2000. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/decreto/d5626.htm>. Acesso em: 27 de abril de 2017.

BRASIL. Lei n° 10.436, de 24 de abril de 2002. Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais – Libras e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov. br/CCIVIL/LEIS/2002/L10436.htm>. Acesso em: 27 de abril de 2017.

IDALGO, Adilson. Língua de Sinais Brasileira. PROENE – Programa de acompanhamento a estudantes com necessidades educacionais especiais. Universidade Estadual de Londrina, 2008. Ano 17. Nº 16. Disponível em: <http://www.uel.br/eventos/seminariosurdez/pages/arquivos/folder_05.pdf>. Acesso em 27 de abril de 2017.

MARTINS, Vanessa Regina de Oliveira; NASCIMENTO, Lilian Cristine Ribeiro. Algumas análises da disciplina de libras nos cursos de licenciaturas: reflexões e desdobramentos. Revista Intellectus. Nº 30. Volume 3. Disponível em: <http://www.revistaintellectus.com.br/DownloadArtigo.ashx?codigo=456>. Acesso em 27 de abril de 2017.

MENEZES, Ebenezer Takuno de; SANTOS, Thais Helena dos. Verbete LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais). Dicionário Interativo da Educação Brasileira – Educabrasil. São Paulo: Midiamix, 2001. Disponível em: <http://www.educabrasil.com.br/libras-lingua-brasileira-de-sinais/>. Acesso em: 27 de abril de 2017.

SANTOS, Angela Nediane dos; KLEIN, Madalena. Olhares investigativos acerca da inserção da disciplina de libras no ensino superior. X ANPEDSUL, Florianópolis, outubro de 2014. Disponível em: <http://xanpedsul.faed.udesc.br/arq_pdf/1583-0.pdf>. Acesso em 27 de abril de 2017.

 

 

Notas:

[1]Doutora em Ciências Sociais. Mestre em Educação, Administração e Comunicação. Licenciada em Pedagogia. E-mail: marcia@unisanta.br

2Licenciada em Ciências Biológicas e Pedagogia. Aluna de Especialização em Neurociências pela Universidade Federal de São Paulo. E-mail: hpsraphaela@gmail.com

[3]Especialista em Língua Portuguesa. Voluntário do PROENE. E-mail: adil_idalgo@yahoo.com.br

[4] Graduada em História e Comunicação Social – Jornalismo.

[5] Doutor em Educação. Mestre em Integração da América Latina. Especialista em Gestão da Comunicação. Graduado em Filosofia e Comunicação Social – Jornalismo.

[6] Doutora e Mestra em Educação. Graduada em Pedagogia com habilitação em Educação Especial. Especialista em psicopedagogia institucional e clínica.

[7] Mestra e Doutora em Educação. Graduada em Fonoaudiologia.

[8] Mestra e Doutora em Educação. Especialista em Educação Especial. Graduada em Educação Especial. E-mail: gejaespecial@yahoo.com.br

[9] Mestra e Doutora em Educação. Graduada em Serviço Social. E-mail: kleinmada@hotmail.com

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