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Teoria Pós-Colonial: Contribuições para Transformação do Currículo Vigente

Teoria Pós-Colonial: Contribuições para Transformação do Currículo Vigente

Isabela Rodrigues Monteiro[1]

Maria Theresa de Lima Alves[2]

Resumo

O tema abordado neste texto centra-se no impacto das teorias tradicionais presentes no currículo atual, destacando a importância da teoria pós-colonial e suas contribuições. Como objetivo, o artigo pretende apresentar a necessidade das escolas brasileiras adotarem em seus currículos, práticas pós-coloniais, a fim de evitar qualquer discurso que perpetue a hierarquização de raças e culturas. A metodologia adotada foi pesquisa bibliográfica. Assim, concluiu-se que é preciso descolonizar o currículo a fim de promover um diálogo multicultural efetivo.

Palavras-chave: Currículo. Teorias. Pós-Colonial. Educação. Multicultural.

Abstract: The topic covered in this text is focused on the impact of traditional theories in the current scholar curriculum, highlighting the importance and contributions of post-colonial theory. As an objective, this article pretends to present the importance of brazilian schools adopting post-colonial practices, in order to avoid any discourse that perpetuates the hierarchization of races and cultures. The methodology used was bibliographical research. Then, the conclusion was that it is necessary to decolonize the curriculum with the view to promote an effective multicultural dialogue.

Keywords: Curriculum. Theories. Post-Colonial. Education. Multicultural.

Introdução

         Ao estudar sobre as teorias do currículo, percebe-se que estas muitas vezes se apresentam como uma perspectiva que ilumina a prática, o que já foi construído. Entretanto, essas teorias não podem ser vistas como uma verdade absoluta, pronta e acabada, mas sim como uma construção. Ademais, é preciso compreender que nenhuma teoria é neutra e que o currículo também não é neutro, mesmo que as teorias tradicionais – que serão vistas neste artigo posteriormente – possuam esse discurso.

         O texto tem como objetivo a apresentação dos impactos da herança colonial presentes no currículo até os dias atuais, e assim, reforçar a importância de um viés pós-colonial que, leve para as escolas, uma perspectiva que compreende o complexo da relação de poder entre as diferentes nações, que considere a história, que tragam debates nos campos da arte e da literatura, e que considera a representação positiva como um método indispensável na construção de identidade cultural/social, visto que, o currículo, “[…] além de uma questão de conhecimento, é uma questão de identidade.” (Silva, 2016, p. 15).

         A metodologia adotada para a escrita do artigo baseou-se na pesquisa bibliográfica, visto que, para a composição do trabalho, foi utilizada a análise da obra de Tomaz Tadeu da Silva, Documentos de Identidade: Uma introdução às teorias do currículo.

O texto foi dividido em subtópicos, a fim de facilitar o entendimento dos leitores, separando o que são as teorias tradicionais e seus impactos, da necessidade da existência de um currículo pós-colonial, e suas teorias, nas escolas brasileiras.       

Teorias Tradicionais e seus impactos

            As teorias tradicionais foram colocadas em debate na década de 1960, com os importantes movimentos sociais da época. No Brasil, por exemplo, a luta era contra a Ditadura Militar e a reivindicação pela volta da democracia.

         De acordo com Tomaz Tadeu da Silva “os modelos tradicionais de currículo restringiam-se à atividade técnica de como fazer o currículo.” (SILVA, 2016, p.). Dito isso, é preciso compreender que apesar de ser importante saber fazer o currículo, é necessário elaborar concepções que possibilitem compreender o que o currículo faz.

         A escola “atua ideologicamente através de seu currículo, seja de forma mais direta, […] seja de uma forma mais indireta, através de disciplinas mais “técnicas” […]” (SILVA, 2016, p. 32). Dessa forma, pelas escolas possuírem uma abordagem tradicional até os dias de hoje, essa ideologia consolida o discurso discriminatório e a diferença de classes, ensinando – muitas vezes de forma indireta – que as pessoas de classes subordinadas devem ser submissas às pessoas das classes dominantes. E estas aprendem a “[…] comandar e controlar” (SILVA, 2016, p. 32).

         As teorias tradicionais perpetuam o currículo patriarcal, capitalista, heterossexual e branco, subalternizando os demais povos e culturas. O currículo se apresenta de forma monocultural, baseado na cultura europeia, em que se estuda a história dos colonizadores e desprezam as nações colonizadas, compreendendo a cultura dos povos dominantes como a única cultura a ser estudada e a cultura nativa é desvalorizada.

Dessa forma,          é preciso compreender os impactos das teorias tradicionais na formação de identidades. Ao ensinar a criança através de um currículo de classes dominantes, diversos efeitos e influências são incutidos no processo de desenvolvimento destas, perpetuando a desigualdade e reforçando os padrões de poder que existem na sociedade. Por isso, é preciso questionar e repensar as abordagens tradicionais, a fim de possibilitar nas escolas um currículo multicultural que considere todas as classes e povos.

Teoria Pós-colonial e suas contribuições

        A concepção pós-colonialista do currículo caracteriza-se como uma teoria pós-crítica que tem como foco refletir sobre as relações de poder existentes na sociedade pós-colonial que resultam do período colonial. Trata-se da análise das marcas deixadas pela colonialidade a partir do estudo da história dos processos de ocupação e dominação entre diversas nações, centralizando-se na observação da literatura escrita tanto pelos grupos dominantes quanto pelas populações dominadas (SILVA, 2016). Nessa direção, destacam-se autores como Frantz Fanon, Aimé Césaire, Albert Memmi – intitulados precursores do pensamento pós-colonial – e os contemporâneos Homi Bhabha, Edward Said e, no Brasil, Paulo Freire (SILVA, 2016).

De acordo com Silva (2016), a teoria pós-colonialista questiona as relações entre saber, subjetividade e poder que decorrem do processo de colonização, uma vez que o Ocidente, ao longo da história, criou uma representação do “outro” como sujeito inferior, subalternizando seus saberes e cultura em detrimento do pensamento europeu, considerado supostamente “civilizado” e superior. Nesse sentido, Silva (2016, p. 128) mostra que “[…] O Projeto colonial teve, desde o início, uma importante dimensão educacional e pedagógica […]”, contribuindo para a construção dessa representação que é a base da dominação cultural que produziu concepções presentes até hoje nas sociedades.

É importante considerar, no entanto, que tal processo não ocorreu de maneira isolada e absoluta, uma vez que manifestações de resistência também foram concebidas no contexto do colonialismo. Dessa forma, a teoria pós-colonial considera a análise do caráter híbrido de tal processo, considerando a “[…] complexa relação de poder em que tanto a cultura dominante quanto a dominada se veem profundamente modificadas […]” (SILVA, 2016, p. 129).

Assim, de acordo com Silva (2016), para a construção de um currículo pós-colonial é preciso refletir sobre a herança colonial presente ainda hoje na sociedade, uma vez que o ambiente educacional interage diretamente com o meio social, político e cultural. Desse modo, é necessário analisar diversas concepções presentes no currículo, que abrangem questões de nacionalidade, raça, gênero, sexualidade, entre outros assuntos que impactam na constituição identitária dos sujeitos e que estão presentes, mesmo que indiretamente, no currículo (SILVA, 2016).

A partir da concepção pós-colonial, entende-se, portanto, a necessidade de questionar a maneira como o “outro” é representado no currículo, compreendendo a intrínseca relação entre conhecimento e poder para que seja possível descolonizar o currículo e promover o diálogo multicultural efetivo (SILVA, 2016).

Considerações finais

Perante a análise das teorias tradicionais e seus impactos na elaboração do currículo, assim como a exposição das contribuições da teoria pós-colonial, compreende-se a importância de refletir sobre o currículo contemporâneo, uma vez que as marcas da colonialidade ainda presentes na sociedade refletem na educação.

A partir da observação acerca das relações de poder existentes no âmbito social, político e cultural, é possível questionar o currículo vigente, identificando a necessidade de reformulação deste, uma vez que o currículo não representa a mera escolha de conteúdos a serem ensinados, mas atua diretamente na formação de identidades. Dessa forma, percebe-se a necessidade de superar o modelo tradicional, que preza pelo “conteúdo” e pela “forma” a partir de uma visão monocultural, desprezando as implicações subjetivas do currículo na constituição dos indivíduos.

Nesse sentido, a teoria pós-colonialista apresenta contribuições para repensar o currículo de modo a descolonizá-lo, contribuindo para a elaboração de práticas pedagógicas abrangentes e multiculturais que considerem a importância do pensamento e das produções de variados povos.

Dessa forma, ao compreender que quando se escolhe ensinar, se cria diversas identidades, percebe-se a necessidade de um currículo multicultural, que considere todas as expressões culturais, povos e nações.

Referências

SILVA, Tomaz Tadeu da. Documentos de identidade: uma introdução às teorias do currículo. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 3. ed., 8. reimp., 2016, 156 p.


[1] Estudante do Curso de Pedagogia da Universidade Federal de Uberlândia. E-mail: isaarodrigues0821@gmail.com

[2] Estudantes do Curso de Pedagogia da Universidade Federal de Uberlândia. E-mail: mariath2002ped.ufu@gmail.com

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