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Desafios à Educação capitalista frente aos avanços tecnológicos e as crises política e econômica

                                                 Márcio José da Silva*[1]

Resumo:

Este artigo critica a educação bancária que veio sendo idealizada no Brasil ao longo do século XX; Discute o papel do Estado como aparelho influenciador de suas ideologias e a escola como reprodutora dessa ideologia, e ainda  e aponta alguns desafios frente uma demanda política e econômica imposta pelo cenário emergente e a necessidade de inclusão das tecnologias da informação no cotidiano da escola. A globalização, as constantes transformações no cenário tecnológico e as frequentes crises na economia mundial mostram desafios que a escola precisa superar.

Palavras- Chave: educação – desafios – tecnologia – crise política e econômica

Abstrct: This article criticizes the banking education that was conceived in Brazil throughout the 20th century; It discusses the role of the State as a device that influences its ideologies and the school as a reproducer of this ideology, and also points out some challenges facing a political and economic demand imposed by the emerging scenario and the need to include information technologies in the school’s daily life. Globalization, constant changes in the technological scenario and the frequent crises in the world economy show challenges that the school needs to overcome.

Key Words: education – challenges – technology political and economic crisis

Introdução

Perdura desde a época dos jesuítas no Brasil, um modelo de educação: a educação bancária. Principalmente nos moldes tecnicistas após a revolução industrial, sempre procurando preparar o homem para atuar como mão de obra no mercado de trabalho. De forma que surgiram diversos programas com cunho tecnicistas.

De acordo com Paulo Freire (2000) este modelo serviu a elite dominante na época colonial, e de lá pra cá vem sendo somente adaptado algumas políticas emergentes para cada cenário momentâneo. Essas políticas geralmente são implementadas de forma aligeiradas a ajustar a educação a tal momento político e econômico.

Segundo Maciel (2013, p.2):

A luta da Escola Pública, por seus defensores, nas sociedades advindas com as revoluções burguesas pelo mundo a fora, tem a mesmíssima natureza, motivo pelo qual não somente se toma o título de empréstimo, mas também se homenageia um Grupo de Teatro, tal como tantos outros no Brasil e no mundo, que se empenharam por fazer da sua arte uma expressão estética, política e ideologicamente engajada.

Nesse sentido a educação tem sido uma manobra no cenário político, pois tem se comportado como uma difusora da ideologia do estado dominante.  O estado, portanto, não é nem público, nem privado, mas o estado da classe dominante, não importando se a instituição é pública ou privada podendo funcionar pela violência simbólica ou pela ideologia. (ALTHUSSER, 1980, p.47).

Conforme Althusser (1980, p.47), o Estado exerce esse papel influenciador de suas ideologias, e a escola se comporta como um aparelho ideológico de difusão.

  1. Educação bancária ou tecnicista?

Enquanto o capitalismo visa estratégias de interesse da burguesia e principalmente a formação de força de trabalho, a escola como aparelho, molda o sujeito á submissão do sistema.

A preocupação para preparar o homem para se ajustar ao mercado de trabalho fizeram parte dos programas de governo brasileiro para demanda de mão de obra. É nesse sentido que o significado de educação bancaria tem sentido.

Compreende aqui o termo educação bancaria como sendo o modelo de educação criticada por Paulo Freire, uma educação que que não é libertadora, mas pelo contrario é opressora e não visa buscar a conscientização dos alunos e nem do seu papel como ser crítico, pensante. Esse modelo de educação serviu durante muito tempo para satisfazer as demandas políticas geradas pelo desenvolvimento econômico do mundo pós-guerra. Valoriza-se o autoritarismo e sujeição de regras. A educação acaba sendo uma mera adestradora para o exercício da adaptação. (Freire, 2000, p. 101).

Nos mesmos moldes aparece a corrente tecnicista introduzida na educação brasileira na década de 1960, no decorrer do regime militar, para desenvolvimento social e econômico.

Descritas principalmente pelas leis 5.540/68 e 5.692/71, que, respectivamente, reformulou a educação superior e instituiu o ensino de 1º e 2º graus. Esta tendência representou um sistema o qual modelou o comportamento humano visando produzir sujeitos capazes e eficientes para o desempenho de funções no mercado de trabalho. (LUCKESI, 2003).

Assim afloraram cursos profissionalizantes de formas aligeiradas, como que molas reprodutoras do domínio da educação tecnicista visando a crescente demanda no mercado emergente, tais como: PLANFLOR, PROJOVEM, dentre outros.

  • O Estado

O Estado exerce grande influência no caminhar da educação. Com relação à política educacional, tem se orientado por uma tendência liberal.

Para Luckesi (2003) a escola ao valorizar as informações científicas presentes nos manuais técnicos e de instrução reproduz o modelo de produção capitalista, de forma a que o aluno internalize e seja bem treinado para inserir-se profissionalmente no sistema econômico vigente.

Percebe-se essa tendência em toda a legislação brasileira, no entanto as instituições de ensino acabam por se portar demasiadamente seletivas e excludentes. As transformações econômicas, políticas e sociais recentes nas sociedades capitalistas têm refletido sobremaneira na Educação. (SILVA, 2017, p. 3).

De acordo com Oliveira (2004, p.23) a sobrevivência das sociedades em que domina o modo de produção capitalista depende, necessariamente, da exclusão. A inclusão é vista como desafio para a escola do Século XXI. Onde educação para todos é o lema a ser seguido.

As atividades realizadas no interior das escolas e da sala de aula se distanciam da eficiência constatam o descaso do Estado com a escola publica em múltiplas determinações sociais e econômicas.

  • Políticas Públicas Educacionais

As Políticas Públicas Educacionais aqui se refere ao desenvolvimento do trabalho do Estado e a participação do povo nas decisões, entendendo que:

Se “políticas públicas” é tudo aquilo que um governo faz ou deixa de fazer, políticas públicas educacionais é tudo aquilo que um governo faz ou deixa de fazer em educação. Porém, educação é um conceito muito amplo para se tratar das políticas educacionais. Isso quer dizer que políticas educacionais é um foco mais específico do tratamento da educação, que em geral se aplica às questões escolares. Em outras palavras, pode-se dizer que políticas públicas educacionais dizem respeito à educação escolar (OLIVEIRA, 2010).

No Brasil essas políticas tem contemplado amplamente o aspecto social, abordando não só educação, mas saúde, cultura, esporte, justiça, assistência social, etc.

         Segundo Melo (1991, p.9) essa demanda na educação deve-se:

A concepção assistencialista da função da escola e do processo pedagógico gerou uma demanda por especialistas de diversas naturezas, de administradores de nível superior a médicos, dentistas, assistentes sociais e nutricionistas, ocasionando um ônus a mais nas folhas de pessoal que hoje comprometem de 80 a 95% dos orçamentos destinados à educação na maioria dos estados e municípios, esferas de governo que arcam com a parte mais significativa dos gastos, com a manutenção do ensino fundamental e médio.

Diante destes aspectos as Políticas Públicas estão engajadas a um enfrentamento de problemas existentes no cotidiano das escolas, reduzindo a qualidade na educação.

O desenvolvimento de uma cultura participativa, de uma inquietação pedagógica com a não-aprendizagem, da busca dos aportes teóricos da ciência da educação, legitima a ideia de que a não-aprendizagem é uma disfunção da escola e que a reprovação e a evasão são mecanismos de exclusão daqueles setores sociais que mais necessitam da escola pública. Isso levou à convicção da necessidade de reinventar a escola, de redesenhá-la de acordo com novas concepções. Os avanços na formação em serviço evidenciaram aos educadores que a estrutura convencional da escola está direcionada para transmissão, para o treinamento e  para a repetição, tendendo a neutralizar as novas proposições pedagógicas, no máximo transformando-as em modismos fugazes. (AZEVEDO, 2007).

Neste aspecto, as Políticas Públicas Educacionais ficam ligadas diretamente com a qualidade da educação e, tornam esse viés de enfrentamento lutas e demandas nesse confronto ideológico para superar essas políticas de educação que vem sendo formuladas em cada governo para ajustar situações econômicas e sociais momentâneas.

  • Os desafios da Escola e uso das tecnologias.

Apenas no século XX é que a ideia da educação como propulsora de igualdade econômica e social pode ser relacionada com a de direito a ser garantido pelo Estado. (ARAUJO, 2011, p.5), principalmente através da Conferência Mundial de educação para todos acontecida em 1990 na Tailândia.

Percebe-se que com o avanço da tecnologia, a escola precisa adequar-se pra viver o momento digital. Já dizia Almeida nos anos 80 que o computador desenvolve-se num mundo de supervalorização do pensar, onde ganha espaço no trabalho e diminui as fronteiras, operando na ordem das consciências e nos espaços sociais. (Almeida, 1988).

Segundo esse mesmo autor, o computador é um componente do processo global da educação no Brasil, além de um instrumento de melhora de algumas escolas (públicas ou particulares); não que seja um solucionador de problemas reais, pois é necessário que haja um levantamento dos problemas da escola, mas um auxiliador deste processo. (Almeida, 1988).

Conforme Pereira e Silva (2013, p. 7) aborda a questão da educação com o uso da informática e para a inclusão:

a construção do conhecimento na sociedade da informação, a inclusão, a diversidade humana e social, tão enfática em nosso imenso país, as novas concepções do processo de aprendizagem colaborativa, revisão e a atualização do papel e das funções do professor, a formação permanente deste, a compreensão e a utilização das novas tecnologias, visando à aprendizagem dos nossos alunos e não apenas servindo para transmitir informações. Porém, fazendo uso da informática no e para o ensino, para a educação e para a inclusão.

Dessa forma O desenvolvimento tecnológico além de reorganizar as relações de trabalho, exige uma preparação específica para uso e inserção em sistemas de informação. (NETO, 2006).

Assim o papel do professor vai além de ministrar e ser responsável por uma disciplina. O objetivo agora é e fazer com que os alunos busquem e que não esperem uma resposta já decifrada, pois é desse tipo de situação que eles vão atuar no cotidiano. O uso das ferramentas tecnológicas é fundamental para essa nova etapa. O próprio mercado exclui os despreparados no manejo das novas ferramentas tecnológicas.

Considerações Finais

Nota-se que a Educação veio sendo idealizada no Brasil ao longo do século XX e aponta alguns desafios frente uma demanda política e econômica imposta pelo cenário emergente.

A globalização, as constantes transformações no cenário tecnológico e as frequentes crises na economia mundial mostram desafios que a escola precisa superar, principalmente no uso das tecnologias. É necessário, portanto novas atitudes e posturas, as quais visem adaptar às exigências impostas pela tecnologia para uma qualidade na educação.

Uma forma para acontecer essa integração visa busca de conhecimentos no âmbito das Tecnologias de Informação e Comunicação e posturas didáticas que proporcionem melhoria no processo do ensino e da aprendizagem, e que visem  formar de cidadãos tanto capazes de conviver com os avanços da tecnologia bem como estarem inseridos no mercado de trabalho.

Referências Bibliográficas

ALMEIDA, Fernando José de. Educação e Informática: os computadores na escola. Cortez: SP, 1988.

ALTHUSSER, Louis. Ideologia e aparelhos ideológicos do Estado. 3ª ed. Lisboa: Presença, 1980. Tradução de Joaquim José de Moura Ramos.

ARAUJO, G. C. Estado, política educacional e direito à educação no Brasil. Educar em Revista, Curitiba, Brasil, n. 39, p. 279-292, jan./abr. 2011. Editora UFPR.

AZEVEDO, José Clovis de. Educação pública: o desafio da qualidade. Estud. av. v.21. n.60. São Paulo. May/Aug. 2007.

FREIRE, P. (2000). Pedagogia da indignação: cartas pedagógicas e outros escritos. São Paulo: Editora UNESP, 2000.

LUKESI, Cipriano Carlos. Filosofia da Educação. São Paulo: Cortez, 2003.


MACIEL, Antônio C.
. A incansável luta da escola pública contra o diabo às portas do inferno. Revista EDUCAmazônia – Educação Sociedade e Meio Ambiente, v. XI, p. 74-106, 2013.

MELO,  Adriana  Almeida  Sales  de. A  mundialização  da   Educação:  consolidação  do  projeto neoliberal na América Latina. Brasil e Venezuela. Maceió: EDUFAL, 2004.

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NETO, Ivan Rocha. Tecnologia, Educação e Trabalho. In: Revista Tecnologia e Sociedade, Curitiba, n. 2, 1º sem. 2006.

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PEREIRA, Maria da Conceição & SILVA, Tânia Maria. O Uso Da Tecnologia Na Educação Na Era Digital. Revista Saberes Em Rede CEFAPRO De Cuiabá/MT, JUL/DEZ 2013.

SILVA, Márcio José da. Educação de Jovens e Adultos: Uma análise do itinerário educativo e laboral dos ingressos da cidade de Colorado do Oeste-RO. Tese de Mestrado pela Universidad de Desarrollo Sustentable, UDS, em julho de 2017.


[1] Mestre em Ciências da Educação (UDS); Especialista em Administração e Gerenciamento Escolar (UNIR/RO); Especialista em Educação de Jovens e Adultos (IFMT); Graduado em Matemática (UNIR/RO).E-mail: marciojosedasilva28@gmail.com

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