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A importância de um Currículo escolar multiculturalista

Anna Luiza Souza Oliveira

Laiara Aiany da Silva

Manoella Jonas Ferreira da Silva

Resumo

Este trabalho foi desenvolvido durante a disciplina de Currículos e Culturas Escolares. Como objetivo pretende discutir sobre a relevância de um currículo multiculturalista no ambiente escolar. Para o alcance do objetivo a metodologia adotada foi uma pesquisa bibliográfica, pautada nos autores Silva (2020), Neira (2014), Gonçalves (2010) e Neto (2013). Conclui-se que uma formação multicultural reflete positivamente para uma cidadania, aceitação e respeito para com o outro, sendo dever do docente e da escola, para construir um currículo que abarque as diferenças.

Palavras-chave: currículo. Multiculturalismo. Prática docente. Formação. Diversidade.

Abstratc

Introdução

O presente trabalho é resultado de uma pesquisa desenvolvida durante a disciplina Currículo e Culturas Escolares, desenvolvida no Curso de Pedagogia, da Faculdade de Educação (FACED), da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), durante os anos de 2021 e 2022.

Segundo Silva (2020) as teorias do currículo se fazem através da representação de uma realidade que a precede, sendo ele o currículo. O último é sempre um resultado de seleções de conhecimento – não são conhecimentos válidos, mas conhecimentos que são considerados socialmente válidos -, assim, intrinsicamente, também é uma questão de identidade e subjetividade.

Desse modo, o currículo é uma disputa de poderes, pois este não há uma neutralidade para a escolha dos conhecimentos socialmente válidos. Há um processo lógico e social, a qual convive fatores epistemológicos e intelectuais, sendo feito uma seleção de conteúdos que se acham necessários para a formação dos educandos. Assim, podemos afirmar que o currículo não é algo fixo e estático, mas um artefato social e histórico, sujeito a mudanças de acordo com a época e pensamentos existentes.

Isto posto, uma formação multiculturalista há vários aspectos positivos, pois, formam sujeitos críticos e ativos, como também pessoas que respeitam a diversidade cultural. E a partir disso, ao longo do nosso trabalho iremos responder a seguinte questão: de que forma um currículo multiculturalista pode auxiliar na formação dos discentes?

O objetivo geral da nossa pesquisa é: discutir sobre a relevância de um currículo multiculturalista no ambiente escolar. E os específicos: identificar e descrever o que é e a utilidade de um currículo na escola; discutir e expor a importância de trabalhar com as diferenças dentro da sala de aula.

O nosso trabalho está dividido em três partes, sendo elas: a primeira a introdução, que expomos os objetivos de nossa pesquisa; o segundo, o desenvolvimento, que iremos dialogar, explicitar e responder o problema da pesquisa; e por último, a conclusão, que iremos tecer algumas considerações finais sobre a temática em questão.

Tomando o objetivo central e a questão orientadora para a pesquisa, a metodologia adotada é a abordagem qualitativa (BOGDAN; BIKLEN, 1994), privilegiando a pesquisa bibliográfica. Os autores pautados são: Silva (2020), Neira (2014), Gonçalves (2010) e Neto (2013).

Currículo multiculturalista no ambiente escolar.

O currículo escolar é um norteador do trabalho docente nas escolas, no sentido de apresentar o que se pretende ensinar, e como esse ensinamento vai ser aplicado. Não é um documento fixo: embora deva conter elementos da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), uma vez que a Base define alguns conteúdos essenciais para o ensino, ele muda de acordo com cada instituição, tendo em vista que nele deve conter as metodologias e abordagens pedagógicas adotadas por cada escola. É um instrumento de muita importância para o processo de construção da identidade de cada entidade. Um currículo adequado funciona como um orientador para o trabalho nas instituições, e deve ser usado como base para o planejamento escolar e para a prática docente.

Os conhecimentos sugeridos no currículo devem representar e incluir todos os indivíduos que integram o ambiente escolar, de modo que os interesses de todos sejam atendidos. Dessa maneira, o currículo deve ser elaborado em conjunto com a comunidade escolar, de forma que atenda a todas as culturas. De acordo com GONÇALVES (2010, p.4), “o saber é cultural, e se constitui pela interação com outras pessoas pertencentes a nossa cultura, assim, ele se transforma a partir da troca de experiências e da reflexão coletiva”. Sendo o currículo um norteador para o trabalho do professor, é necessário que se faça presente nele conteúdos e metodologias que abracem a todos. Assim, quando o docente for trabalhar dentro das salas de aula, os alunos se sentirão notados e representados dentre da cultura a que pertencem.

A formação do professor deve se adequar à contemporaneidade, reforçando a inclusão das classes sociais marginalizadas. A população de baixa renda sempre foi inferiorizada, em todos os âmbitos. No que se trata da educação, não é diferente, visto que o currículo de escolas tradicionalistas é formulado para um grupo de pessoas mais privilegiadas. Por isso, os docentes devem reformular o currículo de acordo com a individualidade de cada aluno, como raça, classe social, crença e cultura, evitando o isolamento dos grupos subalternos.

O professor reflexivo é aquele capaz de entender a realidade social, política e cultural dos alunos e se identificar com ela. Por isso, ele cria possibilidades para que as condições emergentes passem por transformações necessárias para uma relação mais igualitária entre os sujeitos (Neto, 2013, p.22)

Ainda de acordo com Neto (2013), o Brasil é marcado por sua diversidade, como as diferenças regionais, organização social, os modos de relação com a natureza, as crenças, a orientação sexual, gênero. A vivência das pessoas que moram no campo e das pessoas que moram na cidade é marcada por muitas diferenças devido o ritmo de vida. Outro exemplo da diversidade cultural no país é a miscigenação, que se deve aos processos migratórios, marcado por diferenças linguísticas, de costumes, de valores, de projeto de vida. A diversidade se expressa de diferentes formas de acordo com o contexto social em diferentes sociedades.

Neira (2014) expõe que em um currículo multicultural não apenas valoriza e reconhece as diferenças, mas expõe a resistência e a construção da identidade cultural, garantindo a diversidade, superando a discriminação, a opressão e as injustiças sociais. O autor reitera que “toda decisão curricular é uma decisão política” (2014, p.127), portanto, promovendo o currículo multiculturalista, com texto e atividades culturais, influencia na forma de interpretar o mundo, de interagir, de comunicar suas ideias e até mesmo os seus sentimentos, também deveria conter os saberes do local que a escola está locada.

O que se nota é que o currículo escolar em vez de evidenciar essa diversidade natural do país, muitas vezes ignora, e por ignorar a realidade cultural em que o aluno está inserido, acaba por ignorar também o próprio aluno, que se sente excluído em um espaço que deveria ser um ambiente inclusivo e acolhedor.

Entretanto, a educação multicultural é uma realidade complexa, com diversos matizes e não pode ser entendida como um modismo, um elenco de “coisas” que devem ser acrescentados à educação, mas que deve ser realizada numa perspectiva de buscar a implementação do pluralismo e da diversidade em todas as propostas através das profundas raízes culturais da sociedade. Por isso, é necessário partir de um conceito mais aberto e amplo de cultura onde a diversidade e a multiplicidade sejam a base de apoio. A perspectiva multicultural não busca reinventar as práticas pedagógicas, mas acima de tudo, reorientar o currículo de forma que possa ser revisto o papel da escola e suas relações com a comunidade (Neto, 2013, p.28)

De acordo com Neira (2014), se quisermos romper esse currículo que ignora a diversidade, teríamos que aderir a diferença, a equidade, inclusão, justiça, o diálogo e o reconhecimento nos currículos escolares. Assim, impedindo a reprodução consciente e inconsciente da ideologia dominante, valorizando as vozes de todos os indivíduos, que frequentemente são silenciados. O autor reitera (2014, p.129) que:

O currículo multicultural prestigia, desde seu planejamento, procedimentos democráticos para a decisão dos temas que serão estudados e das atividades de ensino. Valoriza a reflexão crítica sobre práticas sociais do universo vivencial dos alunos para, em seguida, aprofundá-las e ampliá-las mediante o diálogo com outras vozes e outras manifestações. No currículo multicultural, a experiência escolar é um terreno aberto ao debate, ao encontro de culturas e à confluência da diversidade de expressão dos variados grupos sociais. É um campo de disseminação de sentidos, de polissemia, de produção de identidades voltadas para a análise, interpretação, questionamento e diálogo entre e a partir das culturas.

Portanto, essa forma de currículo promove um diálogo com troca de ideias, de culturas, com reflexões críticas, desse modo, diálogos que respeitem a diversidade cultural, superando processos discriminatórios.

O currículo multicultural coloca os estudantes como transformadores sociais, contribuindo consequentemente, para uma sociedade mais justa e democrática, que pense em todos. Sendo assim, a escola deve pensar em práticas pedagógicas ligadas a diversidade e a identidade dos discentes, que eles sejam chamados a refletir sobre as suas culturas e hábitos, assim como refletir sobre a cultura e hábitos dos outros grupos, ligando ao contexto da vida comunitária. Segundo Neira (2014, p.129-130), “o currículo multicultural deve comprometer constantemente os alunos com a problemática de suas situações existenciais”.

Considerações finais

Dado o exposto, é necessário que o professor, em especial a escola, assuma um currículo multiculturalista, para que haja uma formação crítica, respeitosa e ética dos educandos. É importante questionar os estereótipos criados e quais são os conhecimentos produzidos e transmitidos pelas instituições, destacando o etnocentrismo e os padrões que são impostos pelos grupos dominantes (NETO, 2013).

Para uma prática emancipadora dos padrões, é indispensável integrar todas as culturas nos saberes educacionais, e também, analisar e definir como a escola pode trabalhar e atender a diversidade existente. É nítido que não é uma questão fácil, pois abarca diversas realidades, saberes e culturas, porém, é imprescindível que todos tenham uma formação intercultural.

Desse modo, é muito importante que o docente construa um espaço heterogêneo, para que os discentes tenham uma oportunidade de serem quem são e que possam ratificar seus conhecimentos.

Referências

BOGDAN, R. C.; BIKLEN, S. K. Investigação Qualitativa em Educação – uma introdução à teoria e aos métodos. Porto: Porto Editora, 1994.

GONÇALVES, Fernanda Carneiro Leão. Estudos culturais e curriculo multicultural: contribuições para reflexão do curriculo na escola. ACADEMIA Accelerating the world‘s research, 2010, p. 1-6.

NEIRA, Marcos Garcia. Cruzando fronteiras: o currículo multicultural e o trabalho com as diferenças em sala de aula. Lantuna, Santiago (Cabo Verde), v. 1, p. 119-136, 2014.

NETO, Yolito Gonçalves. A prática pedagógica frente ao desafio de trabalhar com um currículo multicultural na formação de professores. Trilhas Pedagógicas, v. 3, n. 3, Ago. 2013, p. 19-28.

SILVA, Tomaz Tadeu. Documentos de identidade: uma introdução às teorias do currículo. Belo Horizonte: Autêntica 2020.

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