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O Poder da Palavra no Processo de Humanização da Educação

Rosa Maria Rigo

 

publicado em 07/07/2011 como www.partes.com.br/educacao/poderdapalavra.asp

 

Rosa Maria Rigo é graduada em Comunicação Social pela UNISINOS/RS e Pedagogia Multimeios e Informática Educativa pela PUCRS. Especialista em Administração de Recursos Humanos pela PUCRS e Terceiro Setor pela FIJO/PUCRS. Atualmente cursando disciplinas de Mestrado em Educação na PUC/RS.

Resumo
A palavra, esse dom celeste que Deus deu ao homem e negou a todos os outros animais, é a mais sublime expressão de toda natureza, ela revela o poder do criador, e reflete toda a grandeza da sua glória divina. Servindo de mediação entre educador e educando a palavra tem seus significados e sentidos construídos a partir da relação destes dois sujeitos, tornando possível o ato educativo concebido como participação, criatividade, expressividade e relacionalidade.

Palavras-chave: educação, humanização, poder, palavra.

 

abstract

The word, this sun heavenly that God gave to man and denied all other animals, and the most sublime expression of the whole nature, it shows the power of the creator, and reflects all the greatness of his divine glory. Serving of mediation between the teacher and student the word has its significance and meanings are constructed from the relation of these two subjects, making possible the educational act designed as participation, creativity, expressiveness and relationality.

Key Words: education, humanization, power, word

O uso da palavra define o ser humano. A palavra é a unidade básica do pensamento e da fala, e sempre chega a seu destino, o receptor. As palavras que dizemos ficam gravadas em nosso inconsciente e se misturam ao nosso destino, e dependendo da interpretação que a ela atribuímos poderá resultar positiva ou negativamente.  Tanto as palavras que proferimos como as que pensamos ficam gravadas num mundo sutil, e têm o poder de influenciar profundamente a nossa vida presente e futura. Portanto o poder da palavra é enorme. Ela pode salvar, condenar, iluminar, causar escuridão, adoecer, curar ou dar esperança.

         A palavra, de modo geral serve-nos para comunicar algo. Mas há diferenças entre a palavra falada e a palavra escrita. Basicamente, a palavra falada carrega em sua exposição, toda uma carga emocional. Já a palavra escrita sofre muitíssimo a perda da expressão, tendo que, se necessário, juntar um modo explicativo para expressar corretamente a fala original. O Ser Humano é o único ser vivo no planeta Terra que utiliza a palavra como meio de comunicação intrapessoal (consigo mesmo) e interpessoal (com o outro). A palavra é um símbolo que expressa uma ideia, e está intrinsecamente relacionada com nossa mente. A mente, por sua vez, está relacionada diretamente com nossos sentimentos, com nosso corpo, com nossas atitudes e com nossas ações. Portanto, a palavra escrita ou falada  tem grande influência na maneira como vivemos, pois é através dela que a maioria das pessoas se comunica com o mundo externo e até interno.

         Na contemporaneidade os recursos da tecnologia nos permitem uma integralização com tudo e com todos. Tudo pode ser divulgado em alguma mídia. Todos podem ser produtores e consumidores de informação. Entretanto essa enxurrada de informações, se não analisadas criteriosamente podem ser inúteis, não comunicando nada importante e acabam caindo no vazio. Portanto saber utilizar os recursos e a palavra de maneira equilibrada é, pois, uma prática que se constitui num ponto central para o caminho da sabedoria, onde a pessoa poderá seguir princípios norteadores caracterizados pelo necessário respeito ao outro e pela necessidade de construir relações humanas recíprocas. É basicamente através da palavra que crianças e adolescentes que têm um modelo, recebem afeto e limites em casa e no colégio. Estas crianças muito raramente se envolvem com drogas, violência, pois se nutrem de relacionamentos estáveis e sadios. Portanto, nossa relação com o educando, seja filho ou aluno, não pode ser permissiva, mas sim, intensa e pró-ativa, definindo limites, disciplina, respeito às normas e à hierarquia. Até porque quem ama educa, impõe limites e privações. Sem disciplina não há aprendizagem nem na escola nem para a vida.

         Em cada etapa da vida, é bom que o educando cometa pequenos erros e seja responsabilizado por eles. Mas também que tenha clareza das consequências dos grandes ou irreversíveis erros para que possa evitá-los. A criança e o adolescente devem adquirir o direito de fazer escolhas, aprendendo a se auto-administrar. “Sem liberdade, o ser humano não se educa. Sem autoridade, não se educa para a liberdade”. PIAGET, (1896-1980, p. 37). Como educadores devemos dar-lhes raízes e asas (valores e liberdade). Educamos pouco pelos cromossomos e muito pelo como-somos (exemplos). Sai sempre ganhando quem sabe amar, dialogar, conviver com erros e também quem sabe ser firme e coerente em suas atitudes. Todavia, somos todos parte de uma teia imensurável e inseparável das relações, é nossa responsabilidade perceber as possibilidades do amanhã, pois antes de tudo somos os únicos responsáveis por nossas descobertas, nossas palavras, nossas ações, e os reflexos das mesmas no universo em que estamos inseridos.

         Todos nós seres humanos precisamos ser instigados, acariciados, não precisamos apenas de belas palavras capazes de contrapor uma idéia, precisamos sim de um ideário pedagógico de atos e fatos reais, concretos não apenas através de palavras, mas onde a palavra dita com amor e respeito ao próximo caiba sem tréguas. Precisamos aprender a estabelecer cenários interativos no mundo da educação. Cenários em que a confiança no outro, a partilha do afeto, a corresponsabilidade e o sentimento verdadeiro sejam percebidos, internalizados, evidenciando-se que, o que vale a pena na vida, é a coragem de construir juntos, pessoas e mundo de fato humanos, bem como criações consistentes através do saber e do aprender. A UNESCO publicou um estudo de Delors de 1996 onde o autor destaca quatro premissas norteadoras para o processo ensino/aprendizagem: Aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a conviver, aprender a ser – que, em conjunto, buscam integrar conhecimentos de diferentes componentes curriculares. O mais significativo para a reflexão é a busca evidente da dimensão humana e social onde a aprendizagem possa cumprir seu papel no percurso de construção da cidadania, para que alunos e professores entendam a sociedade em que estão inseridos como um processo permanente de reconstrução humana.  Para que esta realidade se torne impregnada da consciência, há a necessidade de enriquecer o conhecimento e o convívio, qualificar as ações, há necessidade de que os “pilares” fundamentais que constituem a aprendizagem sejam contemplados: aprender a conhecer, ou seja, ser portador das ferramentas da compreensão; aprender a conviver, para buscar a integração do sujeito com o meio ambiente em todas as suas atividades; aprender a fazer, a fim de agir sobre o meio em que está inserido.

         Diante de tantos horizontes, abertos por novos olhares em todos os campos da experiência humana com o saber, uma educação humanizadora deverá abrir-se à possibilidades e alternativas não apenas do ponto de  vista da ciência, mas voltar seu olhar de maneira a reencantar a educação, de poetizar a escola e de espiritualizarmos o ensino. A humanização acontecerá na medida em que o indivíduo se dispõe a uma vivência relacional segundo a qual é possível estabelecer uma relação dialógica, permitindo-se assim descobrir-se e conhecer-se. Neste sentido, uma educação humanizadora não é aquela que consegue preencher apenas alguns ciclos da vida de uma pessoa, mas sim aquela que deve ser aberta por toda a vida, que possibilite descobrir a inteireza de uma experiência única em cada instante, através de conexões, interações e  diálogos.

         Paulo Freire (1996. p.46), nos enfatiza da importância de haver uma relação dialógica entre educadores e educandos, para a construção de uma educação humanizadora justa e solidária para todos. Para ele estabelecido o diálogo processar-se-á a conscientização onde:

Ø       Todos participam igualmente e procuram pensar e agir criticamente;

Ø       Parte da linguagem comum que exprime o pensamento que é sempre um pensar a partir de uma realidade concreta. A linguagem comum é captada no próprio meio onde vai ser executada a sua ação pedagógica;

Ø       Exige humildade, colocando-se elite em igualdade com o povo para aprender e ensinar, porque percebe que todos os sujeitos do diálogo sabem e ignoram sempre, sem nunca chegar ao ponto do saber absoluto, como jamais se encontram na absoluta ignorância;

Ø       Implica na esperança de que nesse encontro pedagógico sejam vislumbrados meios de tornar o amanhã melhor para todos e, supõe paciência de amadurecer com o povo, de modo que a reflexão e a ação sejam realmente sínteses elaboradas pelo povo.

Neste sentido, sendo a escola o setor responsável por permitir o desenvolvimento cultural, cabe a ela incorporar tais valores. Estes referenciais devem acontecer através da transdisciplinaridade. Os valores devem fazer parte da vida do educador, não apenas em seus discursos, estes podem ser praticados no cotidiano escolar através de projetos coletivos ou pessoais. Uma das maneiras de aumentar o poder de realização pessoal é alinhar a sua palavra com suas atitudes e ações. Neste sentido, a escola que se dispõe a trabalhar com estes valores não deve ser partidária da cultura tradicional. A escola deve ser o lugar onde valores morais são passados, refletidos e não apenas impostos por hábitos, até porque nos dias atuais, nada se impõe. Portanto, ela deve ser democrática, comprometida com uma ação reflexiva sobre questões relacionadas a valores morais, pois assim estará contribuindo para que os jovens possam construir sua própria escala de valores.

Parafraseando Moran, com a chegada dos recursos tecnológicos a escola esta sendo pressionada a mudanças, assim como acontece com as demais organizações. Percebe-se que a educação é o caminho fundamental para transformar a sociedade, e neste sentido há uma expectativa  de que as novas tecnologias trarão soluções rápidas para o ensino. Certamente que, com o apoio de ferramentas audiovisuais por exemplo,  pode-se estabelecer pontes novas entre o presencial e o virtual, mas a escola deverá com a ajuda dos recursos tecnológicos oferecer um ensino de qualidade,  projetos inovadores, dinâmicos, com um projeto pedagógico coerente, aberto e participativo, com infra-estrutura adequada, atualizada, confortável, com docentes bem preparados intelectual, emocional e eticamente bem remunerados, motivados e com boas condições profissionais. Mas para que isso efetivamente seja possível, nunca foi tão necessário revalorizar a palavra, devolver-lhe poder de verdade, de compromisso.

         Portanto acredito que, todo desenvolvimento verdadeiramente humano deve compreender o desenvolvimento conjunto das autonomias individuais, das participações comunitárias e da consciência de pertencer à espécie humana. Portanto acredito que, precisamos humanizar o conhecimento para revolucionarmos a educação. Humanizar o conhecimento através da palavra é estimular a ousadia, promover a perspicácia, cultivar a criatividade, estimular a sabedoria, expandir a capacidade crítica, estimular a reflexão, desenvolver a socialização, estimular a afetividade, construir relações sociais saudáveis, superar conflitos, enfim, valorizar o ser. Agindo assim, poderemos criar a escola dos sonhos, uma escola que educa jovens para que consigam extrair força de suas fragilidades, segurança para enfrentar seus medos, esperança, que saibam extrair lições de sabedoria mesmo quando tenha fracassado, que saibam  estabelecer pontes entre a reflexão e a ação, entre a experiência e a conceituação, entre a teoria e a prática; quando ambas se alimentam mutuamente.

REFERÊNCIAS

DELORS, Jacques. EducaçãoUm Tesouro a Descobrir: Relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI. Portugal: ASA, 1996.

FREIRE, Paulo. Medo e Ousadia – O cotidiano do professor, São Paulo, Paz e Terra, 10ª ed, 2003.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo, Paz e Terra, 1996.

MORAES, Maria Cândida. SENTIPENSAR – Fundamentos e estratégias para reencantar a educação, Petrópolis, Vozes, 2004.

MORAN, José Manoel, Novas Tecnologias e Mediação Pedagógica, Campinas-SP, Papirus, 3ª ed, 2001.

Sobre a autora:
Graduada em Comunicação Social pela UNISINOS/RS e Pedagogia Multimeios e Informática Educativa pela PUCRS. Especialista em Administração de Recursos Humanos pela PUCRS e Terceiro Setor pela FIJO/PUCRS. Atualmente cursando disciplinas de Mestrado em Educação na PUC/RS.

E-mail: rosa-maria.rigo@serpro.gov.br

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