Educação

A teoria inatista de aquisição da linguagem

Por Antônio Rômulo Bezerra de Sousa e colaboradores

Esse artigo tem por finalidade mostrar a teoria inatista de aquisição da linguagem, dividida sob vários aspectos. Este foi subdividido em: a Hipótese gerativo-transformacional, o Cognitivismo construtivista, a Gramática universal e sua relevância.

              A primeira parte irá tratar, sobre a Hipótese gerativo-transformacional. O Inatismo, hipótese abordado por Noam Chomsky, defende que o ser humano é provido de uma gramática inata, ou seja, esta já nasce com a pessoa, e vai tomando forma conforme o seu desenvolvimento. E a criança toma como base para seu desenvolvimento a fala dos adultos, que servem de estrutura para o desenvolvimento de suas próprias regras. A partir do momento que a criança incorpora como modelo algumas estruturas da língua mãe, não é porque imitou, mas por que incorporou novos modelos de regras para sua língua.

              Chomsky, defende também que a criança possui um dispositivo de aprendizagem chamado de DAL, que é ativado e se processa a partir de sentenças,  que recebe o nome de IMPUT, que tem como resultado a língua a qual a criança está exposta. O IMPUT, é formado por muitas regras e a criança em contato com a língua, seleciona as regras que funcionam para aquela língua, desativando as que não funcionam. De acordo com essa proposta, a criança tem uma Gramática Universal GU, inata e que contém todas as regras de todas as línguas.

              Outra teoria também defendida por ele é a teoria dos princípios e parâmetros, esta muda a concepção que se tem da gramática universal. Segundo esta, a gramática universal é formada por princípios ou “leis” invariantes que são aplicadas do mesmo modo para todas as línguas, e parâmetros ou “leis”, onde os valores de acordo com cada língua, que dão origem às mudanças entre as línguas e as mudanças dentro da própria língua. Então, cabe a criança, escolher através do IMPUT o valor que o parâmetro deve ter.

              No ponto em que se fala sobre o cognitivismo construtivista, faz-se um paralelo contraditório entre o behaviorismo de Skinner que defendia que a linguagem era um conjunto de comportamentos e o inatismo de Chomsky que afirma que a linguagem vem de uma herança genética, isto é, inata, onde se nasce com uma gramática na mente e que se desenvolve no decorrer do tempo. Diz ainda que se a criança dependesse de aprender através de imitação, como ressaltava o behaviorismo, ela nunca teria uma gramática perfeita.

              Na terceira parte, trata-se sobre a Gramática Universal e sua relevância, atentando para aspectos importantes abordados por Lyons sobre a teoria chomiskiana.

              Primeiro ele mostra como o mentalismo chomiskiano, se caracteriza como antimaterialista e antibehaviorista, discordando que a linguagem é igual a qualquer outro comportamento que pode ser explicado através de estímulos – reforço – resposta, e ainda que essa vem de experiências com o meio.

              Lyons, ainda ressalta algumas diferenças sobre a proposta de Chomsky acerca do pensamento, que o homem já nasce dotado de determinados preceitos, que se usarão para resolver outros, e também sobre a origem da linguagem, que esta e sua aquisição também tem caráter inato.

              Fala ainda sobre a importância dos estudos de Piaget. Mostrando as quatro fases que a criança passa, sendo a mais importante a passagem da sensório-motora para a pré-operacional. E que Piaget ressalta que a evolução cognitiva é pré-ordenada, isto é, inata, sendo assim, este partilha do mesmo pensamento de Chomsky.

  1. A HIPÓTESE GERATIVO TRANSFORMACIONAL

              O inatismo é uma hipótese, defendida por Chomsky, de que o ser humano é dotado de uma gramática inata, ou seja, essa teoria postula que o ser humano vem programado biologicamente para o desenvolvimento de determinados conhecimentos, essa proposta procura dar conta da competência e criatividade do falante.

               Para reforçar isso vejamos: Vamos supor uma criança de um ano e pouco, mais de um ano e meio, que por sua vez começa a falar as primeiras palavras, estas serão possivelmente mamã e papá, decorrente daí surgem suas primeiras produções orais. Vamos dizer agora, que esta já esteja com três anos de idade, e não estará falando apenas palavras, mas sim frases, como por exemplo: vovó solandu, ou seja, ela quis dizer que a vovó está chorando. Pelo que se pode perceber são frases curtas e gramaticalmente incompletas, no entanto os adultos  passam a compreender o que a criança diz, devido estarem, habituados com sua linguagem.

            Um linguista adepto da teoria gerativo-transformacional atentando mais para sintaxe do que para a fonologia ou a morfologia, dirá que essa criança já adquiriu uma certa competência linguística, apesar das pequenas imperfeições em seu desempenho. Portanto, dentro dessas limitações que essa criança já é competente em sua língua materna.[1]

              Um linguista olhar mais para a sintaxe do que para fonologia e morfologia, ressalta que a criança já possui uma certa competência linguística, apesar dos pequenos erros apresentados nas frases anteriores, então se conclui que a criança já é competente em sua linguagem.

              Ao se comparar frases de crianças com a de adultos, chegasse à conclusão que elas não são imitações da fala dos adultos, pois o discurso da criança é ordenado por regras, pois as crianças possuem várias palavras diferentes da gramática dos adultos, no entanto e a partir do discurso dos adultos, que a criança passa a desenvolver seu próprio sistema de regras subjacente às suas elocuções.

              Como exemplo disso é, quando a criança diz “fazi” em vez de “fiz” o que podemos ressaltar é que ela não aprendeu esta palavra devido à repetição, pois com certeza ela nunca ouviu nem o pai nem a mãe dizendo “fazi”. A explicação é que a forma “fazi”, é resultante do padrão dos verbos regulares da segunda conjugação, portanto a criança se adaptou a dizer por exemplo, “bebi” em vez de “beber”, ou então “comi” em vez de “comer” e é decorrente daí que quando a criança ouve alguém dizer fazer ele só diz “fazi”.

              A conclusão que se chega é que durante o processo de aquisição da linguagem, a criança perceberá na língua, estruturas hierarquizadas e a partir disso ela as incorpora a sua gramática, o mesmo afirmará também que ela já nasce com uma capacidade inata de aquisição da linguagem, devemos ressaltar também que essa aquisição da língua materna é uma consequência normal do seu desenvolvimento maturacional, portanto é um reflexo da sua capacidade para levantar hipóteses, e a partir de então ela passa a buscar e a descobrir certas regularidades existentes na língua, consequentemente a criança estará pronta para adquirir a língua, e com isso ela irá formular suas hipóteses e a partir disso vai cada vez mais aproximando a sua linguagem a do modelo adulto.

              Atualmente, existem outros argumentos a favor da hipótese inatista, defendendo que a faculdade da linguagem não é um modelo da cognição. Pinker ressaltou o fato de que pessoas com atraso ou problemas mentais não necessariamente têm problemas linguísticos, no entanto existem casos de famílias inteiras com problemas linguísticos, enquanto que suas capacidades cognitivas são absolutamente normais.

              Para Chomsky, a criança tem um dispositivo de aquisição da linguagem, ou seja, DAL, que é inato e é ativado e que trabalha a partir de sentenças, conhecido por IMPUT, e tem como resultado a gramática da língua a qual a criança ficará exposta, para ele, este dispositivo é formado por uma série de regras, e cabe a criança em contato com as sentenças de uma língua, selecionar aquelas regras que funcionam naquela língua utilizada por ele, e excluindo as que não tem nenhum papel.

              Segundo essa proposta, a criança tem uma Gramática Universal (GU) ela é inata e contem às regras que serão ativas na língua que está adquirindo.

              Outra teoria de Chomsky é a teoria de princípios e parâmetros, onde, o conceito de gramática universal muda. De acordo com essa teoria, a gramática universal seria formada por princípios, ou seja, “leis”, em que os valores variam de uma língua como também a mudança numa mesma língua. O trabalho da criança será o de escolher a partir do IMPUT, ou seja, ela deverá determinar o valor que um determinado parâmetro deva tomar.

              Um outro, ponto importante é o do desenvolvimental, que deve mostrar a variabilidade, e do tempo real em que esse processo ocorre. Existem propostas para tentar responder a este ponto importante, uma é a hipótese maturacional onde os parâmetros estão programados geneticamente para serem fixados em estágios diferentes de maturação, de modo gradual, onde processo maturacional seria o que provocaria a passagem, isto é, a transformação da gramática universal para a gramática da língua a ser apreendida.

              A outra é a continuista, dividida em hipótese de competência plena/total, segundo ela todos os princípios estão disponíveis desde o inicio, se os parâmetros não são fixados imediatamente, é por que há dificuldades. A da aprendizagem lexical, é a que diz que embora os princípios estejam todos disponíveis, o desenvolvimento sintático será guiado pela aprendizagem de novos itens lexicais e morfológicos.

  1. O COGNITIVISMO CONSTRUTIVISTA

              A teoria inatista da aquisição da linguagem tem como principal representante o linguista Noam Chomsky, que adotou uma postura contrária ao behaviorismo de Skinner vigente na época, onde argumenta que a linguagem é uma herança genética e não um conjunto de comportamentos verbais como afirma o behaviorismo.

                     O organismo básico de Chomsky é: num tempo bastante curto (mais ou menos dos 18 aos 24 meses), a criança, que é exposta normalmente a uma fala precária, fragmentada, cheia de frases truncadas ou incompletas, é capaz de dominar um conjunto complexo de regras ou princípios básicos que constituem a gramática internalizada do falante [2]

              Usando esse argumento Chomsky faz valer a sua teoria comprovando que a capacidade linguística está inscrita no código genético do ser humano e que a criança necessita apenas de um certo “empurrãozinho” para desenvolver a gramática especifica que é a sua gramática nativa.

              Quando Chomsky, ao confrontar sua teoria com a de Skinner alega que se a criança desenvolvesse sua capacidade linguística por imitação como afirma o behaviorismo ela jamais seria capaz de atingir uma gramática perfeita se o estimulo do meio onde a criança vive é falha e fragmentada, por isso a teoria inatista afirma que a criança já nasce pré-programada com uma grande quantidade de informações a que Chomsky chama de Gramática Universal e que sem esse conhecimento biológico a criança não poderia adquirir uma língua perfeita já que o meio não dá as informações suficientes.

              Numa segunda versão da teoria inatista “postula-se que a criança nasce pré-programada com princípios (universais) e um conjunto de parâmetros que deverão ser fixados ou marcados de acordo com os dados da língua a qual a criança  está exposta”.[3] Nesta visão a criança necessita de um imput, a linguagem é colocada num domínio cognitivo e biológico admite que a linguagem é genética, mas precisa do contato com a língua materna para se desenvolver.

         Chomsky usa o termo COMPETÊNCIA para designar o conhecimento que o falante tem da sua língua, e o termo DESEMPENHO para designar o uso que o falante faz desse conhecimento.[4]

              Neste caso a “competência” é o conhecimento que a criança traz no seu código genético e o “desempenho” é a maneira de como ela vai usar esse conhecimento e que tanto um quanto o outro são por natureza geneticamente determinado.

  1. A GRAMÁTICA UNIVERSAL E SUA RELEVÂNCIA

              Para Chomsky e seus adeptos, a linguagem demonstra indícios que supõem a existência da mente ou que justificam o mentalismo, mas que comumente é confundido com “idealismo” ou “dualismo”. Contudo, o que eles defendem na verdade é que para se descrever a forma de adquirir e empregar a linguagem deve-se buscar, às vezes, conceitos que extrapolam o plano fisiológico dos homens. Com isso rompem com os ideais de que os processos mentais resultam de meros processos físicos.

              Para Lyons, (p.223) o mentalismo Chomiskiano caracteriza, primeiramente, por seu aspecto antimaterialista e antibehaviorista uma vez que discorda que a aquisição de linguagem é igual a qualquer outro comportamento e que se possa explicá-la por processos de condicionamentos (estímulos – reforço – resposta), ou que essa advém das experiências mantidas com o meio. Contestando assim, a visão reducionista de que “…qualquer disciplina com pretensões cientificas tinham que se espelhar no modelo das chamadas ciências exatas…” [5]

              Chomsky, racionalista por convicção, acredita que a mente já vem dotada de uma estrutura propensa a adquirir saberes e que essa possui algumas restrições, sendo a aquisição da linguagem uma parte mais especifica do processo de aquisição do conhecimento. Nesse sentido, Chomsky crê que a linguagem constitui o meio do ser humano expor o pensamento, o qual é uma faculdade inata, ou seja, o homem é dotado geneticamente de habilidades de construção de determinados preceitos em detrimento de outros, o que, nessa abordagem, é pré-requisito para se adquirir o sentido dos vocábulos.

              O que diferencia Chomsky dos demais racionalistas, segundo Lyons (p. 225), é, primeiramente, sua postulação de que a aprendizagem da gramática de uma língua mãe e a forma de associação de sentidos a palavras e suas respectivas formas requerem explicação, bem como a idealização das distintas classes de gramáticas gerativas que definiram novos modelos de precisão para o estudo da magnitude de linguagem humana ao compará-la aos demais meios de comunicação. O seu outro diferencial é o conceito de que não se pode explicar a origem da linguagem e sua aquisição desconsiderando seu caráter inatista.

              Chomsky postula também a existência de uma “dependência de estrutura” ou critérios arbitrários de linguagem, isto é:

            …o conjunto ou sequência de objetos, aos quais se aplica, tem uma estrutura interna e que a regra, ou principio, faz referência essencial a essa estrutura como condição de aplicabilidade ou como determinante de maneira de aplicação de regra [6]

              O maior legado de Chomsky para a filosofia da mente e da psicologia de aquisição da linguagem é: a concepção de relevância da dependência da estrutura como característica, a priori, universal das línguas humanas e o conceito da importância de se mostrar os processos envolvidos na apropriação dessa faculdade pela criança.

              Chomsky considera que a mente é um grupo de disposições, de origem material controvertida, que interagem entre si, cada qual bem desenvolvida para a respectiva função que desempenhará e as quais evoluem conforme o seu plano de desenvolvimento, preestabelecido pela carga genética. Entretanto, mesmo com todos os estudos já realizados nessa área e com todo o sucessivo crescimento desses, não se conseguiu chegar a um consenso, isto é, uma resposta precisa para essa questão, mas a saída mais provável é a pesquisa experimental que reúna ciências a fins.

              Os trabalhos sobre a aquisição da linguagem também tiveram outro grande elaborador, Piaget. Segundo o qual há quatro etapas na ampliação das operações psíquicas da criança, sendo a fase mais importante à passagem da etapa sensório-motor, que dura ate cerca dos dois anos e onde a criança tem contato com objetos concretos, para a etapa pré-operacional, que vai ate perto dos sete anos, quando a criança começa a usar palavra e sintagmas guiado pelo seu entendimento prévio de comparação, movimentação e transformação dos objetos.

              Dessa forma, a passo que Piaget ressalta o valor da experiência ele toma as diversas etapas de evolução cognitiva como algo inerente à espécie humana e que são pré-ordenadas geneticamente, ou seja, de maneira inata. Com isso, corrobora, de certa forma, com a teoria inatista de Chomsky.

  1. CONCLUSÃO

              A partir do que foi visto e discutido, chega-se à conclusão que o inatismo, é uma tendência que acredita na existência da mente, e que todo e qualquer aprendizado é inato e não simples imitação.

              Que a criança chega ao processo de aprendizado da língua, por um dispositivo de aquisição da linguagem chamado de DAL. Que é ativado a partir da produção de sentenças, IMPUT, que é onde ficam todas as regras onde a criança seleciona em que lugar deve usar, que tem como resultado a língua a qual a criança será exposta.

              Através dos princípios e parâmetros a concepção de Gramática Universal muda. Os princípios ou leis, invariantes são aplicados do mesmo modo em cada língua e nos parâmetros é que contém as diferenças para cada língua, e até mesmo de uma mesma língua.

              Então o inatismo, se opõe a várias tendências, que afirmam que a criança aprende por um processo chamado de imitação, que funciona através de estímulos, reforço e respostas, tese fundamental do behaviorismo, defendido por Skinner.

              Lyons, diz que o autor que mais se aproxima da visão de Chomsky é Piaget, que acredita que a evolução cognitiva também através de um processo pré-ordenado, ou seja, inato.

BIBLIOGRAFIA

  1. KATO, Mary A.  No Mundo da Escrita: uma perspectiva psicolingüística. 3ª ed. São Paulo: Ática, 1990. pp. 98 – 138.
  2. LYONS, John. Linguagem e Lingüística: uma introdução. Tradução de Marilda Winkle Averbug. pp. 219 – 243.
  3. MAROTE, João Teodoro D`olim e FERRO, Gláucia D`olim Marote. Didática da Língua Portuguesa.
  4. SANTOS, Raquel. A Aquisição da Linguagem. FIORIN, José Luiz. (Org.). Introdução à lingüística:  I objetos teóricos. São Paulo: Contexto, 2002.
  5. SCARPA, Ester Mirian. Aquisição da Linguagem. In MUSSALIM, Fernanda; BENTES, Anna Christina. (Orgs.) Introdução a Lingüística: domínios e fronteiras, v.2. São Paulo: Cortez, 2001. pp. 203 – 232.

[1] João Teodoro D`Olim MAROTE e Gláucia D`olim p. 20.

[2] Ester Miriam SCARPA. Aquisição da Linguagem p. 207.

[3] Ester Mirian SCARPA. Aquisição da linguagem, p. 209.

[4] Mary A. KATO, No Mundo da Escrita, p. 101.

[5] John LYONS, Linguagem e Lingüística. p. 223.

[6] John LYONS. Linguagem e Lingüística. p. 225.

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