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Sexualidade e Espaço Escolar: preconceito homofóbico no contexto educacional Iratiense

SEXUALIDADE E ESPAÇO ESCOLAR: PRECONCEITO HOMOFÓBICO NO CONTEXTO EDUCACIONAL IRATIENSE

 

Luis Felipe Carvalho*

Alides Baptista Chimin Júnior*

Resumo:

A presente pesquisa busca compreender a correlação entre espaço escolar e preconceito homofóbico nas Escolas Estaduais de ensino médio da cidade de Irati – Paraná. A pesquisa analisa a homofobia como forma de preconceito, discriminação e exclusão ao “individuo diferente” em relação à heteronormatividade hegemônica. Para isso compreendemos que não existe uma linha divisória separando as relações sociais fora e dentro do âmbito escolar sendo este também palco de conflitos que devem ser deflagrados e discutidos.

Palavras-chave: Escola, Homofobia, Discriminação, Gênero

Abstract

This research seeks to understand the relationship between the school environment and homophobic prejudice in the state schools of high school in the city of Irati – Paraná. The research analyzes homophobia as a form of prejudice, discrimination and exclusion “different individual” in relation to hegemonic heterosexuality. For this we understand that there is a dividing line between social relations inside and outside the school environment which is also the setting for conflicts to be triggered and discussed.

Keywords: School, Homophobia, Discrimination, Gender

 

Introdução

O processo de ensino aprendizagem é interferido pela exclusão de uma considerável parcela da sociedade, que é reprimida antes mesmo de se identificar como um agente transformador dentro da sociedade. Essa não exposição da sexualidade no espaço escolar interfere na vivência cotidiana do aluno, assim como no seu bem-estar dentro do espaço escolar, muitas vezes acarretando na sua saída da escola.

Segundo Massey e Keynes “a espacialidade é uma possibilidade de construção de novas trajetórias, produzindo novas formas de existência social”. (MASSEY E KEYNES, 2004, p.17). Para os autores, as espacialidades são possibilidades de produção de novos espaços, instituindo potencialidades de construção de novas identidades e relações de diferença, estando dentre elas a espacialidade escolar

Essa espacialidade provoca uma série de indagações no que diz respeito à discriminação, a diversidade e a sua exposição diante do processo de construção sexual. A espacialidade escolar compreende todos os significados sociais, esse espaço é dotado de uma diversidade infinita e repleta de possibilidades, possibilidades que muitas vezes se encontram desfocadas em meio à reprodução heterossexual.

Como evidenciado no Projeto de Estudo sobre Ações Discriminatórias no Âmbito Escolar (FIPE/MEC/INEP, 2009), as escolas, a partir de seus vários grupos constituintes, apresentam atitudes, crenças e valores que indicam que o preconceito é uma realidade brasileira.

A partir da década de 1990, a diversidade sexual foi proposta como temática de abordagem transversal pelos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), o espaço escolar passou a discutir e a abordar as questões de gênero e sexualidade. A valorização e promoção dos direitos humanos mediante aos temas relativos de gênero, identidade de gênero, raça e etnia, religião, orientação sexual estão previstos pela Diretriz Curricular Nacional para o Ensino Médio na resolução Nº 2, de 30 de janeiro de 2012, estratégias que procuram influenciar na diminuição da discriminação no ambiente escolar, de forma a subsidiar a formulação de políticas e estratégias de ação que promovam, a médios e a longos prazos, a redução das desigualdades onde se reflita o respeito e a própria educação para a diversidade.

Segundo Junckes e Silva “a espacialidade escolar é vivenciada cotidianamente e culturalmente por um conjunto de práticas que se convertem também em aprendizado”. (JUNCKES E SILVA, 2009, p.150). Sendo assim torna-se uma espacialidade complexa que vai além de um local de apropriação de conhecimento.

Uma espacialidade complexa que vai além de um local de apropriação de conhecimento, mas componente da existência social e cultural das pessoas, constituído e constituinte de significados, dentre eles o da sexualidade, visto a partir de construções sócio-culturais, ou do medo e o seu resultante desprezo pelos homossexuais que alguns indivíduos sentem, denominado de homofobia.

Metodologia

A presente pesquisa é um estudo de cunho quantitativo e qualitativo, buscando assim dar visibilidade ao fenômeno social pesquisado. Para operacionalizar a pesquisa foram aplicados questionários em alunos e agentes escolares. As respostas foram sistematizadas em um banco de dados onde foram analisadas com uso do software livre SOFA Statistic. O software permitiu realizar análises diretas e também cruzamentos de respostas resultando em um grande volume de informações que deflagram as respostas com maior significância no quesito da discriminação.

Desenvolvimento e Resultados

Participaram da pesquisa 1350 alunos e 102 agentes escolares, de idades entre 14 e 55 anos, os entrevistados não foram identificados a fim de relatarem respostas concretas, o questionário aplicado era constituído de frases homofóbicas onde cabia ao entrevistado marcar as opções de concordo muito, concordo pouco, discordo muito e discordo pouco.

Averiguado nos questionários a homossexualidade tão presente na contemporaneidade continua sendo uma restrição em meio ao contexto escolar, os números colocam em vista a reprodução da cultura heteronormativa, deixando em segundo plano e ocultando as expressões homossexuais no espaço escolar, mesmo com uma positiva mudança parcial em relação aos homossexuais, na sociedade a homofobia e a sexualidade parecem assumir um papel antagonista no contexto escolar.

Segundo o Conselho Nacional de Discriminação “a produção de identidade heterossexual produz e alimenta a homofobia e o sexismo entre os jovens estudantes, principalmente entre os estudantes masculinos”. (BRASIL, 2005, p. 38). Segundo Ana Flávia Madureira “a escola é um espaço atravessado pela contradição, por um lado abriga inúmeros preconceitos e reproduz constantemente processos de exclusão”. (MADUREIRA, 2007, p.91).

Dentre os vários resultados (gerado pelo software SOFA Statistic) destacamos o que apresenta as respostas na questão sobre a aceitabilidade da homossexualidade, dividida em agentes escolares e alunos. Dentre os agentes escolares, 82% responderam que discordam pouco e 11% responderam discordo muito. Entre os alunos 65% responderam que discordam pouco, 14% discordam muito, porém 9% concordam muito em não aceitar os homossexuais na escola. Estes mesmos 9% também responderam que gostariam que os homossexuais deveriam ser afastados da escola. Quando indagados se professores homossexuais teriam menos respeito pelos alunos, 8,7% dos agentes escolares e 21,3% dos alunos responderam que concordaram muito.

Também através das respostas obtidas nos questionários tomando como exemplo a espacialidade iratiense é evidente a presença da discriminação e do preconceito homofóbico no espaço escolar, analisando é possível perceber que uma considerável porcentagem ainda concorda com os processos de exclusão, expressando o seu preconceito em relação a homossexualidade, a reprodução da lógica heteronormativa ainda é presente no espaço escolar, assim como a ocultação da diversidade sexual e de gênero.

Outra questão polêmica é sobre a possibilidade de transferir um aluno de sala, caso um homossexual seja matriculado na mesma turma. 4% dos alunos responderam que concordam muito e 6,2% concordaram pouco. Somando as concordâncias temos aproximadamente 10% dos alunos que desejariam ser transferidos de salas em que tivessem homossexuais.

Através das respostas obtidas nos questionários tomando como exemplo a espacialidade iratiense é evidente a presença da discriminação e do preconceito homofóbico no espaço escolar. Analisando as muitas respostas (destacamos que foram feitas 27 afirmativas nos questionários, porém devido a limitação do espaço somente foram selecionados as questões com maior destaque para o presente evento) é possível perceber que uma considerável porcentagem ainda concorda com os processos de exclusão, expressando o seu preconceito em relação à homossexualidade.

Conclusão

O estudo apresentou que a espacialidade escolar mesmo com pequenos avanços que se deram a partir da criação de leis que protegem os direitos dos homossexuais, mostrou-se que o preconceito sexual ainda é presente na esfera escolar e que os processos discriminatórios de exclusão atingem os homossexuais até os dias atuais.

Comprovando a importância de cada vez mais se discutir a sexualidade no cotidiano escolar, visando à construção de subsídios à elaboração de políticas públicas educacionais orientadas tanto a uma espacialidade específica, no caso a da iratiense, quanto a um grupo específico, no caso, o grupo de pessoas que não correspondem com a ordem cultural hegemônica de gênero e sexualidade.

Referências

BRASIL, CONSELHO Nacional de Combate à Discriminação. Programa Brasil Sem Homofobia. Programa de combate à violência e à discriminação contra GLBT e de promoção da cidadania homossexual. Brasília: Ministério da Saúde, 2005.

JUNCKES, Ivan Jairo; SILVA, Joseli Maria. Espaço escolar e diversidade sexual: um desafio às políticas educacionais no Brasil. Revista de Didácticas Específicas, nº 1, p. 148-166, 2009.

MADUREIRA, Ana Flávia do Amaral. Gênero, sexualidade e diversidade na escola: a construção de uma cultura democrática. 2007, p. 429. Tese (Doutorado em Psicologia) – Universidade de Brasília, Brasília, 2007.

MASSEY, D.; KEYNES, M. Filosofia e política da espacialidade: algumas considerações. Geographia, Ano VI, nº 12, p. 7 – 23, 2004.

 

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