Crônicas Margarete Hülsendeger

Mudanças

MUDANÇAS
Margarete Hülsendeger

Publicado originalmente em m 01/08/2009 como <www.partes.com.br/cronicas/mhulsendeger/mudancas.asp>

 

Somos o que fazemos, mas somos, principalmente, o que fazemos para mudar o que somos.
Eduardo Galeano

Margarete Hülsendeger é Física e Mestre em Educação em Ciências e Matemática/PUCRS. É mestra e doutoranda em Teoria Literária na PUC-RS

Mudar é difícil. Aceitar a necessidade da mudança é ainda mais complicado. É sempre menos perturbador permanecer na mesma rotina de todos os dias, sabendo exatamente como agir ou quais decisões tomar. A vida torna-se um lugar seguro, onde tudo pode ser previsto sem sustos ou sobressaltos.
A vida, no entanto, não está preocupada com os nossos sonhos de segurança. Ela, na verdade, é uma senhora com vontade própria que toma as suas decisões sem perguntar se estamos felizes com elas. Por essa razão, muitas vezes temos dificuldades em compreender e até mesmo admitir a necessidade de certas transformações. Quem sabe seja por isso que nos agarramos com unhas e dentes a rotina. Ela nos dá a ilusão de termos tudo sob o nosso controle.
Todavia, eu sei, e você também sabe, que muito pouca coisa está realmente sob o nosso controle. Família, amigos, amores, trabalho, enfim tudo constitui uma grande e complexa teia na qual a mudança está inevitavelmente inserida.
Mudar de família não é possível, alguns dirão. É verdade, parentes não se escolhem. Trocar de emprego em dias de crise econômica – principalmente se isso significa largar um trabalho bem remunerado – é inadmissível. Afinal, como ouvi uma vez, “quem não tem dinheiro não se pode dar ao luxo de enlouquecer”.
Entretanto, existem pessoas que conseguem não só mudar de emprego, mas também romper com uma rotina familiar desgastante, simplesmente porque param de se importar com o que os outros pensam ou falam. Suas decisões deixam de ser orientadas no sentido de satisfazer o outro e passam a ser definidas a partir do que é melhor para elas. Parece egoísmo, eu sei, mas se pensarmos no quanto a infelicidade e a tristeza podem nos deprimir, deixaremos a culpa de lado e trataremos de encontrar caminhos que nos tragam mais satisfação.
Mudar é sinônimo de movimento. E sendo movimento, na maioria das vezes, não ocorre instantaneamente. É um processo que nos obriga a olhar com mais calma e atenção para o que está além de nós.
Mudar desacomoda, desestabiliza. E essa nem sempre é uma sensação agradável. Pelo contrário. Ela pode ser até muito sofrida. Daí a rotina, os modelos que nos auto impomos, as cordas com as quais nos amarramos, tudo com um único fim: evitar as mudanças realmente perigosas. Entretanto, como já mencionei, é da vida mudar e não há meios de se opor a que isso aconteça.
O primeiro passo para não se ter medo das mudanças quem sabe seja esquecer que a vida é feita de absolutos. São eles os responsáveis por nos impedir de olhar com esperança e otimismo as transformações que ocorrem à nossa volta. Para evitar a dor provocada pelo medo, é preciso perceber as possibilidades no lugar das certezas. Convicções firmes demais são ilusões de verdades criadas com o único fim de sentirmos uma pseudossegurança.
Portanto, talvez tenhamos de nos questionar sobre o que queremos da vida. Desejamos continuar como simples espectadores ou preferimos assumir o papel do personagem principal? Pense sobre isso e não tenha medo de encarar as mudanças de frente, elas existem justamente para nos fazer seguir adiante sem arrependimentos ou culpas. Afinal, como diz um antigo provérbio chinês: “Se você não pode mudar a direção, terminará exatamente onde partiu”.

Deixe um comentário