Educação Gestão Educacional

A Importância do Estágio Supervisionado em Gestão Escolar na formação do Pedagogo

A Importância do Estágio Supervisionado em Gestão Escolar na formação do Pedagogo

Fernanda Aparecida Oliveira Silva[*]

Ana Carolina Paulina de Assis Gomes**

Maria Abadia de Oliveira ***

 Vilma Aparecida de Souza****

Resumo

Fernanda Aparecida Oliveira Silva – Aluna do Curso de Pedagogia da Faculdade de Ciências Integradas do Pontal, da Universidade Federal de Uberlândia. E-mail: feehsilva@hotmail.com

Esse trabalho apresenta reflexões sobre a prática educativa vivenciada durante as atividades do Estágio Supervisionado no âmbito escolar, no eixo da gestão educacional, no curso de Pedagogia. Em relação aos procedimentos metodológicos, utilizaram-se a observação e a entrevista semiestruturada. As experiências vivenciadas permitiram vislumbrar os limites para a implementação plena da gestão democrática na escola pública, mesmo diante do autoritarismo e centralização encontrados no sistema de ensino.

Palavras-Chaves: Estágio. Gestão Escolar. Formação. Pedagogia.

Abstract

This work presents reflections on the educational practice experienced during the activities of the Supervised Internship in the school context, in the educational management axis, in the Pedagogy course. Regarding methodological procedures, observation and semi-structured interviews were used. The lived experiences allowed to glimpse the limits for the full implementation of the democratic management in the public school, even before the authoritarianism and centralization found in the education system.

Keywords: Internship. School management. Formation. Pedagogy.

Introdução

         Esse trabalho tem como objetivo apresentar reflexões sobre a prática educativa vivenciada durante as atividades do Estágio Supervisionado em Gestão

Escolar, discutindo suas contribuições na formação do pedagogo. As atividades foram realizadas por um grupo de licenciandas, em uma escola pública, no âmbito da disciplina Estágio Supervisionado em Gestão Escolar, do curso de Pedagogia da Faculdade de Ciências Integradas do Pontal da Universidade Federal de Uberlândia (FACIP/UFU).

          O Estágio Supervisionado contou com 70 horas de observação, em que houve a pesquisa documental e a entrevista semiestruturada realizada com a diretora

Ana Carolina Paulina de Assis Gomes – Aluna do Curso de Pedagogia da Faculdade de Ciências Integradas do Pontal, da Universidade Federal de Uberlândia. E-mail: carolpagomes@gmail.com

e uma supervisora pedagógica, para melhor compreender a realidade de uma escola pública da rede estadual, localizada em um bairro periférico do município de Ituiutaba, Minas Gerais.

Importância do Estágio Supervisionado em Gestão Escolar na formação do Pedagogo

 

         Os cursos precisam se comprometer com uma formação sólida que proporcione a pesquisa, a investigação e um olhar crítico sobre a realidade educacional.  Com isso, as práticas de Estágio Supervisionado passam a ser voltadas à formação docente e, além das dimensões técnicas, do saber fazer e do como fazer, envolvem as dimensões políticas. Nessa perspectiva, o estágio pode ser mais que um mero contato com a realidade escolar, posto que, além de proporcionar a relação teórico-prática, se constitui em um artefato de extrema importância para a formação política dos professores. Em linhas gerais, formação política é:

Uma formação que seja sustentada por fundamentos teórico-práticos, como: engajamento político no sentido de participação de projetos de interesses comuns, temáticas que garantem uma formação baseada na liberdade de agir e pensar, fundada no constante debate e na preparação para a ação. (BORSSOI, 2012, p. 18).

         Nesse sentido, as práticas de estágio devem conceber momentos de construção e reflexão, assim sendo “o estágio deve contemplar a formação do professor capaz de atender às demandas de uma realidade que se faz nova e diferente a cada dia.” (BARREIRO e GEBRAN, 2006, p. 91).

Nesse sentido, o Estágio em Gestão Escolar possibilita o contato com um setor que, por vezes, se encontra mais fechado ou de difícil acesso por ser um trabalho burocrático e bastante específico. Ele ainda proporciona às estagiárias uma visão mais ampla da dinâmica escolar, de seus aspectos legais, da rotina burocrática, da tomada de decisões, de uma aproximação com as orientações advindas dos seguimentos superiores aos quais as escolas estão submetidas.

Maria Abadia de Oliveira – Aluna do Curso de Pedagogia da Faculdade de Ciências Integradas do Pontal, da Universidade Federal de Uberlândia. E-mail: abadiareal@gmail.com

Nessa perspectiva, a experiência do Estágio em Gestão Escolar contribui para que as estagiárias vejam a escola em sua dinâmica macro, fazendo com que elas tenham um olhar de pesquisadoras para, então, refletirem sobre o que está sendo vivenciado. Tendo como meta assegurar aos estagiários experiências na educação básica acerca da organização e gestão de sistema de ensino, a partir do enfoque da gestão democrática.

A gestão democrática da educação é hoje, um valor já consagrado no Brasil e no mundo, embora ainda não totalmente compreendido e incorporado na prática social global e na prática educacional brasileira e mundial. É indubitável sua importância como um recurso de participação humana e de formação para a cidadania. É indubitável sua necessidade para a construção de uma sociedade mais justa, humana e igualitária. É indubitável sua importância como fonte de humanização (FERREIRA, 2000, p. 167).

        Além disso, ressalta-se a relevância da gestão democrática para a construção de uma sociedade mais justa, o que traz elementos importantíssimos a serem observados e analisados pelos estagiários no eixo da gestão educacional.

 

A Experiência de Estágio Supervisionado em Gestão Escolar  

         Durante a realização desse estágio foi possível acompanhar as atribuições da equipe gestora. Percebeu-se que a implementação da gestão democrática não

está garantida somente com a elaboração de documentos e projetos, tendo em vista o jogo de forças envolvidas e a suplantação dos entraves cristalizados no cotidiano escolar, como: a cultura autoritária sedimentada ao longo da história educacional; o espaço reduzido de participação da comunidade escolar nos processos decisórios; e a quase total alienação dos professores em relação a aspectos da gestão da escola. Diante disso, pode-se inferir que a gestão democrática não pode ser reduzida a eventos isolados, como eleição de diretor ou reuniões esporádicas dos membros do conselho escolar.

         No entanto, ao ser questionada sobre o modelo de gestão escolar, a diretora afirmou que: “[…] a gente procura ser a democrática, procura fazer uma gestão democrática dentro do que é recomendado pela legislação.” (ENTREVISTA DIRETORA, 2015, destaques nossos).

         O depoimento da diretora, remete a discussão acerca das lacunas e omissões da legislação sobre os princípios da gestão democrática, uma vez que tanto a Constituição Federal, como a LDB 9394/96 delegam aos sistemas de ensino as normas da gestão democrática: “Art.14. […] os sistemas de ensino definirão as normas de gestão democrática do ensino público na educação básica” (BRASIL, 1996, s.p.). Ou seja, ao delegar aos sistemas de ensino as normas, revela-se uma brecha legal para muitos sistemas não se comprometerem com a gestão democrática das escolas públicas, omitindo-se em relação aos mecanismos e processos necessários para a democratização da gestão.

         Além disso, falar de gestão democrática implica em “uma cadeia ampla de processos, procedimentos, instrumentos e mecanismos de ação” (MENDONÇA,

Vilma Aparecida de Souza – Professora do Curso de Pedagogia da Faculdade de Ciências Integradas do Pontal, da Universidade Federal de Uberlândia. E-mail:vilmasouzza@yahoo.com.br

2000, p. 95). Dentre eles, a participação da comunidade na tomada de decisões merece ser destacada, visto que falar de gestão democrática implica em assegurar condições para a atuação desse ator social no estabelecimento escolar não somente para a execução de tarefas e na participação em reuniões esporádicas de entrega de notas, mas prioritariamente como parte envolvida no referido processo. Em relação a questão da participação da comunidade, a diretora menciona que:

Em relação ao Conselho, eu tento de todas as formas e quase não consigo pais [para participar]. Fiz várias reuniões e os pais não tiveram interesse.  Sempre que tem evento a gente convida a comunidade, incentiva a participar, mas tem o desinteresse dos pais. Tem várias desculpas… Por falta de tempo… Eu acho que eles têm receio de serem chamados toda hora na escola, não é possível estar sempre presente. Eu acredito que os próprios pais não tem o interesse de participar da vida ativa da escola. (DIRETORA, 2015).

            Avaliar a questão da participação da comunidade na gestão da escola emerge como uma tarefa necessária, considerando a forma como acontece a gestão dessa participação, como pode ser evidenciado no depoimento da diretora:

A gente faz a reunião pedagógica todo bimestre e assembleias, quando manda a Secretaria de Educação […] quando tem eleição do colegiado, mudança na direção da escola, etc. Geralmente a reunião é a cada dois meses, para entrega de resultados, falar da vida escolar do filho. […] O desafio de trazer os pais para a escola essa é a maior dificuldade. (DIRETORA, 2015).

         O trecho da entrevista revela a concepção de participação da diretora, que se limita a uma participação passiva, de presença em reuniões bimestrais com a finalidade maior de discutir a questão do rendimento escolar dos alunos.

         As observações realizadas evidenciaram a necessidade de ações efetivas e recorrentes para que se criem condições para a participação da comunidade, ou seja, ações que “abram as portas” da escola para a comunidade e para os próprios membros da instituição escolar opinar sobre a tomada de decisões, considerando que “a participação é o principal meio de se assegurar a gestão democrática da escola, possibilitando o envolvimento de profissionais e usuários no processo de tomada de decisões e no funcionamento da organização escolar” (LIBÂNEO, 2004, p. 102).

         A observação realizada e os dados obtidos, permitiram evidenciar que a gestão escolar está distante da perspectiva democrática, considerando a cultura e as práticas cristalizadas que revelam a permanência de uma gestão escolar centralizadora, na qual a diretora decide o que deve ser feito.  Percebe-se a predominância de elementos como a falta de tradição democrática, a formação acadêmica deficiente, os comportamentos acomodados e desinteressados e a falta de consciência sobre a importância dos processos democráticos (MENDONÇA, 2000, p. 429).

         Nessa perspectiva, a Gestão Escolar pode ser classificada conforme a concepção técnico-científica, na qual:

Prevalece uma visão burocrática e tecnicista de escola. A direção é centralizada em uma pessoa, as decisões vêm de cima para baixo e basta cumprir um plano previamente elaborado, sem a participação de professores, especialistas, alunos e funcionários… As escolas que operam com esse modelo dão muito peso à estrutura organizacional: organograma de cargos e funções, hierarquia de funções, normas e regulamentos, centralização das decisões, baixo grau de participação das pessoas, planos de ação feitos de cima para baixo (LIBÂNEO, OLIVEIRA, TOSCHI, 2012, p. 323-324).

         O diretor escolar aparece como um dos focos de resistência ao processo de gestão democrática. Segundo Mendonça (2000, p. 428), o “[…] comportamento dos diretores é decorrente de sua compreensão equivocada sobre o processo eleitoral”. De fato, diversos diretores têm práticas autoritárias e antidemocráticas, centralizando informações e decisões, num processo de anulação da participação dos demais segmentos da comunidade escolar.

Considerações Finais       

         A experiência vivenciada ao longo do estágio em gestão permitiu compreender a necessidade de rever e resgatar os mecanismos e ações importantes para o aperfeiçoamento do processo democrático. Percebemos que, apesar do discurso em defesa da gestão democrática, a cultura autoritária que sustenta o processo de tomada de decisão, contribui e reforça no comportamento apático e acomodado dos sujeitos. Acrescenta-se ainda que, a ausência de uma tradição democrática, associada à presença de um autoritarismo cristalizado, dificulta a implantação de mecanismos participativos de gestão.

         Enfim, por meio das experiências vivenciadas sobre a prática de Estágio Supervisionado em Gestão Escolar, evidencia-se que o Estágio em Gestão é imprescindível para a formação do pedagogo. Ele possibilita ter uma visão ampla da estrutura administrativa e pedagógica da escola e do sistema educacional.

Referências Bibliográficas

ARROYO, Miguel Gonzalez. Gestão Democrática: recuperar sua radicalidade política? In: CORREA, Bianca Cristina; GARCIA, Teise Oliveira (orgs.). Políticas Educacionais e organização do Trabalho na escola. São Paulo: Xamã, 2008. p. 39-56.

BARREIRO, Iraíde Marques de Freitas.; GEBRAN, Raimunda Abou. Estágio Curricular na Formação de Professores: propostas e possibilidades no espaço escolar. In:_. Prática de Ensino e Estágio Supervisionado na formação de professores. São Paulo: Avercamp, 2006. p. 87-115.

BORSSOI, Berenice Lurdes. O Estágio Curricular Supervisionado como potencializador da formação do sujeito político. IX Anped Sul: Seminário de pesquisa em Educação da região Sul. 2012. Disponível em:<http://www.ucs.br/etc/conferencias/index.php/anpedsul/9anpedsul/paper/viewFile/2247/593.>. Acesso em 08 nov. 2015.

BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação, 20 dez. 1996. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/ldb.pdf>. Acesso em: 1 abr. 2016.

FERREIRA, Naura Syria Carapeto (org.) Gestão democrática da educação: atuais tendências, novos desafios. São Paulo: Cortez. 2000.

HORA, Dinair. Gestão democrática na escola: artes e ofícios da participação coletiva. 9 ed. Campinas, SP:Papirus, 2002.

LIBÂNEO, José Carlos. Organização e gestão da escola: teoria e prática. 5 ed. Goiânia: Editora Alternativa, 2004.

_____; OLIVEIRA, João Ferreira de; TOSCHI, Mirza Seabra. Educação Escolar: políticas, estrutura e organização. Ed Cortez. 2012.

MENDONÇA, Erasto Fortes. A regra e o jogo: democracia e patrimonialismo na educação brasileira. Campinas, SP: FE/ UNICAMP, 2000.

[*] Aluna do Curso de Pedagogia da Faculdade de Ciências Integradas do Pontal, da Universidade Federal de Uberlândia. E-mail: feehsilva@hotmail.com

** Aluna do Curso de Pedagogia da Faculdade de Ciências Integradas do Pontal, da Universidade Federal de Uberlândia. E-mail: carolpagomes@gmail.com

*** Aluna do Curso de Pedagogia da Faculdade de Ciências Integradas do Pontal, da Universidade Federal de Uberlândia. E-mail: abadiareal@gmail.com

**** Professora do Curso de Pedagogia da Faculdade de Ciências Integradas do Pontal, da Universidade Federal de Uberlândia. E-mail:vilmasouzza@yahoo.com.br

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