Ciências Sociais Geografia

Análise quantitativa dos espaços livres no município de Ponta Grossa (PR): um estudo de caso no bairro Cará-Cará

ANALISE QUANTITATIVA DOS ESPAÇOS LIVRES NO MUNICÍPIO DE PONTA GROSSA (PR): UM ESTUDO DE CASO NO BAIRRO CARÁ-CARÁ

Emili Cristine Pereira*

 

RESUMO
O presente trabalho levanta o questionamento sobre os espaços livres existentes no espaço urbano e como estudo para o presente artigo foi utilizado como recorte espacial o município de Ponta Grossa (PR), com estudo quantitativo documental e bibliográfico no bairro Cará- Cará. Foram utilizados análises do ano de 2015 e verificado que não houve grandes mudanças no decorrer dos anos. Tendo como resultado a confirmação da ineficiência dos espaços livres no bairro de estudo, quanto ao percentual e infraestrutura.

PALAVRAS-CHAVE: espaços livres; áreas verdes; espaço urbano; praças.

ABSTRACT
The present work is about the questioning of free spaces in the urban space and it has also been used as a study for the present article used as spatial clipping of the city of Ponta Grossa (PR), along with quantitative documentary and bibliographic study in Cará-Cará borough. The analytical occurrences of the year 2015 have been used and stated that there have not been great changes over the years. The inefficiency of free spaces in this borough have been confirmed as a result, relating to percentage and infrastructure.

KEYWORDS: free spaces; green areas; urban space; squares

1 INTRODUÇÃO
O espaço livre é mais do que mera paisagem ou um chamariz para a estética do espaço urbano central, é a ligação com a qualidade de vida e o bem-estar do indivíduo com o espaço onde vive e convive em seu dia a dia, seu refúgio em fim de tardes e finais de semanas.
Em pleno século XXI não são todos que podem desfrutar de espaços livres como praças e áreas verdes, pois sim, ainda há a influência da urbanização que com a demanda da população rural para as cidades provocou uma grande densidade e fez com que o poder publico e privado “necessitassem” de uma limpeza nos centros urbanos e mantivessem a estética das cidades, trazendo uma crescente povoação nas regiões periféricas, com o mínimo possível de infraestrutura. Lamas (1993) aponta essas regiões de periferias antes com pouca densidade e lotes grandes em contato direto com a natureza, acabam por perder essa maneira de viver e passam a partilhar das aglomerações de loteamentos sem um planejamento urbano e paisagístico.
Segundo analisam De Angelis e Loboda (2005) os espaços públicos sofrem banalização, caem no esquecimento, ou tem suas funções invadidas por outro uso. Não há um reclame quanto a essas perdas, as cidades estão ficando cada vez mais tecnológicas, e os espaços públicos como praças vão sendo esquecidas pelo poder publico e pela falta de planejamento para as mesmas.
Na referente pesquisa é apontado que o município de Ponta Grossa (PR) não foi diferente no processo de crescimento desenfreado da população e novos loteamentos em regiões afastadas do centro. Apontando que onde ocorre o maior percentual de espaços livres encontra-se no centro urbano e nas suas regiões próximas, deixando a desejar os bairros mais afastados. Como estudo de caso foi apresentado o bairro Cará- Cará que, mesmo sendo o maior em território é o que menos apresenta praças para a população residente, e as poucas que tem não atende a todos.
Pretende-se com esse trabalho apresentar as deficiências aos gestores e demais profissionais que o bairro Cará – Cará, assim como também os demais que ficam distantes do centro urbano do município, carecem de um planejamento e elaboração de espaços que possam usufruir para seu lazer e para o melhoramento da qualidade de vida, assim fica exposto a deficiência que pode vir a ser evitada em novos loteamentos que estão sendo criados no entorno do município.

2 OBJETIVO
Analisar a quantidade de espaços livres como praças e áreas verdes no bairro Cará-Cará situado no município de Ponta Grossa (PR).

3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Corrêa (1993) afirma que o espaço urbano é denominado como um conjunto com diferentes usos da terra, comerciais ou de atividades como a de prestação de serviços. Esses usos podem ser definidos em áreas como o centro da cidade, onde concentram-se inúmeras atividades, assim como lazer, residenciais, industriais e também áreas para possíveis expansões.
Segundo Mendonça (2003) o espaço urbano acontece através da urbanização. A população começa a deixar a zona rural e passa a predominar a área urbana, esse aumento acontece significantemente em meados do século XX, e hoje mais de 50% da população encontra-se vivendo nas cidades.
Conforme o mesmo autor, há uma elevada concentração de densidade e verticalidade dos centros urbanos, onde praticamente extinguem os espaços livres. Assim como Lamas (1993) traz em seu livro Morfologia Urbana e o desenho da cidade, com a modificação do espaço urbanístico as praças deixam de serem ponto de encontro à vida social.
Diante do exposto Degreas e Ramos (2015, p.s/n) conceituam que “Os espaços livres públicos no meio urbano são um conjunto de áreas não edificadas, descobertas, inseridas na malha urbana e que tem formas, dimensões, localização e distribuição variáveis.”
Cavalheiro (1992) traz que as cidades são compostas por três espaços: o espaço de interação urbana, espaço com construções e os espaços livres (praças, parques, entre outros). Para o autor os espaços livres exercem papel ecológico e integrador dos diferentes espaços com base no ponto de vista estético, ecológico e de lazer ao ar livre.
O espaço livre que mais se destaca nas cidades são as praças, que segundo Cavalheiro (1992), De Angelis e Loboda (2005) a função prioritária da praça é o lazer, considerando que estas possam ser áreas verdes quando possuírem vegetação e não serem impermeabilizadas. Para Lamas (1993, p.102.) “[…] a praça é o lugar intencional do encontro, da permanência, dos acontecimentos, de práticas sociais, de manifestações de vida urbana e comunitária e de prestigio, e, consequentemente, de funções estruturantes e arquiteturas significativas.”
Dentro desse contexto, deve-se ressaltar a importância de espaços livres como praças no espaço urbano, onde há fluxo e densidade de pessoas, pois o contato com a vegetação seja nativo ou não, traz benefícios a saúde física e mental do ser humano, além de ajudar no microclima e principalmente na paisagem do seu entorno.

3.1 ESPAÇOS LIVRES NO MUNICÍPIO DE PONTA GROSSA (PR), ESTUDO DE CASO NO BAIRRO CARÁ-CARÁ
O objeto de estudo está localizado no espaço urbano do município de Ponta Grossa (Figura1), onde o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) dividiu o município em 16 bairros como mostra a figura 2, sendo estes: Boa Vista, Cará- Cará, Centro, Chapada, Colônia Dona Luiza, Contorno, Estrela, Jardim Carvalho, Neves, Nova Rússia, Oficinas, Olarias, Órfãs, Piriquitos, Ronda e Uvaranas.

Figura 1 – Mapa de localidade do município de Ponta Grossa no Estado do Paraná
Fonte: Adaptado do IPLAN (2018).

Figura 2 – Divisão e limites de bairros no município de Ponta Grossa.
Fonte: Adaptado de Geoprocessamento. (2018).

A partir da figura 2 pode-se perceber que em extensão o bairro Cará – Cará é o maior dentro do município. Quanto a população o censo do IBGE (2010) mostra que o bairro fica em terceiro lugar com 27.779 habitantes, perdendo apenas para os bairros Contorno e Uvaranas.
Segundo Queiroz (2015) em consulta realizada junto a Secretaria Municipal de Planejamento da Prefeitura Municipal de Ponta Grossa (PMPG) foram constatadas que no município existiam 83 praças cadastradas, sendo que 69 delas a autora considerou como espaços livres voltadas ao lazer da população, as demais faziam parte de espaços de circulação. Verificou através de levantamento onde desconsiderou áreas verdes com menos de 70% de vegetação e praças que não se atende aos parâmetros para real socialização e lazer, um total de 229 espaços livres em todo o limite do município como mostra a figura 3. Esse total representa 4,4 km² e apenas 2,5% de todo o espaço urbano de Ponta Grossa.

Figura 3 – Distribuição dos espaços livres no município de Ponta Grossa
Fonte: Queiroz (2015) – modificada pela autora em 2018.

Através da figura 3 é perceptível uma maior concentração de espaços livres próxima a região central do município, esse fato tende a confirmar o que Lamas (1993) aborda quanto ao processo estético e da urbanização, a limpeza, caindo no esquecimento as regiões periféricas da cidade, como mostra a representação do bairro Cará- Cará, há uma concentração em regiões do bairro, não atendendo de forma homogênea a população que residem nesse espaço urbano.
Considerando o mapa da Figura 4, o qual apresenta a distribuição de áreas verdes, a concentração maior se da na região de Uvaranas, mas são espaçadas e pequenas, assim levando em consideração o tamanho das manchas, as regiões do bairro Estrela e Ronda são as predominantes.


Figura 4 – Mapa de manchas verdes
Fonte: Queiroz (2015).

Para exemplificar a figura 5 apresenta em porcentagem quais as regiões no espaço urbano do município de Ponta Grossa são as mais contempladas com espaços livres.

Figura 5 – Percentual de espaços livres por bairros dentro do limite urbano de Ponta Grossa
Fonte: Queiroz (2015)

Analisando a figura 5, percebe-se que os bairros mais afastados da região central são os que possuem menor número de espaços livres. O bairro Cará – Cará no qual citado como o maior em extensão de território é o que menos possui praças no município, contando apenas com 0,02%, não chegando a oferecer nem 1m² de praça por habitante no bairro.
Em conversa com moradores, houve críticas consideráveis a infraestrutura e abandono do bairro. Espaços de lazer são quase inexistentes, e os poucos que podem ser utilizados a abrangência é pequena levando em consideração o número de moradores.
Vale ressaltar que a ausência desses espaços para a população faz com que estes utilizem áreas de circulação para áreas de lazer, as crianças fazem uso inapropriado das ruas para poderem correr, jogar bola, andar de bicicleta entre várias brincadeiras que trazem riscos a vida pela exposição em vias de fluxos de automóveis, assim como adultos utilizam as ruas para fazerem caminhadas, acabam se reunindo em torno das ruas com os vizinhos para conversarem, jogarem e outras atividades. Não é o local apropriado, mas por falta do planejamento urbano e indiferença com os espaços sociais, a única forma de lazer acaba sendo o de se apropriar de vias de circulação.

3.2 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Diante do exposto trabalho de pesquisa do município de Ponta Grossa no bairro Cará Cará, é verificado que existe a deficiência de espaços livres na região. Sendo apresentado através de mapas, que o maior percentual de praças se encontra no centro urbano.
Em pesquisas levantadas pelo Instituto de pesquisa e planejamento urbano de Ponta Grossa (IPLAN), para o plano diretor, a população elencou que poderiam ser criados mais parques e praças na cidade. Conforme no plano diretor
“É de fundamental importância, na paisagem urbana, um planejamento adequado e tecnicamente bem executado[…], que resulte na conservação paisagística, na convivência harmoniosa dos habitantes com os componentes urbanos e na melhoria da qualidade de vida.” (1992, p. 406)
Cavalheiro (1992) afirma “Para que os espaços livres possam desempenhar satisfatoriamente suas funções é necessário que sejam abordados de forma integrada no planejamento urbano.”
Todavia, esse planejamento não acorreu no bairro Cará – Cará, pois apenas 0,02% de área é destinada a espaços livres. Vale ressaltar que espaços de circulação e trevos não se considera área social de lazer e em muitos bairros é implantado equipamentos nesses locais.
Dessa maneira só se confirma o que já foi pautado inúmeras vezes no livro de estudo e debate em sala de aula. A elite dominante mantém a beleza estética do centro urbano, retirando o que torna feio, livrando-se do adensamento e remanejando a população para as periferias da cidade, sem nem se importarem do quão impactante será para a vida dessas pessoas e também na interferência que causa na paisagem, no meio ambiente e principalmente na qualidade de vida.
Cabe somente ao poder publico interferir no modo de planejamento dos novos loteamentos e repensar o desenho urbano para melhorar a forma das zonas periféricas.

4 REFERÊNCIAS

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Acessado em setembro de 2018.

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https://www.ibge.gov.br/. Acessado em: setembro de 2018

IPLAN. Instituto de pesquisa e planejamento urbano de Ponta Grossa. Disponível em:
https://iplan.pontagrossa.pr.gov.br/downloads/planodiretor/Y_apendice_1.2_aspectos_ambientais.pdf.
Acessado em outubro de 2018.

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MENDONÇA, F. O estudo do clima urbano no Brasil: evolução, tendências e alguns desafios. Clima urbano. São Paulo, Contexto, 2003.

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