Educação Educação Gestão Educacional

Contrastes e consonâncias entre a Gestão escolar e à Docência: qual o papel do gestor na educação hoje?

Drª Marcia Regina Silva do Vale[1]; Raphaela dos Santos Gonçalves[2]

RESUMO

O presente trabalho concentra reflexões acerca das responsabilidades carregadas por um gestor escolar, em especial na escola pública. Também traz resultados obtidos através de uma pesquisa realizada com gestores da Secretaria de Educação de uma cidade litorânea do Estado de São Paulo, em busca de um confronto entre a teoria e a prática, utilizando métodos de entrevista e observação.

Palavras-chave: Gestão escolar, Educação, Coordenação, Escola pública, Baixada Santista.

Contrasts and Consonances between School Management and Teaching: what is the role of the manager in education today?

ABSTRACT

This paper concentrates reflections on the responsibilities borne by a school manager, especially in the public school. It also brings results obtained through a survey conducted with managers of the Education Department of a coastal city of the State of São Paulo, in search of a confrontation between theory and practice, using methods of interview and observation.

Keywords: Management; Education; Coordination; Public school; Baixada Santista.

 

INTRODUÇÃO

Marcia Regina Silva do Vale – Doutora em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (2008). Mestre em Educação, Administração e Comunicação pela Universidade São Marcos (2001). Licenciada em Pedagogia pela Universidade Católica de Santos (1998). E-mail: marcia@unisanta.br

A crise social, acompanhada do desemprego e de salários cada vez mais baixos incide em uma larga necessidade de acolher crianças nas escolas e creches, principalmente na rede pública de ensino, que ampara e fornece ensino e cuidados independentemente de cor, religião, estrutura familiar ou condição social.

O corpo docente, bem como gestores e outros funcionários da instituição de ensino, devem manter uma relação harmônica, integrando um só objetivo: atender a criança da melhor forma possível, dentro de sua individualidade, nos âmbitos afetivo e pedagógico.

O gestor escolar, em suas atribuições, tem um importante papel na hierarquia escolar. Cabe a ele, muitas vezes, tomar decisões a favor dos alunos ou dos professores, fato que pode o colocar em situação desconfortável, mesmo que tente se o mais democrático possível.

Segundo Lück[3] (2009, p.12) é importante, antes de tudo, determinar que a gestão escolar se constitui de um conjunto de técnicas e ferramentas formadas em abstrato, mas sim expressa um sentido preciso: é o resultado histórico das tendências e das contra tendências oriundas do desenvolvimento da sociedade. Vivemos em uma sociedade capitalista, dessa forma, a tendência é que a gestão escolar tenha sua base nos pilares que estruturam esse ordenamento social. Todas as instituições sofrem diretamente as determinações sociais da organização de produção capitalista, sendo a escola também condicionada pela lógica do capital, servindo para manter e legitimar suas regras.

Wellen[4] e Wellen[5] (2010, p.8) sugerem que para compreender a realidade da gestão escolar, primariamente deve-se assimilar que a escola não se estabelece em um campo ideal. Esta é resultado das vontades humanas, recebendo, portanto, uma extensa carga de informações históricas sobre como a sociedade se organiza para produzir as condições materiais de sobrevivência.

Na demanda de diferenciar a gestão escolar da docência (visto que cada cargo tem especificidades e experiências bem distintas), encaram-se conflitos igualmente constituídos de sua formação profissional e pautados no que se absorve da sociedade.

O docente tem marcado em sua carreira pública a luta por uma classe que anseia melhores salários e não melhores condições de trabalho, sendo a aprendizagem pouco importante face a remuneração professoral.

OBJETIVOS

Este artigo tem como objetivo primariamente discutir as diferenças entre a docência e a gestão, passando para as contribuições da gestão escolar no processo de aprendizagem de crianças do Ensino Fundamental (séries iniciais), momento onde professores e escola se deparam com as dificuldades de aprendizagem das mesmas. Também visa fazer uma comparação entre a teoria e prática de gestão em escolas públicas de uma cidade litorânea do Estado de São Paulo.

METODOLOGIA

Raphaela dos Santos Gonçalves – Licenciada em Ciências Biológicas e Pedagogia pela Universidade Santa Cecília (2017). Aluna de Especialização em Neurociências pela Universidade Federal de São Paulo. Aluna de Especialização em Educação e Psicologia da Faculdade Cidade Verde. E-mail: hpsraphaela@gmail.com

A pesquisa com a qual este artigo foi desenvolvido partiu da observação e convívio na prática dentro de escolas públicas de ensino fundamental de uma cidade do Litoral Sul do estado de São Paulo. Todas as autoras são professoras, duas já atuando em cargos de gestão por mais de cinco anos.

A coleta de dados foi realizada nos órgãos públicos municipais e estaduais das cidades da Baixada Santista e por amostragem dependendo de cada cidade e de quantas escolas possui cada órgão.

A abordagem trabalhada foi sob a dimensão social, pois é nesta esfera que a escola é cada vez mais necessária, entretanto, concomitantemente se torna mais e mais distante da realidade social dos educandos. Isto se dá em virtude da lacuna que existe entre a formação do professor/gestor e a cultura da criança e sua família.

RESULTADOS

A Secretaria da Educação do Estado de São Paulo (SEE-SP) define como gestão democrática o diálogo constante entre a equipe gestora, diretor, vice-diretor, coordenador e todos que fazem parte da escola, como professores, servidores, alunos e responsáveis. 80% dos entrevistados considera esta a melhor descrição de gestão democrática.

Ao analisar os resultados da pesquisa realizada com os gestores, os dados demonstram uma falta de preocupação dos mesmos em trabalhar com decisões que beneficiem primariamente os alunos, que neste caso são a maioria da comunidade escolar. O cultivo do bem querer ao educando, neste caso a criança, não foi demonstrado em ambas as alternativas, visto que as indicações sempre favoreciam outros fatores que não a criança.

Trabalhando como gestora por mais de dezoito anos observei exatamente este cenário, onde é cada vez maior o distanciamento entre a docência e a gestão, muito embora ambos façam parte do plano de cargos e carreira dos órgãos públicos, sendo a vontade da grande maioria que ingressa na educação.

A prática da gestão, sob os princípios de uma participação coletiva, perpassa a concepção de que as decisões no interior das escolas não são condicionadas a um poder centralizador de nenhum segmento específico. É sabido que, dentro da gestão escolar, tanto o diretor, quanto o conselho escola e/ou o vice-diretor, possuem atribuições específicas, porém, é necessário que realizem suas atividades em consonância, principalmente no que diz respeito à tomada de decisões.

A descentralização sugerida nos processos de municipalização do estado de São Paulo reafirma que as ações devem ser elaboradas e executadas de forma não hierarquizada, contemplando todos os envolvidos no cotidiano escolar: professores, estudantes, funcionários, pais, a comunidade e/ou pessoas que participam de projetos na escola.

Os professores têm voltado ao centro dos debates na educação e das problemáticas investigativas. Com estes regressam também algumas verdades simples, tão simples que, pareciam não merecer atenção especial: não é possível separar totalmente as dimensões pessoal e profissional na vida do professor; a maneira como cada indivíduo vive a profissão de professor é tão, se não mais, importante que as técnicas que aplica ou os conhecimentos que transmite; os professores constroem sua identidade com referência em saberes práticos e teóricos, mas também por adesão a um conjunto de valores pessoais.

A afirmação radical de que não há dois professores iguais e de que a identidade que cada um constrói como educador baseia-se em um equilíbrio único entre as características pessoais e percursos profissionais. Nóvoa[6] (2015, p.263) conclui que é possível desvendar o universo de uma pessoa por meio da análise de sua ação pedagógica. “Diz-me como ensinas, dir-te-ei quem és e vice-versa.”.

É nisso que se baseia a diferença entre a docência e a gestão escolar. Os professores são muito mais eles mesmos na docência, e se distanciam dessa essência ao virarem gestores. Essa responsabilidade pode ser atribuída, em grande parte, aos cursos de formação de professores, que os formar ainda pautados apenas em uma base teórica, não levando em conta a prática diária e o conhecimento das diferentes etapas da carreira educativa.

CONCLUSÃO

“Uma vez professor, sempre professor”. Sim, entretanto, é preciso fazer uma análise rigorosa dos mecanismos de formação universitária e nos cursos de formação de gestores escolares. É essencial dedicar parte do currículo de Pedagogia para inserir na construção docente o saber pela carreira em seu primeiro nível hierárquico, em seguida a gestão escolar.

         É necessário graduar docentes que, não somente estejam atentos a necessidades individuais e específicas de cada espaço ou comunidade escolar, mas que estejam preparados para observar em sua prática diárias as dificuldades e singularidades do “ser professor”, a fim de serem futuramente gestores que atendam integralmente os interesses dos educandos e dos educadores de forma ética e fraterna.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FERREIRA, Naura Syria Carapeto. Gestão democrática da educação. Atuais tendências, novos desafios. São Paulo: Cortez, 2008, 6 ed., p. 119. ISBN 978-85-249-0690-9.

LÜCK, Heloísa. Dimensões da gestão escolar e suas competências. 1 ed. Curitiba: Positivo, 2009. 12-20 p.

LÜCK, Heloísa. Liderança em gestão escolar: Série Cadernos de Gestão. 4 ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008.

NÓVOA, António. Em busca da liberdade nas universidades: para que serve a pesquisa em educação? Educ. Pesqui., São Paulo, v. 41, n. 1, p. 263-272, jan./mar. 2015.

SOUZA, Rafaela De Oliveira. O sistema de organização e gestão da escola pública. Revista Gestão Universitária, n. 309, 201.  ISSN: 1984-3097.

WELLEN, Henrique; WELLEN, Héricka. Gestão organizacional e escolar: uma análise crítica. 1 ed. Curitiba: IBPEX, 2010. 8-15 p.

[1]Doutora em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (2008). Mestre em Educação, Administração e Comunicação pela Universidade São Marcos (2001). Licenciada em Pedagogia pela Universidade Católica de Santos (1998). E-mail: marcia@unisanta.br

2Licenciada em Ciências Biológicas e Pedagogia pela Universidade Santa Cecília (2017). Aluna de Especialização em Neurociências pela Universidade Federal de São Paulo. Aluna de Especialização em Educação e Psicologia da Faculdade Cidade Verde. E-mail: hpsraphaela@gmail.com

[3] Doutora em Educação pela Columbia University em Nova York, com Pós-Doutorado em pesquisa e Ensino Superior pela George Washington University, em Washington D.C.

[4] Doutor em Serviço Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2009). Mestre em Gestão e Políticas Públicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (2004) e Bacharel em Administração de Empresas e Administração Pública pela Universidade Federal da Paraíba (2001).

[5] Doutora em Educação pela Universidade de São Paulo (2011). Mestre em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (2005). Licenciada em Letras pela Universidade Federal de Campina Grande (2002).

[6] Doutor em Ciências da Educação pela Universite de Geneve (1986). Mestre em Ciências da Educação pela Universite de Geneve (1982). Graduado em Ciências da Educação pela Universidade de Lisboa (1976).

Deixe um comentário