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Impressões Subjetivas sobre o Indivíduo com Deficiência Física Neuromotora: Pontos e Contrapontos no Território Discursivo

Impressões Subjetivas sobre o Indivíduo com Deficiência Física Neuromotora: Pontos e Contrapontos no Território Discursivo

Claudovil Barroso de Almeida Júnior[*]

 

Resumo

Claudovil Barroso de Almeida Júnior – Pesquisador com Deficiência Física Neuromotora/Paralisia Cerebral. Professor de Educação Especial do Governo do Estado do Amapá. Mestre em Educação pela Universidade Federal do Paraná. E-mail: claudoviljr@gmail.com

O trabalho tem a pretensão de discorrer sobre a subjetividade da pessoa com deficiência física neuromotora/paralisia cerebral, em interface com autores e políticas públicas de educação especial, na perspectiva da educação inclusiva. Seu objetivo é realizar uma análise crítico-reflexiva, sobre a operacionalização da formação identitária desse indivíduo. Logo, é necessário empoderá-lo para atuar em discursos de resistências e lutas, direcionado à sua inclusão.

Palavras-chave: Subjetividade; Deficiência Física Neuromotora; Paralisia Cerebral; Inclusão.

Abstract

The work intends to discuss the subjectivity of the person with neuromotor physical disability / cerebral palsy, in interface with authors and public policies of special education, in the perspective of inclusive education. Its objective is to carry out a critical-reflexive analysis, on the operationalization of the identity formation of this individual. Therefore, it is necessary to empower it to act in speeches of resistance and struggles, aimed at its inclusion.

Keywords: Subjectivity; Neuromotor Physical Disability; Cerebral Palsy; Inclusion.

Introdução

Historicamente, a vida das pessoas com deficiência, especialmente com deficiência física neuromotora/paralisia cerebral, é permeada de resistências e lutas desde o seu nascimento, pois a formação de sua identidade é demarcada por uma sociedade que, descaracteriza o outro por ser diferente, segundo as convenções sociais. Assim, o primeiro grupo social que esse indivíduo irá pertencer é a família que, em conjunto a uma rede de colaboradores, auxiliarão na conquista de sua independência e autonomia socioeducacional, almejando sua inclusão.

Interlocução do discurso da normalidade: para pensar a resistência

O nascimento de uma criança é sempre muito aguardado por seus pais e familiares, com sucessivas expectativas e emoções. No entanto, na hora do parto a negligência médica pode vir ocorrer, como por exemplo, o mesmo ser demorado, ocasionando anóxia cerebral (falta de oxigenação no cérebro), fato muitas vezes, omitido aos pais. Motivando a paralisia cerebral, representada pela deficiência física neuromotora.

O diagnóstico da paralisia cerebral é realizado por meio do exame eletroencefalograma. De acordo com Leite e Prado (2004), esse exame é minucioso pelo fato de ser na área do sistema nervoso central (SNC), indicado para verificar com precisão onde a lesão ocorreu e sua extensão relativa a possíveis malformações congênitas.

Sucessivas indagações sobre o possível diagnóstico são levantadas, tanto por especialistas, como pelo senso comum. Nesse momento, a alegria do casal transformar-se em desespero, quando se descobre que o filho ideal não é o filho real, ele tem deficiência física neuromotora, a paralisia cerebral (ALMEIDA JÚNIOR, 2018). Com isso, as cobranças camufladas de perguntas se perpetuam, sem empatia, a ironia e a condenação se sobressaem. O lar fica desestruturado, os sonhos acabam e o luto é iniciado.

 No entanto, Glat (2012) expõe que esse sentimento dos pais para com o filho com deficiência é compreensível e deve ser respeitado sem nenhum tipo de questionamento. É preciso buscar auxílio de profissionais para fazer do luto à luta, para construir e colocar em prática políticas públicas que, atenderão os anseios das diferenças e das diversidades na sociedade.

Por várias décadas, o paradigma clínico-terapêutico manteve-se em evidência, percepção limitante, o qual expressa que a criança que nasce com a deficiência física neuromotora, ou qualquer deficiência, não irá aprender e/ou se desenvolver, por meio de estímulos propícios ao seu processo de ensino e aprendizagem (MURILLIO, 2010).

A paralisia cerebral é uma lesão não progressiva que acomete o cérebro em desenvolvimento, podendo ocorrer: antes, durante ou após o nascimento (BRAGA; PAZ JÚNIOR, 2008). Ainda, a paralisia cerebral não deve ser considerada como uma doença neurodegenerativa, mas uma condição que, poderá comprometer a coordenação motora global, ou então, apresentar pequenas alterações motoras ou uma maneira diferente de andar até a inabilidade para escrever ou segurar um objeto, falar ou deglutir.

Aproximadamente, 70% das pessoas que nascem com essa condição, seu cognitivo é preservado (O’SHEA, 2008). No entanto, ao se reportar ou recordar sobre um indivíduo que possui essa condição, as percepções de leigos, até mesmo, de especialistas, fazem menção ao cérebro, corpo ou um indivíduo totalmente vegetativo, impossibilitando que o mesmo muitas vezes seja estimulado precocemente.

A relação dos pais, com a família e profissionais é essencial, em virtude da criação de uma rede de colaboração no tocante ao desenvolvimento de potencialidades sociocognitivas. Compreende-se que a criança com deficiência carece de estímulos, para que possua chances de progressos maturacionais para a sua independência, autonomia e inclusão social e educacional.

Logo é imperioso que a oferta à educação para essa criança com deficiência, deve ser um direito a ser cumprido sem nenhum tipo de impeditivo, conforme expresso nas Legislações Nacionais (BRASIL, 1988; 1990; 1996; 2001; 2008). Além disso, é fundamental que o atendimento educacional especializado aconteça, para que a criança com deficiência física neuromotora seja incluída desde a educação infantil (ALMEIDA JÚNIOR, 2019). Porém, observa-se que historicamente esse serviço tinha o caráter de reabilitação (clínico) e não pedagógico, mesmo sendo realizado dentro do ambiente educacional (ALMEID JÚNIOR, 2018).

Com a edição do texto da Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (BRASIL, 2008), as concepções de pesquisadores e profissionais da educação foram redimensionadas, prevendo que a deficiência não se restringe ao biológico da pessoa que possui essa condição, em uma leitura meramente clínica e passa a ser definida como uma condição que pode ser revertida, se esforços sociais forem envidados para eliminar possíveis barreiras e impedimentos (PICCOLO, 2015).

Diante desse contexto, não só a pessoa com deficiência física neuromotora, mas todas as pessoas com algum tipo de deficiência começaram a ser estimuladas, ainda que paulatinamente, para serem interlocutoras da própria fala, com constantes denúncias, críticas ou reivindicações, em razão da ausência e, até mesmo, das contradições de políticas públicas que cerceiam essa fala; isto significa que as discussões sobre as questões políticas devem acontecer com a presença da pessoa com deficiência, uma vez que ela que irá usufruir desse direito conquistado.

 

Considerações finais

Independente do período histórico e/ou da condição socioeconômica, a família será o primeiro grupo social a que a pessoa com ou sem deficiência pertence. Esse meio será fundamental para o desenvolvimento da sua personalidade, incorporando atitudes e princípios, com regras de valores e éticas, até mesmo à sua idade adulta que, serão essenciais ao seu processo de socialização.

Em vista disso, o sucesso e a superação de desafios impostos socialmente pela situação da deficiência, não pode ser atribuído somente ao indivíduo com deficiência física neuromotora/paralisia cerebral, mas a uma grande rede de colaboração, composta pelos familiares e profissionais, o possibilitando de tecer sua história interrelacionado com políticas públicas que o constituem enquanto ser social.

Referências

ALMEIDA JÚNIOR, C. B. Deficiência física neuromotora: um estudo das políticas e seus desdobramentos na educação infantil. 2018. 149f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Setor de Educação, Universidade Federal do Paraná, Curitiba/PR, 2018. Disponível em: <http://www.prppg.ufpr.br/siga/visitante/trabalhoConclusaoWS?idpessoal=42591&idprograma=40001016001P0&anobase=2018&idtc=1308>. Acesso em: 23 abr. 2018.

______. Atendimento Educacional Especializado para a Criança com Deficiência Física Neuromotora na Educação Infantil: possibilidade real? Perspectivas em Diálogo: Revista de Educação e Sociedade, v. 06, p. 63-80, 2019. Disponível em: <http://periodicos.ufms.br/index.php/persdia/article/view/7722>. Acesso em: 19 jul. 2019.

BRAGA, L. W.; PAZ JÚNIOR, A. C. Método Sarah: reabilitação baseada na família e no contexto da criança com lesão cerebral. São Paulo: Santos, 2008.

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______. Estatuto da Criança e do Adolescente. Brasília, DF: Senado, 1990.

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______. Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica. Brasília, DF: MEC/SEESP, 2001.

______. Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva. Brasília, DF: MEC, 2008.

GLAT, R. Orientação familiar como estratégia facilitadora do desenvolvimento e inclusão de pessoas com necessidades especiais. In: MENDES, E. G.; ALMEIDA, M. A. (Orgs.). A pesquisa sobre inclusão em suas múltiplas dimensões: teoria, política e formação. Marília, SP: ABPEE, 2012.

LEITE, J. M. R. S.; PRADO, G. F. Paralisia cerebral: aspectos fisioterapêuticos e clínicos. v. 12. nº. 1. São Paulo: USP, 2004.

MURILLIO, P. C. O patológico e o anormal no olhar de Michel Foucault: um estudo sobre a identidade da criança com paralisia cerebral. Kinesis – Revista de Estudos dos Pós-Graduandos em Filosofia, v. 2, n. 4, p. 159-174, dez./2010. Disponível em: <http://www.marilia.unesp.br/Home/RevistasEletronicas/Kinesis/Opatologicoeoanormal.pdf>. Acesso em: 28 abr. 2016.

O’SHEA, T. M. Diagnosis, tratment, and prevention of cerebral palsy in near-term/ter infants. NIH-PA Author Manuscript. Estados Unidos, v. 51, n. 4, p. 816-828, Dez. 2008. Disponível em: <http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3051278/>. Acesso em: 20 mai. 2016.

PICCOLO, G. M. Por um pensar sociológico sobre a deficiência. Curitiba: Appris, 2015.

Citação deste artigo:

ALMEIDA JÚNIOR, C. B. Impressões Subjetivas sobre o Indivíduo com Deficiência Física Neuromotora: pontos e contrapontos no território discursivo.

[*] Pesquisador com Deficiência Física Neuromotora/Paralisia Cerebral. Professor de Educação Especial do Governo do Estado do Amapá. Mestre em Educação pela Universidade Federal do Paraná. E-mail: claudoviljr@gmail.com

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